Agentes escrita por Ana Cdween


Capítulo 6
Divórcio


Notas iniciais do capítulo

Sexta-feira dia de capitulo novo. Se deliciem.



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John

Foi horrível, mas necessário. Há males que vem para o bem, essa é umas das minhas filosofias de vida. Eu arranquei uma coisa que me sufocava, sempre quis ouvir dela quais as vezes que fiquei em primeiro lugar, eu sabia que nunca tinha ficado em primeiro lugar, mas não imaginava que ela seria tão sincera a ponto de ficar quieta, achei que inventaria um monte de bobagens tentando amenizar a culpa. Foi muito doloroso vê-la chorar. Eu odeio quando isso acontece e é por isso que eu relevo sempre a situação dando a volta por cima para que sempre fiquemos bem, por mais que eu me sinta em pedaços. Acho que ela deve estar se sentindo em pedaços agora, porque eu estou.

Tranquei a porta do banheiro e tomei um banho de banheira de mais de uma hora, relaxei, até sentir sono e estava doido para cair na cama. Me sequei e me vesti no closet, podia jurar que a encontraria já deitada dormindo, ou fingindo dormir, mas dessa vez foi diferente, a cama continuava arrumada e vazia. Onde estaria Jane?

Eu desci as escadas e nada na sala de TV. Ela estava desmaiada em frente a lareira, tinha tomado muito whisky, o suficiente para apagar. Ajoelhei e a puxei, seu rosto era ainda mais triste do que quando ela dormiu no sofá. Meu coração se apertou porque eu sabia que era por conta do que eu havia dito, mas eu não me sentia culpado.

Fiquei pensando se a deixaria dormir ali ou se a levaria pra cama, talvez fosse bom uma noite aquecida pela lareira, já que eu não dormiria com ela esta noite. A peguei no colo e a levei pra cama, ela dormia tão profundamente de tão bêbada que nem notaria minha falta na cama. Me certifiquei de que ela não cairia ou sentiria frio, peguei um balde na lavanderia e deixei do lado da cama, vai que ela passa mal ainda ia me culpar por ela ter sujado o quarto, dei uma última olhada em seu rosto triste e sai fechando a porta.

Desci e fechei o gás da lareira, peguei uma cerveja e deitei no sofá, estava com sono, mas a curiosidade foi maior que eu, peguei o iPod e dei uma olhada nas músicas, era engraçado lembrar das coisas enquanto eu ouvia as musicas que meio que tinham marcado a mim e a Jane. Cada música uma história, e eu sorria feito um idiota. Quando nossa favorita tocou, por um momento eu senti vontade de subir e abraça-la, mas me contive, eu precisava parar de ceder, troquei logo de música antes que eu não resistisse. Comecei a me lembrar das coisas que abri mão por ela e percebi que o estrago não tinha sido assim tão grande, apenas parei com o cigarro, parei de bater ponto na casa do Edd para fumar maconha, o que eu passei a fazer somente sob a supervisão dela, mas eram coisas irrelevantes, eu continuava bebendo, jogando golf, pôquer e é claro, continuava sendo um assassino de aluguel. Até que eu não mudei muito por ela, só tentava todos os dias ser mais organizado com a casa e com as minhas coisas, porque confesso que nisso eu era um desastre.

Subi e quando passei pela porta do nosso quarto respirei bem fundo, queria ir dar uma olhada nela, ver se estava tudo bem, mas achei melhor não, já que se ela estivesse acordada me veria e estragaria tudo, passei direto e fui para o quarto de hospedes, puxei o edredom e deitei, fechei os olhos e apaguei, decidi que não tentaria pensar mais no que tinha acontecido.

Jane

Não sei como, mas acordei na cama, minha cabeça doía muito e eu já sentia a ressaca, me virei na cama e percebi o lado de John ainda arrumado, ele não tinha dormido ali, provavelmente bebeu e dormiu no sofá.

