Olhe duas vezes! escrita por Misofonico
Em meio ao breu um som foi ouvido. Blam! Briana acordou assustada. Colocou os óculos, calçou suas pantufas e desceu a escadas da casa indo em direção ao local onde o barulho se originou. Ela apertou o interruptor ao chegar à sala, mas a luz não se acendeu. Tentou ligar o abajur, mas este também permaneceu desligado. A garota deduziu que houve um curto circuito na eletricidade, mas percebeu que essa teoria estava equivocada quando viu uma grande mancha de sangue no tapete branco e felpudo da sala. Pegadas lamacentas iam da sala até a porta, que estava escancarada. Arya pegou o celular e ativou a função lanterna. Ao sair da casa, o vento frio da madrugada fez a garota se arrepiar. A vizinhança estava quieta e as árvores farfalhavam, unidas ao som de uma coruja. As pegadas continuavam e viravam a esquina, acompanhadas de poças de sangue. A garota encontrou o corpo do pai, sem vida, em uma caçamba de lixo aberta. Suas mãos e tornozelos estavam amarrados, uma mordaça tampava a boca e o homem tinha muito sangue na parte de trás da cabeça, pescoço e ombros. Briana ficou em estado de choque. Ela tampou a boca com as mãos enquanto lágrimas caíam dos olhos. Pelo que a garota se lembrava, o pai viajaria para visitar Carl, um amigo íntimo da família, que estava muito doente. Briana pegou o celular e chamou a polícia se afogando em lágrimas e soluços. Logo a polícia chegou e após uma ligação do Xerife, uma ambulância estava no local. A garota foi levada à delegacia para prestar depoimento e o corpo do pai para autópsia. Peritos ficaram para investigar a cena do crime, que parecia de um filme de terror.
– Sei que você está muito assustada e confusa com tudo isso, mas uma hora você terá que nos contar o que viu e ouviu, para que possamos solucionar o caso e pegar o responsável por esse crime hediondo – Disse em voz firme o delegado, de bigode espesso e escuro. – E então, podemos começar o interrogatório? – O home perguntou com a voz calma.
Briana ainda estava soluçando e tentava se acalmar respirando fundo e dizendo a si mesma que quanto mais rápido ela falasse, mais rápido o caso seria solucionado. Então após bebericar um pouco da água, que os policiais a deram para acalmá-la, Briana enxugou o restante das lágrimas e respondeu com a voz seria:
– Delegado, nós podemos.
O homem sorriu e começou perguntando para Briana, com um bloquinho e caneta em mãos:
– Você chegou a ver quem cometeu o assassinato? – Disse o delegado Wilson, focalizando os olhos da garota – Quem sabe uma silhueta familiar ou algo assim?
– Não vi ninguém, desculpe... – Disse Briana com os olhos fechados tentando se lembrar de algum detalhe que passou despercebido. – E também não conheço quem teria motivos para assassinar meu... – A garota respirou fundo, fechando os olhos que se abriram, não se permitindo deixar as lágrimas que se formaram caírem.
– Só você estava em casa no momento? – Perguntou o delegado, após anotar algo em seus papéis e voltar o olhar à garota – Quem sabe sua mãe, irmãos, tias que vieram te visitar?
– Não, somente eu estava na casa, minha mãe faleceu há alguns anos e meu irmão está por aí, ganhando trocados – Respondeu a garota, que estava pensativa se perguntando onde o irmão estaria agora.
– Como assim ganhando trocados? – Perguntou o delegado, franzindo o cenho em dúvida – Quer dizer, viajando a trabalho ou algo assim?
– Se viajar pelo estado, num velho van, tocando em bares com uma banda de idiotas conta como trabalho, então, sim – Disse Arya expirando profundamente, em tom sério.
