Better Together escrita por Lirael, MusaAnônima12345


Capítulo 6
Revelações.




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Mal haviam se passado três aulas e Merida já queria voltar para casa. É claro que no primeiro dia de aula não havia nenhuma lição tão difícil nem importante, mas só aquela gritaria na sala de aula e conversas paralelas já eram tortura para ela. Mirava o relógio ansiosamente esperando que o tempo andasse mais rápido para tomar um ar lá fora. O ponteiro de segundos parecia se arrastar de propósito, para a angústia da garota.

Rapunzel subitamente se virou para puxar um assunto com a mais nova amiga.

– Merida, quantos anos você tem mesmo? O que você mais gosta de fazer? Você foi sempre ruiva? Como foi de férias?

Primeiramente ela se assustou com tantas perguntas e arqueou uma sobrancelha.

– Eu... - balbuciou tentando pensar em uma resposta para todas as perguntas. Aparentemente Rapunzel se cansou de esperar por uma resposta.

– E você Jack? Como foi de férias? Tá gostando dessa escola? Você gosta de que tipo de música? Qual seu esporte favorito? - a loirinha de olhos verdes esmeraldas a cortou e se dirigiu as perguntas ao insuportável que tinha como irmão. Aquilo a irritou por dentro e ela desviou o olhar para a janela da sala de aula evitando dizer algo errado.

– Bem... minhas férias foram boas, tirando algumas coisas aqui e ali. A escola é muito boa. Eu gosto muito de rock e meu esporte favorito é Hóquei no gelo. - o garoto terminou ofegante, respondera tudo rapidamente tentando não esquecer nenhuma pergunta.

Merida olhou em volta e viu os seus outros colegas de classe. Conversavam animadamente em panelinhas ou em grupinhos sobre como tinham passado as férias e se tinham tido algo importante nelas. Ela odiava aquelas rodinhas de fofoca. Se fossem falar mal de alguém, que falassem na cara oras!

“E tem pessoas que gostam desse tipo de gente”, pensou com olhar reprovador em direção ao grupinho de meninas próximas a ela. " A essa altura já devem estar falando mal uma das outras pelas costas."

Um toque em seu ombro e ela se viu encarando aquele par de olhos verdes que conhecera mais cedo. Soluço a olhou por alguns segundos e deu um pequeno sorriso.

– Não se preocupe com a Punzie, ela gosta muito de falar e você já deve ter percebido isso.

Merida assentiu, lançando uma olhadela discreta da direção de Rapunzel e Jack.

– Sim. Ela gostou de falar especialmente com o meu irmão. – respondeu, irônica dando ênfase no irmão. - Ela vai precisar tomar cuidado com ele.

– Porque? Seu irmão é tão bonito e pegador que é perigoso ela se machucar com o sorriso dele? - Soluço perguntou irônico e a fez dar risadas. - Ou então os olhos dele vão encará-la por muito tempo e ela vai se desintegrar? – continuou, fazendo a garota rir mais. Sua risada desengonçada o fez rir também.

– Me... me desculpe. - Merida disse, calando-se rapidamente ao perceber a risada meio roncada que estava dando. - Minha risada não é assim. – Ela se justificou, um pouco ruborizada.

– Não tem problema, a minha é pior acredite. - respondeu calmamente e deu uma piscadela a ela.

Um som alto e barulhento a assustou alertando que era hora da saída. Merida mal notara o tempo passar, entretida como estava conversando com Soluço. Juntaram o material e saíram rapidamente para o corredor.

– Nos encontramos no estacionamento? – Rapunzel perguntou, olhando para Soluço e Merida.

– Claro. Vou guardar isso aqui e já desço para encontrar vocês. – Soluço mostrou os livros e subiu o lance de escadas, com Merida seguindo-o.

– Não encontraram um armário aqui embaixo para você? – ela perguntou, desviando-se de alguns estudantes que vinham na direção contrária.

Soluço não pareceu ouvir, e tinha uma expressão concentrada. Merida pôde ver que seu maxilar estava tenso, e seus dentes estavam firmemente cerrados. Ao chegar no topo, ele parou, respirou profundamente algumas vezes e tomou fôlego, antes de ir para o próximo lance de escadas.

