Sixteenth Moon escrita por Nath Schnee


Capítulo 3
Segundo Capítulo – 2 de Setembro


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores queridos! Primeiro, devo agradecer a todos os leitores que comentaram no prólogo ou primeiro capítulo, o que inclui Little Hathaway, Snow Faun e a Eden. Muito obrigada!

Aqui está o novo capítulo, mas devo avisar-lhes que, para fazer esse, tive que editar o primeiro. Para quem leu Dezenove Luas, [Spoiler? Talvez] vão se lembrar que Lena diz que sabia que era Ethan nos sonhos, ou pelo menos entendi que ela sabia, então tive que mudar os diálogos, além de seguir o comentário da Eden e tentar descrever melhor Ravenwood.

Ah, também vou mudar dois ou três personagens na capa para seguir melhor a descrição.

Enfim, espero que gostem. Até as notas finais.



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Escola nova


O
resto do caminho até a escola, a Stonewall Jackson High, foi rápido. Eu estava imersa em meus próprios pensamentos para realmente notar que Boo Radley estava seguindo atrás do carro. A chuva não havia parado, e eu sentia que ela só pioraria depois da escola.

Quase podia prever o que aconteceria: Pessoas me encarando com expressões de desprezo por eu estar “vestida da forma errada”, amigos sussurrando a amigos motivos pelo qual me achavam esquisita, exclusão proposital de qualquer tipo de atividade em grupos ou dupla... Mas dessa vez eu sabia que havia algo mais. Nas outras escolas, minha família não era tão mal vista quanto em Gatlin. Provavelmente não seria apenas considerada a garota-estranha-de-outra-cidade e sim a sobrinha-estranha-do-velho-estranho-que-mora-na-mansão-mal-assombrada.

Tio Macon me disse que era chamado principalmente de Velho Ravenwood na cidade. Eu provavelmente seria a Sobrinha do Velho Ravenwood pelo resto da vida, isso se não substituíssem meu sobrenome Duchannes pelo sobrenome de meu tio.

Estacionei o rabecão em um canto distante dos outros carros que ali estavam. Eu teria mais esperança de ele passar despercebido pelos estudantes se não fosse um carro fúnebre.

Havia momentos que eu me perguntava a mesma coisa que tio Macon: Por que, afinal de contas, eu ia para a escola?


Naquele ano, eu pretendia ter aula de inglês como sempre, de preferência em dois tempos, então talvez pudesse relaxar um pouco se o professor ou professora falasse sobre qualquer livro. Eu amava ler tanto quanto amava escrever poemas. Nunca mostrei e nem pretendo mostrar para alguém meu caderno de poesia, um caderno espiralado, mas ainda me sentia feliz por escrevê-los.

Na minha última escola eu não pude criar um poema para a aula de inglês porque estava ocupada demais tentando fazer Ridley não ser expulsa.

Assim como os outros Conjuradores, nós enfrentamos o que nomeamos Invocação. Ao completarmos dezesseis anos, na noite de nosso aniversário, escolhemos o que seremos pelo resto de nossas vidas: servidores da Luz ou servidores das Trevas. Infelizmente, na minha família, nós não temos livre arbítrio. Nós não escolhemos, nós somos escolhidos. Invocados através de nossa verdadeira natureza.

Ainda não passei por minha Invocação, mas minha prima Ridley sim. Ela foi para as Trevas, ao contrário do que todos nós pensávamos. Ela fora embora, eu não a via desde então, mas eu ainda sentia falta dela. Sentia falta de quando ela tentava me animar, mesmo passando pelas mesmas coisas que eu.

Ou passava já que, um ou dois anos atrás, ela começou a mudar. Começou a se tornar a Conjuradora das Trevas que é hoje. As mesmas pessoas que a ignoravam como me ignoram passaram a competir sua atenção. As roupas que antes eram inadequadas comparadas às das meninas da escola passaram a serem apenas as minhas. Ridley passou a conseguir se vestir como elas. Passou a agir como elas.

Mesmo no dia da Invocação, Ridley ainda demonstrou gostar de mim, algo que ficara raro na época. Ela disse que sentia que iria para as Trevas, que se tornaria o monstro que sempre tememos em nós mesmos, e em seguida fugiu de casa. Quando minha avó não estava me vendo, corri para segui-la. Infelizmente, Ridley estava certa. Nunca mais a vi.

