Castelo de Vidro escrita por Purple Sparkle


Capítulo 27
Teatro de Marionetes - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, voltei com mais um capítulo, dessa vez cumpri a minha promessa e voltei rapidinho né? Nesse capítulo continuaremos tendo muitas tretas. Boa leitura :)



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# Narração Clara (ON):

 

12 horas… Finalmente eu cheguei no meu destino. É chegada a hora da verdade, verdade esta que pode doer, mas verdade necessária.

Todos somos imperfeitos, mas devemos procurar corrigir essas imperfeições para não prejudicar ninguém. Então que tal começarmos a julgar em nós o que julgamos nos outros?

Estava aqui para me reaproximar da minha filha. Acho que a machuquei demais nesse tempo que fiquei longe. Provavelmente ela me odeia. Ou vai me odiar quando descobrir que tem um irmão. Pode achar que foi substituída. Minha filha não merece se machucar mais.

Agora que estava aqui precisava avisar uma pessoa que eu tinha chegado. Disquei o seu número e esperei ela atender.

 

— Alô.

— Oi, sou eu. É só pra avisar que cheguei.

— Muito bom saber que você decidiu vir, Clara.

— É bom estar de volta, pelo menos em tese.

— Sua filha vai ficar feliz em te ver.

— Espero que sim. Quero me reaproximar dela.

— Já sabe onde você vai ficar?

— Vou ficar num apart hotel.

— Tem certeza de que não quer ficar aqui em casa?

—Tenho sim. Muito obrigada pelo convite.

— Você vai na premiação?

— Vou sim.

— Ótimo, coloquei seu nome na lista. Te vejo lá.

— Obrigada por tudo.

— Não precisa agradecer.

 

Desliguei a ligação e me senti bem mais leve. Iria para o apart hotel e assim que chegasse lá ligaria para o meu filho. Quero saber se está tudo bem. Já estou com saudades do meu filhote. Sabia que Leo iria cuidar dele. Em poucos dias Christopher estaria chegando de Los Angeles e eu ficaria ainda mais tranquila.

 

# Narração Clara (OFF):

 

# Narração Miguel (ON):

 

São 19:00 em ponto e eu estou tocando a campainha da casa da Anna Júlia. Quem diria que eu iria chegar exatamente no horário? Eu só cheguei porque eu tecnicamente fiquei com medo dela fazer o que falou.  O mordomo da casa atendeu a porta e me mandou entrar. Pensei em sentar no grande sofá vitoriano de cor creme para esperá-la, mas não foi necessário. Ela estava belíssima. Seu vestido vermelho contrastava com a sua pele branca quase pálida. Ela não usava joias chamativas, somete um cordão com um pingente que possuía o símbolo do infinito e o bracelete que lhe dei de Natal.

 

— Que bom que você chegou na hora, senão ia mandar o Bê vir me buscar.

— Não ia perder a oportunidade de acompanhá-la nesse evento.

— Eu sei…

— Acho que você já sabe, mas mesmo assim vou falar. Você está belíssima.

— Obrigada. Você também não está nada mal.

— Isso foi um elogio? Não sei se você reparou, mas acertei em cheio a cor da gravata que eu deveria usar.

— Sabemos que você fez isso atoa, né Miguel?

— Não fale assim. Enfim… Vejo que você não a jogou fora.

— Acho melhor pararmos de papinho, não quero chegar atrasada. Tenho um discurso pra fazer.

Estendi a minha mão para ela e ela aceitou. Caminhamos até o carro. Meu motorista nos aguardava do lado de fora do carro. Ele abriu a porta e nós entramos.

Ela passou uma boa parte do trajeto fitando a paisagem. Antes de ter chegado na casa dela fiz questão de falar para o motorista passar pela praia quando estivéssemos a caminho do evento. Ela gostava de ir a praia e observar as estrelas durante a noite.

 

— Acho que como estamos no carro e estamos a caminho você poderia falar comigo, Anna.

— Talvez…

— Fico feliz que você esteja usando o bracelete.

— Por que?

— Porque ele combina com você. Escolhi ele com muito carinho.

— Não vem com essa. Eu não vou cair nessa ladainha.

— Não é ladainha. Na verdade não foi muito difícil escolhê-lo. Quando eu o vi logo lembrei de você. Você sempre passou muito tempo observando as estrelas. Sei que fui um babaca contigo, mas eu te conheço melhor do que ninguém.

