A Outra Coraline escrita por Farfalla


Capítulo 3
O Fim


Notas iniciais do capítulo

Oeeeee, voltei :3
Apareceram umas pessoinhas novas no capítulo anterior *-* obrigada a todos por leres, acompanharem, favoritarem e comentarem nessa fic *o*
Enfim, espero que gostem, eu fiz algumas pequenas alterações nos avisos e gêneros por causa desse capítulo, mas espero que não se importem e.e
Ah, comecei a escrever uma fanfic interativa com uma amiga no meu outro perfil, se alguém curtir esse tipo de coisa, estarei deixando o link nas notas finais :)
Até lá embaixo!



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Wybie sentiu primeiro as superfícies pontiagudas que cutucavam suas costas. Manteve os olhos fechados, precisando de um tempo para lembrar o que estava acontecendo. E então levantou de uma só vez, fazendo borrões pretos dançarem em sua visão.

Ignorou a leve tontura e virou a cabeça para os lados, sem avistar Coraline. Onde ela estava? Sob os escombros? Mas ele a havia segurado contra si!

Ao menos não há sangue, pensou, aliviado de certa forma.

Levantou-se, e uma dor percorreu toda a sua perna esquerda. Devia ser uma torção, mas era um milagre que não tivesse se machucado além disso.

— Coraline — chamou, sem obter resposta.

Caminhou com dificuldade pela casa a procurar sua amiga, e correu mesmo sobre o pé dolorido ao vê-la caída. Sua mão estava estendida em direção à porta minúscula, que se encontrava fechada.

Gentilmente virou a garota para si e a puxou para seu colo. Respirava. Seu coração batia. Não parecia ter nada além de arranhões.

Suspirou aliviado.

Por cinco anos, Wybie esperara por aquele momento. Pelo momento que teria Coraline junto de si novamente. Passava as noites pensando em cabelos azuis desde que se conheceram. Sua coragem e teimosia o admiravam, o faziam querer mais disso — mais dela.

E quando, de repente, ele se viu esbarrando nos pais de Coraline onde estava morando com sua tia, todas as boas lembranças da infância retornaram. O casal havia se aproveitado de uma divulgação de seu novo livro em uma cidade próxima para procurar uma casa nova por ela, Coraline. Eles diziam que ela não era a mesma desde que Wybie se fora, e que faria bem morarem perto dele.

O garoto sempre achou que Coraline realmente iria sentir sua falta, mas nunca imaginou que deixaria isso ficar evidente para alguém. Olhando para ela desmaiada em seu colo, constatou que sua amiga também tinha um lado frágil que nunca considerou.

Deveria ter discutido mais com sua tia para ir visitá-la. Deveria ter feito alguma coisa... Deveria…

Balançou a cabeça. Estava ali para levá-la até sua nova cidade. Era isso que os pais de Coraline o haviam pedido, e era isso o que faria. Acariciou seu rosto gentilmente, gostando da forma como seus traços haviam mudado de menina para de mulher.

Talvez perdida em algum sonho ruim, ela começou a franzir o cenho, e seus lábios se apertaram. As mãos fecharam-se com força, a ponto de deixar brancos os nós dos dedos.

— Coraline — ele pronunciou.

Mas ela ainda se encontrava inconsciente. Em um ato instintivo, desesperado para acalmá-la, sem perceber o que estava fazendo, segurou sua nuca e a puxou para si, beijando-a.

Naquele momento, Wybie se deu conta de algumas coisas. Primeiro, que Coraline tinha um cheiro refrescante e familiar. Segundo, que sua pele, seu cabelo e, principalmente, sua boca eram muito macios. E terceiro, que beijá-la o fazia sentir-se em seu lar.

A garota relaxou em seus braços, retomando o sono tranquilo. Afastou-a ligeiramente a contragosto. Queria beijá-la mais vezes, tantas mais!