– Desculpe, você tinha dito alguma coisa? – ele perguntou para Merida, afastando o cabelo do rosto com a mão, enquanto inalava com inspirações longas.

– Estava me perguntando por que te deram um armário no quarto andar.

Ele olhou para ela, e por um segundo pareceu estar pensando na resposta que daria, considerando o que dizer a ela. Por fim, deu ombros e respondeu.

– Fui eu que pedi. – ele disse, sem maiores explicações.

Aquilo obviamente aguçou ainda mais a curiosidade de Merida.

– Por que você pediria uma coisa dessas? Quero dizer, ninguém gosta de subir escadas. – ela franziu a testa, sorrindo para ele, intrigada. Mas a resposta que ele lhe deu só a deixou com mais perguntas.

– Minha fisioterapeuta recomendou que eu me exercitasse o máximo possível. – Soluço respondeu, antes de se virar e subir outro lance de escadas.

Merida estava morta de curiosidade e queria fazer mais perguntas, mas se conteve. Afinal de contas, só o conhecia a um dia. As respostas viriam mais cedo ou mais tarde, e se não viessem, logo ela se sentiria íntima o bastante dele para perguntar. “Se eu não me segurar, vou acabar como a Rapunzel e disparar uma pergunta atrás da outra”, ela pensou, com um risinho.

No quarto andar, Soluço deu o melhor de si para esconder que estava prestes a desmoronar, o que pareceu ser suficiente, já que Merida mal notara. Guardou suas coisas no armário e fez um gesto de cabeça para Merida.

– Vamos?

Ela assentiu. Novamente ele desceu as escadas daquela maneira estranha, como se ainda não tivesse adquirido equilíbrio suficiente ou pensasse que iria cair a qualquer momento. Merida observou que a mão dele apertava o corrimão com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, mas ela se segurou para não fazer nenhum comentário.

Chegando outra vez no térreo, ela viu três vultos alaranjados correndo entre os adolescentes e saírem da sua vista, tão rápido que ela mal pôde chamar por eles.

Merida seguiu Soluço para o estacionamento, olhando para os lados e procurando por Jack e Rapunzel. Ao longe viu um intenso brilho amarelado refletido pelo sol e identificou Rapunzel, ao lado de Jack. O que mais a impressionou foram os trigêmeos que estavam perto dali conversando com outras crianças da mesma idade.

“Espero que a professora deles ainda não tenha ficado maluca.” pensou. “Agora que arrumaram uma gangue quero ver só” ela deixou escapar um risinho baixo, mal percebendo o olhar de Jack sobre ela.

– Vocês demoraram. – Jack brincou, com o olhar fixo em Merida. – Por acaso estavam ocupados?

Ele deu um sorriso malicioso, erguendo e abaixando as sobrancelhas para enfatizar o que estava dizendo. Merida piscou, uma ou duas vezes, e não pôde evitar corar até a raiz dos cabelos quando finalmente entendeu o que ele estava insinuando. Soluço, no entanto, pareceu desconfortável, embora fosse por outros motivos.

– Tenho certeza de que Soluço teve seus motivos. – Rapunzel tentou remediar a situação.

Houve uma chance bem pequena de que a história toda terminasse ali, mas Jack não pôde resistir a tentação de fazer um segundo comentário.

– Eu só achei que a minha irmãzinha iria esperar um pouco mais antes de arrumar um namorado.

Aquilo foi o bastante. Merida cerrou os punhos com força, pronta para socar Jack até a morte por envergonhá-la daquele jeito diante de seus novos amigos. Então se lembrou do aviso de Elinor para que se comportasse e da promessa que ela havia feito a North, dizendo que faria o melhor que pudesse para conviver com Jack. Mas simplesmente não conseguia, não podia continuar ali, olhando para aquele sorriso zombeteiro no rosto dele, não depois do que ele dissera. E se ficasse, com certeza iria bater nele.

Então, Merida fez o que pareceu ser a escolha mais sensata no momento. Virou-se e caminhou na direção oposta. Planejava entrar no banheiro das meninas, jogar um pouco de água no rosto para tentar apagar o rubor e voltar, quando estivesse mais calma e com menos vontade de matar seu irmão. Mas nunca chegou até lá.

