YuuMika – Drabbles e Oneshots escrita por Sarahsensei


Capítulo 2
Parte II


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!

Esse capítulo é dedicado, em parte, a Kathleen, minha amigona, que provavelmente vai chorar muito em alguns desses drabbles. A outra parte é dedicada a Waitress



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6. Um olhar breve sobre a família do Orfanato Hyakuya.
Prompt: Yuuichirou e Mikaela brincando juntos.

As crianças do Orfanato Hyakuya são tão unidas que muitas pessoas comentam que em vez de suor, é cola que sai na transpiração delas. Parece que quanto mais sujas e suadas, mais se divertem. Oras, é até redundante. Infantes são conhecidos por fazerem bagunça. Nascem já mestres nisso. Além disso, os órfãos daquele lugar já haviam passado por tantas coisas ruins, nenhum ser humano teria coragem de destruir a felicidade borbulhante que eles demonstram em suas gargalhadas e provocações. Mesmo os vizinhos idosos ou rabugentos, não freiam o sorriso ao assistirem a estranha dinâmica da “família”. Em especial, se não principalmente, quando essa dinâmica envolve os três ‘pirralhos’ mais velhos, que protagonizam cenas cômicas o tempo todo.

Akane, a mais velha das meninas, tão gentil e educada, sempre correndo de um lado para o outro cuidando dos mais novos, é o xodó das senhoras. Ao passo que Yuuichirou é o terror. O mal-humorado, atrevido, antissocial e desobediente moreno de olhos verde-esmeralda é conhecido de longe por seu longo histórico de entrar em brigas de vez em todo santo dia. Um mini-delinquente que não é tão delinquente assim, diga-se de passagem. E aí entra Mikaela, o garoto parece ter colado um raio de sol em seu sorriso, é uma mistura de tudo o que há de bom no mundo e mais um pouco. O único com capacidade de calar e parar Yuuichirou. Uma benção para quem apanha do estressadinho, e uma maldição para o próprio estressadinho (que por A mais B, não abriria mão do melhor amigo apesar de tudo).

Quando se juntam, o temperamento doce se mistura com o pavio-curto que mexe com a paciência personificada em criança e tudo tende a ir para o espaço. Ninguém sabe como ou porquê começa. É quase um padrão. Brincar. Brigar. Pedir desculpas. Brincar. Brigar. Pedir desculpas. Os dias de sábado no bairro são gastos correndo por aí, fazendo loucuras, divertindo adultos ou os desesperando. Uma boa dinâmica familiar. Só não serve quando a brincadeira é casinha.

Brincar de casinha nunca é uma boa ideia.

É a terceira guerra mundial, mas, bom, é história para outro momento. Acabo de me lembrar que tenho de ir ao supermercado comprar alguns mantimentos, não posso mais enrolar tempo fazendo crônicas sobre a casa ao lado. Ah, e quem sou eu? Apenas um adolescente aleatório que tem gostos por escrever usando vocabulário “difícil”. Aaah, a verdade é que queria ter oito anos de novo!

7. Entendendo um pouco de gatos, cachorros e seus respectivos donos.
Prompt: Yuuichirou e Mikaela se conhecem quando Yuuichirou devolve o animal de estimação perdido do Mikaela- UA

Cada gato parece possuir uma personalidade própria, embora conservem certas características constantes que formam “um pré-perfil”. Geralmente são conhecidos por serem astuciosos, hábeis, um tanto egoístas e extremamente peculiares. Mikaela suspirou, retirando a franja da frente dos olhos com os dedos. De peculiaridades felinas, não existia ninguém que soubesse mais do que o loiro. Após um ano e meio com Krul e Ferid, ambos da raça Ragdoll, ele descobriu que personalidade peculiar é eufemismo para descrever o comportamento de certos gatos.

E falando em seus dois gatinhos, onde diabos eles estavam?

Ao acordar naquela manhã, antes mesmo de abrir os olhos, o pediatra já sabia que alguma coisa estava errada.1. Ferid não estava deitado em seu rosto como de praxe (não importa se a porta está trancada ou não, aquele mini-demônio sempre dá um jeito de entrar em seu quarto) e 2. Krul não estava arranhando sua barriga para acordá-lo e alimentá-la (que assim como Ferid, ela tinha seus próprios segredos). A quebra inusual da rotina fez seu coração pular uma batida.

