Acordo com a maldita luz do sol na minha cara. Resmungo algo incoerente, e viro-me na cama. O problema é que eu estava na ponta do colchão, o que resultou uma Alexia espatifada no chão, morrendo de dor de cabeça.

– Maldita bebida alcoólica, maldito sol, maldita dor de cabeça e maldito David Grimm! – Grito fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Choramingo e vou em direção do banheiro, tiro a roupa e entro debaixo do chuveiro com a água fervendo, e os acontecimentos da noite interior me invadem de supetão.

“O que o maldito queria fazer, antes daquela mulher chegar?” Pergunto-me mentalmente.

“O que você acha, sua idiota? Ele ia te beijar!” Responde a minha querida consciência. Eu já falei que ela é um amor?!

“Porque ele ia tentar me beijar logo ontem, depois de todos esses anos? Ele nunca tentou algo parecido antes.” Penso e encosto minha testa no azulejo gelado do Box.

“Por que, antes, sempre que vocês ficam sozinhos, era em um local de trabalho.” Responde minha consciência, novamente.

“Cale a boca, consciência! Você está me deixando ainda mais confusa!” Ordeno à minha consciência.

Ah, que ótimo! Agora estou falando com a minha consciência, como se ela fosse uma pessoa. Eu estou enlouquecendo! E isso é culpa de David Grimm.

Desligo o chuveiro antes que eu comece a conversar com a minha mente, de novo. Coloco a primeira roupa limpa que vejo no meu closet, e visto indo em direção da cozinha preparar algo para comer. O meu estomago está rugindo, então eu tinha que me alimentar.

Estava preparando uma torrada para mim quando Hill adentra a cozinha, com uma cara de zombie.

– Por favor, Sr. Zombie. Não coma o meu cérebro! – Peço lentando às mãos defensivamente, e ri com a careta de Hill. Ela senta no balcão.

– Cala a boca. Minha cabeça parece que vai explodir! – Reclama colocando as duas mãos na cabeça.

– Isso é culpa sua. Eu disse que devíamos beber só algumas cervejas, mas você me escutou?! Não! – Lhe acuso mordendo minha torada.

– Ok! Da próxima vez eu vou tentar te escutar – Diz dando um sorriso zombeteiro. Jogo o pano de prato na sua cara a fazendo rir.

– Isso, vai zombando. Quero ver quem vai te ajudar a sair de suas encrencas, ou te dar um ombro para chora, ou...

– Tudo bem! Eu já entendi que eu não vivo sem você – Fala me interrompendo, então pula do balcão para se servir também.

– O que vai fazer hoje? – Pergunta com um sorriso sapeca.

– Nem pensar! Amanhã nós duas temos que trabalhar, e eu nunca mais coloco uma gota de álcool no meu sistema digestório – Digo lhe olhando ameaçadoramente. Essa garota nunca aprende?! Ela a recém estava reclamando de dor de cabeça, e já está pensando em sair para beber de novo!

– Calma, eu estava só brincando! – Diz Hill rindo.

– Sei – Resmungo e vou para a sala. Sento-me no sofá e começo a ver Frinds.

Meu domingo se resumiu nisto, eu vendo séries de TV e comendo. Ah, e eu pensar no David e no nosso quase beijo, e em com que cara eu iria ir trabalhar amanhã.

“Com a sua né sua idiota! Ou você acha que dá tempo de você fazer uma plástica?!” Zomba minha consciência. Ignoro-a e vou para a cama quando vejo que já é 22:30h, eu tinha que acordar cedo amanhã. Então nada mais justo do que ir dormir cedo também.

Fico um tempo rolando na cama, ainda pensando no Sr. Maldito, até que finalmente pego no sono, e sonho em um certo ser de olhos castanho esverdeado.

Acordo com o som do despertador, e vou para o banho para poder começar meu dia. Faço minha higiene e vou para meu quarto me vestir.

Coloco uma das minhas lindas lingeries, - Sim, além de ter paixão por saltos altos, eu também amo lingeries caras. Porém, desta vez, isso não é por causa do Sr. Maldito – E coloco uma camisa branca, com uma saia preta e, é claro, que meus indispensáveis saltos. Faço uma maquiagem leve, pego minha bolsa e vou para a empresa de carona com Hill, que estava indo para o seu ensaio fotográfico.

Comprimento Fred, o segurança da empresa, e entro no elevador com os outros funcionários. Aceno com a cabeça para eles e aperto o botão do último andar. Quando finalmente chego no meu setor, cumprimento Kate, a recepcionista daquele andar e vou para minha sala. Como esperado, Sr. Grimm ainda não havia chegado. Ligo o meu computador e passo a agenda da semana para meu tablete, para passar para o Sr. Grimm mais tarde.

