O telefone tocava desesperadamente enquanto Akemi estava com o celular de Yui colado em sua orelha. Era como se o mundo tivesse congelado ao seu redor. Dentro daquela sala estava apenas ela e Info-chan, uma fitando a outra assustadas enquanto o celular de Hiro tocava desesperadamente na mão de Info-chan. Akemi logo o reconheceu, ela sempre o via com aquele telefone, mas por que Info-chan estava com ele?

De repente tudo começou a fazer sentido e ela sentiu seu estômago revirar. Ela piscou várias vezes antes de dizer alguma coisa. Não dava para negar, ela estava certa, como não havia percebido antes? Akemi desligou o telefone de Yui e o jogou no chão ainda fitando Info-chan.

– Por que? – Perguntou sem entender.

– Do que você está falando? – Perguntou Info-chan.

– Chega de jogos, eu já descobrir tudo. – Akemi segurou o choro que estava por vir. – Por que me mandou fazer todas essas coisas, Hiro? – Info-chan sorriu, definitivamente seu disfarce estava arruinado.

Hiro tirou a peruca vermelha e as lentes de contato. Assim Akemi viu o seu grande amor na sua frente com roupas femininas sorrindo para ela de uma maneira que ela nunca o havia visto sorrir. Ele parecia outra pessoa, parecia se divertir com todo aquele acontecimento.

– Posso me trocar primeiro antes de explicar? Não é nada confortável ficar dentro dessa roupa de mulher. – Ele sorriu de canto. – Afeta drasticamente a minha masculinidade e eu não sou homossexual.

– Tudo bem, tanto faz. – Akemi sentou enquanto ele subiu as escadas. Algum tempo depois Hiro voltou e era o Hiro de antes. Seus belos cabelos negros brilhavam ao refletir o brilho do lustre que ficava no teto. Ele foi até a cozinha e trouxe um copo com água, o colocou ao lado de Akemi que o revirou. Ela ainda estava confusa.

– Desde sempre eu soube que você gostava de mim, de que gostava muito mais que qualquer outra menina já gostou. Por isso resolvi te testar. Fingi não perceber e criei a Info-chan, queria saber o que você seria capaz de fazer por mim. – Ele segurou o queixo de Akemi a fazendo o fitar. – Você me provou, você fez loucuras por mim. Acho que agora merece o seu prêmio.

Ele a fez levantar e a agarrou pela cintura. Akemi sentiu a sua respiração ficar mais intensa e o seu rosto esquentar. Nunca havia estado tão perto de um garoto assim. Hiro fechou os olhos e ela ficou ali observando o seu rosto angelical. Ele se aproximou mais e logo os seus lábios chocaram contra o dela, eles eram macios e ela sentiu o incrível desejo de lhe retribuir o beijo. Eles se beijaram durante um tempo até que Akemi o empurrou, ainda precisava de explicações.

– Não ficou mal por tantas pessoas terem morrido por causa dos seus joguinhos? – Ela perguntou um pouco fria.

– Não me importo. – Hiro sentou-se – Eu gosto de jogos, independente do que eles possam causar. Não sinto remoço algum, não ligo para os que morreram e repetiria tudo de novo. – Ele a fitou sorrindo ainda mais. – Foi incrível ver você agir, ver você fazendo tudo que eu mandava para me conquistar e ao mesmo tempo saciar a minha vontade. Não vou negar que a princípio você era apenas um item do meu jogo que eu ia descartar quando a polícia aparecesse. Mas eu acabei gostando de você e logo percebi que a queria e que a desejava.

– Por que então não veio até mim e me contou? Por que não me contou antes da chacina?

– Por que eu precisava daquilo, eu precisava de uma prova que você seria realmente fiel a mim.– Ele se levantou. – Eu não suportaria ser traído ou deixado. Sou muito possessivo e tudo que é meu é meu. Então eu precisava saber que você era fiel a mim e que faria tudo que eu pedisse.

– Pois bem eu fiz, e agora?