Coloquei os pés no chão e estiquei os braços para o alto me alongando, me sentia podre, minha sorte é que era sábado e a empregada vinha limpar a casa e acabava fazendo comida. Fiquei olhando para o chão, tentando processar a noite passada, agora com a cabeça mais fria, pude enxergar que chegamos ao fundo do poço, ao nível mais baixo, o de nos entregar a bebida a fim de dormi e esquecer, o problema é que não esquecíamos, na verdade só estava fazendo mais mal. Quando criei coragem para levantar, senti meu estomago rodar e rodar, parecia que eu iria vomitar, eu até fiz força, mas não saia nada. Sai do quarto cambaleando, desci até o sofá, mas ele não estava lá, nem na sala de tv, nem na lareira.

–-Sra. Smith, está tudo bem?

–-Bom dia Marien, tô só com uma dor de cabeça enorme.

–-O café já está na mesa.

–-Obrigada, só vou tomar uma ducha e chamar o John.

–-Seu John saiu para correr agorinha mesmo.

–-Ele já tomou café?

–-Não Senhora.

–-Bom, nem tinha visto que ele tinha saído, desci doida por um remédio pra dor de cabeça.

–-É melhor a Senhora comer alguma coisa antes de tomar remédio.

–-Eu sei, por isso vou tomar um banho, depois comer, para só depois tomar o remédio.

–-Tudo bem, qualquer coisa que você precisar é só chamar.

–-Obrigada Marien, quando o John chegar você pode me avisar?

–-Claro.

Eu subi e vi que o quarto de hospede estava com a porta aberta, me aproximei e vi a cama bagunçada e a roupa de John em cima.

Eu não ligava quando ele bebia um pouco além da conta e dormia no sofá, mas dormir em outra cama sem ser a nossa, isso me chateou demais, não tinha necessidade de dormir separado de mim, o que eu iria fazer? Faze-lo me desculpar a força? Mas também que diferença faria se ele dormisse comigo? Iria me ignorar mesmo.

Fui para o banheiro e encontrei a banheira cheia de água que provavelmente John usou na noite passada e esqueceu de destampar o ralo. Estava com tanto ódio que me joguei naquela água fria, enfiei a cabeça e gritei, um grito abafado pela água, mas pelo menos eu descarregava minhas tensões naquilo, não era bem o que eu gostava, porque era sempre no John que eu descarregava minhas tensões, mas sorte a dele ter saído, não me aguentaria do jeito que estou. Para Jane! John sempre aguenta, ele é um bom menino! A droga do meu subconsciente queria amenizar as coisas.

John

Acordei a todo vapor e resolvi dar uma corrida. Entrei no quarto e ela continuava deitada da mesma forma que eu a coloquei, mas seu rosto era mais leve, talvez ela realmente precisava tomar um porre e dormir, dormir muitas vezes é um ótimo remédio.

Me vesti a observando, por mais que eu tivesse motivo e quisesse odiá-la, eu não conseguia, aquele rosto lindo, aquela boca me mandando convites e ela me pediu um beijo e eu neguei, talvez eu tivesse cometido esse erro, talvez precisássemos de um beijo. Não John, fica frio cara, nada de beijos! Subconsciente de merda, sempre empatando minhas fodas!

Não resisti e toquei seu rosto, era frio, macio e convidativo, como sempre.

Sai antes que não resistisse e me deitasse de conchinha nela, parecia tão gostoso ali, tão macio, mas o cheiro de bebida era nítido em seu hálito.

Fechei a porta e desci direto, dei de cara a Marien, nossa empregada.

–-Cadê a Senhora Smith?

–-Tá dormindo e cuidado porque ela pode acordar meio azeda hoje, sabe como é TPM.

–-Vou preparar uma mesa linda para o café para ela.

–-Ela vai adorar, vou indo dar uma corrida.

–-Não vai comer nada?

–-Quando eu chegar eu como alguma coisa.

–-Isso, faz companhia pra sua mulher no café.