Levantou-se, alarmado. Saiu da cama as pressas, chamando o nome de seus pestinhas. Andou descalço pela casa ignorando o chão frio. Não conseguiu encontra-los em canto nenhum. Em um intervalo de 40 minutos, já revirara o apartamento inteiro três vezes e nada, nenhum sinal. Não era normal que eles saíssem na parte da manhã. O que poderia ter acontecido? Onde poderiam ter ido?

Já havia decido sair e procurar na vizinhança quando o som estridente da campainha e latidos de cachorro o fizeram correr para a porta, em parte esperançoso, em parte curioso. Latidos de cachorro? Ele não sabia que alguém criava um cachorro naquele andar. Destrancou a porta, dando de cara com os felinos que tanto buscava.

— Krul! Ferid! — Exclamou, feliz por vê-los. Krul e Ferid saltaram dos braços que os seguravam e correram para dentro, provavelmente assustados com os latidos do enorme Rottweiler que... Um bonito homem com um bonito cabelo preto com bonitos olhos verde-esmeralda mantinha na coleira. O desconhecido parecia hesitante, surpreendido até. Novamente seu coração falhou uma batida.

— Hum...? — O homem que viera devolver seus gatos parecia nervoso, os cantos dos lábios tremiam como se ele estivesse prestes a sorrir ou falar. Por que ele está agindo assim? Lutou contra a vontade de arquear uma sobrancelha, provavelmente pareceria rude. Ficaram se encarando por alguns segundos. — Devo ter te acordado, hein? Me desculpe. — Finalmente falou, respondendo a dúvida interna do loiro. E foi aí que Mikaela percebeu que ainda estava em suas roupas de dormir.

— Hã? Ah, não, não. Já estava acordado, não se preocupe. — Sorriu. — Aliás, obrigado por devolver esses dois pestinhas.

— Sem problemas. Embora tenha sido um verdadeiro inferno afastar Guren dos dois. — Apontou para o rottweiler. — Ele nunca foi de perseguir nenhum gato, não sei o que deu nele. Para a felicidade da sua namorada, ele não machucou os gatinhos. — Agora o pediatra arqueou a sobrancelha.

— Namorada?

— Eer, bom, é sua mãe? Amiga? Parente? Prima? É que na identificação presa na coleira, estava escrito o endereço daqui e o nome Mikaela. Por um momento pensei que estava no apartamento errado até você reconhece-los. — Ah! Então por isso a surpresa. Quase revirou os olhos. Eu e meu nome feminino. Pensou sarcasticamente.

— Por mais difícil ou engraçado que possa parecer, meu nome é Mikaela. Hyakuya Mikaela. Os gatos são meus. — O moreno, em vez de rir como o homem de olhos azuis esperava, pareceu simplesmente envergonhado. — Hey, eu não fiquei chateado por você ter me confundido com uma garota, esse tipo de coisa acontece o tempo todo quando escutam meu nome. — A explicação pareceu surtir um efeito relaxante no outro.

— Hehehe, me desculpe de qualquer jeito. Não acho que um cara goste de ser confundido com uma garota. — O dono do apartamento deu de ombros.

— Então, qual é o seu nome?

— Meu nome é Ichinose Yuuichirou. Pode me chamar de Yuu. — Estendeu a mão e o loiro a apertou em cumprimento.

— Quer entrar? Ainda não tomei meu café-da-manhã, quer me acompanhar? Quero te agradecer.

— Eu já comi, mas aceitaria um copo d’água. Foi cansativo conter o Guren. — O cachorro latiu “reclamando”. Mikaela afastou-se para dar espaço ao visitante. Verdade seja dita, se Yuu houvesse recusado o convite, ele insistiria até que o outro aceitasse, pois queria passar um pouco mais de tempo com o novo conhecido. Havia se interessado pelo homem.

— Você mora por perto? — Guiou Yuuichirou até a cozinha, indicando uma cadeira.

— Acabo de me mudar. Sou do prédio ao lado. — Hum, interessante. — Seus gatos sempre tem a mania de desaparecer assim?

