Sixteenth Moon escrita por Nath Schnee


Capítulo 6
Quinto Capítulo – 11 de Setembro


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como vão? Como prometido, aqui está o capítulo. Eu fiz uma outra mudança no Fan Cast (sou indecisa igual a Lena...). Troquei a Sarafine por outra (Amy Lee ♥) e também troquei a Genevieve, mas nada que faça tanta diferença.
Continuo com meus agradecimentos a todos que já comentaram na fanfic, o que inclui:

Little Hathaway,
Taw,
Lorde Snowfaun,
Eden
Evah

E, claro, à kirimi que me proporcionou a felicidade de receber minha primeira recomendação ♥

Ah! Valeu pela ajuda também, pessoal do RPG ♥

Vamos ao capítulo?



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Tempestade Pós Calmaria


A chuva se tornava cada vez mais forte a cada metro que eu andava. O rabecão, apesar de assustador, não parecia nada em comparação às nuvens baixas, pretas e pesadas. Apesar de tudo, agora eu sentia um pouco de alívio. Eu tinha tentado me controlar toda a semana. Sabia que a chuva se tornaria uma tempestade, e aquele era o momento.

Eu tinha ouvido no rádio sobre o alerta meteorológico daquela semana, mas eles nunca acertariam o dia exato. Aquela chuva não era só mais uma tempestade vinda do nordeste. Aquela era uma manifestação dos sentimentos de uma Conjuradora.

Os sentimentos de uma Natural.

Nós, Conjuradores, não temos um termo para nos definir porque cada um de nós tem um dom com uma habilidade específica, além de algumas que nós compartilhamos como a capacidade de mover objetos com a mente. Ridley, minha prima, se tornara uma Sirena. Era capaz de persuadir qualquer Mortal, principalmente homens, a fazer o que ela quisesse. Minha prima Reece era uma Sibila, apenas em ver seu rosto ela poderia saber o que você viu, ouviu, sentiu e pensou.

Havia muitas outras pessoas na minha família com diversos outros dons, mas também havia aqueles da qual ninguém sabia. Como Ryan, minha prima mais nova. Era muito cedo para saber.

Eu mesma não tinha plena certeza de qual era o meu dom. Tio Macon e todos os outros diziam que eu era uma Natural. Aparentemente eu podia fazer ainda mais do que todos os outros Conjuradores. E havia também a suspeita de que eu podia controlar os elementos, que eu poderia criar um furacão, um incêndio enorme, ou até mesmo uma inundação...

Eu estaria muito satisfeita em apenas mover tudo com mente.

Claro, eu ainda não era capaz de tudo isso, mas aquela tempestade... e o modo como eu estava furiosa com todos daquela maldita escola... Mostravam-me que sim, eu era uma Natural.

Virei a chave na ignição e mal pude ouvir o barulho do motor do carro em meio a toda a chuva. Tive que ligar o farol para enxergar ao menos um metro a minha frente e conseguir seguir caminho para casa. Passei por um dos poucos faróis da cidade — que eram, aparentemente, só três — com meus pensamentos ainda na escola. Um raio cruzou ameaçadoramente o céu escuro quando me lembrei de Emily Asher chutando minha bolsa. Aquilo foi o mais perto de uma interação de algum aluno comigo. Ela parecia ser a pessoa que mais me odiava assim como as amigas dela, as outras líderes de torcida que descobri serem Savannah Snow, Charlotte Chase, Eden Westerly e várias outras.

Diferentemente de todos os outros, eles não só me julgavam por ser de fora da cidade e sim também por ser sobrinha de Macon Ravenwood. Acho que não importaria se eu tivesse sempre sido dessa cidade. Não importaria se eu me vestisse e agisse como todos. Eu sempre seria aquela da qual eles usariam como diversão. Sempre seria aquela que nunca seria amiga de ninguém.

Voltei a tentar me concentrar na estrada. Não podia simplesmente deixar meus pensamentos vagarem daquela forma. Deveria estar concentrada apenas em controlar meus poderes e não em relembrar as perseguições, por mais irritantes que fossem.

Respirei fundo e tentei me concentrar em minha própria respiração. Nas batidas nervosas do meu coração. Quando pensei que conseguiria pelo menos evitar sentir parte da raiva, o rabecão deslizou na pista e eu freei. Mas o carro não apenas diminuiu a velocidade e sim parou e desligou.

