Dois Mundos

Havia dois tipos de mundo em minha vida, o meu mundo e o mundo que me odeia.

Meu mundo não é muito diferente do que costumam falar. As pessoas normais vêem-me como uma aberração, uma feiticeira maligna e principalmente a bruxa má de contos de fadas. Essa última descrição não é muito diferente do meu verdadeiro eu, apesar de eu ainda não saber se sou das Trevas.

"Bruxos" nunca foi a palavra que usamos, "Conjuradores de Feitiços" ou só "Conjuradores" eram os únicos termos que realmente definiam o que éramos. Assim como algumas famílias tinham inteligência, algumas tinham mais dinheiro que as outras, a nossa família tinha poderes, nós podíamos controlar a Magia. Não era possível um Mortal, que é o modo que chamamos aqueles que não têm "dons", nascer em uma família Conjuradora e era muito raro um Conjurador nascer em uma família Mortal.

Nós podemos fazer muitas coisas, mas tudo tem seu preço. Quando um Conjurador completa dezesseis anos, ele passa por algo chamado Invocação. A lua manda o poder suficiente para escolher entre ser das Trevas ou da Luz, do mal ou do bem, preto ou branco, nunca houvera cinza nisso. Essa escolha mudaria o Conjurador por toda a sua vida. Seria por todo o resto do seu tempo vivo servidor da Luz ou das Trevas. Serei a próxima da minha família que será Invocada, mas o problema é que, apenas nós, não temos livre-arbítrio. Tudo depende de nossa natureza, de nosso verdadeiro "eu".

Perguntei a todos da minha família o porquê disso. Diziam que era esse o papel de nossa família na Ordem das Coisas, o delicado equilíbrio que regula meu mundo.

Eu aceitei. Não podia discutir com eles. Perguntar como meus pais morreram dava no mesmo, então simplesmente aceitei. Resolvi apenas esperar pelo meu aniversário, esperar para descobrir quem eu sou.

Sempre foi assim. Sempre passei minha vida inteira me perguntando qual é minha verdadeira natureza. Sou das Trevas, como a última pessoa Invocada da família? Sou da luz, como a maioria foi até agora? Todos dizem que sou do bem, que nunca faria mal a um mosquito... Mas ninguém poderia garantir. Ninguém soube dizer que minha prima e quase irmã Ridley se tornaria das Trevas, se tornaria uma poderosa Sirena.

Nós sempre fomos unidas, sempre ficávamos juntas em nossas viagens entre nossos parentes. Nesse momento, eu estou indo para outra dessas viagens que marcam minha vida. Nunca ficamos em um lugar por muito tempo. Talvez para meus parentes não se apegarem muito a mim e, se eu me tornar das Trevas, poderem mandar eu ir embora. Antigamente eu tinha companhia. Ridley foi embora como deveria ser, mas eu ainda sinto falta dela, eu estava completamente sozinha.

Ou pelo menos foi o que pensei quando fechei meu livro de poesia, saí do rabecão e segui para a casa de meu tio, Macon Ravenwood, que morava em Gatlin, uma cidade pequena, tradicional e quase nada conhecida da Carolina do Sul. Minha vida iria mudar completamente lá. Não apenas por faltar 158 dias para meu aniversário.

E sim porque havia um garoto.

Havia uma jornada por respostas.

E, no final, havia a pior verdade que poderia haver.

Nem eu, que vivo num mundo com Magia, poderia imaginar algo como aquilo.