— Não. Essa foi a primeira vez que sumiram. E não faço ideia do porquê. — Mas vou agradece-los depois. Talvez comprar aquela ração super-cara que eles gostam. Ou deixá-los dormir na minha cama. Tá, pensando bem, vou comprar só a ração mesmo. De pergunta em pergunta, eles foram se conhecendo melhor e no fim do café-da-manhã, haviam registrado o número e o e-mail um do outro em seus celulares e marcado um segundo encontro no fim de semana.

8. “Eu não posso!”
Prompt: Mikaela confessa seu amor por Yuuichirou, mas é rejeitado.

Abandone tudo e fuja comigo!

Anos e anos formulando uma declaração curta que envolvesse todos os seus sentimentos. Anos e anos esperando por aquele momento, sabendo que ele chegaria, mas não sabendo quando ou de que forma. Anos e anos sonhando com um “sim” sem hesitação durante um reencontro doloroso e cheio de mágoas (por que, por mais sonhador que seja, Mikaela é realista. Sabe que Yuuichirou não aceitará tão fácil seu vampirismo. Dói, mas é a dor que o mantem ligado a humanidade, ao seu amigo de infância). Anos e anos se alimentando de fantasias, de expectativas, de esperanças, apenas para que em menos de um minuto, para que com uma frase de três palavras, tudo fosse destruído.

A expressão indecisa do moreno, o “Eu não posso” murmurado entre dentes, quase como se o outro estivesse forçando-se a dizer aquilo, a forma como referiu-se aqueles humanos imundos como família, ignorando totalmente o fato que o ÚNICO integrante vivo da VERDADEIRA família dele estava ali, em pé, tentando salvá-lo foi demais. Não suportou presenciar aqueles seres nojentos manipulando seu amado Yuu-chan. Extremamente revoltante, repulsivo. Teria que salvá-lo! Era seu dever e sua obrigação. Convenceu a si mesmo que o “não” recebido era fruto de lavagem cerebral.

Ele queria seu Yuu-chan de volta.

Ele queria sair daquele inferno.

Ele queria ser amado.

O loiro sentiu lágrimas nascerem em seus olhos com a simples lembrança. Na hora, não pôde chorar, demonstrar fraqueza em campo de batalha com humanos cercando tudo não era viável, além do mais, o choque foi tão grande que não o permitiu racionalizar direto, então ele recorreu a raiva, a inveja, aos ciúmes, sentimentos mesquinhos que sempre estiveram trancafiados no fundo do seu coração. No entanto, agora, trancado no quarto, com as mãos cobrindo o rosto, o jovem desistiu de conter o choro. Mordeu o lábio inferior para não soluçar.

Se Yuu-chan “não podia” abandonar sua “nova família”, Mikaela mataria um por um para solucionar o problema. Assim, ele não abandonaria ninguém, pois ninguém estaria vivo para ser abandonado. Longe das más influências, longe dos vampiros e dos seres humanos, os dois poderiam ser felizes. Sorriu, decido. Construiria um futuro para ambos, mesmo que suas escolhas machucassem Yuu-chan novamente. Naquele mundo amaldiçoado e abandonado pelas divindades, a dor fazia parte do cotidiano.

9. Cuidar de um bebê não é fácil.
Prompt: Yuuichirou e Mikaela como bebês.

Cuidar de um bebê não é fácil, Guren concluiu enquanto tentava segurar um hiperativo pedaço de carne cheio de baba chamado Yuuichirou nos braços, como as mulheres conseguem achar essas... coisas moles e pegajosas bonitinhas? Não tendo resposta para a própria indagação, deu de ombros. Aquele era um mistério que o moreno não estava afim de desvendar tão cedo. A prioridade naquele momento era manter o pirralho em seus braços. O garoto parecia ser feito de areia, sempre deslizando por seus dedos.

Suspirou, olhando para o relógio em seu pulso. Quinze para as quatro. Mal posso esperar para me livrar deste trocinho babão. Em resposta, o bebê de dez meses balbuciou e estapeou seu rosto. O gerente da Moon Demon Company, uma empresa de eletrônicos, mordeu a língua para não xingar. Tch, o pirralho nem era seu filho, para começo de conversa, ele não devia estar tendo todo esse trabalho. Sentia-se um idiota por ter se oferecido para cuidar da criança sem saber como fazê-lo corretamente. Sua vizinha parecia tão desesperada por ajuda... E agora ele entendia a razão.