—  Verdade… Você foi um babaca comigo. - ela disse sem se importar com tudo o que disse.

— Chegamos… - disse tentando evitar com que ela continuasse pisando nos meus sentimentos.

— Vamos acabar logo com essa palhaçada. - ela estava

 

You had your chance, you blew it

Out of sight, out of mind

Shut your mouth, I just can't take it

Again and again and again and again



Descemos do carro e os flashes das câmeras se intensificaram. Abri o meu melhor sorriso e estendi a minha mão para ela. Víamos o sorriso de muitas pessoas, provavelmente a maioria delas achavam que eramos o casal perfeito. Talvez um dia tenhamos sido um. Hoje o que resta daquele amor que um dia nutrimos é dor e ódio. Só não conhece o ódio, quem nunca amou na vida.

Posamos para as fotos, para muitas delas pelo menos. Anna não fazia a mínima questão de sorrir. Ela somente encarava a câmera como se fosse algum inimigo. Mesmo ela fazendo isso ela não deixava de ser sexy.

 

— Sorrir não vai te matar. - sussurrei no seu ouvido.

— Quem disse?

— Já a vi sorrindo outras vezes e não aconteceu nada.

— Sua justificativa é péssima.

— Se você não sorrir, vamos ter que ficar mais tempo aqui.

— Merda… - ela praguejou colocando a mão na boca evitando que fizessem leitura labial.

— Achei que ia demorar mais um pouco pra cair a ficha. Seus amigos já chegaram.

— Sério? Eu não os vi passando?

 

Ela posou comigo para mais algumas fotos e dessa vez sorriu. Caminhamos lado a lado e entramos no evento.

 

# Narração Miguel (OFF):

 

# Narração Erika (ON):

Essa premiação era uma grande baboseira. A maioria dos eventos da alta sociedade era inútil. Como todos os outros, esse era um evento pra mostrar o quão a sua família era perfeita e melhorar relações. Tudo era um grande teatro, ou como os mais novos falavam, tudo era um belo show de horrores.Víamos lobos em pele de cordeiro, mascarás, falsidade, o que era triste já que atualmente essa é a nossa realidade.

Encontrei Miriam e Carlos posando para as fotos. É impressionante como algumas pessoas precisam da fama para viver.

Tudo é milimetricamente cronometrado. Certas horas muitos deles parecem robôs. Esse tipo de comportamento parece ser hereditário.

Miriam veio na minha direção e me abraçou.

 

— Doutora, que vou revê-la.

— Miriam, o que me conta.

— Nossa tô tão feliz com a homenagem que meu marido vai receber. Só tenho medo de uma coisa.

— Do que você tem medo?

— Anna Júlia vai fazer um discurso. Aquela menina é um problema. Ela é capaz de acabar com a imagem que o pai dela levou anos para construir e manter.

— Acho que ela não seria capaz disso, Miriam.

— Claro que seria, Erika. Você não viu o que ela fez? Essa menina é um monstro de saia.

— Você está falando da entrevista?

— Sim. Essa pirralha me humilhou, simplesmente por capricho. Ela é aquilo que eu chamaria de filho problema. Ela passou de todos os limites nesse dia.

— Falar a verdade é passar dos limites, Miriam?

— Não acredito que você a está defendendo. Como mãe, você deveria estar do meu lado.

— Não estou do lado de ninguém. Você a teme demais, porque sabe que ela pode te tirar da jogada. Acho que ela não possui problema nenhum. A única que está tendo problemas aqui é você. Creio que você deva se tratar, senão acabará tendo uma crise nervosa.

 

Miriam ficou roxa, azul e quase explodiu de raiva. Como uma mãe de família tenta competir com uma adolescente de 16 anos? A ideia de “filho-problema” ou “filho incômodo” entre os pais surge porque eles acham que seus filhos mentem, não obedecem às regras familiares, apresentam problemas escolares e querem ser menos controlados e ter mais liberdade. Essa ideia está totalmente fora de contexto. Não é porque existe uma desavença entre pais e filhos que o filho seja um problema. Certas horas devemos parar e pensar um pouco se as nossas atitudes estão realmente corretas.

 #Narração Erika (OFF):

 

 

# Narração Melissa (ON):

 

Que comece o show de horror. Vim acompanhada do meu irmão, já que Bernardo veio com sua mãe. É tão over essa palhaçada de vir em pares.

