Lá Liberté escrita por Annie Malfoy


Capítulo 1
Freedom.


Notas iniciais do capítulo

Liberté;Freedom; Liberdade. "Grau de independência legítimo que um cidadão, um povo ou uma nação elege como valor supremo, como ideal"."Conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei".



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No começo eu só me importava com aparências. No começo eu só me importava em ser popular, ter fama. No começo eu só me preocupava com futilidades. Mas eu descobri que não é bem assim, sabe? Pessoas mentem, pessoas te abandonam. Tudo muda. O jogo vira. O mundo gira. E é isso que aconteceu comigo.

Um dia você está com todas aquelas pessoas que você jura serem seus amigos verdadeiros, mesmo não podendo nem contar nos dedos a quantidade de pessoas. Mas você sabe que no fundo se sente sozinha, sente um vazio.

Eu conheci pessoas maravilhosas, parei de sair com as pessoas que só faziam eu me sentir cada vez mais vazia, e com essas pessoas eu aprendi a viver. Mas mesmo aqueles amigos verdadeiros sempre acabam indo embora. Me isolei de vez. Arranjei novos amigos? Sim, mas a saudade sempre contamina.

Depois de dois anos, um dos meus melhores amigos que teve que partir volta. Drogado, sem volta, andando com as pessoas que te faziam mal. É horrível. Um sentimento inigualável.

Eu tinha um namorado incrível. Novos amigos, mesmo que poucos. Eu reconstruí minha vida. Mas ainda faltava algo. Algo que eu não sabia o que era. Todos me achavam estranha. Os amigos do meu namorado me odiavam, as pessoas do meu colégio me odiavam. Os meus coordenadores me odiavam. Eu fiz algo para merecer isso, mas não sei o que.

Eu sempre me esforcei muito para a ser melhor. Sempre tentei tirar as maiores notas, ser aluna destaque, ganhar de todos. Eu estudei num ótimo colégio. Fiz ótimos cursos. Eu consegui muitas vezes ser a melhor, mas ainda assim faltava algo.

Incontáveis as vezes que cheguei em casa e me tranquei no quarto. Chorei até adormecer. Por muito tempo os meus pensamentos, textos, livros e músicas foram meu refúgio, meu exílio. E me doia não poder compartilhar com ninguém.

Eu sentia como se fosse falsa, como se estivesse mentindo para eu mesma. Eu era muito gorda, e parei de comer. Perdi trinta quilos em quase quatro meses. Minha saúde piorou. Eu já tinha anemia e deficiência de vitaminas, o que já me deixava doente com facilidade. E ficou cada vez pior.

Eu poderia passar anos agradecendo por minha vida não ter sido aquela monótona de comercial de margarina, ou pior, ter sido uma a qual poderia morrer a qualquer momento, com um tiro na cabeça.

Eu me sentia extremamente egoísta e nojenta todas as vezes que reclamei dos meus pais e dos meus amigos, porque sabia que existiam pessoas em situações muito piores. Mas eu estava farta, nunca tive ninguém para conversar. Ninguém para me ouvir. Ouvir os meus gritos e ver as minhas lágrimas.

Eu soube o quanto machucava ser filha de pessoas que nunca te enxergavam, nem se você estivesse na frente deles pisando em seus pés. Eu soube a sensação horrível de ser excluída por amigos, e também nunca ser compreendida.
Era o caso dos meus pais. Era o caso dos meus amigos. Uma vez, minha tia disse que família só é bonita em fotografia. Eu fielmente acreditei nela.

Eu me sentia perdida.

Meu pai me amava, mas era cruel comigo. Grosso, brigava sem motivos, me tratava com desgosto na frente de amigos e parentes, mas eu sabia que ele me amava.

Minha mãe era outra história, uma história totalmente diferentes: Ela me dava tudo. Roupas, celulares... Mas era incompreensível. Mesmo com as birras do meu pai, ela sempre foi a que mais me machucou. Por que? Porque ela era boa com todos. Ela entendia a todos, menos a própria filha. Todos a achavam perfeita, como mãe e como pessoa. Todos achavam que ela nunca se estressava, que ela era a típica mãe de comercial de bombril. Mas não.

Atrás da face amigável com parentes e amigos, a minha mãe era uma pessoa um tanto que "cruel". Não, ela não me batia e nem nada do tipo. Ela nunca me escutava, me tratava como se fosse um nada, e mesmo quando tentava ser gentil comigo algumas vezes, nunca dava certo. É como uma das músicas do Dillaz dizia: "A primeira palavra do dia sempre acaba em palavrão". A minha mãe me prendia muito, e ao mesmo tempo, ela não ligava para mim. Ela não me deixava sair, ela não me deixava viajar, ela não me deixava com os meus amigos... Mesmo se eu estivesse morrendo, ela não ligaria.

Não é exagero eu ter dito isso, ela já provou minha teoria.

Mesmo com pessoas falando no meu ouvido "Eu te entendo", acredite, elas nunca entenderam, porque nunca passaram pela mesma situação.

Por muito tempo, eu já tentei ser a pessoa perfeita. Me forcei a ouvir Justin Bieber e One Direction mesmo não gostando, já me forcei a dançar ballet e sapateado mesmo preferindo judô e jiu jitsu, já me forcei a comer aquela salada caesar que as garotas da minha turma comiam para manter a barriguinha bonita ao invés de comer aquele sanduíche maravilhoso do McDonald's. Eu já me forcei a ser alguém que eu não era apenas para poder agradar os outros. Eu já me forcei a concordar com alguém para manter a boa impressão, mesmo tendo discordado totalmente. Eu já sorri mesmo querendo falar "por favor, me tira daqui".

Sempre deixaram claro que eu não era o suficiente para o meu namorado. Eu sempre fui muito insegura, e sempre tive uma autoestima baixa. A ex-namorada do meu namorado era linda. Ela era perfeita. Todos me comparavam com ela. Todos falavam que ele só estava comigo porque eu parecia com ela, na altura e no tamanho do busto. Naquela época, se eu tivesse um único desejo realizado, com toda certeza seria "Por favor, faça todos pararem de falar dela na minha frente". Eu sabia que era questão de tempo para eles voltarem, o que já tinha acontecido antes. Eu não tinha como competir com ela.

Mas eu me libertei de tudo. Agradeci aos meus pais pelo amor e carinho, pelas roupas caras, pelo colégio caro, por tudo mesmo. Agradeci meus amigos por terem sido meus amigos. Agradeci o meu namorado por sempre ter sido tão bom comigo, por sempre ter me amado.

E então me libertei.

Agora sou outra pessoa. Agora eu sou invisível, literalmente invisível. E eu gosto de ver como a vida deles anda, eu fico feliz em ver que todos estão indo bem. É uma pena que eu não pude ver isso antes.

É uma pena que eu não pude ver isso antes de eu me libertar.


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Notas finais do capítulo

Sky. Fly. Cry.



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