Em um espaço de cinquenta minutos, o bebê de olhos verde-esmeralda já havia vomitado em sua melhor camisa, chorado até tossir, mexido em absolutamente tudo o que podia, comido toda a comida que a mãe disponibilizara, babado um mar, feito birra, convencido Guren de nunca ter filhos, entre outros problemas. Nossa, o menino parecia amaldiçoado! Como se pudesse ler seus pensamentos noviços, Yuuichirou choramingou.

Entediado, cansado e amedrontado com a possibilidade do garoto chorar de novo, o gerente da empresa de eletrônicos teve uma ideia maravilhosa. Equilibrando aquela massa molenga e “movimentosa” de um lado, a bolsa do pequeno de outro, marchou até o elevador, decido a ir para o pátio do prédio, ala norte, área reservada para crianças. Sua vizinha não era a única com pestinhas ali, quem sabe não arranjasse um amigo para o bebê? E de quebra, conseguisse se livrar dele pelos quinze minutos restantes?

Apertou o botão do térreo e entrou. Antes que as portas se fechassem, um jovem de longos cabelos... Bem, não era possível definir muito bem a cor, era uma mistura de cinza e lilás, er, se bem que parecia mais lilás desbotado. Hum, tanto faz, a cor era bonita. Ele segurava um garotinho gordinho mais ou menos na faixa de meses de Yuuichirou. Olhos azuis, bochechas coradas, cabelo loiro (meio encaracolado, meio liso). Esse bebê é muito fofinho, pensou distraído, será que dá tanto trabalho quanto este pequeno demônio? A praguinha que segurava não parava de se mover, agitado, mexendo as mãos e balbuciando.

— Você está tentando arrumar um amigo, pirralho? — Sussurrou, segurando uma risada. Que surpresa! Mesmo o trocinho podia ser uma gracinha as vezes. — Ou é comprando briga? Você é bem birrento. Não me surpreenderia se você se tornasse um adolescente problemático. — Deixou escapar o pensamento. Ouviu uma risada baixa e um balbuciar suave. Ergueu a cabeça, dando de cara com o loirinho espiando por sobre o ombro do homem que o segurava. E o homem que segurava o loirinho com o rosto virado para ele. Sentiu o rosto esquentar de vergonha. Um adulto conversando como um idiota com um bebê que não entedia nem a si mesmo na frente de um estranho, arght, que embaraçoso!

— Oh, olhe, Mika, seu querido Yuu-chan! — O cara de cabelos longos comentou com um sorriso malicioso. Mika (?!) balbuciou algo, estendendo a mãozinha na direção de Yuuichirou.

— Hã? Então o pestinha tem mesmo amigos? Wow. — Deixou escapar, surpreso.

— Mika adora brincar com o Yuu-chan, não é mesmo, Mika? — O bebê ignorou em prol de se contorcer dos braços do mais velho na tentativa de alcançar o amigo. — Você é o pai do Yuu-chan?

— O QUÊ? Nunca! Uma prag-... uma criaturinha como Yuuichirou jamais sairia de mim! — O desconhecido riu.

— Desculpe, é que vocês têm o mesmo cabelo preto. Pensei que fossem parentes ou algo assim. A propósito, meu nome é Ferid Balthory.

— Ichinose Guren na pronuncia japonesa, Guren Ichinose nessa pronuncia. Prazer em conhece-lo. Eita! Porra, Yuuichirou, você vai cair se continuar se mexendo como se estivesse levando um choque! — Quase desequilibrou-se. — Tch, você realmente não gosta de mim, não é? — Reclamou.

— Mika também não se dá bem comigo. — Ferid suspirou de maneira dramática. — E eu sou tão bonzinho com ele!

— É difícil entender as crianças. — Deu de ombro. — Quem sabe quando eles crescerem, tudo fique mais fácil.

10. Às vezes, a realidade se mistura com os pesadelos.
Prompt: Yuuichirou frequentemente tem sonhos e/ou pesadelos com Mikaela.