 

Hey girl, open the walls

Play with your dolls

We'll be a perfect family

 

When you walk away

Is when we really play

You don't hear me when I say

 

Mom, please wake up

Dad's with a slut

And your son is smoking cannabis

No one ever listens

This wallpaper glistens

Don't let them see what goes down in the kitchen

 

Pose para as fotos e sorria. Hoje não é dia para as pessoas imaginarem que a sua vida não é nem um pouco perfeita. Ninguém pode saber o que acontece nos bastidores.

Sorria para os fotográfos junto com Nathaniel, porém uma hora sinto que seus músculos ficam tensos. Fiquei sem entender por um momento.

 

— Relaxa, Nathaniel. O que tá acontecendo?

— Olha pra porta. - olhei discretamente e não conseguia acreditar.

— Ai meu deus. Que merda é aquela? - estava totalmente perdida. Anna estava com Miguel.

— O que ela tá fazendo com ele? - Nathaniel perguntou entredentes.

— Não sei… Daqui a pouco a gente descobre. Relaxa aí e sorria. Lá dentro a gente descobre o que tá acontecendo.

 

Places, places

Get in your places

Throw on your dress and put on your doll faces

Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains

 

Picture, picture, smile for the picture

Pose with your brother, won't you be a good sister?

Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains

 

Saí puxando Nathaniel levemente pra dentro do evento. Ele estava visivelmente transtornado. Ele precisava ficar calmo. Um garçom passou e eu peguei uma taça de champanhe pra ele.

 

— Toma, Nathaniel. - estendi a taça pra ele.

— Não quero. - ele não quis pegar a taça.

— Você tá precisando, então não discute comigo e bebe logo. - cerrei os olhos para ele o intimidando.

 

Ele pegou a taça da minha mão e bebeu em um único gole. Percebi que ele ficou um pouco mais relaxado. Amanda e Lucas se aproximaram da gente quando viram a cena.

 

— O que tá acontecendo? Você parece que vai explodir a qualquer momento! - Amanda disse.

— Por que ela veio com ele? - Nathaniel perguntou com os olhos em chamas.

— Eu não sei. Daqui a pouco ela conta pra gente. - respondi.

— Ela quem? - Amanda pra variar estava perdida.

— O que tá acontecendo? - Lucas perguntou tentando entender a situação.

— Anna veio com Miguel. - respondi rapidamente.

— O QUÊ? - Amanda e Lucas falaram juntos.

— Isso mesmo que vocês ouviram. - disse.

— Por isso que a Anna estava revoltada. Agora tudo faz sentido… - Lucas falou e soltou o ar que prendia levemente pra diminuir a tensão.

— Como assim, amor? - Amanda perguntou.

— Falei com ela ontem e ela estava possessa. Ela não quis falar o motivo, mas agora a entendo. Deixa ela entrar que ela conta essa história toda pra gente. - ele explicava calmamente.

— Aposto que essa história é longa. - disse tentando imaginar o que estava por vir.

— Não vou esperá-la vir pra saber disso. Vou lá falar com ela agora. - Nathaniel disse.

— Não! Você não vai! Senta aí que ela já vem! - o repreendi enquanto colocava minhas mãos em seus ombros pra impedi-lo de sair.

 

Não podia deixar o meu irmão fazer um escândalo. Meu pai iria surtar. Tudo bem que eu não me dou muito bem com ele, mas ele me ajudou no Natal. Ele foi um bom irmão, então não custa nada eu retribuir o favor. O abracei levemente de lado e sussurrei em seu ouvido. “Relaxa mané, tudo vai ser esclarecido. Quem te vê assim até pensa que você tá morrendo de ciúmes”. Ele riu e eu fiquei satisfeita.

 

# Narração Melissa (OFF):

 

# Narração Anna Júlia (ON):

 

Estava na hora de representar o papel de filha perfeita. Me sentia uma marionete naquele lugar. Ou quem sabe a boneca que faz tudo que sua dona quer. Sempre devo ser a boa menina, a modelo de conduta. Já tínhamos posado para as fotos. Aquela ostentação de vida perfeita, mas as pessoas não sabiam o que rolava por trás das cortinas. Somos meros personagens do show de horror.

Falando em show de horror. O quê foi aquilo? Eu realmente fiz aquele papel ridículo e vim com o Miguel.