Tentei girar a chave na ignição. Ele apenas fez barulho. Tentei várias vezes mais, irritando-me a cada uma delas. Na última e fracassada vez pude ver um raio e ouvir em seguida um trovão. A tempestade finalmente tinha chegado ao seu poder máximo.

— Você só pode estar brincando. — Havia tanta irritação em minha voz quanto eu estava sentindo.

Peguei minha mochila e peguei meu celular, um pré-pago. Eu quase nunca o usava, apenas em emergências, e aquela era uma. Mas não o liguei. Para quem eu ligaria? Emergência? Polícia? Eu nem deveria estar dirigindo, minha habilitação era apenas provisória. Tio Macon? Mesmo escuro por conta das nuvens e chovendo, eu não podia arriscar chamá-lo, quem garantiria que mesmo naquelas condições ele não iria se enfraquecer ao sair de casa? Incubus não podem sair de dia.

Não. Eu precisava de Tio Macon. Acreditava que só ele conseguiria me fazer voltar a ter controle e ficar calma. Só tinha que torcer para que ele não se enfraquecesse ou ferisse ao sair aquela hora.

Tentei fazer a ligação ainda mais vezes que tentei ligar o carro, mas tudo o que eu conseguia era me irritar ao perceber que a chuva atrapalhava o sinal e que quanto mais eu tentava, mais os raios chegavam perto.

Dezesseis Luas, a música que tocara sozinha em minha viola no primeiro dia de aula agora invadia novamente meus ouvidos através do rádio do carro, apesar de este estar desligado.

Desisti e peguei em minha mochila uma capa de chuva transparente simples que comprara em uma farmácia e a coloquei. Ainda que eu fosse uma Conjuradora, uma Natural, nunca seria imune a um resfriado, ou até pneumonia, ao enfrentar uma chuva daquelas.

Desci às pressas do carro e abri o capô. Não sabia o que estava fazendo, na realidade. Mesmo que houvesse algo errado com o rabecão, o que eu poderia fazer? Eu era tão boa em consertar carros quanto era em agir como as garotas da Jackson High.

Uma luz chamou minha atenção ao longe. Olhei para o final da estrada e vi dois faróis de um carro vindo em minha direção. Eu não tinha escolha. Mesmo que odiasse as pessoas daquela maldita cidade, precisaria pedir ajuda daquele carro, não importando quem fosse que o dirigia.

Caminhei acenando e gritando o mais alto que conseguia na tempestade. O vento estava forte e quase derrubava meu capuz. Só então percebi que a velocidade do carro estava muito alta. E quanto digo grande velocidade, isso significada a ponto de causar grandes estragos. Os pneus do carro pareciam estar patinando em gelo e ele foi chegando mais e mais perto...

Perto de mais! Ele iria me atropelar!

Fechei os olhos e estendi de maneira extintiva a mão, meus músculos tensos e a boca do meu estômago com uma pressão estranha.

Esperei pelo impacto que nunca aconteceu.

Abri os olhos surpresa quando percebi que o carro deslizara até ficar quase de lado em minha frente e não estava nem a um metro de distância de meu corpo. Minha mente trabalhava rápido e entendi a pressão que sentira no estômago. Na hora do medo de atropelada, eu acabara instintivamente usando meus dons para parar o carro.

Mas não era só aquilo que me surpreendera.

O carro que quase me atropelara era o mesmo que vira no primeiro dia de aula, aquele que não estava muito bem conservado. Puxei o capuz de minha cabeça lentamente, encarando o motorista sair cambaleante até mim e deixando o motor ligado e a porta aberta.

Outra surpresa.

Uma garoto de 1,90 m de altura saiu do carro. Se ele já estava molhado antes, agora estava muito mais. Seu cabelo castanho escuro molhado cobria-lhe parte da visão. Sua calça Jeans surrada estava colada ao corpo como sua camiseta branca com um desenho que reconheci ser dos Transformers.

O péssimo motorista era Ethan Wate, o garoto cujo eu sonhava todas as noites.

Eu nunca esperaria que, no final das contas, eu sentiria tanta raiva dele quanto estava sentindo.

Ele pegou minha mão como se procurasse por algo. Pude sentir um arrepio em minha nuca quando um relâmpago atingiu uma árvore atrás de mim, que só não pegou fogo porque a chuva estava forte demais. Puxei minha mão com força, ignorando o fato de ainda me lembrar do momento em que ele me ajudara contra Emily.

— Você é louco?! Ou só é um motorista terrível?! — gritei e me afastei. Mas ele não parecia estar ouvindo. Parecia estar com os pensamentos em outro planeta.

— Era você. — disse ele.

