Castelo de Vidro escrita por Purple Sparkle


Capítulo 31
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo. Queria ter o postado na quarta e na quinta, mas só consegui finalizá-lo tem alguns minutos. Enquanto escrevia esse capítulo tomei uma decisão muito importante. Espero que gostem do capítulo. Me contem depois o quê acharam. Boa leitura!!



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# Narração Jennifer (ON):

 

Passar um tempo na casa do meu pai é muito bom, principalmente porque estou longe da minha mãe e de todos os seus dramas e tramoias. Não é que eu não goste da minha mãe, longe disso, mas sim que uma hora cansa participar desse show de horrores.

Ano passado resolvi passar tanto a véspera de Natal e a o Natal na casa do meu pai. Perdi a clássica festa de Marcela Maldonado, mas a vantagem é que também perdi o drama.

Minha irmã veio no dia 25 pra cá. Sei que ela veio porque a minha mãe falou pra ela vir. Nada contra a Larissa, mas as vezes acho que ela se deixa muito levar pelas ideias da minha mãe. Certas horas penso que ela só quer tudo que a Anna Júlia têm só pra dizer que ganhou. Uma disputa boba e infantil. No final qual a graça disso tudo? Nenhuma. Isso só mostra o quão imaturo e infantil você é. Uma pena.

Passei o meu ano novo no Rotary Club. Estavam todos lá. Meu pai, meu padrasto, minha mãe, minha irmã, meus amigos. Resumindo todo mundo importante. O local estava muito bonito como sempre e cheio de câmeras pra lá e pra cá. Eu não ligava para as câmeras, sempre fingi que elas não existiam nessa data. Me importava mais com a nossa tradição. Se jogar no mar depois da meia noite. Deixar a água do mar nos encher de boas vibrações. Brindar ao recomeço, as novas chances. As diversas formas de alcançar as nossas metas ou de estragarmos tudo. Eu não me importava com o que iria acontecer, não iria planejar nada. Ia somente deixar a maré me levar. E ela levaria.

Decidi passar as minhas férias na casa do meu pai. Não é que eu não sinta falta de casa, mas não tem a mesma energia sem Anna Júlia morando nela. É engraçado, eu me sinto melhor com uma pessoa que nem possui o mesmo sangue que eu do que com a minha própria irmã. Deve ser porque temos valores diferentes. Mas também tem aquela história de que família não são somente as pessoas que te criaram, não são as pessoas que possuem o mesmo sangue fluindo pelas veias. Acho que passando tanto tempo observando e até as vezes participando do grupo de Anna Júlia descobri outro significado pra essa palavra. Aprendi com eles que família são aquelas pessoas que estão sempre com você independente do momento, independente se você está certo ou errado. São aquelas pessoas pelas quais você mata e morre.

Peguei meu celular e liguei para casa. Esperei ansiosamente Dorothéia atender o telefone.

 

— Alô.

— Dorothéia, graças a Deus foi você que atendeu o telefone!

— Menina Jennifer, como você tá?

— Fala baixo, não quero que a minha mãe te escute. Mas eu tô bem, na verdade eu tô ótima. Ficar longe do drama dessa casa faz muito bem.

— Que bom que você está bem. O que me conta de bom?

— Vou passar o resto das férias aqui na casa do meu pai. Quando chegar o requerimento da escola você liga pra cá escondida que eu vou aí buscar o meu. Não quero ninguém se metendo nas minhas escolhas.

— Pode deixar eu faço isso.

 

Escuto a voz da minha mãe e gelo. Ela perguntou a Dorothéia quem era no telefone e graças a Deus ela não falou que era eu. Não queria escutar a minha mãe reclamando que eu iria passar muito tempo na casa do meu pai.

 

— Menina Jennifer essa foi por pouco. - Dorethéia falou aliviada.

— Foi mesmo. Como as coisas estão por aí?

— Sua mãe anda bem irritada desde a premiação. A dona Clara deu as caras na cidade e a dona Angela sabia de tudo. Na verdade a sua mãe está bem irritada com isso desde o natal.