 

D-O-L-L-H-O-U-S-E

I see things that nobody else sees

D-O-L-L-H-O-U-S-E

I see things that nobody else sees

 

Hey girl, look at my mom

She's got it going on

Ha, you're blinded by her jewelry

 

Meus amigos vieram na minha direção e eu sabia que estava ferrada. Melissa estava com uma cara de que iria me decapitar e depois pendurar a minha cabeça em praça pública. Preferi nem reparar na cara do resto do pessoal, já tinha ficado assustada o suficiente com a cara da minha melhor amiga.

 

— Anna, que merda é essa que está acontecendo? Você e Miguel? - ela gesticulava tentando com toda certeza não gritar e causar um escândalo.

— Não surta, Mel. Não é nada demais.

— Nada demais? Você está brincando comigo? Você veio com o Miguel! - Melissa estava surtando.

— Nada demais, Mel. Eu juro eu não estou brincando contigo… Eu sei que é o Miguel, mas... - tentei parecer o mais calma possível.

— Tá parecendo que está sim, Anna… Tá parecendo que você está fazendo outras coisas também.

— Dá para as duas pararem de brigar. - Lucas falou.

— Lucas, cala a porra dessa boca. Esse não é o momento de fingirmos que não tem nada acontecendo. - Melissa falou irritada.

— Para de ser ignorante, Melissa. - Amanda falou.

— Tava demorando pra você se meter e defender a “donzela indefesa”. Ops… Esse papel não tinha que ser ao contrário? - Melissa debochou da cara de Amanda.

— Chega. Melissa, fica quieta. Amanda, não responde as provocações da minha irmã. Anna, desembucha logo. - Nathaniel nos fez calar a boca e focar no “problema”.

— É uma longa história… Não temos tempo para contá-la. - disse.

— Então resume. Vamos lá, todos nós estamos estranhando essa situação. - Nathaniel retrucou.

— Meu pai me obrigou a vir com ele. Satisfeitos? - disse sem cerimonias. - Por hora esse assunto morreu, a praga está vindo. Estamos entendidos? - Olhei no fundo dos olhos de cada um deles.

— Sim. - todos responderam em uma só voz.

 

Miguel estava vindo com um sorriso de canto. Aquele sorriso me irritava, até porque eu sabia muito bem o que ele significava. Ele ia inventar alguma coisa e hoje eu seria obrigada a aceitar. Estou pagando todos os meus pecados. Espero que depois de hoje eu tenha um lugar reservado no céu.

Ele me chamou pra dançar e naquele momento eu pensei em milhares de desculpas para dar, mas nenhuma era convincente o suficiente pra evitar a tragédia. Abri um pequeno sorriso e fui dançar com ele. Nunca tinha odiado tanto música lenta.

A mãe de Miguel olhava pra gente com um sorriso bobo, não acredito que ela estava acreditando naquela encenação fajuta. Passei os olhos lentamente pelo salão, observando as feições de cada uma das pessoas. Percebi que a mãe de Miguel não era a única a acreditar. Vejo Larissa me lançar um olhar furioso e penso que isso só vale a pena por causa disso.

Enquanto dançávamos outros casais se juntaram a nós, entre eles Melissa e Nathaniel. Ela me lançou aquele olhar de que iria fazer alguma coisa. Queria ver o que ela iria aprontar.

 

# Narração Anna Júlia (OFF):

 

# Narração Melissa (ON):

 

Quando vi que Miguel arrastou a minha melhor amiga pra dançar aquela droga de música lenta não aguentei. Tomei a mão de Nathaniel e o arrastei pra pista de dança. Eu tinha um plano, não era um dos melhores eu admito, mas era o que eu tinha naquele momento.

 

— Irmãozinho, se prepara que vamos trocar de par.

— Como assim? - ele arregalou os olhos.

— Você já vai entender.

 

Nos aproximamos de Anna Júlia e Miguel e eu lancei aquele olhar pra minha melhor amiga. Ela sabia que eu ia fazer algo, só acho que ainda não imaginava o quê.

Interrompi a dança do casal e sorri. Comecei a botar o meu plano em ação.

 

— Desculpa interromper a dança do casal, mas você se incomodaria se eu tomasse o seu par por um momento, Anna? - tecnicamente aquilo era uma pergunta retórica, ainda bem que a minha amiga entendia os meus olhares.

— Não Mel, fique a vontade.

— Dança comigo, Miguel? - perguntei fazendo aquela cara de quem não aceitaria um não.

— Claro. - ele estendeu a sua mão.

— Anna, enquanto isso você pode dançar com o meu irmãozinho?

— Posso sim. - eles saíram e foram dançar.