— ... Hã? — Um ambiente escuro. E frio. Era tudo o que podia perceber. Onde ele estava? Ou melhor, como viera parar ali? Sentia o corpo pesado, paralisado. Será que havia sido sequestrado? E se fosse sequestro, como os sequestradores conseguiram invadir seu quarto? Por quê? As batidas do seu coração aceleraram. Droga, como fugiria daquela escuridão? Seu corpo simplesmente não obedecia, queria correr, procurar uma saída, para seu crescente desespero, nem seus dedos se moviam. Ele estava drogado? Sedado? Será que estava sozinho ou exista outra pessoa além dele ali? Teria que pensar em algo em logo se quisesse escapar.

Yuu-chan?

Sua linha de pensamento foi quebrada por um sussurro.

Yuu-chan?

Hum? Aquela voz...
Aquela voz parecia familiar.
Espere, ele conhecia aquela voz!
Apesar de tê-la escutado somente na cacofonia de uma batalha, ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar, a qualquer momento.
Mikaela!

— Mika? — Chamou, hesitando. Não houve resposta. Talvez o loiro não o houvesse escutado. — Mika! — Chamou de novo, dessa vez mais confiante, um pouco mais alto. Seus olhos estavam abertos, mas ele não conseguia enxergar nada. Não era possível descobrir de onde vinha a voz. — MIKAELA! — Gritou pelo amigo. Silêncio. Merda, por que não recebia nenhuma resposta? — MIKAELA! — Algo movimentou-se atrás dele, em seguida, todo o espaço escuro foi iluminado por uma luz suave, fraca. Yuuichirou reconheceu seu quarto. Um pesadelo? Pensou distraidamente, sentando-se. Tch, porra, Asuramaru! Que pesadelo sem pé nem cabeça!

— Yuu-chan, você estava tendo um pesadelo. — Sentando no chão, abraçando os joelhos, não muito perto da cama, seu amigo de infância observava-o. Preocupação explícita em todo o rosto. — Você está bem? — Por breves segundos, o soldado encarou estupidamente o garoto de roupas brancas. Até que a ficha caiu.

— Mika?! Como diabos você entrou aqui? — O vampiro sorriu, não o suficiente para mostrar as presas, apenas um leve tremular de lábios. Embora não pudessem ser vistas, o moreno sabia que elas estavam lá. Embora quisesse negar, sua própria consciência o traía e se referia ao outro como vampiro. Algo em sua expressão deve ter alertado o visitante de sua angústia, pois ele mexeu-se inquieto.

— Está tudo bem, Yuu-chan? Você gritou meu nome duas vezes antes de acordar. Fiquei com medo. Você estava tendo um pesadelo comigo? Será que envolvia a cidade dos vampiros? Você está mesmo bem? — A preocupação pingava da voz do adolescente.

— Hã? A cidade dos vampiros? Como você sabe que eu son-...? — Mikaela voltou a sorrir. Dessa vez, os cantos da boca se retorceram em um sorriso cruel, as presas apareceram. O clima mudou, os olhos azuis brilharam com maldade.

— Como eu sei que você sonha com aquela cidade maldita, Yuu-chan? Quer mesmo saber? Eu sei por que também sonho com aquele inferno, sonho com o dia que você me abandonou! Eu não consigo esquecer! Doeu, Yuu-chan! Doeu ter visto você me dar as costas enquanto eu sangrava naquele chão! — Um tapa não teria feito o estrago que aquelas palavras fizeram. — Você preferiu salvar a si mesmo! Você preferiu salvar a si mesmo do que morrer defendendo sua família! Você foi covarde e eu nunca pude te perdoar!

— N-não... — Murmurou, vergonha cobrindo sua pele como um cobertor. — E-eu... Eu não queria! Mika, eu juro, eu não queria! Só que vo-você... Você...