A portinha na parede abriu-se de repente, fazendo-o se sobressaltar e abraçar a garota contra seu peito de forma protetora. O gato apareceu. Olhou para Wybie, para Coraline e então para a porta.

Foi o suficiente para a mente inteligente de Wyborn compreender.

Deitou sua amiga no chão com cuidado e foi em direção àquela porta maldita.

A casa tinha 155 anos. A Bela Dama tinha 155 anos. Wybie finalmente desvendara o mistério.

Iria salvar Coraline, e depois queimar completamente o Palácio Cor-de-rosa.

~*~

Coraline estava mais calma. O Gato maldito a havia explicado que aquela era a Outra Coraline. Estava no corpo de sua boneca. O fato de só ter o botão esquerdo nos olhos era por não ter recosturado o direito naquele dia. Ela sabia que não terminar algo começado era sempre péssimo.

Caminhou e caminhou por tempos, procurando pela portinha para tentar voltar, mas não a encontrou. O animal que a levara até ali havia sumido, pois Coraline não conseguira acompanhá-lo.

Mas agora ela se encontrava diante de uma figura decrépita. A Outra Mãe sentava-se em algo parecido com um trono de galhos retorcidos. Sua pele estava flácida e caída. Em algumas partes, esticava-se tanto que era possível enxergar os ossos.

Coraline — pronunciou com desgosto óbvio.

— Olá, Não-tão-bela Dama.

A Outra Mãe rosnou, e Coraline se perguntou se aranhas deveriam mesmo fazer aquele barulho.

Para a surpresa de ambas, a garota de cabelos azuis se sentou.

— Já que estamos presas nesse vazio, por que não me diz porquê devora crianças?

Dentes afiados e amarelados foram expostos quando a Bela Dama sorriu amargamente.

— Algum dia, você ainda se arrependerá de sua curiosidade.

~ 155 anos antes ~

Uma garotinha de faces coradas corria pelo jardim. Ela gostava da casa em que morava, e a havia nomeado de Palácio Cor-de-rosa. Pegou uma flor que se encontrava caída no chão e voltou até a varanda da casa, onde se encontrava sua mãe.

A mãe da garotinha estava sentada em uma cadeira de madeira. Os olhos opacos fitavam o horizonte e a face nada demonstrava. Havia um hematoma escuro em toda a lateral esquerda de seu rosto. Ela vestia roupas de mangas compridas, calças, meias e luvas, mesmo que fosse verão.

A criança não podia compreender como a alma daquela mulher estava estilhaçada, não estando apenas machucada fisicamente. Suas roupas escondiam muito mais do que maus tratos, mas uma violência brutal que lhe retirara toda a sanidade e desejo de viver.

— Minha bela daaama — cantarolou uma voz masculina gentil, uma voz que deslizava pelo ar e alcançava os ouvidos das pessoas como uma música de ninar.

Mas, para mulher e criança, aquela voz significava apenas uma coisa: a dor.



— Que bela face você faz, Bela Dama — murmurava o homem.

As lágrimas escorriam aos montes pela face, agora pálida, da criança de cabelos negros. Seus olhos estavam saltados pelo medo. Sua garganta seca e seus lábios rachados nos cantos, de tanto gritar.

Não havia vizinhos para ouvi-la. Não havia outro familiares para os visitarem. Não havia pessoa alguma que se importasse.

O homem acariciou os cabelos dela com olhos brilhantes, e então segurou um grande alicate.

— Vamos fazer aquilo que você gosta agora, certo?

Ela não tinha voz para pedir que o pai parasse. Apenas piscou os pequenos olhos e derramou mais lágrimas, embalando o próprio corpo com soluços convulsivos.

O pai daquela pobre criança não passava de um sádico psicopata. Todos os dias, quando estava cansado ou estressado com algo, descontava na mulher ou na filha. Sua esposa agora em nada o divertia, já que parara de demonstrar qualquer emoção. Estava doente de todas as formas, e isso não o interessava.

