Libertando A Fera escrita por With


Capítulo 1
Capítulo Único - Libertando A Fera


Notas iniciais do capítulo

Olá, sejam bem vindos ao universo de "Libertando a Fera". Sempre quis escrever algo do gênero e resolvi arriscar com uma one. Ela é bem simples, narrada pelo ponto de vista do personagem. Espero que ele deixe alguma mensagem para vocês.Agradecimento mega especial a Kaay, que betou a história e a deixou mais bonita ♥ A todos que passarem por aqui: Boa leitura!



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Libertando a Fera

Hamlet disse “Devo ser cruel para ser gentil. Assim, o mau começa e o pior fica para trás” e eu concordo com ele.

Nunca tive certeza de nada em minha degradante vida. E quando digo degradante quero deixar claro que é em todos os sentidos da palavra e seus sinônimos. Contudo, há muito tempo aprendi a reconhecer os meus pecados e conviver com eles. Muitos desejam se livrar deles confessando-se a um padre ou em uma conversa muda com Deus, mas eu, caro leitor, me absolvo em peles e gritos. Provavelmente me rotularia como um homem insano, que nascera com algum tipo de perturbação e que não merece o benefício da dúvida, porém me defendo e digo que sou tão insano quanto você. E afirmo.

A única diferença entre nós é que eu escolhi aceitar minha loucura enquanto você preferiu erguer um muro entre seus pensamentos. Gosto de ser diferente, de olhar o modo como as pessoas classificam o meu viver. Não sou um monstro, no entanto isso não quer dizer que ele não exista. Dentro de todos nós há uma fera, esperando uma oportunidade para escapar, e a minha não precisa aguardar por minha distração. Quando ela quer sair eu me retiro e permito que ela assuma o controle de mim. E acredito que pelo menos um dia todos deveriam se dar esse prazer.

Se escolher esse caminho, tenha em mente que deverá ser forte para suportar as consequências. Assim como eu faço agora. Não existe culpa pelos atos que pratiquei e talvez nunca chegue a senti-la de fato, contudo sei como me comportar e aparentar arrependimento. O que meus grandes ídolos — Norman Bates e Jack, O Estripador — diriam se eu me sujeitasse a tais sentimentos? Não, jamais iria decepcioná-los e por isso estou aqui, preso em uma cela pequena e sozinho.

Dos meus tornozelos pendem correntes grossas enquanto ainda posso movimentar as mãos. Acho engraçado como pensam que reclusar um ser o torna racional. Somos o que somos, e podemos tentar seguir os padrões, mas sempre voltamos as nossas origens. Eu escolhi ser quem sou, e ponto final.

A porta se abriu barulhenta e por ela passou um homem de terno cinza, alto e cabelos loiros. Tudo que transmitia seus olhos castanhos eram medo e insegurança. Pobre rapaz, talvez ele devesse escolher outra profissão que o mantenha longe de psicopatas como eu. Chega a ser poético a forma que nos encaramos: Eu em plena confiança e ele inseguro, temendo qualquer descuido meu. Ele puxa uma cadeira e se acomoda a minha frente, mas não perto demais a ponto de me fazer sentir o seu perfume. Sorrio, indicando que estou amplamente confortável.

— Sou Gerard Spancer, seu advogado público. — A voz não tremeu como eu esperava, talvez ele tenha ficado relaxado ao ver que estou preso. Como um animal.

— Não sabia que eu tinha pedido por um. — Retruquei, vendo a sobrancelha dele se erguer. — Matei aquelas mulheres. Deixei-as submissas as minhas carícias, marquei as peles bem cuidadas a brasa e estoquei fundo. Oh, sim... — Joguei a cabeça para trás, relembrando os breves minutos de prazer genuíno. — Os gritos de pavor e pedidos desesperados foram a nossa trilha sonora.

Eu vi o horror contornar o semblante do jovem Gerard e me senti aclamado, um ator disposto a continuar a narração de sua obra-prima.

— Jesus... — Gerard exclamou, passando a mão na testa para limpar o suor. Ou a gravata lhe dava uma sensação de asfixia, ou se devia ao fato da minha presença sádica.

— Então o que pode dizer em minha defesa? Eu sou minha única defesa.

— Mesmo assim, é protocolo. — Ele tentou estabelecer o tom de voz, porém as palavras escaparam trêmulas. É gratificante saber o quanto deixo as pessoas nervosas.

— Quer dizer regras? — Deixei escapar uma breve risada. — Vocês podem fazer tudo àquilo que quiserem, mas preferem agir como marionetes de um sistema falho. Me diga por que acha que eu iria querer ser um de vocês.

— O sistema é falho, mas é justo, senhor Belumi. É assim que lidamos com as coisas que nos fogem do controle.

— Está dizendo que eu sou uma ameaça a ser contida? — Inclinei-me para frente, desafiando aquele jovem rapaz. Ele deveria ter no máximo vinte e poucos anos, duvidava que ele pudesse argumentar comigo. Sim, eu sou extremamente convencido. — Gosto dessa comparação, me cai bem.

Gerard suspirou como se eu fosse uma criança teimosa, brincando de gato e rato. A questão era que eu pouco me importava com o julgamento ou com o que ele poderia estar pensando sobre mim, apenas queria me divertir um pouco antes de receber minha sentença. E eu tinha uma ótima presa na minha frente.

— O que acha? — Perguntei, fazendo com que Gerard me encarasse. Talvez ele não estivesse de todo tão seguro do que me diria quando adentrasse aquela cela, mas não sou eu que o farei ficar confortável. Gosto de pessoas, e gosto mais ainda de pessoas que sabem o que querem, sem precisar que outros lhe digam como agir.

— Do que está falando? — Sua voz voltou tremer na última palavra e eu sorri. Gerard era um rapaz interessante.

— Pelo meu histórico e avaliação psicológica, como acha que me sairei na cadeia?

— Por que a curiosidade? O senhor irá descobrir em breve.

Minha risada preencheu facilmente a cela, ecoando o meu timbre com toda sua naturalidade. Meu advogado não conseguia encontrar a mesma graça que eu enxergava. Não o culpava por isso. A meu ver tudo tinha um significado atrativo e doce, como se fosse um dom captar o que olhos normais não conseguiam.

— Gostei de você, Gerard. Quero que me defenda com esse vigor.

Entretanto Gerard se negou, e agora estou sentado perante um júri. Sinto meu corpo queimar pelo rancor e antipatia de todos, no entanto não abaixo minha cabeça. Meus grandes ídolos não se sujeitariam a essa atitude medíocre, portanto aguentei as críticas com um belo sorriso nos lábios.

Pobres seres humanos, um dia ainda entenderão como é libertador deixar sua fera sair. E quando finalmente acontecer compreenderão como é ser eu. Sentir o que senti, ter os pensamentos invadidos pelos rugidos de uma ordem superior a sua frágil voz, como eu tive. Porque a Fera faz parte de nós e jamais devemos dar as costas a ela, pois nunca sabemos à hora exata em que ela agirá. Apenas pressentimos sua aproximação. E quando ela chega não há nada que possamos fazer para detê-la.

— Oh, aí vem ela... Minha doce e gentil Fera... Eu estou pronto.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a você que leu, espero que tenha gostado.Deixe sua opinião, crítica construtiva, sugestões... Tudo será muito bem vindo.Beijos!