— Como assim, Dorothéia?

— A dona Clara mandou uma mensagem pra Anna Júlia, mas não foi uma mensagem qualquer não. Foi algo em vídeo e o doutor Carlos quando a viu ficou de queixo caído.

— Isso deu uma confusão danada né?

— Deu sim, mas a situação piorou depois da premiação. Mas a sua mãe está mais tranquila desde do dia que ela saiu e demorou horas e horas na rua.

— Minha mãe a confrontou, Dorothéia. Conheço a coroa. Isso não é bom sinal.

— Será?

— Tenho quase 100% de certeza. Tenho que ir. Depois ligo outra vez. Obrigada por tudo, Dorothéia.

 

Finalizei a chamada e fiquei arrepiada. Aquele arrepio eu conheço bem. Coisa boa não vem. Eu estava começando a ficar com medo.

 

# Narração Jennifer (OFF):

 

# Narração Angela (ON):

Aquela garota ainda ia me matar. Alguns dizem que vai ser de desgosto, mas eles estão errados. Já estou velha, não consigo aturar os surtos de uma adolescente. Nem Carlos a aguentou, imagina eu. Tudo bem que sou mais linha dura que ele, mas a minha neta é inteligente. Mostra realmente que herdou os genes.

Estava no apartamento de Fernando. Mais precisamente em seu escritório. Naquele momento acontecia uma pequena reunião entre eu, ele e Clara sobre Anna Júlia.

Desde que Clara apareceu, muitas coisas aconteceram. Minha neta descobriu que tem um irmão, ficou irritada e largou o tio e a mãe no restaurantes. Ela é bem explosiva as vezes. Miriam fez uma pequena visita à Clara. As duas certamente trocaram farpas. Isso não era uma coisa boa.

O rumo da discussão não estava me agradando. Queriam levar minha neta para longe. Isso sim ia me matar. Tudo bem que Clara tem o direito de ficar com a menina, mas decidir as coisas sem planejamento não dá.

 

— Você não vai levar a minha neta! - me segurei para não gritar.

— Isso é inviável, irmã. - Fernando falou.

— O Carlos não quer ficar com ela, mas eu quero. Vocês não acham que eu tô aqui só pra ver a Anna Júlia e voltar. Nem pensar. Ela vai comigo. Já entrei com uma ação na justiça pra resolver isso o mais rápido possível. Eu quero a guarda da minha filha.

— Ela não quer ficar com você, Clara. - falei irritada. - Você viu como ela agiu com a sua reaproximação.

— É só um pequeno ato de rebeldia. Isso vai passar.

— Antes disso passar, ela vai te enlouquecer. - Fernando falou.

— Ela acha que você a abandonou. - falei.

— Por culpa sua e do Carlos. Vocês a fizeram pensar assim. Eu tentei muitas vezes ter contato com a minha filha e vocês impediram.

— Eu e o Carlos erramos, mas você também errou muitas vezes. Não cometa mais um erro. Não a leve de uma hora para outra. Essas atitudes tem que ser planejadas e pensadas. - fui clara e objetiva.

— O quê você sugere então, Angela? - Fernando perguntou.

— As férias logo vão acabar e as aulas retornarão. Não tem como Anna Júlia ir para o exterior e passar todo o seu último ano letivo lá fora. Ela provavelmente quer passar esse momento com os amigos dela. Porém concordo que ela tenha que passar um tempo com a sua mãe. A deixo ir para sua casa nas férias do meio do ano, Clara. Mas assim que terminar as férias, Anna Júlia volta pra cá e fica sob a minha tutela.

— Você está me dizendo pra esperar mais seis meses pra poder ficar com a minha filha? Isso é sacanagem né? E depois ela volta pra sua casa. Tudo bem que você é a avó dela, mas acho que ela deveria ficar comigo ou com o Carlos. Já que o Carlos não a quer, eu quero.

— Clara, a proposta da Angela é maravilhosa. Ela não tá impedindo em momento algum da minha sobrinha passar um tempo com você. Aceita logo e para de discutir. Nós dois sabemos que isso é o melhor que você pode conseguir. - Fernando falou.