— Eu? Eu o quê, Yuu-chan? Eu pedi para você fugir? Pedi, sim. Eu pedi com a esperança que você me contrariasse como sempre! Estava resignado com a morte, a minha ingenuidade nos levou para aquela armadilha... Só que eu não queria te ver morto, e ao mesmo tempo, desejava que você... Que você mostrasse que me amava, que amava todos que morreram, ficando lá, batendo de frente com a morte iminente. Eu pensei que você iria ignorar o pedido, que iria encarar aquele vampiro desgraçado, que morreríamos juntos! Você foi egoísta, Yuu-chan! E o seu egoísmo me transformou no que sou hoje. Eu não pedi para ser transformado em vampiro! Você poderia ter me salvado desse destino ficando ao meu lado! Ao lado das crianças que morreram! Covarde! É isso que você é, um covarde!

— Pare! Pare! Pare! Pare!

— Parar? A verdade dói, né? Eu não vou parar, Yuu-chan. Não até te dizer todas as minhas mágoas. Não até te fazer entender que você me traiu e que eu nunca vou te perdoar! Eu sou um vampiro, agora, Yuu-chan! E você sabe o que significa, não é? Você vai ter que me matar, terminar o trabalho que ninguém conseguiu. Ou então eu terei que te matar. Não adianta ficar esperançoso, procurar uma cura para mim. Não vai dar certo. Me transformar em um ser humano de novo pra quê? Pra ser usado como você está sendo usado agora? — Yuuichirou sentia os olhos arderem devido as lágrimas contidas. — E isso me leva a sua segunda traição. Você percebeu depois, sei que sim. Percebeu que me traiu mais uma vez. Eu implorei que viesse comigo, que largasse tudo, que abandonasse esses humanos imundos que são piores do que os vampiros e fugisse comigo! Nós fugiríamos juntos, lutaríamos juntos contra qualquer um que viesse nos atrapalhar, nos prender, nos parar. E você se lembra do que me respondeu? Eu não posso abandonar meus amigos, Mika! — Uma pausa, o ser sobrenatural parecia estar com dificuldades de falar. Soluçou. — Você não podia abandonar seus amigos? NÃO PODIA ABANDONAR SEUS AMIGOS, YUU-CHAN? Você não podia abandonar seus amigos e fugir com o único integrante vivo da sua família? Você não quer me salvar, você só quer seguir seus desejos egoístas! Quer reconstruir uma família e me incluir só por culpa! Você ignorou meus sentimentos, de novo. E continua ignorando mesmo agora, tampando os ouvidos para não me escutar. Tentativa em vão, Yuu-chan. Minha voz está dentro da sua mente. — Encerrou a fala com uma gargalhada, largando todo o teatrinho de dor e choro. O garoto de olhos verde-esmeralda cerrou os punhos.

—ASURAMARU, PARE DE USAR A VOZ DO MIKA, A APARÊNCIA DO MIKA!

— Não. — O demônio gargalhou. — Não! Não! Não! — Cantou. — Ah, Yuuichirou, você sabe que no fundo, no fundo, tudo o que falei é verdade.

— Não é!

— É, é! Você não pode negar, é um fato! Você traiu aquele que mais te amava! Aquele que você mais amava! E esse pesadelo é só o comecinho do seu castigo eterno.

— SUMA DAQUI! SUMA DAQUI! ME DEIXE EM PAZ! NÃO USE MIKAELA CONTRA MIM! — E então, tudo sumiu. O integrante do grupo de extermínio de vampiros acordou (de verdade) ofegante, chorando. As palavras de Asuramaru gravadas em seu coração com fogo. — Não use Mikaela contra mim, por favor...

Fim da Parte II.


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Notas finais do capítulo

Então, oi, de novo, gente. *Entrega lencinho para todos* Eu chorei escrevendo, admito. Passei um tempinho longe do notebook pra me recuperar. OKEOEKEOKE Ai, droga, sou muito sentimental quando se trata do OTP, confesso. Não deixem de me dizer se gostaram ou não dessa segunda parte. E mandem prompts no estilo desses que coloco no começo de cada drabble. ~

Vocês me trazem mais inspiração e força para continuar a escrever! Por favor, espero que não me matem após esse capitulo. Estou planejando algumas coisas interessantes baseados em certos prompts e não quero morrer antes de escrevê-los. Então, se ao fim desses drabbles e oneshots, você desejarem me matar, planejem direitinho e deixem para o dia em que eu publicar a terceira parte, ok? E, por favor, por caridade, comentem! Preciso saber se estão gostando do que estou fazendo.



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