– Muito bem, Sra. Falk... – Disse o bigodudo após terminar suas anotações rapidamente – Você nos foi de grande ajuda essa noite. Agora nos resta esperar o resultado da autópsia e o fim da investigação na cena do crime, então, eu sugiro que a senhorita ligue para algum parente, colega ou vizinho que a forneça um local para dormir esta noite.
Briana assentiu e ligou para a única pessoa que a receberia de portas abertas neste horário. Alba Castillo. Uma mulher alegre e extrovertida de origem latino-americana nascida na Cidade do México, que trabalhava na Yummy Tacos, uma rede de fast-food especializada, obviamente, em comida mexicana. Era a vizinha mais simpática e agradável que a família Falk já tinha conhecido. No dia em que Briana se mudou para a casa nova, Alba levou uma cesta com cookies caseiros e garrafinhas de leite de cabra, e como uma boa nacionalista, guacamole. Dito e feito. Dentro de pouco tempo Briana estava na casa dos Castillo. A mulher convidou a garota a entrar e se sentar após a abrir a porta da casa que tinha um tapete em frente escrito: Mi casa es su casa.
– Bri, o que aconteceu? O que você estava fazendo em uma delegacia? – Perguntou a mulher aflita – Você aprontou alguma, foi?
A garota contou tudo o que aconteceu para a vizinha e acabou desabando no choro na metade, impossibilitando a mulher de entender alguma coisa.
– Díos mio! – Disse Alba esganiçada – Eu não fazia ideia da gravidade da situação, mi amor, deixe-me abraçá-la, é tudo que não posso dizer para te confortar com palavras – Exclamou a mulher abrindo os braços e abraçando a garota.
– Não há mais nada a ser feito e eu não quero me sentir como uma garotinha que não sabe lidar com perdas... – Disse Briana com a voz falhando após sair dos braços de Alba – Meu pai se foi e devo ser forte o suficiente para suportar isso e seguir em frente! – Exclamou a garota cheia de si.
Alba foi até a cozinha preparar um chá de camomila para a garota. Após dar alguns goles no bebida e receber um beijo na testa a garota foi se deitar no quarto de hóspedes pensativa. Quem matou seu pai? Qual foi o motivo? Tripp estava tão mal quanto ela? Será que Tripp seria seu novo responsável legal? Arya sabia que apenas um dedo dela tinha mais responsabilidade que o corpo todo do irmão, que em sua visão era um crianção. Isso a fez abrir um sorriso. A garota não teve tempo de chorar e se lamentar porque acabou desabando em sono profundo. Naquela noite Briana sonhou que a mãe e o pai estavam vivos. Eles foram ao cinema assistir a uma comédia muito boa. Riram até a barriga doer, comeram pipocas amanteigadas e beberam soda de limão. Mas Briana voltou à realidade quando alguém cutucou seu braço. Depois cutucou novamente. E quando ia receber outro cutucão ela abriu os olhos e encontrou Melissa. A namorada de Tripp. Atrás dela Zack e os gêmeos Fang acenavam e sorriam. A garota sorriu e disse:
– Acorda dorminhoca! Nós cancelamos os shows e voltamos após saber do ocorrido. Meus pêsames. Vamos voltar para casa?
Briana se levantou, e foi andando até a porta de casa acompanhada dos integrantes da banda de Tripp, que só se despediram da garota após terem certeza de que ela estava em segurança. Ao entrar em casa encontrou várias garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. Tripp estava desmaiado no sofá e roncava alto. Ela juntou as garrafas, colocou-as no lixo e foi para o quarto. Tripp agora era oficialmente um tremendo imbecil chapado. A garota já se acostumara com o irmão alcoólatra, mas desde que sua mãe morreu ele piorara. Briana então resolveu fazer o que fazia de melhor. Estudar. Desde a morte de sua mãe ela se refugiava nos livros, assim não teria tempo para ficar triste e deprimida. Ela pegou um livro de Física Avançada – Volume IV e começou a estudá-lo. Concentrou-se e acabou desligando-se do mundo. Mas acabou perdendo o foco mais tarde quando um barulho horrível atingiu seus ouvidos. Era o ensaio da banda de Tripp. Alienpiros do Rock. Uma fusão das palavras alienígenas e vampiros. Ela abriu a porta do quarto e gritou já irritada:
– Dá para vocês tocarem mais baixo? Estou tentando estudar para não ter um futuro como o de vocês!