— Tenho uma proposta melhor. A levo agora para o exterior, ela começa o ano letivo lá, porém o termina aqui. Na verdade esse período que ela passará comigo no exterior será uma espécie de intercâmbio. Dois meses. Esse é o período até ela realizar a primeira prova. Depois disso ela volta pra cá e continua na sua antiga escola. Nas férias do meio do ano ela vai pra minha casa e no fim delas ela retorna a sua casa, Angela. Sei que você falará que isso é loucura, mas garanto que vai ser uma boa experiencia para a minha filha, tanto pessoal quanto a nível de currículo.

— Isso é loucura… Uma grande loucura. O quê te garante que Anna Júlia aceitará passar dois meses contigo longe de todo mundo? - estava intrigada

— O programa acadêmico da escola. Acho que Leo também ajuda. Se ela quiser voltar antes dos dois meses eu não farei nenhuma objeção. - Clara falou decidida

— Tudo bem… Você me convenceu. Dois meses. - falei e logo após suspirei.

— Como você fará pra ela ir contigo? E quando vocês vão? - Fernando perguntou.

— Eu aviso que ela vai passar um tempo fora. As condições você explica no caminho, Clara. Já aviso, se houver algum estrago eu não me responsabilizo por nada. É tudo sua responsabilidade. Te garanto que ela vai te dar trabalho. - fui objetiva.

— Vamos em cinco dias. Já atrasei demais a minha volta pra casa. Por mim íamos amanhã, mas sei que Anna Júlia precisa de um tempo.

— Ótimo. Vou avisá-la hoje. - falei.

 

Me retirei do apartamento e fui em direção a casa de Carlos. Precisava contar para o meu filho o quê tinha acabado de ser decidido. Não tinha medo de sua reação, mas não sabia o quê esperar dele.

Cheguei na recepção e passei direto. Entrei no elevador e subi. Toquei a campanha e logo a porta foi aberta. Dorothéia me recebeu.

 

— Dona Angela, por favor entre. A senhora aceita um chá, um café, ou qualquer outra coisa?

— Aceito um café bem forte.

— Sim senhora.

— Dorothéia.

— Sim.

— Chame o Carlos imediatamente.

— Sim senhora.

 

Sentei no sofá da sala de estar e aguardei o meu filho e o meu café bem forte. Precisava de um pouco de cafeína pra lidar com essa situação.

Sinto um perfume forte e enjoativo. Odiava esse tipo de perfume. Logo a dona de tal fragrância aparece no meu campo de visão.

 

— Sogrinha querida, a que devo o prazer de sua visita? - aquela voz estridente me irritava.

— Miriam. - falei com certo desgosto na voz.

— É tão bom a ter aqui. - me segurei para não fazer que nem a minha neta e virar os olhos.

— Estou esperando o Carlos. Preciso conversar seriamente com ele.

— O que a monstrinha aprontou dessa vez? - senti o veneno escorrendo com essa pergunta e não gostei.

— Não a chame de monstrinha. Ela não aprontou nada. Só vim comunicá-lo de uma decisão que tomei. - fui sucinta.

— Ele já está vindo, dona Angela. Aqui está o seu café. - Dorothéia nos interrompeu e me estendeu uma xícara de porcelana cinza com café dentro.

— Mamãe. É sempre um prazer te ver. - Carlos falou.

— Igualmente. Sente-se. - respondi.

— Querido, sua mãe têm novidades. - Miriam falou com uma falsa empolgação.

— E que novidades são essas? - Carlos perguntou.

— Anna Júlia passará dois meses fora do país na casa de Clara. Ela começará o ano letivo no exterior e depois voltará pra cá. - falei enquanto tomava o meu café calmamente.

— Isso é incrível! - Miriam exclamou.

— Não! Que loucura é essa, mamãe? - Carlos estava transtornado. Ele passava a mão em seus cabelos levemente aparados.

