Garoto de Papel (Hiato) escrita por Risoto


Capítulo 3
Motivos para se viver sozinha


Notas iniciais do capítulo

*jurosolenemtenãofazernadadebom*

Olá Nutellas!
Então, aqui está mais um capítulo. Ainda é um capítulo de introdução, a história ainda não começou de verdade. Quando a história começar a entrar nos trilhos, o número de palavras irá aumentar também.
Até la embaixo!



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Ter uma melhor amiga é um saco.

Desde hoje de manhã, Mel não parou de me cutucar e dizer que eu devia fazer compras. “Seu aniversário é daqui uma semana”. Em resposta a essa idiotice, disse um bom e belo “não to nem aí”, virei para frente e continuei a escutar música com a testa encostada no vidro do carro.

Estava calor. Eu odeio o calor. Parece que eu sou uma espécie de repelente ao contrário para mosquitos, e minha pele fica toda pipocada, porque eu coço tanto que as picadas abrem e sangram.

Uma delícia, não é mesmo?

Meu cabelo caiu para frente, e eu vi um nó bem aparente. Eu não penteei o cabelo hoje; atrasada, para variar. Minha noite mal dormida foi recompensada ontem à tarde e à noite. Acordei às 6h50min, e meu café da manhã é muito demorado.

Quando chegamos à escola, Mel perguntou ao Gui se eu devia ou não fazer compras. Ele respondeu que sim, mas eu não sei se foi porque queria agradar Mel ou porque meu cabelo o assustou.

Agora, na minha casa, Mel está me cutucando e dizendo que não tenho roupas boas o suficiente para um aniversário (obrigada, muito obrigada), enquanto eu tento inutilmente fazer as lições.

— Já chega! — rodei a cadeira e fiquei de frente àquele ser ruivo irritantemente lindo. — Eu faço as malditas compras. — os olhos grandes de Mel brilharam, e ela ia começar a gritar, mas interrompi: — Com uma condição, muito básica! Eu quero que as roupas sejam pretas.

— Mas... Mas... — Mel murchou na cadeira. — Todas as suas roupas são pretas! — ela se levantou, caminhou até meu guarda-roupa, e abriu-o. Realmente, ou as peças eram pretas, ou cinzas, ou brancas, ou uma variação entre essas cores.

— Oras, eu gosto dessa cor. E se você vai me obrigar a fazer compras, eu tenho o direito de escolher! E não adianta reclamar! — exclamei, quando Mel abriu a boca. — meu dinheiro, minhas regras.

Eu não disse em voz alta, mas eu sempre quis dizer essa frase.

*

Mel parecia uma criança numa loja de doces, só que no shopping. Olhava para todos os lados e exclamava coisas como “Ah, essa loja é incrível!” ou “Meu Deus, Lana, dá uma olhada! 20% de desconto!”. Eu até sorriria, só que meu mau humor impedia meus músculos faciais de aparentarem felicidade.

Vamos, Lana! Tente aproveitar o momento!

— Não estou a fim de aproveitar o momento. — resmunguei, e Mel rolou os olhos, exasperada.

—Se você não vai cooperar, eu vou escolher o que eu quiser comprar, e não vou pedir sua opinião!

Ela segurou minha mão e me puxou até uma loja que eu nunca tinha estado antes. As paredes eram de tijolos e as estantes, de canos coloridos. Os cabides eram transparentes e havia uns abajures de várias cores, desde amarelo até rosa choque. As mesas que se espalhavam pelo local eram todas de madeira e o teto estava aparente, com as vigas de aço e lâmpadas à mostra.

Eu adorei aquela decoração.

— Gostei desse lugar. — murmurei vagamente, bem baixinho. Mel olhou para mim e sorriu orgulhosa.

— Bem, eu amo as roupas daqui, e nem são tão caras quanto deveriam. — Começou a andar por uma prateleira cheia de vestidos floridos. Olhei para as peças, horrorizada.

— Você não está pensando que eu vou usar isso, né? — Mel olhou para mim inocentemente. — Melissa, eu não sou jardim!

—Não, lindona, eu estou vendo para mim. Ah! — exclamou, quando viu um vestido escuro com flores coloridas e abstratas. — Amei esse!