–-Pode ser.

Eu sai logo para correr, estava bem humorado e precisava dar uma suada pra ficar melhor ainda.

Cruzei com alguns vizinhos, quase todos puxaram assunto, mas eu estava mesmo era afim de correr, extravasar, porque seria difícil ficar em casa o dia todo hoje com Jane lá.

Passei cerca de uma hora fora, mas quando cheguei Jane tinha acabado de se sentar pra tomar café. Me sentei bem a frente, peguei o jornal, um suco e fiquei na minha. Jane manteve a cabeça baixa, comeu quieta e depois subiu. Estava muito chateada para conversar alguma coisa.

Subi para tomar um banho e ela falava ao telefone, provavelmente com Jas. Devia estar falando de trabalho, talvez tivesse sido reclutada para algum trabalho no outro lado da cidade, na verdade, se ela saísse seria um alívio, porque eu não ia precisar ficar medindo meus movimentos, muito menos tomando cuidado para não olhar demais para ela e parecer que quero conversar.

Tirei a roupa e entrei no box, fiquei cantando, assoviando e até esperei que ela viesse conversar, mas ela só entrou, escovou os dentes e saiu. Não demorei muito no banho também, percebi que meu celular tocava e fui logo atendê-lo.

–-Edd.

–-John, temos problemas.

–-O que houve?

–-A entrega será feita antes do tempo, o carregamento está só há alguns quilômetros da base, precisamos intervir cara.

–-Edd, hoje é sábado.

–-Não é culpa minha cara, mas preciso que venha, acabei de chegar na agencia, tentei te ligar, mas estava fora de área.

–-Eu dei uma saída, dei uma corrida logo cedo.

–-John, vem pra cá cara, corre, investimos dinheiro e tempo nisso, precisamos executar.

Eu me vesti rápido e desci, peguei as chaves e sai dirigindo igual louco. Posso jurar que cheguei na agencia com menos da metade do tempo que eu gasto em dias normais.

Jane tentou falar comigo, mas estava com tanto pressa que não me lembro nem o que respondi.

Eu mal entrei e me foi dada uma chuva de informação. A missão era a seguinte, um carregamento enorme de armas ilegais estavam entrando nos EUA e tínhamos de intercepta-la antes que caísse em mãos erradas.

Saímos em campo eu, Edd e Josh, um outro agente que na verdade era um grande idiota, mas seria uma bela isca no caso de algo sair do controle.

Armamos um cerco e estávamos prontos para mandar ver, mas tivemos de esperar todo um processo até sermos liberados quando a área estivesse limpa de possíveis vitimas inocentes. Esperamos por horas até lançarmos fogo. A missão foi um sucesso, recolhemos as armas e elas foram entregues anonimamente para a polícia, de onde nunca deviam ter saído.

Passei na agencia só para pegar meu carro e voltei para a casa mais devagar e tranquilo, andava abusando da velocidade e andava pagando muitas multas de transito por puro descuido. Cheguei e estacionei o carro torcendo para Jane não estar em casa, mas o carro dela estava na garagem.

Jane

Tomamos café juntos, mas foi como se ele não estivesse lá. Eu até tentava dentro de mim de alguma forma puxar assunto, pedir desculpas e prometer melhorar, mas eu não arrumava palavras, estava muito chateada por ele ter dormido em outra cama.

Assim que comi, subi porque eu não suportava olhar pra cara dele sem ter a vontade de mata-lo com um tiro entre aqueles olhos azuis petulantes, que por algum tempo me encararam.

O pior foi quando ele subiu para o banho e ficou escutando minha conversa com Jas ao telefone.

Se arrumou e saiu correndo, eu até criei coragem para conversar, mas quando o chamei ele apenas disse: “agora não Jane” e desceu.