— Clara deu essa ideia e eu aceitei. A menina tem direito de passar um tempo com a mãe. Ponto final. Só passei aqui para avisar tal decisão. Anna Júlia viajará em cinco dias.

— Por que você aceitou essa loucura mamãe? - ele continuava passando a mão no seu cabelo.

— Porque sua filha vai enlouquecê-la e não vai ser pouco. Clara vai aprender na pele a parar de falar besteiras. - encerrei o que tinha que dizer. Minha decisão estava tomada. Admito que isso não foi algo previamente planejado, mas agora era esperar e ver.

 

Terminei de tomar o meu café e decidi voltar pra casa. Esperava encontrar a minha neta o quanto antes. Precisava contar essa notícia pessoalmente. Não podia deixá-la saber disso por terceiros. Talvez ela vá me odiar quando souber de tudo, mas acho que futuramente ela vai me agradecer. No fundo essa loucura toda vai ser uma boa experiência para ela. Eu sinto isso, na verdade eu tenho certeza disso.

 

# Narração Angela (OFF):

 

# Narração Amanda (ON):

 

Estava na casa do Lucas, o clima aqui estava meio tenso. O clima sempre está tenso por causa dela. é impressionante como isso acontece.Aqui o clima tá mais tenso do que na minha casa. Me mantenho calada porque sei que se eu abrir a boca vou falar mais do que devo e o Lucas vai ficar bem chateado comigo. Ele não deveria ficar tão chateado com certas coisas que eu falo. São a mais pura verdade.

Desde o dia da festa na casa do Caio ele está chateado. O tal almoço foi um fracasso. Ele que utilizou essas palavras, não eu. Ele está muito puto. Poderia usar outra palavra, mas essa é a que o define melhor.  Ele chegou irado na festa. Eles discutiram no carro. Dessa vez não houve uma mobilização pra tentar encontrar a rainha do drama. Todos estavam ocupados com coisas mais importantes.

Quem me vê pensa que ela não é minha amiga, mas eu só falo essas coisas porque me importo de verdade com o bem estar de todos. Acho que ela deveria simplesmente dar um tempo daqui. Dar um tempo pra nós. Um tempo sem drama. Melissa já fez isso indo pra casa do avô dela. Garanto que essas duas semanas vão ser uma das mais calmas da minha vida. Vai ser uma das mais calmas, só pelo fato de eu não ser provocada em quase todo minuto por Melissa.

A inquietação do Lucas me irrita, me deixa nervosa e acima de tudo me deixa preocupada.

 

— O quê está acontecendo, Lucas?

— Nada…

— Se não fosse nada, você não estaria tão inquieto.

— É sério que você não percebeu o que está acontecendo? - ele explodiu.

— Não. Se eu tivesse sacado alguma coisa, não estaria te perguntando. - não aguentei e explodi também.

— Você é muito lerda mesmo, Amanda. Por isso a Melissa vive te insultando. - não acreditava que ele estava me falando isso. Fiquei boquiaberta.

— É sério que você vai ficar me gastando? Ótimo. Eu vou pra casa. Não sou obrigada a escutar isso, não de você!

— Amanda… - ele falou o meu nome numa prece silenciosa.

— Que foi? - fui grossa.

— Por favor, não vá. Me desculpa, eu estou um pouco estressado. - ele suplicou.

— Mas isso não é desculpa pra descontar em mim.

— Tá bom. Me desculpa, não fiz por querer. Por favor. - não tinha como negar esse pedido. O clima estava tenso na casa dele. Eu entendia o estresse.

— Ok.

— Vou te falar o quê tá rolando. Meu pai tá no escritório dele.

— Seu pai sempre está no escritório, Lucas. Isso não é novidade. - olhei pra cara dele e revirei os olhos. Aquilo era normal, o pai dele sempre vivia naquele escritório. Era óbvio demais que ele estava lá.

— Mas desse vez ele está com a dona Angela e com a tia Clara. - ele não se importou com o meu leve deboche e continuou.

— A dona Angela? Aquela mulher pode ser o capeta de saia se ela quiser - fiquei assustada. O quê será que estava acontecendo..