 

When you turn your back

She pulls out a flask

And forgets his infidelity



Começamos a dançar lentamente e eu não consegui esconder o meu olhar debochado. Miguel me encarava como se ele quisesse me matar. Talvez ele tentaria, mas não antes de eu cutucar a onça com vara curta.

 

— Por que você tá me olhando assim, Miguel? - perguntei me fazendo de desentendida, porém mantendo o olhar debochado.

— Por que você fez isso, Melissa? - ele disse entredentes.

— Não posso mais querer dançar com um velho amigo?

— Não sabia que você ainda me considerava um.

— Não considero e você sabe muito bem o porquê. Enfim, isso não importa. Tô tentando fazer aquilo que você vive pregando.

— Você já mentiu melhor, Melissa. - ele tentou me fazer desistir.

— Eu sei. E você já foi melhor. - retribui na mesma moeda.

— Não estou entendendo aonde você quer chegar. - ele ficou um pouco surpreso.

— Vou te explicar só uma vez, até porque não gosto de perder tempo. Desiste de tentar infernizar a vida da minha amiga, porque senão eu vou transformar a sua vida medíocre num inferno.

— Nossa… Vocês todos resolveram me ameaçar ultimamente. - ele disse indiferente.

— Sério? Isso é mais um sinal pra você ficar esperto e cair fora. - o alertei calmamente.

— Melissa, eu não vou fazer isso. Você acredita em destino assim como eu, nós dois sabemos que eu e a Anna Júlia fomos destinados pra ficar juntos. - tava demorando pra começar aquele papo de destino.

— Você se ilude tão fácil que chega a me causar um pouquinho de dó. Se fosse outra pessoa me falando isso eu até acreditaria. - não foi difícil tocar no ponto fraco da onça.

— E quem seria essa pessoa? - ele me perguntou com os olhos em chamas.

— Até parece que você não sabe. O Leo, Miguel. Lembra dele?

— Leo… - seus olhos nublaram.

— Acho que você se lembrou dele. Você não o conheceu muito bem, mas eu te digo que isso de destino só combina entre eles dois. Nós dois sabemos muito bem que ela só ficou contigo no começo porque a sua personalidade lembrava muito a do Leo e ela queria suprir a ausência dele. Na verdade não só ela, todos nós queríamos isso. Ou você acha que o grupo te aceitou tão facilmente porque você é uma pessoa excepcional?

— Não fale asneiras, Melissa.

— Miguel, você sabe muito bem que eu estou falando a verdade.  Aceita que dói menos, bem menos. - sorri e dei dois tapinhas no seu ombro.

 

Uh oh she's coming to the attic, plastic

Go back to being plastic

No one ever listens

This wallpaper glistens

One day they'll see what goes down in the kitchen

 

O larguei no meio da pista de dança e o meu plano estava completo. Transformei a onça num simples gatinho irritado. Ninguém imaginava o que tinha acontecido. Ninguém sabe o que acontece por trás das cortinas. Quando digo cortinas quero dizer, por trás dos abraços e dos sorrisos.

 

# Narração Melissa (OFF):  

 

# Narração Larissa (ON):

 

Não acredito que aquela vaca veio com ele. Como ela consegue tudo? Respira Larissa. Não surte. Sorria, todos estão te olhando. Não basta ter vindo com ele ainda tinha que dançar com ele. Eu juro que se eu escutar mais algum comentário de como eles são lindos juntos eu vou vomitar.

 

— Credo que cara é essa amiga? - Camila perguntou.

— Tá parecendo que comeu algo e não gostou. - Lara comentou

— Cala a boca, Lara. Não me irrite mais do que já estou irritada.

— Calma amiga. - Camila falou.

— Calma? Impossível isso acontecer com o “casal perfeito” junto! - exclamei.

 

Por que tudo o que eu quero não está acontecendo? Aonde estou errando? E mesmo que tudo dê errado, mesmo assim, não tem problema. Eu deito no telhado de uma casa qualquer, olho pro céu e invento uma nuvem que chove sorrisos, bem em cima de mim.

Queria viver num conto de fadas, para eu ser a princesa, Miguel o príncipe e nós viveríamos felizes para sempre.

Vou fazer com que tudo dê certo em algum momento. Meu conto de fadas vai se realizar.