Ele ficou muito tempo fora, almocei e tomei café da tarde sozinha. Aproveitei para colocar a cabeça no lugar, pensar se o mataria ou não, afinal seria só mais um na minha lista enorme. Mas ele é tão bom na cama, seria um desperdício! Que tal mantê-lo vivo só até ele te satisfazer mais uma vez? Não seria nada mal uma última noite de amor! Alguma coisa me puxava para deixa-lo vivo.

Eu desci e peguei uma arma no compartimento no meu forno, uma pistola pequena já com silenciador incluso, acendi a lareira e deitei no sofá lendo um livro só esperando por ele. Estava decidida a acabar com isso logo de uma vez.

Ele entrou em silêncio, subiu as escadas e ficou lá um pouco, eu continuei lendo até ouvir passos na minha direção.

–-Jane.

Eu só virei à cabeça quando ouvi a voz dele.

–-Só quero saber se está tudo bem, se passou mal hoje, não quero briga, então não me olha fuzilando assim.

–-To bem, será que a gente pode conversar? Minhas mãos tremiam e quando me levantei senti a arma embaixo da almofada e queria fuzila-lo de verdade.

Ele se sentou no chão bem a minha frente, era o ângulo perfeito para um belo tiro entre os olhos.

–-Eu pensei bastante sobre o que aconteceu ontem, fiquei hoje o tempo todo me lembrando da gente e encontrei sim uma vez que preferi a você do que ao meu trabalho, se ainda quiser ouvir eu...

–-Fala Jane.

–-Quando a gente se conheceu em Bogotá, eu estava lá a trabalho e não há turismo, como eu te disse. Estava consertando os computadores do governo e dei uma escapada, foi ai que te encontrei no hotel, e ficamos juntos por dias, eu me desviei dos planos, minha divisão não bateu as metas porque eu preferi ficar com você do que ir pra droga do meu trabalho. Quando você me encontrou aqui em NY, eu estava sobre aviso de demissão caso não reparasse meus erros e mesmo assim eu fui me encontrar com você no seu apartamento, pra gente ficar juntos, ao invés de trabalhar a noite inteira para bater as metas. Só queria que soubesse.

Ele ficou em silêncio, apenas me olhando no fundo dos olhos, era devastador o que o silêncio fazia comigo, era pior que tomar um tiro. Eu tentava sacar a arma, mas meu corpo era rígido e eu queria falar mais.

–-Eu acho que não ta dando mais pra ser assim, estamos deixando as coisas chegarem ao extremo de nós mesmos, não estamos mais aguentando, precisamos tomar as rédeas disso...

–-Eu também acho querida, a gente precisa...

–-Me deixa terminar, por favor.

–-Claro fala.

–-Eu sei que toda a culpa é só minha, sou eu que não tenho tentado melhorar as coisas, tenho mantido o foco em algo que é mais fácil pra mim...

–-A culpa não é só sua eu...

–-John eu quero o divorcio. Eu cuspi as palavras.

–-Que? Eu não...

–-Eu não consigo mais levar isso adiante, não quero mais que você perca seu tempo comigo, eu... Subi correndo para o quarto e até me esqueci da pistola embaixo da almofada, mas se ele achasse eu contaria toda a verdade, que sou agente e talvez tivesse um real motivo para mata-lo e não hesitasse em puxar o gatilho.

Me tranquei no quarto e ele bateu na porta algumas vezes, mas não insistiu muito e parou de bater, se sentou na porta e ficou falando algumas coisas.

–-Não Jane, não vai ter divorcio, a gente só precisa conversar, eu precisava de um tempo, por isso eu dei uma saída. Ele fez silêncio por algum tempo.

–-Foi uma noite difícil pra mim, além da gente ter brigado e eu ficar pensando se tinha feito o certo, eu ainda dormi separado de você, porque por mais que a gente durma junto e não tenha contato físico nenhum, eu sei que você está sempre ai do meu lado, dormindo, e eu sei que você está bem enquanto dorme, porque quando o dia amanhece e as coisas começam de novo, você trabalha como uma forma de fuga pra algo grande ai dentro de você, algo que eu ainda não consegui conhecer, só que essa coisa ai dentro ta fazendo a Jane sumir todo dia, cada dia eu te conheço menos. Cadê a Jane brincalhona e distraída que me fazia rir todas as manhãs? Cadê a Jane sempre disposta a sempre sair, curtir, dançar comigo, cadê a minha Jane? Porque ta sumindo de mim amor?