— Eu sei. Tenho medo daquela senhora. - ele ficou arrepiado.

— Todo mundo que tem um pouco de consciência tem medo dela. Agora eu entendo porque você está tão inquieto. Essa reunião vai dar uma grande confusão provavelmente.

 

Somos interrompidos pelo meu celular tocando estridentemente. Olho o visor e vejo que é o Bernardo.

 

— Quem é? - Lucas perguntou.

— Bernardo. - o respondi rapidamente.

— O quê será que ele quer?

— Eu não sei. Melhor atender.

 

Atendo o celular já imaginando o que poderia vir. O conheço a pouco tempo, mas sei que ele tem o pé no chão.

 

— Olá, Bernardo.

— Oi Amanda, desculpe te incomodar, mas posso te encontrar?

— Pra quê?

— Preciso conversar com alguém. A AJ me escorraçou, a Mel tá no avô dela e eu não quero atrapalhar e também já conversamos mais cedo, o Nathaniel deve estar sendo escorraçado pela AJ nesse momento. Você deve ser a única pessoa que não vai me chamar de trouxa e me julgar.

— Bê, eu gostaria muito de conversar com você, mas provavelmente o assunto é uma das duas e eu não tô no clima de falar delas. Na verdade nós não estamos. Quando eu digo “nós” sou eu e o Lucas. Desde o dia da festa ele continua mal.

— Entendo… Foi mal te incomodar.

— Tudo bem. Se fosse sobre outra coisa eu não me importaria em ouvir. Acho que você não deveria se importar com a AJ, ela é assim mesmo. Maluca e mimada. Não se esqueça que eu a conheço a mais tempo.

— Pode deixar, Amanda. Obrigado pelo conselho. Ah… Posso fazer outra pergunta?

— Claro.

— Quando os requerimentos do colégio chegam o quê vocês fazem?

— Esses requerimentos só servem pra marcar qual clube você quer fazer parte e pra avisar qual a ementa de cada matéria. É obrigatório participar de um clube. Você não precisa se inscrever agora nas férias e entregar a papelada no primeiro dia de aula. As duas primeiras semanas somos apresentados a todos os clubes. Você tem tempo pra escolher.

— Qual clube você vai escolher?

— Não comentamos as nossas escolhas. Só participamos porque somos obrigados.

— Ok. Valeu, Amanda. Tchau.

— Tchau.

 

Desliguei o celular e revirei os olhos. Não tinha muita paciência para algumas coisas. Não é porque sou a mais calma que eu aguento tudo calada. As vezes tenho o direito de surtar e gritar com algumas pessoas. Isso não é privilégio delas.

Lucas olhou pra mim e eu conhecia aquele olhar. Ele não aprovava a minha conduta. Mas naquele momento ignorei o seu olhar e somente o abracei. Aquele abraço me deixaria tranquila e o deixaria menos inquieto. Por enquanto aquilo era o suficiente.

 

# Narração Amanda (OFF):

 

# Narração Bernardo (ON):

 

Depois de falar com a Amanda só fiquei com vontade de correr para os braços da minha mãe, mas não fiz isso num primeiro momento, tinha medo dela me julgar pelas as minhas escolhas. Sabia que ela não concordava muito com o meu ciclo de amizades, mas não ia e nem queria mudar de ideia.

Fui até o seu escritório e entrei. A surpreendi com um abraço. Não sabia a quanto tempo não abraçava a minha mãe, mas já tinha um certo tempo. Acho que desde que me mudei pra cá não fazia isso. Será que era influência pelo que estava vendo?

 

Is everybody going crazy? / Está todo mundo ficando louco?

Is anybody gonna save me? / Irá alguém me salvar

 

Can anybody tell me what's going on? / Alguém pode me dizer o que está acontecendo?