Depois de uns vinte minutos, ela estava com três vestidos nas mãos, prontos para provar. Quando reclamei que meus pés estavam doendo, ela suspirou e me guiou até o outro lado da loja, em que os tijolos eram pintados de preto e os canos eram vermelho-sangue, roxo bem escuro e azul turquesa. Sorri.

— Então esse é a parte para os darksexuais? — Mel riu, e acenou com a cabeça.

Só que a parte do trato em que eu iria escolher as roupas não funcionou muito bem.

*

Minha mãe fez cara de pura descrença quando aparecemos em casa com as mãos carregadas de sacolas. Mesmo que apenas 1/3 das compras me pertencessem, já era um avanço considerável. Eu geralmente comprava uma blusa de dois em dois meses.

— Minha filha! Era esse o significado de “me torturarão com meu consentimento”? Mel, querida, sente-se, por favor. Vou preparar um café para você. — e sumiu tão rapidamente quanto surgiu, com um sorriso largo e expressivo.

Olhei para Mel, e ela riu. Tentei prender o riso, mas fiquei parecendo uma foca com asma, e um pouco de baba saiu de minha boca. Rimos mais, por não sei quanto tempo, e então perdeu a graça e ficamos em silêncio.

Observei as provas que minha mãe estava corrigindo. Faculdade Anhanguera estava impresso no cabeçalho, e uma nota baixa estava escrita à caneta na folha.

Sorri mentalmente. Minha mãe foi minha inspiração para começar a ler e escrever. Ela ensinava Literatura em grandes Universidades, mas depois que se casou com meu pai, passou a lecionar Português no Ensino Fundamental. Desde a separação, voltou ao seu cargo inicial, e vejo que isso a deixou muito feliz.

Quando o cheiro de café com leite e biscoitos inundou minhas narinas, meu estômago roncou. Mel tinha insistido que não comêssemos nada no shopping, porque perderíamos muito tempo, então acabei não almoçando.

— Aqui está! — minha mãe exclamou sorridente, e se sentou de frente para nós. Ataquei os cookies assim que a bandeja encostou-se à mesinha de centro, enquanto Mel questionava minha mãe sobre as provas:

— Seus alunos vão bem, tia? — Mel conhecia minha mãe há tanto tempo que nem a chamava de “senhora Bernardi”, como antes fazia. Não posso reclamar; era estranho demais.

— Ah, mais ou menos, Mel. Fico preocupada em ver a quantidade que não consegue dissertar sobre um livro mais complexo. Alana sempre se interessou por esse tipo de livros, e sabe conversar sobre com muita facilidade. Já alguns dos meus alunos, ah, não sei como chegaram à faculdade. Mas existem pérolas... Inteligentíssimos, você não tem noção!

— Era assim quando lecionava na Unifesp? — questionou Mel, com a cabeça ligeiramente inclinada.

— Não, não, claro que não! Praticamente todos se esforçavam, mesmo que tivessem dificuldade. Acho que se deve ao fato de precisarem fazer provas para entrar, o processo seletivo é muito mais denso...

Desliguei meus ouvidos. O processo seletivo da Unifesp realmente não era interessante. Comi meus biscoitos até minha mãe ralhar comigo, dizendo que não ia deixar para mais ninguém. Fechei a cara e cruzei os braços sobre o peito.

— Adorei a conversa, obrigada! — Mel disse, se levantando e batendo as migalhas do vestido. — mas realmente tenho que ir agora. Tenho que fazer as lições, vai começar a escurecer. Até mais, tia. Tchau, fofolete!

E saiu, linda, ruiva e irritante.

Minha mãe se virou para mim.

— Vamos, imagino que também tenha lição para terminar. Vai, menina, não quero que toque nesse seu celular enquanto não acabar!

Caminhei em direção ao meu quarto, resmungando. Quando olhei a tela do celular, vi uma mensagem de Mel. Abri, e era recente, tinha acabado de enviar.

Melzita: Faltam apenas seis dias para seu aniversário, sem contar com hj! Contagem regressiva ^^ (17:13)

Eu: Por que raios vc foi deixar para falar comigo por wpp? Acabou de sair daqui de casa! (17:15)

Melzita: Porque eu quis. Vai fazer sua lição. Tchau satanás (17:15)

Eu mereço.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Comentários sempre bem-vindos ^^
*malfeitofeito*