Eu fiquei quieta ouvindo cada palavra, estava forte na minha decisão, algumas lágrimas rolaram, eu admito, faz muito tempo que estou com ele e foi uma decisão necessária. Arrumei uma mochila com algumas coisas essenciais e destranquei a porta abrindo rápido antes que ele se levantasse.

–-Jane, o que está fazendo? Não vai sair daqui... Não pode pedir o divorcio por tão pouco.

–-Pouco John? Estou pedindo porque a gente não está bem, e por mais que tentamos mudar, nosso casamento não vai pra frente, faz um ano que arrastamos isso, e só estamos nos maltratando.

–-Não sei se consigo, eu amo você, nunca passou pela minha cabeça me separar, por mais que estejamos de mal a pior, só precisamos tentar de novo, e de novo, incansavelmente, conseguimos por um ano inteiro, só mais um pouquinho, por favor?

–-Pra quê? Para você jogar na minha cara sua frustração porque eu não sou boa o bastante? Para fazer cobranças sobre coisas do passado? Me exaltei um pouco.

–-Jane, não seja injusta comigo, eu só preciso desabafar às vezes e você é minha mulher, se eu não falar com você vai ser com quem?

–-Pra mim já deu. Ele segurou forte no meu braço. –-Me solta John, ou vou quebrar seu nariz de verdade.

–-Não pode ta fazendo isso comigo.

Eu segurei o rosto dele com as duas mãos. –-To fazendo isso pela gente, você vai ficar melhor agora.

Desci as escadas e peguei a arma correndo e guardei na minha bolsa. Foi questão de segundos até ele descer e parar na porta da frente, com as mãos na cabeça. Peguei a chaves do carro e sai pela porta que dava para a garagem, abri o porta malas e joguei tudo lá dentro, ele correu e travou a porta do motorista com o corpo.

–-Jane, sabe aquele beijo que me pediu ontem? Eu não devia ter te negado, será que posso te dá-lo agora? Você ainda quer?

Eu me aproximei e me encostei nele, coloquei uma mão no rosto e a outra na nuca dele, suas mãos me puxaram pra mais perto. Olhei fundo nos olhos dele e ele retribuiu com um olhar terrível de medo. Eu toquei seus lábios com os meus, bem devagar, negando o que eu estava fazendo. Ele puxou minha camiseta para cima me segurado pela cintura, na pele, ele me apertava forte, podia sentir cada dedo dele cravado em mim, nossos lábios ficaram mais nervosos e perdemos o controle do que fazíamos. Ele subiu umas das mãos nas minhas costas, por dentro da camiseta, ainda apertando forte, a outra mão ele desceu pelo meu bumbum e me apertou ainda mais contra seu corpo. Tentei manter o máximo do controle, mesmo meu corpo querendo arrancar a roupa dele todinha para que eu pudesse sentir sua pele quente.

Ainda me beijando, ele me empurrou para frente, encostando meu corpo agora no carro dele, fiquei encurralada e cada vez mais fraca a tudo aquilo. O beijo dele era bom, e pra falar a verdade, eu não queria que acabasse. Eu arranhei seu pescoço e ele amoleceu a pegada, passando as mãos pela minha cintura, bem leve, e eu pude me virar e tomar o controle ficando na frente, solta, eu olhei nos olhos dele e brilhavam. Respirávamos fundo, havia sido um beijo longo e muito quente, até para nós dois. Quando ele soltou as mãos para tirar minha camiseta por completo, eu escapei e entrei correndo no carro trancando a porta.