– Não terminou ainda. – Ele se virou para Yui que acabava de acordar, ela olhava desesperada para ele e ao ver Akemi começou a se contorcer e chorar. – Conheço Yui desde criança, ela foi o meu primeiro amor. Eu adorava vê-la brincando no parquinho todos os dias depois da escola. A única menina loira da escola, como eu adorava os seus cabelos dourados. – Ele se aproximou de Yui. – Me aproximando aos poucos até nos tornamos grandes amigos, todos os dias brincávamos juntos e assim fomos crescendo juntos. Quando chegamos as doze anos eu me declarei, lembro que peguei uma rosa no quintal da senhora Matsuda e corri ao encontro de Yui, quando eu lhe disse o que sentia ela riu de mim e saiu com um garoto do último ano, seu namorado. Daquele dia em diante eu passei a odiá-la com todas as minhas forças e prometi para mim mesmo que um dia eu me vingaria e que encontraria alguém melhor que você. – Yui se contorcia cada vez mais forte, as amarras estavam apertadas e logo começaram a esfolar as suas mãos e pés até ficar em carne viva. – Ficamos um bom tempo sem nos ver e quando nos vimos você mostrou um enorme interesse por mim, eu virei um cara lindo, não? Pois bem, logo a Akemi apareceu e ela é linda, tão linda quanto você, Yui. Ela gostava de mim e eu vi alguém com grande potencial para me ajudar na vingança e ser a minha parceira.

– Onde você quer chegar?

– Calma minha bela. – Ele mandou um beijo para Akemi. – A vingança será hoje. Sua última prova Akemi. Quero que destroce Yui aqui na minha frente, agora. Prove que me ama, prove que é capaz de qualquer coisa por mim.

– Hiro. – Akemi tremia. – Eu te amo e faço qualquer coisa por você. – Akemi pegou uma faca que estava sobre a mesa e começou a caminhar na direção de Yui que se contorcia desesperada.

– Não use isso. – Hiro levantou e abriu uma gaveta, de dentro retirou um revolver e entregou para Akemi. – Use isso.

Ela pegou a arma e mirou na cabeça de Yui. Akemi sabia atirar muito bem, seu pai era militar e ele havia-lhe levado uma vez a um lugar onde se ensinava usar uma arma. Aquele foi um dos dias mais incríveis de toda sua vida.

A tenção estava forte naquela sala. Hiro observava as duas como se estivesse assistindo ao episódio final de uma série famosa. Akemi se sentia uma heroína, pronta para finalizar o seu trabalho e viver o feliz para sempre com seu amor. Yui ainda se contorcia não importando com a dor que sentia, o medo da morte a dominava.

Akemi estava pronta para atirar quando foram surpreendidos.

– Abaixe a arma e coloque as mãos detrás da cabeça! – A voz veio de fora em alto e bom som. Hiro se levantou, como aquilo havia acontecido, como eles o encontraram? Ele se aproximou da janela e do lado de fora viu vários caros de polícia e dentro de um deles estava Agatha. “Aquela vadia me entregou”, pensou Hiro. Agatha havia sido pega pela polícia tentando fugir da cidade, o carro foi rapidamente reconhecido.

– Atire! – Ele ordenou para Akemi.– O que está esperando atire logo, porra. – Uma laser vermelho ultrapassou a janela e se chocou contra as costas de Akemi. Hiro não viu aquilo, se tivesse visto teria impedido o acontecimento.

Akemi atirou e Yui caiu para trás com um grande buraco sangrento em sua testa. Ao mesmo tempo uma bala atingiu as costas de Akemi, o impacto foi tão grande que a jogou para frente. Tudo foi muito rápido e quando Hiro piscou viu as duas garotas no chão. Ele correu até Akemi que ainda estava de olhos abertos, a vida estava a deixando.

– Eu te amo. – Ela disse e uma lágrima escorreu dos seus olhos, segundos depois a vida lhe deixou.

Toda a casa foi invadida por policiais. Hiro foi levado e condenado pelo seu crime. Ficou durante anos na cadeia até conseguir ajuda e fugir. Até hoje ele está foragido e ninguém sabe o seu paradeiro.

Fim