—Como você...

—Desculpa por...

Nós dois começamos a falar ao mesmo tempo, então paramos e ficamos la, com cara de idiotas. Gina estava olhando de Darcy para mim, então a cara dela se iluminou em realização.

—Lizzie Bennet? –ela falou chocada.

—A própria. –eu falei sem graça.

—Uau. –ela parecia totalmente maravilhada –Eu ouvi falar tanto de você.

—Ai, o que o Fitz te falou? –perguntei conformada.

—Fitz? –Darcy perguntou confuso.

—Eu acabo de vir Portsmouth e Fitz contou do casamento para George Knightley. –eu admiti.

—Knightley? –Darcy pareceu ainda mais surpreso –De onde vocês se conhecem?

—Na verdade eu conheço Emma Woodhouse, nós estudamos juntas.

Darcy parecia estar digerindo essa informação, enquanto Gina ainda me olhava. Ela estava com um sorriso enorme no rosto, quase quicando de animação.

—Eu estou tão feliz de finalmente te conhecer, Lizzie. –ela soltou de repente –Sim, Fitz falou de você, mas eu ouvi mais pelo...

—O que aconteceu com seu carro? –Darcy perguntou de repente, cortando sua irmã.

Gina lançou um olhar confuso a Darcy, mas ficou quieta.

—O pneu furou e o estepe está vazio. –eu falei –Gina disse que você tem um compressor portátil.

—Tenho. –ele falou, então limpou a garganta –Eu vou buscar.

—Mas você vai ficar para o jantar né?  -Gina voltou a pular na conversa –A casa tem muitos quartos, você pode passar a noite!

—Eu...

—Por favor! –ela insistiu –Faz muito tempo que eu quero te conhecer! Por favor!

Eu joguei um olhar desesperado ao Darcy, esperando alguma dica. Ele devia querer se livrar de mim o mais rápido possível, afinal da última vez que a gente conversou eu... Nem quero lembrar.

Mas Darcy estava olhando para a irmã com um sorriso carinhoso, então ele se virou para mim. O sorriso estava la, um pouco mais hesitante, mas la.

—Você é bem vinda para ficar o quanto quiser, Lizzie. –ele me falou.

Bom, lembra como eu nunca tinha visto o Darcy sorrindo antes? Pois é. Eu estava perdida, porque esse sorriso hesitante, meio esperançoso dele...

—Ok. –eu respondi de forma fraca.

Eu nem vou comentar da cambalhota que meu estômago deu quando o sorrisinho virou um sorrisão.

XxX

Gina arrumou uma desculpa muito estranha para ficar em casa enquanto Darcy me levava para meu carro.

Tenho a impressão de que sei muito bem como foi que ela ouviu falar de mim. Eu me pergunto o que ela pensa agora, que eu dei um fora no irmão dela e fui bem grossa no processo. Será que ela sabe dos detalhes? Será que ela sabe o que ele me contou?

Eu achei que nós ficaríamos em algum tipo de silêncio carregado e desconfortável, mas assim que deu partida no carro, Darcy começou a falar comigo.

—Então você conhece a famosa Emma Woodhouse. –ele comentou de repente –Todos falam tanto dela em Portsmouth.

—Emma é uma lenda. –eu falei sorrindo.

—O que Fitz falou para Knightley? –ele perguntou com cuidado.

—Sobre o casamento. –falei olhando para a estrada, sentindo meu rosto queimar -E que uma ruiva demoníaca destruiu o coração do primo dele.

Darcy estava balançando a cabeça.

—Desculpa por isso. –ele falou sério -Eu duvido que ele tenha te chamado de demoníaca. Fitz te adora e até me pediu desculpas por quebrar o “código dos primos” e não te odiar.

Isso soava como algo que Fitz diria.

—E o que você disse? –eu queria saber, mas me arrependi na hora que falei. Será que eu queria mesmo ouvir a resposta?

As mãos de Darcy apertaram tanto o volante que eu achei que o negócio ia quebrar. Já estava para dizer para ele esquecer a pergunta, quando...

—Que é impossível te odiar e eu nem estava tentando, então ele não precisava sentir-se culpado. –ele falou por fim, um pequeno sorri de auto recirminação em sua boca.

Pai amado! Como assim? O que eu faço agora, o que eu falo agora? Esse homem quer me matar! Essa é a vingança dele.

Felizmente eu não tive que responder, porque nós chegamos ao meu carro. Nós trabalhamos juntos: Darcy enchendo o estepe e eu começando a trocar o pneu.

—Você vai ficar para o jantar? –ele me perguntou quando tudo estava pronto.

—Vou. Sua irmã é uma graça. –eu vi o bolo que tinha ficado no banco da frente –Eu tenho até a sobremesa.

XxX

Eu segui Darcy de volta para a casa, tentando me acalmar o tempo inteiro. Nada de reações extremas, está tudo bem, tudo sob controle. Eu consigo passar essa noite sem agir como uma idiota.

Meu maior problema nesse momento é o jeito que estou me sentindo perto de Darcy e isso não é nada bom. Só porque ele está sendo gente boa comigo, não quer dizer que...

Mas o que ele quis dizer que é impossível me odiar? Tipo, ele não pode ser afim de mim ainda né? Ou... Será que pode?

Nós chegamos a casa e Gina estava nos esperando.

—Podemos jantar na varanda? –ela perguntou animada –A noite está linda.

—Claro que podemos. –Darcy falou. Era óbvio que Fitz não estava exagerando, ele era mesmo um irmão babão –Lizzie trouxe a sobremesa.

Gina lançou um olhar confuso para mim, até ver a caixa na minha mão.

—Eu adoro os bolos desse lugar!

—Eu também. –admiti.