Mas aquela criança ainda tinha o brilho do desespero. Sua filha ainda sentia o coração disparar, arregalava os olhos daquela forma esplêndida, emitia gritos agoniados que eram como música clássica aos seus ouvidos.

Era um louco, de quem ninguém poderia salvá-las.

Quando começou com esse hobby, arrancava uma unha da filha por dia. Mas isso logo o cansou. Passou a jogar seu corpo frágil contra móveis e paredes. Depois descobriu que podia fazer pequenos arranhões aqui e ali. Havia sempre algo novo, nada de seguir uma rotina. Naquele dia inventara o Jogo do Cabelo. Segurava um bolo de cabelos e então os puxava até conseguir arrancar da raiz.

Em certo momento, ao retirar uma grande quantidade de cabelos, o homem notou que sua companhia se encontrava quieta demais. Deu a volta na cadeira em que ela estava sentada, e viu-se de frente para um corpo sem vida.

Não satisfeito com a forma como aqueles lindos olhos haviam perdido o brilho, estáticos em um desespero passado, ele os arrancou e costurou botões no lugar de cada um deles. Depois, em um surto, decidiu que deveria guardar o corpo de sua nova boneca de negros olhos brilhantes.

Construiu um cômodo onde mal cabia uma pessoa sentada. Instalou uma pequena porta, proporcional ao tamanho do lugar. Ali a Bela Dama colocou, e a trancou.

Quando voltou a abri-la no dia seguinte, porém, encontrou apenas uma barreira de tijolos. O cômodo havia sumido.

Aquele pequeno corpo, que havia sofrido tanto, atraiu os mais diversos sentimentos ruins, sentimentos estes que a proporcionaram uma nova vida, um novo poder e um novo mundo — o Outro Mundo.

Primeiro, a Bela Dama fez os pais desaparecerem, aprisionando suas almas — que eram de péssimo gosto. Depois, crescendo amargurada, começou a atrair aquelas crianças mimadas que acreditavam ter uma vida ruim. Queria acabar com todas elas.

~ Atualmente ~

— E então você apareceu, Coraline Jones. — A Bela Dama pareceu crescer, envergando-se sobre a garota de cabelos azuis. — Devastou o meu reinado e libertou as deliciosas almas que consegui. Você despertou minha fúria, e agora irei utilizar meu poder sobre esse mundo e sobre aquela casa para acabar com sua existência e daqueles à sua volta.

Coraline, percebendo o perigo, levantou-se e começou a andar de costas. A Bela Dama remexia os ossos, estalando-os enquanto se levantava. Seu tamanho aumentava, e suas oito patas se ajeitavam.

Mas quando a garota estava prestes a correr, as mãos metálicas da Outra Mãe a agarraram. Debateu-se, tentando fugir, mas era inútil.

Aquele ser abriu a boca como se fosse engoli-la de uma vez só, e então parou no meio do caminho.

Um par de olhos assustados apareceu por trás dos ombros da mulher. Wybie sorriu de forma afetada para Coraline, e então puxou o canivete que havia enfiado na nuca da Bela dama. Segurou o objeto com força e, para sua surpresa, conseguiu cortar o pescoço daquele monstro com dois acertos.

A cabeça da Bela Dama pendeu por um momento, como se alguma força estranha a segurasse, e então caiu, rolando para o nada. As mãos soltaram Coraline, que foi pega por Wybie.

— Precisamos sair daqui — ela disse apressada, segurando a camisa do amigo com força. — Da última vez, isso começou a desmoronar para o vácuo.

Ele assentiu, e seguiu o caminho que havia utilizado para chegar até ali. O Outro Mundo, porém, de nenhuma forma se alterou. Continuou branco e estático. Coraline ainda podia ver o corpo decapitado da Bela Dama quando eles atravessaram a porta de volta para casa.