Afasto estes pensamentos de minha mente. Minha imaginação já me forçava a imaginar que aquilo poderia acontecer comigo.


Estar na Jackson High foi pior do que pensei. Tudo começou quando fui à diretoria para pegar meu horário. O diretor da escola, o Sr. Harper, não parecia estar muito interessado em alunos novos naquele momento. Sua pele era bastante bronzeada e tinha uma barba mal feita. Seus olhos eram pequenos e eles quase sumiam quando ele dava um sorriso forçado para mim. Estava vestindo uma camisa branca listrada de cinza e uma calça social preta. Comia um prato enorme de brownies, mas, pela sua condição física, sem nem ao menos saber sobre alimentação saudável, eu aconselhá-lo-ia a parar de comer coisas daquele tipo. Sua expressão era de desinteresse e não parecia ligar para os farelos deixados pela comida em sua roupa.

Olhei ao redor, reparando no local. Era mediano, apesar de a quantidade de objetos que ali estavam fizesse-o parecer menor do que deveria ser. Paredes pintadas de cinza claro. O chão era de madeira. No canto mais distante da entrada havia um arquivo e uma porta de madeira. Duas janelas encontravam-se atrás da mesa de carvalho da qual o Sr. Harper encontrava-se sentado.

— Olá. — disse sem animação e com um sorriso falso. — Nova na escola?

— Sim. — respondo. Ele faz um movimento com a mão para que eu me sente. Obedeço.

— Qual seu nome? — questiona entediado, como se estivesse fazendo esse tipo de pergunta a cada segundo. Eu esperava que ele permanecesse daquele jeito.

— Lena Duchannes.

O diretor olha um pouco mais interessado para mim.

— Nova na cidade? — questiona ele.

Eu já podia imaginar o que viria a seguir.

— Sim.

— O que a traz a Gatlin? — agora o Sr. Harper realmente estava curioso, e isso não me ajudou.

Demoro em responder. Nunca diria a verdade. Nunca diria que estava na cidade para me preparar para a Invocação que haveria em meu aniversario. Que estava na cidade para, quando completar dezesseis anos, para talvez tornar-me alguém diferente para o resto da vida. Resolvi inventar alguma desculpa, qualquer uma, que soasse com algum sentido. Não queria lhe dar a notícia de que era sobrinha do recluso da cidade, mas não tive muitas escolhas.

— Estou aqui para morar com alguém de minha família. — falei rapidamente, a fim de evitar que continuasse seu questionário. Quando ele perceberia que eu não queria falar no assunto?

— De quem você é parente? — é, eu acho que não perceberia nunca.

— S-sou sobrinha de... — gaguejo ainda receosa. Ele espera ansioso. — Macon Ravenwood.

Sua expressão altera-se instantaneamente. Pude ver diversas emoções diferentes passarem por seu rosto: surpresa, dúvida, entendimento, desdém. O Sr. Harper apenas estendeu a mão e retirou de um arquivo ao lado da mesa dois papéis e me entregou sem comentário algum. A primeira folha era meu horário com a maioria dos tempos em aberto e a outra uma lista de matérias eletivas disponíveis da qual eu poderia escolher para preencher o outro papel.

Escolhi as aulas de sempre e entreguei-lhe a papelada. Respondi-lhe quando questionou se queria mudar o horário de alguma aula. O diretor apenas avaliou minha seleção e me informou a localização da sala do primeiro tempo, que deveria ser inglês.

Ao perceber que ele não informaria mais nada, segui sua instrução e fui à sala de aula. Ao entrar, descobri que, no final das contas, ele me informou a localização errada. Aquela era a aula de História Americana. Acabei tendo que fazer uma prova sem nem ao menos estar na aula certa.

O professor também me questionou de onde era e toda a sala passou a me lançar olhares furiosos pelo resto do tempo quando respondi de quem era parente, apesar de que, pelo que reparei, ele já estavam me observando de tal modo desde o momento que entrei naquele recinto.

Minha fuga foi, como sempre, a leitura e a escrita. Passei todo o tempo livre da aula escrevendo poema atrás de poema, lendo poema atrás de poema. Não consegui relaxar completamente, ainda sentia seus olhares e ouvia seus comentários maldosos, mas consegui aliviar a tensão ao concentrar-me em algo que gostava.