— O que estava fazendo? Tentando me matar?! — questionei irritada, esperando que ele pudesse voltar ao planeta Terra e explicar se realmente me odiava tanto a ponto de querer me matar. Talvez ele fosse pior que os outros da escola.

— Você é real. — Ele parecia ter tanta dificuldade em dizer aquelas palavras sem sentido quanto em se lembrar do fato de que quase me atropelara.

— Um cadáver real, é o que quer dizer? Graças a você eu quase me torno isso!

Não adiantava, ele continuava perdido em seus estranhos pensamentos.

— Eu não sou louco, achei que fosse, mas não sou. — Senti uma enorme vontade de questionar se ele estava certo disso, porém ele não parava de falar, como se precisasse dizer aquilo havia meses. — É mesmo você. E está bem na minha frente.

Encarei-o com ódio.

— Não por muito tempo, pode ter certeza.

Virei-me e comecei a caminhar de volta ao rabecão, arrependida por ter acreditado que alguém na cidade me ajudaria. Aquilo era sonhar muito. Pude sentir Ethan me seguindo, pela primeira vez voltando ao mundo real.

— Foi você que surgiu do meio do nada e correu pro meio da rodovia. 

Gesticulei com meu braço, afastando a ideia ridícula. Talvez ele não fosse maluco ou péssimo motorista e sim fosse cego. O rabecão estava bem a nossa frente e ele não percebia?

— Olá? Eu estava procurando pela ajuda de alguém, gênio. O carro do meu tio morreu. — Ele me odiava tanto assim ao ponto de arrumar uma desculpa tão ridícula? — Você podia ter seguido em frente, não precisava tentar passar por cima de mim.

Ele voltou a delirar. Pelo menos em parte.

— Foi você nos sonhos. E a música. Aquela música estranha no meu IPod.

Ele sabia dos sonhos. Dos pesadelos. Eu não sabia de qual música ele estava falando e sabia que deveria agir assim se quisesse que ele não se aproximasse de mim. Ethan era um garoto normal. Eu não podia permitir que ele se envolvesse em um mundo perigoso como o meu. Ele tinha que permanecer no Mundo Mortal.

Virei-me e o encarei.

— Que sonhos? Qual música? Você está bêbado? Ou só é algum tipo de brincadeira?

— Sei que é você. Você tem as marcas no pulso.

Olhei para minhas mãos, apesar da chuva ainda era possível ver os arranhões vermelhos em minha pele pálida. Fingi não saber do que ele estava falando.

— Isso? Tenho um cachorro. Esqueça isso.

Mesmo que eu tivesse um bom argumento, ele não parecia ter sido convencido. Coloquei meu capuz de volta e voltei a andar, desta vez determinada a seguir a longa caminhada até Ravenwood. Ele nunca me seguiria até lá. Sabendo ou não que eu seguiria para casa, Ethan me alcançou.

— Aqui está uma dica. Da próxima vez, não saia do seu carro e vá para o meio da estrada durante uma tempestade. Ligue para a emergência.

Eu não parei de andar e ele não parou de me seguir.

— Eu não ligaria para a polícia. — rebati. — Eu sequer deveria estar dirigindo. Minha habilitação é provisória, de aprendiz. De qualquer forma, meu celular perdeu o sinal.

Assim como eu perdi minha esperança de você ser alguma exceção nessa cidade de lixo, era o que eu queria dizer.

Ele ainda não tinha sido convencido, e isso apenas me dava mais raiva. A chuva aumentava tanto quanto minha impaciência. Agora tanto eu quanto Ethan precisávamos gritar para sermos ouvidos.

— Apenas me deixe te dar uma carona para casa. — pediu. — Você não deveria estar aqui fora na chuva. — Mal pude acreditar quando percebi que ele oferecera me levar para Ravenwood. Ele não tinha medo da mansão mal-assombrada?

Depois do quase acidente, eu não estava afim de estar no mesmo carro que ele.

— Não, obrigada. Eu vou esperar pelo próximo cara que vai quase me atropelar.

— Não vai haver outro cara. Pode levar horas até que alguém chegue.

Recomecei a andar.

— Sem problemas. Vou andando.

Ele ficou para trás e cheguei a pensar que tinha desistido. Enganei-me.

— Não posso deixar você ir pra casa com esse clima. — Um trovão soou sobre nossas cabeças como se combinado. Meu capuz caiu, me obrigando a encará-lo. — Eu vou dirigir como minha avó. Vou dirigir como sua avó.

