O retrato da mulher gorda abafou os gritos ensurdecedores da grandiosa comemoração enquanto Hermione mergulhava no silencioso corredor em busca de um refúgio. Após semanas intermináveis de brigas e discussões, a visão de Rony enroscado em Lilá Brow, embrulhou lhe o estômago, e fez com que seus olhos marejassem. Seus pensamentos perpetuavam-se na sala comunal, quando, aos prantos, adentrou a sala de aula destrancada mais próxima.

– Granger! Oque faz aqui? – A figura pálida e esguia de um Draco Malfoy uma vez arrongante, empoleirava-se em um canto da sala escura. Seus olhos vermelhos e molhados, eram acompanhados por enormes bolsas roxas, deixando-o com a aparência nefasta. O garoto descansava a varinha em suas vestes, e ao seu lado jazia uma garrafa de hidromel, alguns frascos vazios e um pequeno caldeirão.

– Isso não .. não é ...da sua conta – Gaguejou a garota assustada

– Deixe me adivinhar – Debochou Malfoy pondo –se de pé - Os boatos eram verdadeiros? Wesley resolveu trocar a sujeitinha de sangue ruim pela garota Brow. É como eu digo Granger... o sangue sempre prevalece. Até que o Wesleyzinho não é tão burro quanto parece. Lembre-me de lhe dar as felicitações amanh..

– Estupefaça – O raio vermelho atingiu em cheio a parede atrás de Malfoy, fazendo que o garoto, ao desviar, fosse jogado para o chão derrubando o caldeirão já vazio.

Hermione o encarava com a varinha empunhada, suas faces agora embebidas pelas lágrimas. – Estes frascos – Soluçou a garota – São venenos não são? – Eu os vi hoje cedo no armário de Slughorn. Isto é para Dumbledore não é? Você foi o responsável pelo colar amaldiçoado!

– Você não sabe oque está dizendo – Sussurou o garoto levantando-se . Seu rosto pálido era iluminado somente pela claridade lunar que entrava pela janela. A penumbra o deixava mais assustador. Seu semblante agora demonstrava uma perigosa mistura de medo e raiva.

– Não vou deixar que machuque mais ninguém Malfoy! Bombarba! – Um clarão emergiu da varinha de Hermione disparando- se a caminho da garrafa de hidromel.

– Protego! – Arfou Malfoy, protegendo – se do feitiço. - Sujeitinha de Sangue Ruim!

– Petrificus Totalus! - Ordenou Hermione. O clarão azul atingiu a lousa ao ricochetear no escudo de Malfoy.

– Já chega Granger! Expelliarmus! – Revidou Malfoy lançando o feitiço contra Hermione. A varinha da garota fora arremessada, caindo exatamente no espaço vazio entre os dois.

Ambos lançam-se ao chão em uma disputa desleal para alcançar a varinha. Malfoy, que a alcançou primeiro, prendeu Hermione ao chão segurando-lhe pelos braços. Empunhando lhe a varinha contra o rosto e segurando-a pela cintura, ele a imobiliza. De repente, a expressão em seu rosto muda ao perceber que estão próximos demais.

Hermione paralisa-se com a imediação entre eles, aqueles olhos acinzentados e gélidos agora a fitam com cuidado e intensidade, a pele pálida e macilenta exala um confortável perfume e suas vestes estão afrouxadas. Ele com certeza havia chorado. Hermione nunca o vira assim: vulnerável.

A sala era distante das demais e o silêncio tomava conta do ambiente. Ali deitados no chão, eles encararam-se por alguns instantes. Malfoy que segurava ambas as varinhas, abaixou-as. Suas bocas estavam perto demais. Ele podia sentir a respiração excitada da garota. Suas faces antes molhadas, agora assumiam um rubor intenso. Seu cabelo tinha cheiro de alcaçuz, e em seus olhos havia uma expressão de surpresa. Abruptamente, Draco alcançou-lhe os lábios, apoiando uma das mãos em sua cintura e outra em sua face.

Mesmo surpresa, Hermione não o rejeitou. Paralisada, sem razão aparente, ela deixou que aqueles lábios macios e quentes continuassem a lhe proporcionar aquela sensação agradável, e assim, ao ser tomada pela intensidade do momento, ela retribuiu ao beijo.

– Você não percebe não é? – Disse ele, segurando-a com mais força – Depois de todo esse tempo, você nunca percebeu. Hermione Granger, o prodígio, bonita, irritantemente inteligente, leal, elegante e perspicaz. A esposa perfeita para um Malfoy, você seria um orgulho para minha família! Como eu poderia não me apaixonar? Mas...mas eles nunca permitiriam...você não entende... – Seus olhos novamente estavam marejados. - Como namorar uma nascida trouxa? Uma sangue ruim..

A garota agora o encarava com surpresa. Malfoy continuou sem hesitar:

– Eu tentei dia após dia arrancar este maldito sentimento de meu peito, gritando para mim mesmo e para quem quisesse ouvir que você não passava de uma sujeitinha nojenta de sangue ruim, um galho podre que nunca seria digno do amor de um Malfoy. Mas eu falhei. Não consegui acreditar em minhas próprias mentiras. Eu escolhi te desprezar a ter que ama-la em segredo.

Pela primeira vez em anos, Hermione questionava-se se Draco Malfoy era um arrogante comensal da morte empenhado em cumprir as tarefas de seu mestre ou apenas um garotinho medroso cuja a desprezível família encurralou em uma insana tarefa.

– Você não precisa fazer isso Draco – suspirou Hermione – Nós podemos te proteger, Dumbledore não hesitará em te ajudar.

– É tarde demais para desistir. Eu sou a sua única chance que restou a eles. Não posso abandonar minha família. ELE os mataria. – Lacrimejou.

– Nunca há somente um caminho Draco – Insistiu Hermione, que agora era presa ao chão com ainda mais força.

O eco dos passos descendo as escadas tornava-se mais forte a cada segundo. Alguém aproximava-se.

– Eu tenho que ir – pestanejou Malfoy - Perdoe – me por isso! Obliviate! - Decretou apontando sua varinha para a bela jovem que agora jazia adormecida em seus braços.