Better Together escrita por Lirael, MusaAnônima12345


Capítulo 9
Trégua


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Desculpem pelo atraso de novo, aí está mais um capítulo fresquinho!



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A semana se passou voando e em um piscar de olhos já era sexta feira. Rapunzel não cumprira sua promessa de aparecer no dia seguinte para as aulas, e respondia as mensagens de Jack com evasivas ou respostas monossilábicas. Merida apoiou o queixo na mão, pensando no que vira quando tinha ido visitá-la. Por algum motivo ela desconfiava que o distanciamento de Rapunzel naquele dia tinha a ver com a tia maluca dela.

Sentado na carteira ao lado dela, Jack olhava fixamente para a porta. O sinal estava quase batendo, mas ele ainda tinha esperança. Era quase doloroso vê-lo daquele jeito, esperando ansiosamente como um cãozinho que fora abandonado pelo dono. Merida acabou por desviar seu olhar para a porta também, contente por não ter que encarar o olhar desolado do irmão quando o sinal batesse e Rapunzel não entrasse.

Perdida em pensamentos e olhando fixamente para a entrada, Merida piscou, surpresa quando Soluço cruzou a porta. Seus olhos foram diretamente para ela e ele sorriu. Sem nem mesmo pensar, Merida se pegou devolvendo o sorriso, feliz por tê-lo de volta. Ele parecia bem, descansado e tranquilo, caminhando sem nenhum esforço aparente.

Ao se afastar da porta, Merida viu Rapunzel, apenas alguns passos atrás. Ela vestia um moletom cor de rosa folgado por cima do uniforme, mesmo que o tempo não estivesse frio. Ela viu Merida e Jack olhando para ela, e deu um sorrisinho tímido em resposta. Caminhou até eles andando devagar, olhando para os lados como se tivesse medo de esbarrar em alguma coisa.

– Olá. – ela cumprimentou, ajeitando uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha. Seus olhos demoraram em Jack antes de passar para Merida.

– Rapunzel. – Merida olhou-a, dos pés a cabeça. – Você parece bem melhor.

– Ah, sim. – ela assentiu. – Me sinto bem melhor agora.

– Ficamos preocupados. – disse Jack.

– Principalmente ele. – Merida disse, em um tom zombeteiro – Não parou de falar de você esses dias todos.

Incrivelmente, Jack nem se deu ao trabalho de desmentir.

– Desculpe ter preocupado vocês, pessoal. Eu realmente precisava descansar. Mas estou bem agora, e é isso o que importa. - Num esforço nada discreto para mudar de assunto, Rapunzel voltou sua atenção para Soluço. - Você é quem parece bem.

Ele deu ombros.

– Não posso negar que me sinto à vontade para correr nas Olimpíadas. – Soluço brincou.

Então a conversa se voltou para assuntos mais seguros e ninguém voltou a mencionar a doença repentina de Rapunzel. Merida observou Rapunzel com atenção. Alguma coisa tinha mudado nela. Parecia mais calada, mais contida, e olhava constantemente para os lados, como se esperasse que alguma coisa fosse sair das sombras e levá-la dali. Soluço também tinha notado os sorrisos fracos da amiga, e cada vez que alguma coisa parecia fora do normal, lançava olhadelas significativas a Merida. Era estranha essa coisa que ela havia desenvolvido com Soluço em apenas uma semana de convivência. Ela, que praticamente não tinha amigos, conseguia se comunicar com ele sem usar nenhuma palavra. Bastava um olhar entre eles para se entenderem. Ás vezes, ela se virava e o pegava olhando para ela com interesse, como se Merida fosse uma equação complexa que ele estivesse tentando resolver. Então, quando notava que ela tinha visto, ele desviava o olhar, constrangido.

Aquele era um desses momentos. Os olhos de Merida, até um momento fixos em sua amiga, procuraram os de Soluço. Eles se encararam por alguns segundos, e viram nos olhos um do outro a certeza de que estavam preocupados com a mesma coisa.

Jack, é claro, nem mesmo pareceu notar a mudança em Rapunzel. Tratou de se manter falando o tempo todo, captando a atenção de Rapunzel. Era uma coisa boa, por um lado. Muitas vezes ela ria do que quer que ele estivesse dizendo.

As aulas passaram em um borrão e logo após o ultimo sinal tocar, os corredores já estavam cheios com os alunos desesperados para ir embora, afinal, era sexta feira. Rapunzel olhava nervosamente para o corredor, atenta aos movimentos dos outros estudantes, como se tivesse medo que esbarrassem nela. Soluço e Jack vinham logo atrás, conversando.

– Eu preciso ir ao banheiro. Não vou demorar. - Rapunzel disse, acelerando os passos em seguida.