Imaginei minha agitada avó dirigindo. Não foi um pensamento agradável, considerando que ela já havia batido um carro.

— Você não diria isso se a conhecesse. — Eu gritei, tentando ser ouvida apesar do vento que aumentava.

Ethan disse algo mais. O vento estava tão forte que não pude ouvir.

— O quê? — gritei de novo, sem ouvir.

— Para o carro. Entre. Comigo.

Encarei-o decidindo se deveria ou não concordar. Depois de tudo, mesmo que ele ainda fosse o garoto que tentava me ajudar durante os pesadelos, ele era um cidadão de Gatlin, um aluno da Jackson High. Ainda assim, eu aguentaria mesmo ir para casa andando? Eu não tinha muitas opções agora. Ou eu aceitava e ia com ele

— Acho que é mais seguro do que ir andando. — admiti, com tom de raiva. — Com você na rua, pelo menos.

 


O carro estava encharcado e eu esperava que o proprietário fosse Ethan. Ele não estaria na melhor das situações se devolvesse daquela forma. Mas, se prestasse atenção às condições que ele deveria estar antes, o carro não era lá o mais bonito. Alguns lugares da lataria estavam arranhados, o rádio parecia pegar apenas estações AM e o para-brisa me dava a leve impressão de que sairia voando se o vento se tornasse mais forte. Eu torcia para ser apenas uma impressão.

A chuva era mais alta dentro do veículo, mas também parecia mais suave. Talvez estivesse, pois era a primeira vez em todo aquele dia que eu estava um pouco calma, exceto pelo fato de Ethan estar me encarando desde que entrei no carro. Só meu corpo que não se acalmava. Eu sentia que tinha sido enfiada em um saco com gelo. Mal consegui tirar a capa da chuva pela cabeça por conta do tremor do corpo. Meus dentes batiam uns contra os outros.

E Ethan continuava me olhando.

— Você está me enc-carando. — gaguejei. Meus dentes estavam batendo o suficiente para que eu mal pudesse falar.

Ele se virou para a janela, para o banco de trás, para qualquer lugar que eu não estivesse.

— Você provavelmente devia tirar isso. Só vai aumentar o frio que está sentindo.

Olhei para o meu colete e percebi que ele tinha razão. Lutei contra o tremor das minhas mãos enquanto tentava tirar os botões prateados. Parecia duas vezes mais difícil tirar aquilo naquelas condições. Eu mal podia acreditar que pretendia ir para casa andando sozinha. Eu não queria pensar daquela forma, ainda assim não pude deixar de perceber que fora bom Ethan ter aparecido.

E melhor ainda ele não ter realmente me atropelado.

Ethan esticou a mão em minha direção. Paralisei. Considerando que eu ainda não acreditava que ele não tinha me visto na estrada, eu ainda tinha medo de suas intenções. Ethan podia realmente só ser um pouco.

— Vou aumentar o aquecimento. — explicou.

Voltei a aos botões e esperei não parecer tão constrangida quanto sentia.

— Obri... Obrigada.

Ele voltou a me observar e pude ver que olhava para minhas mãos. Provavelmente para a tinta de caneta que anteriormente fora um número, uma contagem regressiva dos dias faltantes para meu aniversário.

Eu não precisava olhar para lembrar.

152.

Terminei de tirar o colete e Ethan olhou para o banco traseiro novamente. Esticou a mão e trouxe de volta com um saco de dormir velho, que podia estar ali havia décadas. Ele me entregou e não consegui recusar. O frio que eu sentia era horrível. Cobri-me e fechei os olhos, relaxando com o calor.

— Hummm. — suspirei. Ainda que tentasse não relaxar tanto, estar aquecida era um alívio de tanto. — Assim é bem melhor.

Depois disso, seguimos em silêncio. O único som era da tempestade e das rodas girando e espalhando água e lama pelo lago em que a rua tinha se transformado.

Tentei não olhar para Ethan. Algo me dizia que ele ainda me avaliava, como se procurasse por algo em mim que provasse que eu era aquela que estava no sonho.

Eu esperava que ele não encontrasse.

Se Ethan percebesse que era eu, talvez procurasse saber mais e eu não queria que ele se envolvesse. Mortais não devem conhecer o Mundo Conjurador. Com espécies como a de Tio Macon e Conjuradores das Trevas de todos os tipos, mortais não sobreviveriam por muito tempo. Eu não queria que nada o ferisse.

Mesmo que ele fosse como os outros da cidade, mesmo que não fosse, ele não merecia um destino como esse.