A garota voltou a si, ainda deitada no chão, e encontrou Wybie segurando sua pequena boneca de um olho só em mãos.

— Nós temos que destruir a casa e tudo que tem dentro — declarou Wybie, ansioso, correndo para cozinha.

Ela o seguiu apressadamente.

— Então você sabe?

Wybie virou os olhos para Coraline rapidamente enquanto procurava álcool.

— Só sei que nós temos que destruir esse lugar, ou ela virá atrás de outras crianças.

Coraline assentiu, pegando fósforos e correndo para o andar de cima. Fez a única coisa que conseguia pensar: jogou lençóis, roupas, papeis, por todo o segundo andar, para que o fogo se espalhasse. Wybie completou o trabalho com o álcool, que alimentou as chamas.

No primeiro andar fizeram as mesmas coisas, aproveitando-se de pedaços de madeira que seriam utilizadas na lareira. Eles pretendiam incendiar tudo pelas janelas, e deixarem o fogo espalhar-se para o interior, mas viram quando a Bela Dama começou a rastejar para fora da pequena porta.

Ligaram os fósforos e jogaram em vários pontos, deixando livre apenas a área da cozinha que levava à porta pela qual sairiam. Wybie puxou o canivete do cinto e estava prestes a cortar a mangueira do gás, quando a Bela Dama apareceu, com parte da face queimada — a cabeça estava de volta ao lugar —, e agarrou uma perna de Coraline, aprisionando-a em um aperto de ferro.

Wybie sentia o calor do fogo chegar cada vez mais perto. Uma explosão na parte de cima da casa informava que o Palácio Cor-de-rosa não aguentaria muito tempo. Aproximou-se e tentou cortar a mão da Bela Dama, mas não conseguia. Pensou que talvez Coraline, inconscientemente, mudara o Outro Mundo para que aceitasse o que ele fizera àquela aranha.

— Coraline Jones — chamou a Outra Mãe com a boca distorcida, sua voz saindo embolada.

Wybie olhou rapidamente para as línguas de fogo que dominavam metade da cozinha, voltando a visão para Coraline que chutava a Bela Dama repetidas vezes, e então retomou seu trabalho com a botija de gás.

— Coraline, quando eu empurrar isso, corra direto para a porta!

Coraline parou de se debater por um instante. Olhou para Wybie, para a botija e então para a porta aberta. Segurou na bancada atrás de si, e deu o maior chute que conseguiu contra a cara da mulher. Ao levantar os olhos, o tempo pareceu parar por alguns instante quando uma visão a surpreendeu.

O gato preto estava sentado em meio às chamas, sendo lentamente consumido. A fumaça subia de seus pelos e tomava uma forma. A forma de uma mulher com um hematoma na lateral esquerda do rosto, que sorriu gentilmente para ela, antes de desaparecer.

Wybie levantou a alavanca que liberava o gás para o fogão, e então cortou a mangueira, sentindo o cheiro desagradável ir direto em seu nariz. Rapidamente virou o objeto no chão e o empurrou rolando com o pé em direção à Bela Dama, que soltou Coraline ao ser atingida.

Liberta, a garota foi em direção à porta correndo. Ela não pensou o suficiente para notar que Wybie estava do lado contrário no cômodo. Ela não viu que o fogo já o alcançava pela lateral quando começou a se locomover.

Coraline apenas viu, enquanto atravessava a porta de saída, Wyborn Lovat inclinar a cabeça de lado, em seu jeito típico, e sorrir para ela antes que tudo explodisse.

O Palácio Cor-de-rosa desmoronou.


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Notas finais do capítulo

Wyyyyyyborrrrrnnnnnn :'(
Não me matem por esse capítulo, gente linda s2
Espero que tenham gostado, e obrigada por acompanhar essa short-fic comigo!
Beijos e até a próxima!

Link para a fic interativa: http://fanfiction.com.br/historia/621511/Kay_Camp_-_Interativa/