– Espere eu vou com você! - Instintivamente Merida agarrou o braço dela para pará-la. Rapunzel gemeu baixinho, como se o contato causasse dor, e Merida franziu a testa. Nem mesmo a tinha segurado com muita força, por que então...

– Venha comigo. - ela ordenou, conduzindo Rapunzel até o banheiro com uma mão apoiada nas costas dela. Soluço e Jack simplesmente pararam, esperando por elas na porta do banheiro feminino.

Apesar do movimento lá fora, o banheiro parecia estar vazio. Merida olhou para Rapunzel com uma cara feia.

– E então? - ela intimou.

Rapunzel deu ombros, como se soubesse o que ela iria dizer em seguida, mas fingisse não saber.

– Você não me enganou com aquele papo de "estou bem" aquele dia na sua casa, Rapunzel. E não pense que me enganou hoje também. Eu quero saber o que está acontecendo. - ela exigiu, tentando ignorar o remorso que sentia ao ver Rapunzel se encolher como uma criança diante do tom que ela estava usando.

– Eu... Eu não sei o que você está falando. - ela desconversou, desviando o olhar do de Merida.

– Rapunzel, não faça isso. - Merida baixou o tom de voz, mas manteve a firmeza. - Estamos preocupados com você, de verdade. - ela franziu a testa ao se lembrar de Jack falando sem parar e fazendo piada o tempo todo. - Pelo menos eu e Soluço estamos. Não finja que não está acontecendo nada.

– Merida... De verdade, eu não sei do que...

Merida bufou, avançou um passo e segurou o pulso de Rapunzel com firmeza, mas sem machucar. Com a outra mão, afastou delicadamente a manga do moletom cor de rosa, revelando o braço de Rapunzel. A pele estava repleta de nódoas negras, algumas já sumindo e amarelando, outras tão escuras que pareciam ser recentes.

A raiva ferveu dentro de Merida e ela teve que se conter para não machucar ainda mais Rapunzel involuntariamente.

– Ainda vai me dizer que isso não é nada? - Merida rosnou, olhando fixamente para Rapunzel.

– Eu tropecei e caí na escada e... - Rapunzel balbuciou, nervosa, mas Merida a interrompeu.

– Como pode dizer uma mentira dessas? Nós duas sabemos quem fez isso com você.

Rapunzel puxou o braço, soltando-o e esfregando o pulso.

– Eu entendo que vocês estejam preocupados comigo, e agradeço, de verdade. Mas isso não é da conta de vocês, nem de ninguém. Minha tia Gothel é tudo o que eu tenho. Ela cuidou de mim quando meus pais morreram e eu não tinha mais ninguém. Se não fosse por ela eu iria parar em um orfanato ou pior! Não vou deixar que você fique insinuando coisas sobre ela, Merida. Mesmo que você seja minha melhor amiga. - Rapunzel disse, em um tom de advertência. Depois se virou e saiu, a passos apressados.

Merida foi atrás dela, mas quando finalmente alcançou o corredor, Rapunzel já estava longe. Soluço e Jack encaravam o corredor no lugar onde ela passara correndo, confusos. Quando a viu sair, Jack lançou um olhar furioso para Merida.

– O que foi que você fez? O que disse pra ela sair correndo daquele jeito? - Jack a acusou.

– Eu? - Merida rugiu - Eu estava tentando ajudar! Diferente de você que fica fazendo piada com tudo e mal notou o estado em que ela estava.

– Acha que eu não notei? - Jack rebateu - Você acha que eu não reparei que ela estava abatida e triste e tentando fazer o melhor para que a gente não reparasse? Caso você não tenha percebido, Merida, a Rapunzel não quer falar sobre o que aconteceu ainda. Eu só tentei distraí-la, fazer esquecer e dar algumas risadas, pra depois tentar fazer ela se abrir comigo, mas você estragou tudo! - ele jogou as mãos para o alto, exasperado.

– Agora a culpa é minha? - Merida gritou, mas parou subitamente, esquecendo o que ia dizer quando Soluço tocou o braço dela.

– Gente. - Soluço pediu, em um tom cauteloso - Agora não é hora, e aqui não é um bom lugar pra falar sobre isso.

Uma pequena plateia havia se formado ao redor deles e Merida e Jack coraram ao perceber que estiveram gritando um com o outro o tempo todo.

Com um suspiro, Soluço acenou na direção do corredor e eles continuaram andando. Quando achou que Merida e Jack estavam mais calmos, dirigiu-se a ela.

– Merida. O que era aquilo no braço dela? - Soluço perguntou, com um pouco de medo da resposta.

Merida se segurou para não lhe dar uma resposta torta, mas não conseguiu evitar.

– Acho que nós três sabemos o que é. - ela respondeu, emburrada.