Fiz pequenos desenhos na janela embaçada; uma lua crescente, uma lua cheia, uma linha em ziguezague como um raio... O de sempre. Qualquer coisa que me fizesse esquecer que o garoto que aparecia nos meus sonhos estava ali ao meu lado.

Mas quanto mais eu tentava, mais tudo parecia continuar em minha mente, como se a chuva, a rua e os muitos hectares de campo de tabaco pelos quais passávamos, cheios de velhos equipamentos de fazenda e celeiros que apodreciam, me obrigassem a lembrar que ele sempre existira.

Chegamos aos arredores da cidade, e eu conseguia ver uma bifurcação na rua mais à frente. Se virássemos à esquerda, em direção oposta minha casa, chegaríamos à rua River, onde várias casas acompanhavam a linha do rio Santee. À direita só havia Ravenwood e eu duvidava que alguém usasse aquele caminho. Quando chegamos à bifurcação, Ethan virou para a esquerda, provavelmente por puro hábito. Quase não consegui lembrá-lo da verdade:

— Não, espere. Vire a direita aqui. — pedi, com minha voz receosa.

— Ah, sim. Desculpe.

Ethan pareceu ficar esverdeado. Provavelmente sentira enjoo. Mas eu não podia culpá-lo, sendo ou não a garota daquele sonho eu continuava sendo sobrinha de Ravenwood e nada mudaria isso. Subimos o morro na direção de minha grande e "assombrada" casa.

Eu já estava cansada de me lembrar que Ethan era um garoto normal, que nunca seria possível sermos amigos. Então apenas aceitei. Assim como um dia aceitara meu destino de ser Invocada.

Eu olhei para minhas próprias mãos. Mesmo que eu um dia eu fosse para a Luz, eu sempre seria das Trevas naquela cidade, separada em dois mundos e dois lados. Talvez aquela cidade só me levasse para o lado errado, e os alunos falando sobre mim aumentavam as chances disso. Eu não precisava me esforçar para me lembrar de tudo o que diziam. Não pude evitar ter um olhar desconfortável, e pude sentir que Ethan notara isso assim como também senti que ele diria algo em seguida. Provavelmente sobre esse mesmo assunto.

Ele realmente rompeu o silêncio, mas não como eu esperava:

— Então... — Começou, provavelmente puxando assunto. Fiquei um pouco tensa. O que ele queria falar comigo? Sobre os sonhos? Sobre minha aparência? — Por que se mudou para a casa do seu tio? Geralmente as pessoas estão tentando sair de Gatlin; ninguém realmente se muda pra cá.

O alívio irradiou em meu peito e não consegui disfarçar na hora de responder. Em certa parte eu não respondi realmente, e nunca responderia. Ele não deveria saber o verdadeiro motivo de eu me mudar.

— Morei em muitos lugares. Nova Orleans, Savannah, Flórida Keys, Virgínia por alguns meses. Já morei na maior parte dos Estados Confederados. Mas já morei em Massachusetts e até em Barbados por um tempo.

Eu esperava que ele não tivesse percebido minha evasão da pergunta. Olhei para sua expressão, que parecia um misto de inveja e decepção. Mas por que ele teria inveja?

— Onde estão seus pais?

— Mortos.

Minha resposta foi tão automática que Ethan ficou tenso. No entanto, talvez ficasse tenso se eu respondesse com mais emoção também. Eu só não me importava realmente em responder.

— Sinto muito.

— Tudo bem. Eu tinha 2 anos quando eles morreram. Não me lembro deles, morei com muitos dos meus parentes, a maior parte do tempo com minha avó. Como ela teve que viajar por alguns meses, estou morando com meu tio. — Pelo menos era uma meia verdade que soava com algum sentido. Vovó realmente estava viajando.

Ele não relaxou.

— Minha mãe está morta, também. — comentou. Ele não era tão bom assim em tratar com indiferença. Eu conseguia notar. — Acidente de carro. — disse ele, tendo dificuldades em manter a expressão.

Observei-o de esguelha. Eu não precisava perguntar para saber. Aquilo não fora há muito tempo. Talvez meses, mas ele provavelmente ainda sentia a falta dela.

— Lamento. — Eu sabia que murmurar aquilo era inútil, mas era o mais educado a se dizer.

Ele não respondeu que estava bem e não precisava. Eu tinha certeza de que ele não estava.