Mas sua voz foi abafada pelo barulho ensurdecedor dos instrumentos desafinados. A garota perdeu a paciência e desceu para ver o que estava acontecendo. Ela viu Tripp, Melissa e o resto da banda bebendo, rindo e tocando, quer dizer, fazendo barulho. Briana desligou os instrumentos da tomada rapidamente e disse:
– Será que dá para vocês procurarem outro lugar para continuar essa algazarra?
Tripp e a banda riram e ele bebeu o resto de uma garrafa de cerveja em segundos.
– Não dá não! Os incomodados que se mudem sua chata! - Disse Tripp após um arroto.
Ele ignorou a garota e sem perceber que os instrumentos continuavam desligados gritou para a banda:
– Vamos continuar pessoal! E 5, 6, 7,8...
Mas foi interrompido quando a garota irou-se.
– Será que dá para parar de agir como criança pelo menos quando seu pai está morto? Dá para parar de encher a cara e fazer algo de útil? - Gritou Briana explodindo de raiva.
Melissa caiu ajoelhada e começou a vomitar no carpete. Tripp andou até a irmã passando pela mesa com alguns porta-retratos da família.
– Eu não estou agindo como criança, eu estou trabalhando para sustentar você sua ingrata e se eu encho a cara ou não o problema é seu! - Respondeu o garoto tentando se manter em pé.
– Você quis dizer: O problema é meu! Seu burro. E dá para parar de sujar o nosso carpete Melissa? - Disse Briana ignorando a cena que lhe causava nojo.
Tripp perdeu o equilíbrio e esbarrou num porta-retratos da família que caiu no chão e se partiu em vários cacos. A orfã rapidamente se abaixou, pegou a foto e gritou:
– Eu queria que você tivesse morrido no lugar dele!
E saiu correndo para o quarto com as lágrimas caindo pelo rosto. Ela bateu a porta e se jogou na cama tampando o rosto com o travesseiro. Ficou lá até as lágrimas acabarem. Após tirar o rosto do travesseiro, Briana olhou para os pais na foto, os beijou e disse com a voz embargada:
– Por que vocês não me levaram junto com vocês?
E o som dos soluços da garota foi abafado pelo som da banda de Tripp que estava tocando com mais vontade do que nunca. Briana pensou em ligar para Alba, mas o telefone caía na caixa postal e ela pensou que a mulher tinha outras coisas a fazer além de ficar cuidando de uma garotinha órfã chorona. De repente o barulho acabou. Ela pegou seu livro e continuou de onde parou quando de repente ouviu um grito feminino, o que a assustou, quase a derrubando da cama. Briana se levantou e correu até onde a banda de Tripp estava. O garoto estava segurando uma lâmina afiada de seu canivete suíço e a matinha perto do pescoço. Seus olhos estavam marejados.
– Tripp, o que você pensa que está fazendo? - Perguntou Briana ainda não acreditando no que estava acontecendo.
O garoto deu um riso falso forçado.
– Não é óbvio? Vou visitar papai e mamãe. Eu esperava mais de uma garota esperta como você... - Respondeu ele com a voz embargada.
Briana correu até o irmão, mas teve que parar quando ele disse:
– Não se aproxime de mim, se não...
A garota sentia o coração bater mais rápido, gotas de suor de formaram em sua testa.
– Tripp, por favor, não faça isso... - Falou Briana em tom preocupado.
Os integrantes da banda observavam tudo muito assustados com os corações quase saltando da boca.
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