– Merida! – Soluço chamou-a, mas ela não se virou, sentindo seu rosto queimar de constrangimento.

Ao invés disso, aumentou a velocidade dos passos, cerrando os punhos e sem olhar para os lados.

– Merida! – ele gritou outra vez, com um tom mais urgente, e ela franziu a testa, incomodada com a determinação dele. Queria tanto vê-la envergonhada assim?

Subitamente, Merida sentiu um empurrão forte, e perdendo o equilíbrio, caiu no chão. Por pouco não batera com a cabeça. Ela se virou, um pouco trêmula e nervosa, pronta para mandar o idiota que a empurrara para uma dúzia de lugares profanos, quando se deu conta de Soluço, caído no chão ao lado dela. Ele estava deitado de costas, apoiado com as mãos espalmadas no asfalto, enquanto uma moto prensava uma de suas pernas contra a parede.

O motoqueiro logo desceu, tirando o capacete, assustado.

– Você está bem, garoto?

Soluço apenas assentiu.

– Soluço! Sua perna! – Merida alertou. Como ele podia dizer que estava bem? Deveria estar sentindo dores terríveis com a perna esmagada contra a parede como estava.

– Está tudo bem. – Ele a tranquilizou.

Inclinou-se sobre a perna prensada e Merida ouviu um som metálico. Então ele se arrastou para trás, com um pouco de dificuldade e ela pôde ver o brilho metálico de uma prótese presa à parede, perfeitamente partida ao meio.

– Ah. Perfeito. – Soluço reclamou.

Merida logo se levantou e passou seu braço em volta do ombro dele, tomando cuidado para manter sua expressão neutra. Aquilo sem dúvida explicava muita coisa.

– Venha, apoie-se em mim. – ela disse.

– Merida! Soluço! – Rapunzel veio gritando, com Jack em seus calcanhares.

– Vocês estão bem? – Jack perguntou.

– Sim. Foi só um susto. – Garantiu Soluço.

– Temos que leva-los para a enfermaria! – Rapunzel disse, preocupada.

– Estou bem, Punzie. – Soluço disse, em um tom um pouco gélido, incomodado pelos olhares que Rapunzel atraía para ele com toda aquela algazarra. – É sério, não há nada...

– Se está bem, então não terá problema nenhum em ir até a enfermaria, não é? – Merida olhou-o, subitamente ciente da proximidade entre eles. – Você ralou os cotovelos no asfalto quando caiu. – ela acrescentou baixinho, sem desviar os olhos dos dele.

– Isso não foi nada. – Soluço disse, preso ao olhar dela.

– Deixe que a enfermeira diga. – Merida rebateu.

______

Meia hora depois e com os curativos nos cotovelos, Soluço e os outros deixaram a enfermaria. Soluço se apoiava debilmente em Merida.

– Talvez fosse uma boa ideia ligar para o seu pai vir te buscar – Jack sugeriu.

– A bateria do meu celular morreu. – disse Merida, lançando um olhar feio para Jack. – Por que é que você não liga? A culpa foi sua afinal.

– Minha? Não fui eu que saí correndo pelo meio do estacionamento! - ele retrucou.

– Se não tivesse me irritado eu não teria corrido! – Merida rosnou.

– Pessoal... – Rapunzel tentou apaziguar a discussão.

– Rapunzel! – Uma voz de mulher a chamou, do outro lado do estacionamento.

Por um segundo, o terror pareceu cruzar a expressão de Rapunzel. Mas sumiu, e ela se virou sorrindo, como se nunca tivesse estado lá.

– Tia Gothel. – ela disse, deixando escapar um suspiro.

Merida se virou para encarar a estranha. Era uma mulher de meia idade, muito bonita. Tinha olhos grandes e verdes, cabelos pretos, compridos e muito encaracolados e um corpo que faria inveja a muitas garotas da idade dela. A mulher usava um vestido vermelho escuro e muito justo até os joelhos, ressaltando suas curvas. Caminhava a passos largos na direção de Rapunzel, e sua expressão não era nada satisfeita.

