Algo a Ensinar escrita por Kirol Benson


Capítulo 5
Calmaria




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DIA SEGUINTE, APARTAMENTO DE MIRIAN

Thomas se remexeu no sofá. Suas costas estavam doloridas. A claridade que vinha na janela atingiu seus olhos em cheio e ele piscou algumas vezes, tentando se adaptar à luz do dia. Sentou no sofá. Demorou alguns minutos para relembrar onde estava. Depois de olhar em volta, notou que não havia sonhado, estava mesmo no apartamento de Mirian e tudo que se passou no dia anterior fora real. Suspirou e levantou-se para olhar pela janela. O cheiro de asfalto molhado se misturava ao leve aroma de folhas verdes da árvore que ficava perto do prédio, no quintal do vizinho. Ele esticou os braços para frente e saldou o dia com um sorriso. Adorava acordar cedo só para ter essa vista e começar o dia com a certeza de que tudo daria certo. Depois de ficar ali por alguns minutos, resolveu tomar banho. Arrumou os lençóis em um canto do sofá e foi para o banheiro. Levou mais tempo do que gostaria na ducha e saiu enxugando os cabelos na toalha que pegara do armário de mantimentos . Passou rapidamente pelo quarto de Mirian. Pensou em verificar se ela estava bem, mas cogitou a hipótese dela o enforcar por isso. Andou até a sala e sentou no sofá. Consultou o relógio da parede e ainda eram 6:30. Acordara cedo demais. Provavelmente ela ainda estava no auge do sono, demoraria para se levantar. Recostou-se nas almofadas e começou a repassar os acontecimentos do dia anterior. Tudo parecia muito normal pela manhã. Fora para o treino, socara o saco e ganhou elogios de Alexander. A tarde, fora para as aulas com Mirian e a encontrou esquisita. Tudo que vinha depois parecia parte de um filme de terror, suspense e aventura. Luta com bandidos encapuzados, Mirian ferida, hospital, apartamento dela, Eduardo...Rangeu os dentes ao recordar a imagem do homem bonito da fotografia. Se ele pudesse, quebraria todos os seus dentes perfeitos e faria um colar com eles. Enquanto pensava nisso, um barulho de porta se abrindo o despertou. Mirian surgiu na sala, vestindo uma camisola preta, descalça, com os cabelos desarrumados e bocejando. Ela parecia tão à vontade, que ele teve a impressão de que ela havia esquecido que ele dormira no sofá da sala. Confirmou suas suspeitas quando ela se assustou ao avistá-lo sentado, observando-a.

–Bom dia! – Ele sorriu para tentar desvanecer o constrangimento.

–Bom...dia!- Ela olhou para si e teve vontade de sair correndo. Se esquecera completamente de Thomas e saíra do quarto como se estivesse sozinha em casa. –Desculpe-me...

–Não se preocupe, você está em sua casa, eu que...

–Me esqueci que você ficou para dormir...

–Imaginei- Ele observou o rubor tomar conta de suas bochechas e sorriu. Ela parecia uma garota assustada. – Não se preocupe, já estou saindo...

–Não!- Ela tentou não parecer tão constrangida.- Vamos tomar café, me deixa só...tomar um banho e vestir uma roupa. Pode se sentar, volto logo.- Ele não insistiu, sentou e esperou que ela passasse correndo para o quarto, de onde já saiu vestida e com os cabelos molhados.

–Nossa, estou me sentindo uma péssima anfitriã. Como pude me esquecer de você?- Ela começou a se movimentar na cozinha e Thomas foi até lá, para ouvi-la melhor.

–Falta de costume...- Ele notou que ela estremeceu e tentou se explicar.- Eu quis dizer...você não deve receber muita gente para dormir, né?

–Na verdade, você é o primeiro. Não tenho amigos, não tenho parentes na cidade, vivo sozinha nesse apartamento, sem absolutamente ninguém para dividir o café da manhã, até hoje. – Ela estendeu uma xicara de café para ele e pegou a outra. – O quer comer?

–Qualquer coisa! Não quero incomodar...

–Não incomoda...Diga, o que quer?

–Qualquer coisa, já disse...

–O que um lutador costuma comer no café da manhã?

–Essa é uma pergunta difícil...- Thomas bebericou o café. Estava excelente. Com certeza era melhor do que o seu, anos luz melhor.- Eu como qualquer coisa que esteja ao alcance das mãos e não exija muita habilidade na cozinha, quanto aos outros, não sei...

–Ou seja, cereal com leite e suco de laranja de caixa...

–Como adivinhou? – Ele sorriu

–Vou lhe preparar um café da manhã de verdade. – Ele ficou no balcão bebendo o café enquanto ela se mexia. Apesar da mão machucada, ela demonstrava bastante desenvoltura. Vez ou outra, precisava que ele ajudasse com alguma coisa, mas era o mínimo. No fim de meia hora, o café estava servido e o cheiro era delicioso.

–Se está com fome, parta para o ataque...- Ela sentou à sua frente e ficou observando enquanto ele comia, devagar e pausadamente. Tudo nele lhe fazia lembrar o Rafael. O modo de sorrir, sempre largo e dócil, a forma como pegava no garfo, o modo como levava a comida a boca, bem devagar. Suas mãos eram bem maiores do que as do Rafa, mas eram tão delicadas quanto. Ela beliscou alguma coisa, não estava com fome. Notando que ela já se levantava, Thomas olhou para ela. Seu rosto estava um pouco roxo, devido ao tapa. O curativo escondia o corte. Apesar disso, continuava linda. Ele acompanhou enquanto ela colocava o prato na pia, lavava a xícara do café e recolocava tudo em seus devidos lugares. Algo nela lembrava a sua mãe. Talvez fosse a forma como ela sorria para ele, demonstrando afeto e confiança. Quando Mirian chegou perto, ele levantou para ajudá-la a recolher o resto da louça.

–Se sente melhor?

–Fisicamente, sim...Mas emocionalmente, acho que nunca me sentirei...

–Ainda acho que você deveria procurar a polícia.

–Para que? Eles farão perguntas que não sei responder. Além disso, tenho um dia cheio hoje.

–Tudo bem, não irei insistir mais...

–Thomas...- Ele parou de colocar os pratos na pia e virou-se para olha-la.- Obrigada, de novo...

–Já disse que não tem porque me agradecer. – Olhando seus olhos verdes, teve vontade de abraça-la, mas recuou. – O importante é que tudo correu bem...

–É sim...

–Vamos?

–Acha que vão estranhar chegarmos juntos?

–Não tenho dúvida...

–O que diremos?

–Bom, podemos dizer a verdade...

–Não, acho melhor não...

–Então, o que?

– Você me encontrou no meio do caminho e me ofereceu uma carona.

–Isso explica chegarmos juntos, mas e os machucados....?

–Tropecei no tapete da sala e o peso do meu corpo provocou a torção na mão...

– O corte no rosto?

– Bati o rosto na banca antes de alcançar o chão...- Thomas saltou uma gargalhada.

–Você não tem um tapete na sala.

–Ninguém, além de você, sabe disso.- Ela o puxou pelo braço.- Pegue sua mochila e vamos, teremos um longo dia hoje.


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