Organizo a reunião de mais tarde, quando termino ouço a porta do Sr. Grimm ser aberta e então fechada. Espero alguns minutos, respiro fundo e finalmente vou até a sala do meu chefe.

Bato na sua porta e abro quando escuto um: “Entre” abafado.

– Bom dia, Sr. Grimm – Cumprimento ele entrando na sala. Ofego baixinho, mas consigo me recuperar para que ele não percebesse. David parecia estar acabado. Estava lindo, é claro. Seus cabelos estavam à bagunça sexy de sempre, suas roupas alinhadas sem nenhum gomo, mas seu olhar parecia se extremo cansaço, e as sombras um pouco escuras debaixo dos seus olhos comprovam isso.

– Bom dia, Alexia – Diz tirando seu olhar do seu Notebook. Paro de respirar quando ele fala meu nome. “Ele me chamou de Alexia de novo! E no trabalho!” Comemoro interiormente, mas por fora, faço a minha melhor cara sem expressões que sei fazer. Na verdade eu tinha aprendido isso com ele, o observando, mas jamais vou admitir isso em voz alta.

– Preciso lhe passar a agenda da semana – Digo me sentando na cadeira em frente da sua mesa. Já era um ritual fazermos isso toda a segunda-feira.

– Claro – Diz me olhando intensamente. Desvio o olhar – Porque eu sou uma covarde – e ligo meu tablet, lhe passando toda programação da semana.

– E temos a reunião com o pessoal do setor de contabilidade, hoje às 14:30h – Termino levantando-me. David passava tudo para seu Notebook, sem nenhum comentário de mau gosto que ele sempre fazia.

– Sente-se, Alexia. Ainda preciso falar com você sobre ontem – Ordena quando me vê levantada.

– Não temos nada para falar sobre ontem, se não precisa mais de mim eu vou voltar aos meus afazeres – Digo indo até a porta a abrindo, mas a mesma é fechada por David. “Como ele chegou até aqui?!” Pergunto desesperada quando o vejo trancado a porta. “Ai meu pai amado.”

– Nós temos muito que falar sobre ontem, sim – Diz no meu ouvido parecendo irritado.

Dou um passo para trás saindo de perto dele.

– Tudo bem, eu estou escutando – Falo cruzando os braços.

– Olha, não vou dizer que eu me arrependo de ter tentado te beijar. Porque eu não me arrependo – Começa passando a mãos pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais. Eu nunca tinha visto David tão nervoso nesses quatro anos que convivo com ele. – E aquela mulher... – Ele continua, mas eu o interrompo.

– Não precisa me dar satisfações, Sr. Grimm. Eu estava bêbeda, e prometo que não vai acontecer de novo. Se você não se arrepende, eu sim – Meu Deus! O que eu estou dizendo?!

David vem na minha direção e eu me afasto, até que estou presa entre ele e a parede.

– Não acredito em você – Diz olhando no fundo dos meus olhos. Fico perdida naqueles lindos olhos, mas balanço a cabeça saindo de transe. Empurro-lhe minimamente, porém, consigo sair.

– Acredite no que quiser, David. Eu tenho trabalho para fazer, com licença – Destranco a sua porta e vou até a minha sala me atirando na minha cadeira.

– O que foi tudo isso?! – Pergunto a mim mesma colocando a cabeça na minha mesa.

Suspiro e continuo meu trabalho como se nada tivesse acontecido.

Perto do meio dia, Hill me manda uma mensagem perguntando se eu queria almoçar com ela hoje. Aceitei na hora o convite e continuei trabalhando até o 12:00h. Eu sempre tinha uma hora e meia de intervalo no almoço, então poderia almoçar tranquila com a minha melhor amiga.

12:00h recebi outra mensagem de Hill dizendo que estava me esperando no saguão da empresa. Peguei a minha bolsa e fui de encontro a ela.

Hill sorriu animada quando me viu saindo do elevador. Sorri minimamente para ela e a abracei.

– Que cara é essa, il mio angelo? (meu anjo) – Hill pergunta-me com as mãos no meu rosto.

– Podemos conversar em outro lugar? – Pergunto.

– Claro, vamos. Conheço uma lanchonete ótima aqui perto – Diz me guiando para fora da empresa.

Vamos com o carro dela até uma lanchonete a um quarteirão da empresa. Quando já estávamos sentadas em uma mesa nos fundos, e já estávamos comendo, Hill me encara com a cara de uma mãe preocupada com a filha. Quase ri com isso. Quase.

– Eu sei que eu não costumo fazer isso, mas eu estou ficando preocupada com você... Então, o que aconteceu? – Questiona apertando minha mão por cima da mesa.