– Ah não... – Soluço murmurou, ainda apoiado a Merida.

– Rapunzel! – A mulher silvou. – Você está atrasada!

– Tia Gothel... Me desculpe, é que aconteceu... – Rapunzel tentou explicar, só para ser interrompida por Gothel.

– Estou farta das suas desculpas, Rapunzel. Tem ideia do que eu passei? Achei que tivesse acontecido alguma coisa!

– Aconteceu. Na verdade o Soluço...

Gothel pareceu vê-los ali pela primeira vez, lançando um olhar de desdém para Merida e franzindo a testa ao olhar para o cabelo de Jack. Mas ao olhar para Soluço, sua boca cerrou-se em uma linha fina.

– Soluço.

– Senhora Gothel. – ele a cumprimentou.

– Nunca pensei que esse dia chegaria, não mesmo. – Gothel silvou. – Sempre achei que você fosse uma boa companhia para ajudar a manter essa desmiolada na linha. Parece que me enganei.

– Escute aqui, dona. – Merida a interrompeu, irritada pelo jeito como aquela mulher falava de Rapunzel.

– Merida, não... – Rapunzel implorou, mas já era tarde demais.

– A Rapunzel não é nenhuma desmiolada, e não importa quem você seja, não tem o direito de falar assim com ela.

Nojo era a palavra perfeita para descrever o modo como Gothel encarou Merida. Ela a olhou de cima abaixo e depois de alguns segundos, inclinou a cabeça para o lado, pensativa, como se pensasse se devia ou não esmagar uma formiga embaixo de suas botas.

– E você seria? – ela cuspiu.

– Sou Merida e sou amiga da Rapunzel.

– Oh, querida. A Rapunzel não tem amigas. – ela lançou um olhar de desdém para a sobrinha. – Não é muito difícil entender o porquê.

Ao ouvir aquilo, Rapunzel baixou a cabeça, constrangida. Merida logo se adiantou para dizer alguma coisa, mas Gothel deu as costas a ela, indo na direção de Rapunzel. Sua mão direita agarrou-a pela orelha, e Rapunzel gemeu, dolorida, embora não tivesse protestado nem mesmo uma única vez.

– Quanto a você, mocinha. – Gothel disse, e cada palavra parecia conter veneno. – Vai pagar caro pelo sofrimento que me fez passar aqui hoje. Nem vai querer saber o que te acontecerá quando chegar em casa.

Jack deu um passo a frente, indignado com a forma que aquela mulher tratava Rapunzel.

– Pare com isso! Está machucando ela! – ele pediu, mas Gothel nem se deu ao trabalho de olhar, arrastando Rapunzel em direção a uma caminhonete vermelha imensa.

Jack fez menção de ir atrás dela, mas Rapunzel o parou antes que ele desse outro passo.

– Não Jack! – ela pediu. – Eu vou ficar bem! Não se preocupe comigo.

– Mas... – ele tentou argumentar.

–É melhor fazer o que ela diz. – Recomendou Soluço.

Gothel a segurava com tanta força agora que Rapunzel teve que andar encurvada, gemendo e chorando sob o aperto de ferro de sua tia. Com um movimento brusco, Gothel abriu uma das portas do carro e atirou Rapunzel lá dentro como se ela fosse um saco de lixo.

– Como pode dizer isso, Soluço? Você não acabou de ver o que...

– Eu sei o que eu vi. Mas se insistir nisso, vai comprar uma briga feia com a Rapunzel. Acredite em mim, já vi acontecer antes. Gothel é a única família que ela tem, e Rapunzel não admite que ninguém interfira na relação delas.

– Mas isso não é justo. – Merida protestou. – Se Gothel é sua única família, como Rapunzel pode deixar que ela a trate assim?

– Eu nunca disse que era justo. Mas quando se trata da Gothel, Rapunzel não escuta ninguém. – Soluço disse.

Os três ficaram ali, em silêncio, olhando enquanto Rapunzel se encolhia diante de Gothel, que gritava com ela a ponto de a garota querer parecer entrar dentro do banco do carro. Depois, ela enfiou a chave no carro e o ligou, desaparecendo em seguida.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo pessoal! - MusaAnônima12345



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