Soluço suspirou outra vez, fechando os olhos e jogando o cabelo para trás. Algo no gesto disse a Merida que aquilo não era totalmente novo para ele. Como se encaixasse uma peça em um quebra cabeça difícil, Merida parou subitamente no meio do corredor e apontou um dedo acusador para ele.

– Você sabia! Você sempre soube! - ela disse, magoada por ele não ter dito nada a ela.

Soluço negou com a cabeça.

– Eu tinha minhas suspeitas, mas não tenho nenhuma prova. Não posso simplesmente acusar Gothel sem provar. Mas acho que hoje foi mais do que suficiente. - ele explicou, com um olhar distante.

– Desde quando você acha que essas agressões vem acontecendo? - Jack perguntou.

– Eu não sei ao certo. Eu conheço Rapunzel desde os seis anos. Nós crescemos juntos, praticamente. Ela sempre teve essas doenças repentinas e essa coisa de perder as aulas. Gothel sempre a tratou muito mal, mas eu nunca notei nenhuma evidência física.

– Nós não podemos deixar isso continuar acontecendo! - Merida protestou. - Não podemos deixar a Punzie a mercê daquela bruxa!

– Enfim concordamos com alguma coisa. - Jack admitiu, revirando os olhos - Temos que agir.

– Primeiro precisamos de provas. - Soluço explicou. - Rapunzel vai negar tudo o que dissermos, então nós temos que provar antes de levar Gothel à polícia.

A contragosto, Merida e Jack concordaram com ele. Não poderiam fazer nada contra Gothel sem provar antes. Acusá-la sem provas seriam apenas palavras vazias.

_____

O final de semana finalmente tinha chegado, mas Merida não se sentia nem um pouco animada com ele. Sabia que sua mãe tinha planos, mas como é que ela podia se divertir sabendo que naquele exato momento, sua nova melhor amiga estava sozinha naquela casa enorme com aquela louca a solta? Como podia sequer dormir quando sabia que Rapunzel podia estar sofrendo nas mãos de Gothel, naquele exato momento?

Ela se levantou da cama, ainda de pijamas, shorts e uma camiseta, pouco antes do sol nascer, inquieta. Ligou o rádio baixinho e se sentou em uma cadeira, de frente para a janela, observando a rua com o olhar perdido.

– Também não conseguiu dormir? - disse a voz de Jack atrás dela.

Merida conteve os gritos que estava a ponto de dar para ele por que não queria acordar a casa toda, mas também por que não tinha energia para lidar com ele. Não ás cinco da manhã. E não preocupada com Rapunzel do jeito que ela estava.

– Como eu posso dormir depois de ontem? - ela explicou dando ombros. Apoiou os pés na cadeira, apoiou o queixo nos joelhos e abraçou as próprias pernas, ainda encarando a rua.

Jack parou ao lado dela, encarando a janela e assentiu também. Estava com o cabelo arrepiado para cima em um dos lados, uma regata cinza e uma calça de moletom azul. Ela nem tinha que perguntar para saber que estavam pensando na mesma coisa, apesar de serem tão diferentes.

– Me desculpe por ontem. - ele soltou, enfiando as mãos nos bolsos, sem olhar para ela. - Aquela cena toda no corredor.

Merida não pode evitar olhar para ele de olhos arregalados. Jack Frost se desculpando com ela? Antes que se desse conta as palavras já estavam escapando dela.

– Tudo bem. Eu também não fui muito gentil. - ela admitiu.

Xingou a si mesma por pensar que Jack não tinha reparado que Rapunzel estava diferente. É claro que ele notara. Afinal de contas, não tirava os olhos dela. Mas ao invés de se mostrar preocupado e tenso, como ela e Soluço, tentou distraí-la de seus problemas e fazê-la esquecer, tentou fazê-la rir e ficar à vontade.

– Não consigo parar de pensar que... - Ele parou e engoliu em seco, como se não conseguisse continuar.

Merida se levantou e colocou mão no ombro dele.

– Ei... - ela o virou, fazendo-o olhar para ela. - Pare com isso. Não podemos ficar aqui pensando no que pode estar acontecendo agora. Temos que nos concentrar em uma maneira de ajudá-la, de reunir provas.

Merida se espantou ao perceber que aquele conselho servia tanto para ela mesma quanto para ele. Jack assentiu, seu rosto ganhando uma nova determinação.

– E ajudaria se a gente parasse de tentar se matar no processo. - ela admitiu, a contragosto. - Não vamos servir para nada se ficarmos brigando como cão e gato.

– Fale por você. - Jack ironizou, com uma sobrancelha levantada. Estendeu a mão direita para ela. - Trégua?

Merida sorriu, apertando a mão dele.

– Trégua. - ela concordou.


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