Apenas alguns dias se passaram desde a minha mudança, mas pareceu ser uma eternidade., não acho que aguentarei por muito mais tempo. Todos os dias acordo cedo, se não tem o que fazer o Haru inventa, mas sei que é proposital e tenho que suportar. As tarefas se estendem até ser muito tarde, ou até o sol nascer novamente. No colégio as humilhações mudaram, se antes queriam me forçar a ir embora agora sou vista como a mascote do colégio. A temporada de provas está se aproximando e eu não tenho como estudar.

— Eu ainda mato aquele pirralho mimado nem que seja a última coisa que eu faço na minha vida! — desabafei ao entrar na cozinha dos empregados assim que voltei do colégio.

— O que o Haru fez dessa vez, Mio? — questionou a senhora Masashi que ajudava uma criada preparar o jantar.

— O que ele fez? Por culpa daquele idiota eu “tropecei” numa poça de lama e como se não bastasse ele me fez voltar a pé porque não queria que eu sujasse a limusine, então eu tive que andar mais de seis quilômetros toda suja e aguentando as pessoas rirem de mim. Isso não é motivo suficiente? — Só então ela se virou e me olhou de boca aberta, eu com certeza estou horrível.

—  Calma minha menina, vamos lá para cima e conversaremos melhor, você precisa de um banho urgente — disse ela já me empurrando porta a fora.

Nós subimos para o meu quarto e eu fui direto tomar um banho para toda a sujeira do meu corpo, ou tentar, mas não antes de olhar meu reflexo e chorar de raiva. Como sempre a Masashi-san agiu com uma mãe e me ajudou. Depois de mais de uma hora finalmente eu estava salva da sujeira, mas em compensação minha banheira estava imunda.

— Sabe senhora Masashi, acho que vou desistir — disse sentando-me em minha cama e conferindo o aroma dos meus cabelos.

— Porque minha menina? Você sabe que se voltar para o colégio agora pode piorar a situação e eu tenho certeza de que se você ficar por aqui em breve o meu Haru vai te deixar em paz. — Ela segurou em minha mão e olhou no fundo dos meus olhos.

— Eu não acredito nisso, esse idiota nunca vai mudar. E eu não pretendo voltar ao colégio. — Seu olhar mudou de afito para interrogativo. — Quando assinei aquela maldita aposta o Haru mudou os papéis de uma forma que a minha assinatura foi parar em um contrato onde dizia que se eu desistisse do trabalho eu estaria automaticamente expulsa do colégio, foi por isso que eu aceitei esse trabalho mesmo não querendo, mas agora não dá mais.

— Eu juro que não sabia desse contrato minha filha. — Sua expressão novamente mudou, dessa vez para tristeza. — Mas você tem certeza de que vai desistir do colégio que você sonhou estudar?

— Certeza absoluta, como vou aguentar três anos sendo humilhada dessa forma? Uma boa escola não vale tanto assim.

— Posso te contar uma história minha filha?

— Mas é claro.

— Sempre considerei o Haru como meu próprio filho, por causa de uma doença eu perdi meu bebê aos 5 meses de gestação e depois disso me tornei estéril. Pouco tempo depois fui contratada como babá do Haru enquanto ele era apenas um recém-nascido. Como a mãe nunca esteve presente ele acabou se apegando a mim como sua mãe. Ele sempre foi uma criança doce, mas era incompreendido pelos pais que nunca tinham tempo para o próprio filho. Aos dez anos os pais o mandaram para um internato em Seul. Imagina uma criança sozinha em um país totalmente diferente e mal sabia falar o idioma. Apesar de ser uma criança inteligente sendo considerado um prodígio em muitas áreas, ele ficou transtornado, começou com várias rebeldias para tentar voltar para casa, mas descobriu que seus atos faziam seus pais o notarem, então ele nunca mais parou.

— Se ele a considerava uma mãe, porque agora ele te trata assim tão frio?

— Ele só voltou para Tóquio depois de completar 15 anos e já voltou rebelde desse jeito. Depois de muito tempo eu descobri que ele não queria se apegar a mim novamente porque não queria sofrer com separações novamente. Mas mesmo assim eu continuei ao seu lado e vou ficar até ele entender que sempre pode contar comigo. Afinal, ele é o filho que eu escolhi.

— Me perdoe, mas mesmo assim não consigo acreditar que ele possa ser uma boa pessoa por dentro e acredite, eu sempre vejo o lado bom das pessoas.

— Por favor Mio, dê mais uma chance a ele. Eu sinto em meu coração que você pode ser quem vai fazê-lo voltar ao que sempre foi, ele só tem amizades que fazem mal a ele, mas você tem um coração puro, por isso confio em você, o que me diz?

“ Neko-chan venha imediatamente ao meu quarto, tenho um pequeno trabalho a você. Agora! ” A voz do Haru saía de forma estridente do interfone que havia em meu quarto fazendo eu sentir um arrepio em minha espinha, isso não é um bom sinal.

— Juro que essa será a última chance que dou àquele pirralho, depois eu desisto — respondi a senhora Masashi já saindo pela porta.

Fui imediatamente para o quarto do Haru mesmo não querendo, ao chegar lá a porta se abriu antes que eu pudesse bater nela.

— Demorou por quê, Neko-chan?

— Muito engraçadinho você, não é?

— Agora sem piadas, só queria informar que amanhã você limpará o meu quarto e quando digo limpar é porque não vou aceitar uma única agulha fora do lugar, entendeu?

— Entendi, Haru. — Observei o quarto por trás do Haru, até que estava um pouco organizado. — Vai ser fácil.

— É Ahmon-sama para você, não se esqueça que você está sendo paga para isso.

— Entendido, Ahmon-sama. Amanhã eu começo a limpeza de manhã visto que é sábado.

— Esteja aqui às sete em ponto! — exclamou ele enquanto eu me afastava. — E tome um banho porque o cheiro de lixo está forte!

Qual seria a minha punição se eu matasse o dono dessa casa?