Tell me what's going on / Me dizer o que está acontecendo

If you open your eyes / Se você abrir os seus olhos

You'll see that something is wrong / Você verá que algo está errado

 

I guess things are not how they used to be / Eu acho que as coisas não são mais como costumavam ser

There's no more normal families / Não há mais famílias normais

Parents act like enemies / Pais agindo como inimigos

Making kids feel like it's World War II / Fazendo seus filhos se sentirem na Segunda Guerra Mundial

 

No one cares  / Ninguém se importa

No one's there  / Ninguém está lá

I guess we're all just too damn busy  / Eu acho que estamos todos muito ocupados

Money's our first priority  / Dinheiro é nossa primeira prioridade

It doesn't make sense to me  / Isso não faz sentido para mim



— Aconteceu alguma coisa, Bernardo? - minha mão estava preocupada.

— Mais ou menos.

— Me conta o quê está te incomodando.

— As vezes parece que eu tô tão perto, mas as vezes sinto que tô tão longe. Será que eu fiz a escolha certa ficando com eles.

— O quê você sente?

— Sinto que eu escolhi certo.

— Então é isso que importa no final.

— Obrigado, mãe. Eu te amo.

— Não me agradeça. Eu não fiz nada.

 

Fiquei sentado com a minha mãe e o quê ela falou está certo. Seu eu sinto que eu fiz a escolha correta é isso o quê realmente importa. Com isso passo a entendê-las melhor. Que loucura né?

 

# Narração Bernardo (OFF):

 

# Narração Nathaniel (ON):

 

Passei o dia todo com Anna Júlia. Não fizemos nada extravagante, mas o que fizemos foi muito melhor que qualquer futilidade. Sentamos na praça e ficamos no balanço. Como duas crianças que não possuem problemas ou grandes preocupações. No caso a maior preocupação dessas crianças seria em brincar o dia todo. Observamos algumas crianças correndo pela rua e jogando bola. Eu me lembrei de quando era mais novo e minha mãe era viva, fiz muito isso. Acho que essa foi a grande vantagem de não morar com o meu pai. Ter liberdade. Não ser controlado pelo sistema. Em tese sou meio outsider. E acho que isso não poderia me render melhores frutos.

 

— O quê você tanto observa, Nate? ´- Anna estava curiosa.

— As crianças correndo.

— Você as acha interessante? - ela não conseguia conter a sua curiosidade.

— É claro. Elas são tão livres.

— Livres…

— Sinto falta dessa época. - desabafei.

— Eu não. - ela falou e eu fiquei curioso.

— Por que, AJ?

— Vocês todos estão com mania de me chamar de AJ agora. - ela riu. - Não sei se acho isso legal ou bonitinho ou se me irrito.

— Você não respondeu a minha pergunta. Acho que você deveria achar legal e bonitinho a gente te chamar de AJ, é um apelido carinhoso.

— Desculpe não responder. Acho que não sei responder. Nunca me senti assim “livre”. - ela fazia o sinal de aspas quando falou a palavra livre.

— Como assim? - estava ainda mais curioso.

— Sempre foram muitas regras impostas, é claro que quebramos várias ao longo dos anos, mas você sempre têm medo de fazer algumas coisas porque isso pode acarretar certas situações. Temos liberdade pra fazermos o que bem queremos, mas tudo dentro de certos limites.

— Entendi. Passei a ver isso de perto depois que comecei a conviver com o meu pai.

— Você ainda pode desfrutar de uma real liberdade. Já nós fomos condicionados a viver dentro do padrão desde que usávamos fraldas. Isso é engraçado né?

— Um pouco tragicômico. - disse.

 

Esse é o motivo de serem tão mecânicos certas horas. Eles sempre têm que pensar em tudo o quê vão fazer. Não podemos colocar nossas famílias em situações embaraçosas perante a sociedade. Por isso a maioria deles têm tantos demônios.

 

— Vamos fazer algo que você nunca fez? - falei sem pensar nas consequências.

— Vamos! - seus olhos brilharam.

— Você já cantou num palco na frente de todo mundo, você se jogou no mar na noite de ano novo e depois rolou na areia, acabou com a sua madrasta numa revista, saiu escondida milhões de vezes, encobriu muitas mentiras. Mas eu aposto que você nunca foi num balanço e cantou uma das suas músicas a plenos pulmões e quando estivesse no fim se jogou do balanço sem medo de cair.