Sei lá se eu estava certa, mas sentia que esse era o começo de uma grande amizade. Gina Darcy era uma graça.

XxX

O jantar foi muito divertido. O jantarzinho em família na varanda foi incrível, principalmente porque a vista era bonita, a noite estava agradável e a comida também.

Claro, tinha a companhia. Gina era uma graça e tinha um jeito super doce e  meio inseguro. O que só me fez odiar Wickham ainda mais! Ele tirou vantagem dela de uma forma muito cruel.

Se eu botar os olhos naquele filho de uma chocadeira eu o mato!

Darcy pareceu contente em nos deixar conversando e rindo, mas ele tinha esse sorriso que persistiu a noite toda.

Ah droga...

Quando nós terminamos de comer eu me ofereci para ajudar a Gina com a louça. Assim que terminamos ela deu uma desculpa muito estranha de ter que ir dormir e estudar (nessa ordem) e foi embora.

Eu estou com a leve impressão de que ela está tentando me jogar para cima do irmão dela. Obviamente ela devia saber que Darcy tinha tido algum interesse em mim (eu tenho certeza que foi aquele fofoqueiro do Fitz!) e não devia saber do que tinha acontecido no casamento.

—Você quer ver o resto da casa? –Darcy ofereceu.

—Eu aceito isso com chá. –respondi.

Então foi assim que nós terminamos conversando na sacada da segunda sala de tv daquela cabana. Sim, tinha duas. Vai que alguém está cansado demais para descer as escadas para ver tv, mesmo que todos os quartos tenham uma.

Gente rica. Eca.

—Sua irmã é incrível, Darcy. –eu falei com sinceridade –Ou eu deveria dizer... Will?

Darcy deu uma risada sem graça.

—Eu tinha certeza que isso ia aparecer. –ele me falou –Quer dizer que você vai parar de me chamar de Beyonce?

—Eu posso sempre passar para Eminem se você preferir.

—Não, obrigado. –ele revirou os olhos.

—Mas eu estava esperando algo pior. –eu falei por fim –Depois de tanto mistério, eu achei que seria algo pior que William.

—Hum... –Darcy pressionou os lábios.

Mas tinha algo no rosto dele...

—O que? –eu exigi –Desembucha.

—Ok. –ele falou por fim –Will é apelido, mas meu nome não é William.

Eu arqueei a sobrancelha e esperei.

—Você vai rir. –ele suspirou.

—Eu prometo tentar não rir muito. –falei séria.

Ele bufou.

—Fitzwilliam. –ele admitiu –Meu nome é Fitz...

Eu ja estava rindo. Tipo, muito. Sei la, não consegui me conter. Era tão inesperado! Quem põe esse nome no filho em pleno século XXI? Isso era terrível. Daí um pensamento me ocorreu.

—Pera ai! Por isso o Fitz chama Fitz? Não me diz que isso é um nome de família e todos os machos do clã Darcy chamam Fitzwilliam?

Darcy não respondeu nada, apenas pressionou os lábios. Só que isso ja era uma resposta.

Eu comecei a rir de novo.

—É o nome do meio dele. –Darcy bufou por fim –Você nem está tentando não rir!

—Desculpa. –pedi sem folêgo –Parei. –prometi.

—Eu não devia ter falado. –ele falou desanimado.

—Não, eu parei, juro! –falei me contendo –Eu acho que vou ficar com Darcy. Combina mais com você.

Ele revirou os olhos, mas ja estava voltando a sorrir. Nós ficamos um minuto em silêncio.

—Lizzie, você leu...

—Li. –eu falei por fim.

—Faltou algo naquela carta. –ele falou por fim –Faltou eu pedir desculpas.

—Não precisa. –eu falei sincera.

—Não? –ele perguntou confuso.

—Não. Eu andei pensando muito. –comecei com cuidado, olhos na caneca que ainda estava nas minhas mãos –E eu não vou negar que não acho legal o que aconteceu, mas no fim das contas a maior culpa de tudo nem é sua. Você fez o que achou que devia fazer como amigo. Eu meio que fingi que nunca fiz isso também com as meninas. Bom, talvez não na medida que vocês fizeram para o Bingley, mas... No fim das contas quem quis ir embora, quem quis fugir foi ele. O relacionamento era dos dois, as únicas pessoas que podem ser “culpadas” pelas coisas que aconteceram são eles.

Darcy estava em completo silêncio do meu lado.

—Então não, eu não acho que você precisa pedir desculpas. –eu terminei me virando para ele –Eu peço desculpas pelo que falei do Wickham. –admiti –Eu não devia ter acreditado nele com tanta facilidade.

—Bom, naquela época você não me conhecia muito bem. –ele cedeu com um certo desgosto –E nisso a culpa é totalmente minha.

Eu dei de ombros.

—A gente teve um sério problema de comunicação desde o começo. –eu falei –Você ficando quieto e eu sendo temperamental. E eu nem vou pedir desculpas por isso. Eu sou ruiva e é meu direito ser nervosinha.

Isso fez Darcy soltar uma risada surpresa.

—O que passou, passou, Darcy. –eu falei por fim –Agora está tudo bem.

—Mesmo? –ele perguntou com cuidado –Tudo mesmo? Nenhum rancor? Nem do que aconteceu no casamento?

—Nada. –eu garanti –Nós podemos tentar começar de novo. Por exemplo... –limpei minha garganta e fiquei super séria –Prazer. Eu sou Lizzie Bennet. –falei oferecendo a mão para ele.

Darcy abriu outro daqueles sorrisos incríveis que ele tinha e que agora pareciam não sair do rosto dele.

—Prazer. Eu sou Darcy. –ele apertou minha mão.

—Fitzwilliam Darcy! –eu provoquei.

Darcy riu, mas não soltou da minha mão.

Oh oh...