– David aconteceu – Digo e lhe conto tudo sobre ontem e hoje. Hill escuta tudo quieta até eu terminar.

– Uau. Você é uma idiota – Hill diz depois que eu paro de falar.

– Muito obrigado! – Falo sarcástica.

– Porque você não deixou ele te beijar? – Pergunta como se eu tivesse duas cabeças em vez de uma.

– Porque aquela mulher chegou e... – Explico, porém Hill me interrompe.

– Não estou falando de ontem. Estou falando de hoje! – Exclama me dando um tapa.

– AI! – Reclamo do tapa. – E eu não sei! Estou confusa! Eu quero beijar ele, mas também não quero porque eu o odeio – Digo passando os dedos pelos meus cabelos soltos.

– Você odeia o seu chefe, mas está apaixonada por David – Hill explica como se fosse óbvio.

– Isso não faz sentido – Digo e agora sou eu que olho para ela como se ela tivesse duas cabeças.

– Claro que faz! – Exclama magoada. Reviro os olhos, mas faço sinal para que ela continue.

– Então... É só você saber separar os dois. No trabalho, David é o Sr. Grimm, seu chefe, aquele que você odeia, e fora do trabalho, David é só o David – Explica sorrindo.

– Me deixe ver se entendi. Você está me dizendo para eu tentar me aproximar do David fora do trabalho, e no trabalho agir só profissionalmente? – Pergunto arqueando uma sobrancelha.

– Isso! – Hill diz sorrindo e bate palmas animadas, como se eu fosse uma criança que aprende a dizer uma palavra.

– David não vai querer isso, até porque eu nem sei o que ele quer! – Digo – Só sei que ele tentou me beijar, e está me chamando de Alexia.

– Claro que você não sabe o que ele quer! Você não o deixa ao menos se explicar.

– Tudo bem, eu vou tentar falar com ele depois do trabalho – Digo me levantando e pegando minha bolsa, deixando algumas notas em cima da mesa. – Preciso voltar para a empresa.

– Ok, até depois! – Diz Hill me abraçando. Dou uma piscada para ela e vou para a empresa a pé, já que eu estava perto.

Entro no prédio da empresa e grito para segurarem a porta do elevador, e vou correndo até o mesmo.

– Obrigado! - Agradeço a Dexter, que tinha segurado a porta e aperto o botão do ultimo andar.

– Por nada. Tenho te visto pouco ultimamente – Diz me dando um beijo na bochecha.

– Pois é. Semana passada a empresa estava de pernas para cima – Falo rindo – Como está Simone? – Pergunto e Dexter abre um sorriso maior ainda quando digo o nome da sua esposa.

– Está ótima, e disse que está com saudades de você – Responde.

– Eu também estou. Avise-a que vou ligar para marcamos algo – Digo quando chega o andar dele. Dexter acena para mim e sai do elevador.

Subo sozinha até o ultimo andar e vou para a minha sala e não vejo nenhum sinal de David.

Quando meu deu 14:00h, vou para a sala de reuniões e preparo tudo antes de todos chegarem. O pessoal da contabilidade chega, incluindo Dexter que vai direto para a mesa que havia colocado os biscoitos preferidos dele e de David. E falando/pensando em David, só faltava ele para começarmos.

– Desculpem o atraso – Diz Sr. Grimm entrando na sala e sentando-se na ponta da mesa, comigo a sua esquerda e Dexter a sua direita.

A reunião segue tranquila, e eu anoto tudo como sempre. Mas dessa vez David ia me agradecer mais pelas anotações, porque eu tenho certeza que ele não está escutando uma palavra do que os outros estão dizendo. Meu rosto esquentava toda vez que sentia que ele estava me encarando.

No final da reunião organizo a sala enquanto David se despede dos funcionários. Quando termino, e só está David e eu na sala, decido se devo ou não falar com ele.

“Mas o que eu falo?” Pergunto-me desesperada.

– Preciso falar com você – Digo a ele, antes que o mesmo saísse da sala.

David arqueia uma sobrancelha para mim, mas não fala nada, apenas faz um sinal indicando que eu prossiga.

Porém antes que eu possa falar algo Kate entra na sala.

“Ah, qual é?!”

– Desculpe Sr. Grimm, mas uma mulher chamada Deise ligou e pede para falar com você. Ela diz que é importante – Kate diz se desculpando. O rosto de David endurece ao ouvir o nome da mulher e se retira da sala.

“Deise? Será que é a mesma de sábado?” Pergunto-me, e o me encho de ciúmes como toda vez que aparece uma mulher na vida de David.

Talvez esse seja um sinal para eu não falar nada, e que nós dois não devemos ficar juntos.

“Talvez seja isso mesmo.” Penso e vou para casa com os meus pensamentos conturbado e mais confuso do que nunca.