— Verdade eu já fiz isso tudo e mais um pouco, como tacar flores pela janela ao som de “Take a Bow”, mas nunca fiz isso de me balançar e depois me jogar e cair em pé. Isso é loucura. Na verdade eu nunca me balancei tão alto, meu pai nunca deixava, ele sempre falava que eu ia cair.

— Você tinha medo de cair?

— Um pouco, mas hoje eu sei que as vezes é preciso cair para poder se levantar.

— Você está com medo?

— Nem um pouco. Gostei da ideia. Você vai comigo né?

— É claro!

 

Começamos a nos balançar. Cada vez íamos mais alto. O céu era o limite. Acho que era a primeira vez em anos que sentia a mesma liberdade que tinha quando era criança. É claro que eu ainda tinha uns momentos de liberdade, como a banda. Sabia que Anna Júlia estava realmente sentindo aquilo pela primeira vez.

Quando estávamos alto o suficiente ela começou a cantar “Underclass Hero” do “Sum 41”.

 

1..2..3..4 / 1..2..3..4

Well I won't be caught living in a dead end job / Bem, eu não vou ser pego num trabalho sem futuro

While praying to my government, guns, and god / Enquanto rezo para governantes, armas e Deus

Now it's us against them / Agora somos nós contra eles

We're here to represent / Estamos aqui para representar

And spit right in the face of the establishment / E cuspir na cara das autoridades

 

And now I don't believe (In having faith in nothing!) / E agora eu não creio (Não estou tendo fé em nada)

Stand on my own (Got no sympathy!) / Continuar sozinho (E sem ninguém se preocupando)

Wasting the youth (While being young and useless!) / Desperdiçando a juventude (Enquanto jovem e útil)

Speak for yourself (And don't pray for me!) / Fale por você mesmo (E não torça por mim)

 

Well Because we're doing fine / Porque nós estamos indo bem

And we don't need to be told / E não precisamos ser avisados

That we're doing fine / De que nós estamos indo bem

Cause we won't give you control / Pois não vamos te deixar controlar

And we don't need anything from you / E não precisamos nada de vocês

Cause we'll be just fine / Porque nós vamos ficar bem

And we won't be bought and sold / E não vamos ser comprados e vendidos

Just like you / Como vocês

 

Confesso que fiquei surpreso com a escolha da música. Anna Júlia sempre me rendia boas surpresas. Nunca imaginei que ela curtia essa banda. Uma das minhas bandas favoritas. Enquanto ela cantava seus olhos brilhavam mais do que milhões de estrelas. Ela balançava a sua cabeça levemente e sorria no final de cada verso. Comecei a cantar a música junto com ela. Não tinha como ficar calado.

 

(A call across the Underclass) / Uma chamada pela classe baixa

 

Calling out loud with no respect / Falando alto e sem respeito

I'm not the one, just another reject / Eu não sou o único, sou só mais um rejeitado

I'm the voice to offend / Sou a voz que ataca

All those who pretend / Aqueles que fingem não clamar contra a multidão

Unsung against the grain I'm here to rise against / Mas estou aqui para me reerguer

 

And now I'm desensitized (I state my place in

nowhere!) / Agora estou sem sentimentos (Eu determino meu lugar em lugar nenhum)

Burning the flag (Of the degeneration!) / Queimando a bandeira (da degeração)

Everyone sing (The Anthem of no future!) / Todos cantam (O Hino dos sem futuro)

Down with the mass ('Cause we're not listening!) / Acabar com a massa (Porque não estamos ouvindo)

Well because we're doing fine / Porque nós estamos indo bem

And we don't need to be told / E nós não precisamos ser avisados

That we're doing fine / De que nós estamos indo bem

Cause we won't give you control / Pois não vamos te deixar controlar

And we don't need anything from you / E não precisamos nada de vocês

Cause we'll be just fine / Porque nós vamos ficar bem

And we won't be bought and sold / E não vamos ser comprados e vendidos

Just like you / Como vocês

 

Nesse momento Anna Júlia saltou do balanço em movimento. Ela não hesitou e em nenhum momento houve hesitação em seus olhos. Eu estava o tempo todo a observando, tentando congelar aquela cena em minhas memórias mais especias. Aquela cena era simplesmente linda.

