Pov’s Ryoma

Em casa era tudo vazio e quieto sem ela. Meus pais estavam tão tristes que passaram um bom tempo sem brigar. Mas logo recomeçaram. O vazio deixado por ela era algo gritante. Ela nunca fora uma velhinha quietinha, que nada fazia. Pelo contrario, minha vó estava sempre fazendo alguma coisa e conversava com você o tempo inteiro que estivesse por perto.

Os primeiros dias sem ela foram os piores, eu senti tanta dor que não conseguia aceitar a perda dela. Depois passei um período revoltado com a vida, com muita raiva do mundo por ele ter me tirado ela. Mas depois, comecei a seguir em frente.

E eu só consegui suportar tudo isso graças a Izumi.

Nós depois daquela noite, ficamos um pouco esquisitos um com o outro. Era só um olhar demais pro outro que corávamos e perdíamos o jeito, constrangidos.

Nenhum dos dois entendia que sensação era aquela.

Eu não entendia o porquê de tê-lo beijado. Cheguei a pedir desculpas a ele, que não soube o que me dizer.

Contudo, Izumi se sentia mal por mim quando percebia que eu estava triste. E assim, ele ignorou a confusão interna dele e continuou sendo meu amigo.

E eu não ignorei a minha, apenas não a senti até a dor diminuir.

E meses se passaram para que isso acontecesse.

–Izumi? –eu o chamo. Estávamos em sua casa, no quarto dele, depois de longas horas de videogame e risos, fazíamos uma pausa para comermos guloseimas. Ele comia um pedaço de chocolate, com seu pequeno corpo todo apoiado na parede. Parecia cansado. –Seus óculos estão tortos. –me inclino sobre ele para ajeita-los. Ele apenas me olha, com aqueles vividos olhos caramelo. -Você está cansado heim? –desentorto o par de óculos preto.

–E estou...-ele fecha os olhos. –Tanto sono...mas quero jogar mais umas partidas. Você não pode ganhar de mim!

–Toma a coca cola ali. –entrego-a a ele.- Vai te dar energia e aí jogamos. Duvido que você ganhe.

Ele bebe gole por gole, e percebo que a coca cola não surtirá efeito algum, ele está exausto.

–Va-vamos lá. –ele tenta se levantar, porém está bambo. Põe as mãos na parede e tenta se equilibrar.

–Izumi! –rio. –Você parece um bêbado sabia? Não, não vamos jogar nada agora. Hora de dormir.

–Mas...- ele me olha suplicante, feito uma criança. –Eu não quero perder!

–Amanhã você tenta a sorte. –sorrio para ele. –Agora vamos dormir. Vem, me ajude a ajeitar a comida e vamos deitar.

–Não! Vamos jooogaar.

–Izumi... –digo enquanto guardo os doces. –Já disse que não... Olha só para você! –rio.

–E-eu? –ele olha para baixo, afim de tentar se ver. –Que tem? Só estou cansado porque a coca não fez efeito...

–E nem fará. Você está mais que cansado. –Me aproximo dele. –Olha só esse cabelo, todo bagunçado. E essa cara de zumbi?

–Meu cabelo? –ele se estica para alcançar meu cabelo. Passa a mão por ele e o desajeita todo. -Quem está com cabelo bagunçado agora? RÁ!- ele ri zombeteiramente.

Rio também, e ele ri da minha risada e eu da dele, e então ficamos rindo, um olhando para cara do outro e começando a rir de novo. Devo estar com sono também para rir de algo tão bobo.

–Para de olhar para mim! –ele pede- Não aguento mais rir. –e ri.

–Você que está olhando para mim! –e eu gargalho, sem ar.

–Não estou, não. –ele fala com voz de criança. E rimos mais.

Sem perceber, acabamos nos aproximando demais. Quando ele percebe, ele cora e para de rir. Me encara sem saber o que fazer.

–O-o que foi? –eu pergunto sem jeito. Era perceptível assim o meu desejo de que ele se aproximasse mais de mim?

–É só que... –ele desvia o olhar. –O beijo... –ele aperta as mãos contra o corpo. -Não foi uma coisa qualquer sabe? Foi o meu primeiro beijo e... não consigo esquecer e quando você está perto eu...

–Fica com vontade de ganhar outros? –deixo escapar e me arrependo constrangido por dizer o que eu sinto.

–É...-ele volta seus olhos para os meus.- Não quero estragar nossa amizade Ryoma. Ela é muito especial para mim.

–Eu também não. –os olhos dele estão faiscando de desejo e confusão. –Mas e se não estragássemos ela? –Eu seguro seu braço. -Não dá para ignorar isso que sentimos.

–E-eu... –ele pega minha mão que não está em seu braço e a segura. –sei disso, Ryoma.

Ficamos nos encarando em silencio. Ele aperta minha mão com força contra a sua.

–Sua mão é tão pequena em comparação com a minha.-eu tento quebrar o gelo. –Veja... –volto minha mão para frente ele põe a dele encostada na minha.

–Realmente... –ele sorri. E olha por alguns segundos para nossas mãos juntas. –Ryoma...

–S-sim? –meu coração dispara.

–Eu amo você. –ele fecha os olhos e despeja as palavras. –Não consigo parar de querer ser mais que seu amigo e eu não queria isso para gente, mas não posso evitar. Então, não vamos estragar nossa amizade. –eu sinto uma pontada no peito. Ele nunca vai querer nada comigo...-Vamos apenas deixa-la mais que amizade.

–O que?! –ele abre os olhos e sorri ainda mais. Seu sorriso me derrete. Fico apenas o encarando de volta, sem perceber que ele se aproxima e que seu rosto está cada vez mais e mais próximo e que seus lábios estão tocando os meus.

E que nós estamos nos beijando.

Pov’s Izumi

Assumir meu relacionamento com o Ryoma foi difícil:

*Meus pais não sabiam o que fazer. Era algo realmente inesperado: o filho era gay e estava namorando seu melhor amigo.

Passou-se um bom tempo para que aceitassem.

*Meu irmão não achou que era nada demais.

*Os pais de Ryoma o expulsaram de casa.

Ele ficou morando com uma tia, que gostava muito de sua avó.

Durante todo aquele tempo na casa dela Ryoma ficou triste e com saudade de seus pais. Contudo, eles acabaram se sentindo mais mal que ele, e depois de alguns meses o pediram para voltar.

Depois de tudo assumido, não fomos felizes para sempre, mas só porque não existe felicidade plena. Podíamos contar um com o outro para tudo e nos amávamos e isso nos bastou.