Ser a princesa já não é mais o suficiente para mim, agora eu quero ser a rainha e transformar todos em meus súditos. Eles irão me reverenciar e ver que a minha felicidade é o que importa. Já comecei a trilhar o meu caminho faz tempo. Já tenho o trono que tanto almejei vazio, agora só falta assumi-lo e transformar Miguel no meu rei perfeito.

 

# Narração Larissa (OFF):

 

#Narração Anna Júlia (ON):

 

Melissa estava dançando com Miguel e eu com Nathaniel. Tinha um clima meio esquisito entre a gente, quando digo esquisito quero dizer que não sei como agir com ele depois do nosso beijo na noite de ano novo.

Meu corpo formigava onde a sua mão me tocava e seu olhar era o mais penetrante que eu já havia presenciado. Aquele singelo olhar me fazia arrepiar.

 

Places, places

Get in your places

Throw on your dress and put on your doll faces

Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains

 

Picture, picture, smile for the picture

Pose with your brother, won't you be a good sister?

Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains

 

Desviei o meu olhar para Melissa e Miguel e só quem os conhecesse bem perceberia a tensão que existia ali. Melissa estava com aquele olhar debochado e Miguel estava sendo encurralado por ela. Ela estava jogando com ele. Isso é meio assustador. Melissa pode ser assustadora as vezes.

Parei de focar a minha atenção neles quando Nathaniel resolve puxar papo comigo enquanto dançávamos.

 

— Você está encantadora nesse vestido.

— Só nele? - perguntei sem pensar.

— Você está sempre encantadora. - ele respondeu e suas bochechas ficaram levemente avermelhadas.

— Obrigada. Você também está lindo.

 

D-O-L-L-H-O-U-S-E

I see things that nobody else sees

D-O-L-L-H-O-U-S-E

I see things that nobody else sees



O nosso momento foi interrompido quando o apresentador da noite subiu no palco. Sorri para Nathaniel e paramos de dançar.

Naquele momento sabia que qualquer deslize era fatal, era a hora do discurso. Fui encarregada de anunciar os ganhadores do premio. Andei em direção ao palco de queixo erguido.

O apresentador da noite falou algumas palavras antes que eu entrasse em cena.

 

Hey, girl

Hey, girl, open your walls

Play with your dolls

We'll be a perfect family

 

— Hoje vamos mudar um pouco as tradições. Temos uma jovem belíssima para a anunciar os ganhadores dessa noite. Com vocês a linda e simpática, Anna Júlia Konkovic.

 

Entrei no palco e o holofote quase me cegou. Respirei fundo uma, duas, três vezes. Na verdade parei de contar a partir da terceira vez. Quando senti que estava bem calma e serena comecei o meu discurso.

 

Places, places

Get in your places

Throw on your dress and put on your doll faces

Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains

 

— Boa noite. Esse ano recebi a missão de anunciar esse prêmio importantíssimo. Todos os ganhadores desse prêmio são pessoas de fibra. Pessoas que deram o seu sangue para melhorar a sociedade em que vivemos. Com eles não foi nem um pouco diferente. Não só tenho orgulho deles mas posso dizer que eles são modelo de conduta para mim. Um dia quero ser tão benevolente como eles. Meu pai Carlos Konkovic e minha avó Angela Konkovic são pessoas que possuem não só um coração enorme, mas também possuem características invejáveis. Meu pai, sempre me apoiou em tudo o que eu quero fazer, sempre esteve ao meu lado, todas as vezes que eu caí ele me ajudou a se levantar. Minha avó, o que eu poderia dizer sobre ela, além de ser o meu maior modelo de conduta, ela sempre me ensinou a não desistir do que eu quero. E acima de tudo, sempre me ensinou que eu posso que eu posso ser melhor do que ontem e que se eu tiver determinação e foco eu alcançarei todos os meus objetivos. Eu me sinto mais do que honrada em entregar o prêmio à essas duas pessoas magnificas.

 

As pessoas aplaudiram e eles se levantaram.

 

Picture, picture, smile for the picture

Pose with your brother, won't you be a good sister?

Everyone thinks that we're perfect

Please don't let them look through the curtains

 

Meu pai e minha avó subiram no palco para receberem os seus prêmios. Naquele momento sabia que tinha seguido o roteiro que meu pai idealizou perfeitamente.

 

D-O-L-L-H-O-U-S-E

I see things that nobody else sees

D-O-L-L-H-O-U-S-E

I see things that nobody else sees

 

# Narração Anna Júlia (OFF):



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. Deixe sua opinião nos comentários e até o próximo.



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