Paramos em frente ao portão de ferro. A névoa quase impossibilitava de vermos Ravenwood, o que deixava-a mais sombria, se é que isso era possível. Ethan estremeceu ao meu lado. Eu deduzia que nunca chegara tão perto antes. Por um minuto constrangedor senti que ele manobraria o carro e iria para o mais longe possível ou até me expulsaria e nunca mais falaria comigo. Ao contrário do que pensei, ele apenas desligou o motor.

Agora a tempestade tinha diminuído para um chuvisco suave e constante, talvez esse fosse meu humor. Eu já não sabia.

— Aparentemente os relâmpagos se foram. — comentou.

— Eu tenho certeza de que tem mais de onde aqueles vieram. — Já que vieram de mim, era o que eu pensava.

— Talvez. Mas esta noite não. — certificou.

Olhei para ele, quase curiosa. Prever como o clima ficaria não era uma coisa que mortais conseguiam fazer de forma correta, principalmente com uma Natural na cidade. Mas, talvez, pela primeira vez, ele tinha acertado. Eu não me irritaria mais daquele modo aquela noite. Mesmo que breve e com um clima estranho, a conversa com ele por algum motivo me acalmou. Eu olhei para cima, para o céu nublado. Até o céu parecia um pouco mais tranquilo.

— Não. Acho que acabou por esta noite.

Ele olhou para dentro dos meus olhos verdes como se estivesse fascinado. Senti-me constrangida e me virei para ir, abrindo a porta do carro. Ethan abriu a porta como se fosse me acompanhar.

— Não, não vá. — Eu realmente estava envergonhada. Ele era bem corajoso. — Meu tio é um pouco... tímido. — Ethan ergueu uma sobrancelha. Eu sabia que tinha falado algo muito suave comparado ao Macon Ravenwood que ele conhecia.

Minha porta estava entreaberta. A porta dele estava entreaberta. Nós estávamos ficando ainda mais molhados, mas apenas nos fitamos. Eu sabia que ele queria dizer algo. Eu mesma queria dizer algo. Mas não podia. Ele precisava se distanciar. Precisava ficar longe de mim. Ainda assim, eu era educada demais para ser tão rude.

— Obrigada, eu acho. — falei, por fim, antes que ele dissesse outra coisa.

— Por não atropelar você?

Eu sorri.

— É, isso. — Desviei momentaneamente o olhar, estava envergonhada. — E pela carona.

O garoto olhou para mim, quase surpreso com meu sorriso, mas sua expressão mudou. Parecia incomodado e agitado, como se tivesse que sair dali mais rápido possível. Talvez tivesse lembrado quem sou. Eu senti a raiva voltar. Eu tinha esquecido de onde ele era.

— Não foi nada. Quero dizer, tudo bem. Não esquenta.

Ele colocou o capuz e olhou para outro lado, como se quisesse acabar com a conversa naquele instante. Meu sorriso desapareceu instantaneamente, balancei negativamente a cabeça e joguei o cobertor velho nele com uma força desnecessária, mas intencional.

— Tanto faz. Te vejo por aí.

Virei de costas, passei pelo portão e fui correndo pelo caminho íngreme e enlameado até minha casa. Pude ouvi-lo bater a porta. Fiquei pensando no que Ridley diria sobre isso. Ela com certeza riria da minha cara e me diria o que fazer em seguida.

— Ela tem um olho de vidro. — escutei Ethan falando.

Ridley tinha olho de vidro? Virei-me confusa.

— O quê?

Ele aumentou a voz, a janela aberta molhando ainda mais o interior do carro.

— A Sra. English, professora de Inglês. Você deveria sentar do outro lado da sala, ou ela vai te perguntar tudo.

Eu sorri, sem me incomodar com a chuva no meu rosto. Ele ainda queria me ajudar, mas não era daquilo que eu precisava. Ele não podia sequer imaginar meus problemas reais, e eles não envolviam perguntas durante a aula.

— Talvez eu goste de falar. — Virei na direção de Ravenwood e subi os degraus correndo até a varanda.

Virei-me de volta ao carro, mas ele já tinha ido embora.

Olhei para Ravenwood com os pensamentos ainda naquela carona. Fiquei imaginando com o que sonharia naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Quer dar alguma dica, sugestão, crítica, até mesmo só bater um papo? Pode comentar! Ou se preferir mande uma mensagem privada, eu posso até colocar seu nome nos meus agradecimentos do coração ♥
Desculpem-me por qualquer erro, escrevi pelo celular e nem sempre revisar funciona totalmente.
Espero que tenham gostado, estou dando o meu máximo.
Até a próxima!



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