Ela aterrissou e sorria como uma criança inocente. Um sorriso puro e iluminado. Ela continuou cantando e eu a acompanhei. Saltei do balanço também e não tive nenhum problema na aterrissagem.

May I have your attention please… / Por favor peço sua atenção

I pledge allegiance to the underclass as your hero at

large. / Eu juro lealdade à classe baixa, como seu herói foragido

 

1..2..3..4 / 1..2..3..4

We're the saints of degeneration / Somos os santos da degeneração

We don't owe anyone an explanation / Não devemos pra ninguém explicação

F**k elitists / Fodam-se as elites

We don't need this / Não precisamos disso

We're the elite of just alright / Somos a elite da conformação



Well because we're doing fine / Porque nós estamos indo bem

And we don't need to be told / E não precisamos ser avisados

That we're doing fine / De que nós estamos indo bem

Cause we won't give you control / Pois não vamos te deixar controlar

And we don't need anything from you / E não precisamos nada de vocês

Cause we'll be just fine / Porque nós vamos ficar bem

And we won't be bought and sold / E não vamos ser comprados e vendidos

Just like you / Como vocês

 

Terminamos de cantar a música e Anna Júlia sentou no chão e gargalhava. Acho que nem ela mesma acreditava na cena que acabara de presenciar.

 

— Ai meu Deus. Isso foi insano! - seus olhos brilhavam.

— Garota, da onde você tirou essa música?

— Eu não sei! Quando eu percebi já estava me balançando alto demais e cantando essa música. Sempre senti algo ligado a liberdade quando escutava essa música. Não ser uma marionete na mão de ninguém.

— A escolha da música foi perfeita. Eu amo essa música. Fiquei surpreso quando percebi qual era a música, quase me belisquei pra saber se era verdade.

— Eu amei a sensação. Nossa… Eu não sei explicar o que eu tô sentindo, só sei que não quero parar.

— Então não vamos parar.

— Qual é a próxima loucura da lista? - ela me perguntou animada.

— Vamos brincar de pique com aquelas crianças.

Peguei em sua mão e fomos correndo em direção as crianças que brincavam na rua de pique bandeirinha. Perguntei a uma menina de mais ou menos 9 ou 10 anos se podíamos participar. A pequena sorriu e concordou. Eu fui para o time dos meninos e Anna para o das meninas.

Se eu pudesse congelar mais uma cena eu congelaria essa. Anna Júlia correndo descalça com os cabelo levemente desgrenhados e de vestido amarelo. Tão jovial e livre, mas mesmo assim carregava o peso do mundo em suas costas. Eternamente mutante à meus olhos, porém a mesma em todas as suas formas, caminhos e lembranças. Quando eu olho para ela eu consigo ver uma menina com sonhos e vontades. Sonhos do tamanho do mundo e com a vontade de ser livre que nem um passarinho. Pra mim essa é a verdadeira Anna Júlia.

 

Quiero, quiero, quiero, que se pare el tiempo / Quero, quero, quero, que se pare o tempo

Quiero, quiero, quiero, en este momento / Quero, quero, quero, neste momento

Oír tú voz, hablándome / Ouvir sua voz, falando

De los días felices que aún no me diste y tendré / Dos dias felizes que ainda não me deu mas terei

 

Somos prisioneros y las jaulas que encarcelan nuestros sueños / Somos prisioneiros e as jaulas que aprisionam nossos sonhos

Son las circunstancias / São as circunstâncias

Somos el camino que hay en medio entre el hecho y el deseo / Somos o caminho que há no meio entre o fato e o desejo

Somos la distancia / Somos a distância


# Narração Nathaniel (OFF):


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. Até o próximo. Beijinhos.



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