A Outra Coraline escrita por Farfalla


Capítulo 1
O Começo


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente ^^
Bem, é a primeira história que escrevo tentando envolver uma aura de mistério e suspense, então peguem leve comigo ><
Eu sempre tive medo de Coraline (tanto do filme quanto do livro), eu acho bem assustador T-T mas faz tempos que li, então me baseei mais no filme. Embora eu não lembre as diferenças exatas, eu sei que elas existem.
Não tive como fazer uma one-shot, mas ainda não tenho certeza se vai ser uma two-shot ou uma short-fic. Decido até o próximo capítulo!
Sem mais delongas, até lá embaixo :D



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Cinco anos se passaram, e Coraline ganhou um novo hábito: todos os dias adicionava mais um prego às madeiras que usara para selar de vez a pequena porta que levava ao Outro Mundo. Vê-lo ser destruído e a Outra Mãe ser engolida completamente pela queda da própria criação não havia sido o bastante para livrar sua mente dos terríveis acontecimentos.

Ainda tinha pesadelos, havia adquirido uma enorme fobia por aranhas, e aquela aventura de horror era um fardo que tinha de carregar sozinha. Wybie era o único que havia vivenciado parte dela, mas agora estava distante. Ele havia ido para outra cidade, arrastado por parentes estranhos depois da morte de sua avó, três anos antes, quando descobriram — para a surpresa de todos — que a Sra. Lovat havia deixado o Palácio Cor-de-rosa em nome de Coraline.

Devido às coisas que vivenciou, Coraline nunca mais voltaria a ser a mesma. Ela já não cedia à sua curiosidade e sede de aventura, e na escola era vista como uma garota estranha e isolada — coisa que pouco a importava.

Coraline deixara os cabelos crescerem e não mais usava suas presilhas, de forma que mechas azuis cobriam quase constantemente parte do seu rosto. Havia crescido, mas não muito, e o corpo se desenvolvera quase imperceptivelmente.

Foi até a cozinha e deixou na pia o prato que levara para seu quarto. Seus pais estavam viajando por alguns dias para uma divulgação de lançamento de seu novo livro. Era um livro de imagens, com fotos do jardim de Coraline, que agora era cuidado constantemente.

A garota prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, colocou botas e luvas e saiu para a parte de trás da casa. Empurrou o portão de ferro, fazendo uma nota mental para pedir seu pai que o lubrificasse depois — estava voltando a fazer aquele barulho fúnebre de ferrugem —, e então começou a se dedicar ao seu trabalho.

As árvores que plantara para a festa de comemoração após a derrota da Bela Dama agora já estavam enormes, e toda primavera as flores de diversas cores desabrochavam, como um arco-íris particular.

Quando terminou de cuidar das plantas, voltou para a casa, limpou-se e deitou em sua cama. No criado mudo agora repousava uma foto dela com Wybie, fazendo-a se lembrar de quando se despedira do amigo.


Mas por quê? — Coraline perguntara.

Porque a tia Josira disse que não quer morar aqui. E ela disse que fora dessa cidade vou poder frequentar uma escola melhor, e com a minha inteligência conseguirei entrar em um ensino médio de alto nível. — Foi a resposta de Wybie.

Eu sabia: odeio nerds.

Wybie olhou-a com a cabeça inclinada, sabendo que não seria a mesma coisa sem ela. Embora Coraline tentasse disfarçar, ele podia ver que ela fugia de qualquer exploração que ele ou seus amigos da escola a chamassem. Também sabia que a irritaria com o que faria a seguir, mas não tinha ideia de quando se veriam novamente.

Então Wybie a abraçou. Coraline ficou paralisada, desconcertada; mas acabou retribuindo o abraço, o que o surpreendeu.

Prometa me visitar nas férias de verão murmurou contra o ombro dele.

Eu prometo.


Ele não havia voltado desde que se fora, e inconscientemente Coraline dizia para si mesma que era porque a Srta. Josira era uma mulher cruel que não o deixava ir até ali. Mas, às vezes, ainda se questionava se Wybie não haveria se esquecido dela, do Palácio Cor-de-rosa, da boneca...

Coraline abriu a gaveta do criado mudo quase inconscientemente e tirou de lá uma boneca. Pegou também o kit de costura ao lado. Com uma agulha, descosturou os botões dos olhos da boneca, e então os costurou novamente.

Fazia pouco mais de um mês que descobrira que aquela atividade a acalmava, por mais estranho que fosse. Todas as noites descosturava e costurava de novo os olhos daquela boneca, no mesmo ritmo, no mesmo lugar, com a mesma precisão.

“Você não acha estranho?”

A garota de cabelos azuis mal notou que havia furado o dedo ao sentir seu coração disparar depois de ouvir a frase em sua mente. Aquela voz. Fazia anos que a ouvia em seus sonhos, mas isso nunca acontecera enquanto estava acordada. O sangue pingava de seu dedo enquanto ela permanecia paralisada.

“Você já percebeu, não? Que nós somos iguais. Nós somos a mesma pessoa, Coraline.”

Coraline engoliu em seco, finalmente notando que havia se machucado. Concentrou-se em sua respiração enquanto deixava a boneca e o kit sobre a cama e limpava o pequeno furo. Se não estava sonhando, então estava só imaginando coisas.

Um barulho na janela a fez se virar abruptamente, e de lá um par de grandes olhos azuis a fitou. Permitiu que o gato entrasse, sentindo-se melhor por ele estar ali. Ainda tinham suas diferenças, mas ele era esperto o bastante para o caso de precisar de ajuda.

“Aquela boneca que Wyborn lhe deu? Ela sempre teve aquela aparência. Eu a costurei à nossa própria semelhança. Achar que ela assumia a forma de cada criança nessa casa foi apenas uma desculpa que deu a si mesma.”

Os pelos do gato se eriçaram e ele virou a cabeça para os lados. Então não era imaginação.

As mãos da garota começaram a suar, e as levava até o cabelo para tentar mantê-lo longe do rosto. O pensamento de ter sua visão parcialmente encoberta a incomodava, não podia perder nenhum movimento estranho.

Correu através do quarto e alcançou as escadas, descendo correndo. Não era possível, não era possível. Foi até a sala, vislumbrando rapidamente o quadro chato do garoto chato. E então viu: a porta ainda estava fechada, mas as tábuas haviam desaparecido, e os pregos estavam todos espalhados pelo chão.

Não, não, não.

Deu passos hesitantes para trás, voltando até a cozinha. Abriu a gaveta e começou a procurar a chave de uma porta de saída da casa rapidamente, se atrapalhando no processo. O gato havia desaparecido assim que desceu para o primeiro andar, e ela imaginava que isso era um péssimo sinal.

Ainda não havia conseguido encontrar a chave quando ouviu um barulho que fez seus pelos arrepiarem e um frio subir por sua espinha.

Uma porta havia sido aberta.


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Notas finais do capítulo

TAN TAN TAAAAAAAN! hahahahah foi divertido escrever isso, sério.
Espero que tenha conseguido passar a vocês o que imaginei :)
Elogios, críticas e sugestões, os reviews tão aí pra isso :v
Beijos, e até o próximo ;*