Nas outras aulas, nada mudou. Tudo foi apenas piorando com o passar do tempo. Agora não falavam apenas sobre A Garota Nova, falavam também das minhas roupas e minha aparência. Falavam da minha pele, dizendo que era pálida demais, falavam das minhas roupas que, ao contrário das outras, não eram curtas e não chamavam atenção. Meu cabelo, que não tinha luzes e até minhas unhas, que de acordo com todos, estavam pintadas da cor errada.

Estavam agindo como todos agiam nas outras escolas, mas, dessa vez, eles tinham algo a acrescentar:

Eu era sobrinha de Macon Melchizedek Ravenwood, então não importava se eu me vestisse ou não igual a elas. Não importava se eu pensava ou não igual a elas. No final, eu seria sempre a Lena Ravenwood.


Quando, finalmente, o sinal tocou e eu pude sair da sala de aula, me senti aliviada. Aquele podia ser apenas o primeiro dia de muitos naquela cidade pequena, mas eu sentia que, talvez, pudesse acostumar-me até meu aniversário.

Segui apressadamente até o rabecão, que era encarado do mesmo modo que eu estava sendo. Assim que entrei no carro, fechei todos os vidros. Respirei fundo e encarei o volante. Minhas mãos estavam trêmulas. Minha visão embaçava cada vez mais, as lágrimas invadindo meus olhos. Apoiei minha cabeça às minhas mãos. Cerrei os olhos e me concentrei em fazer as lágrimas sumirem. Não permitiria que descessem por meu rosto. Era isso o que queriam, queriam que eu desistisse desse lugar, mas isso não iria acontecer. Eu tinha que permanecer forte. Pelo menos por ora.

Fiquei ali por alguns momentos. Não contei o tempo e nem queria saber, queria apenas me acalmar e voltar para casa.

Liguei o carro e manobrei-o enquanto tentava em vão concentrar-me apenas no que estava fazendo. Abri a janela e deixei que o vento daquela manhã gélida fizesse-me sentir uma estranha sensação de liberdade que, admito eu, senti desde que encontrei a saída da Jackson High.

A chuva tinha dado uma trégua, mas se seguíssemos meu humor, ela não teria parado e só pioraria. Olhei para o ginásio. Provavelmente estariam fazendo testes para líderes de torcida, com as garotas sempre iguais: magras, cabelos com luzes, bronzeadas, roupas curtas, esmalte cor-de-rosa nas unhas...

Olhei para a quadra externa. Os atletas estavam jogando basquete. Um deles, de cabelos castanhos que cobriam os olhos arremessou e errou, a bola bateu no aro torto da cesta e saiu da quadra. Ele foi pegá-la, mas olhou para mim antes.

Cabelos castanho escuro cobrindo os olhos. Fiquei paralisada.

Quando olhei para frente novamente, o desespero me preencheu quando percebi que estava quase batendo em um poste. Desviei e voltei à velha estrada.

O sonho começou a voltar como se fosse ondas estourando em minha mente, mas eu podia ver mais dele. Enquanto eu escorregava de seus dedos, eu pude ver perfeitamente o garoto que estava junto a mim. Aquele que eu vira na quadra não era apenas um atleta. Não era apenas um estudante... Ele era idêntico ao garoto do meu pesadelo. Ele era idêntico a Ethan.

— É ele. — murmurei para mim mesma, ignorando o fato de estar sozinha.

Olhei para minhas mãos no volante por um segundo. As marcas de suas unhas permaneciam, quase podia senti-las arder como se tivessem sido feitas poucos minutos atrás. Perguntei-me se ele se chamava Ethan, se tinha os mesmos sonhos que eu. Será ele acordava toda noite sujo de lama? Será que acordava ofegante e com medo de cair em um buraco profundo?

A chuva voltou com força e fechei as janelas do rabecão. Olhei para o céu nublado. O sol do meio-dia lutava para sair, para mostrar-se radiante sobre as nuvens escuras, mas seu esforço era em vão assim como minha tentativa de permanecer concentrada na estrada. Minha mente estava além daquele céu tempestuoso. E, apesar disso, eu só tinha um pensamento que permanecia em mente:

Talvez aquela não fosse apenas uma cidade como as outras. Talvez tudo pudesse mudar.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso, espero que tenham gostado. Esperarei ansiosamente reviews e devo avisar que provavelmente vou demorar para postar. Até mais!