Abri o portão da garagem e liguei o carro, a princípio ele ficou imóvel ainda encostado no carro dele, mas assim que o portão abriu por completo ele entrou na frente do meu carro. Eu acelerei e arranquei freando assim que encostei na perna dele.

Ele me olhava fixamente, seus olhos estavam marejados e fazia tempo que não o via assim, chorando, John não era nem um pouco sentimental, mas de alguma forma isso o afetou de fato.

–-Não piora as coisas amor. Gritei lá dentro com todos os vidros fechados.

–-Jane, não pode desistir assim.

–-Não estou desistindo, só não estou insistindo em algo que já não rola mais. Baixei um pouco o vidro do meu lado e ele veio até mim.

–-Não rola? E esse beijo não significou nada? Ele colocou as duas mãos na porta tentando abrir por fora, puxando com força.

–-Não. Acelerei e sai da garagem, mas não resisti e olhei pelo retrovisor e lá estava ele, com as duas mãos na cabeça, como sempre fazia quando estava confuso.

Eu dirigi por horas, já que não sabia para onde ir, na casa de Jas seria horrível porque ela ficaria dizendo que avisou que não daria certo e me instigando a matá-lo, como sempre faz.

Acabei parando numa rodovia por um tempo para pensar, meu celular tocava e recebia mensagens sem parar, era ele, claro.

–-Jane, o que você fez? Meus Deus como pode hesitar em matá-lo? Como deixou as coisas saírem do controle assim? Eu gritava para mim mesma.

Escurecia e eu ainda não sabia para onde ir, estava uma confusão na minha cabeça, o que eu realmente tinha feito? Perdi completamente o controle.

Liguei o carro e decidi ir para o meu antigo apartamento no centro, pena não ter pego as chaves, então teria de arrombar a porta ou quebrar a fechadura, mas voltar para a casa eu não voltaria.

John

Vi que ela estava na lareira como sempre fazia nos sábados frios, me aproximei porque queria saber como ela estava.

Ela me olhou de um jeito que fazia tempo que não via, com uns olhos grandes e de dar medo.

–-Só quero saber se está tudo bem, se passou mal hoje, não quero briga, então não me olha fuzilando assim.

–-To bem, será que a gente pode conversar?

Eu não queria falar sobre o que tinha acontecido ainda, porque eu sabia que ela pediria desculpas e eu iria ceder e ficaríamos bem, mas eu deixei que falasse, porque eu queria saber como nossa noite acabaria. Me sentei a frente dela.

–-Eu pensei bastante sobre o que aconteceu ontem, fiquei hoje o tempo todo me lembrando da gente e encontrei sim uma vez que preferi a você do que ao meu trabalho, se ainda quiser ouvir eu...

–-Fala Jane. Seus olhos mudaram, aquele olhar medonho se transformou em um olhar de dó, eu senti até vontade de abraça-la e dizer que estava tudo bem.

–-Quando a gente se conheceu em Bogotá, eu estava lá a trabalho e não há turismo, como eu te disse. Estava consertando os computadores do governo e dei uma escapada, foi ai que te encontrei no hotel, e ficamos juntos por dias, eu me desviei dos planos, minha divisão não bateu as metas porque eu preferi ficar com você do que ir pra droga do meu trabalho, quando você me encontrou aqui em NY, eu estava sobre aviso de demissão caso não reparasse meus erros e mesmo assim eu fui me encontrar com você no seu apartamento, pra gente ficar juntos, ao invés de trabalhar a noite inteira pra bater as metas. Só queria que soubesse.

Fiquei imóvel, não esperava que ela ainda estivesse pensando nisso, não sabia que tinha tanto peso pra ela assim. Ela respirou e depois continuou.

–-Eu acho que não ta dando mais pra ser assim, estamos deixando as coisas chegarem ao extremo de nós mesmos, não estamos mais aguentando, precisamos tomar as rédeas disso...

–-Eu também acho querida, a gente precisa...Mas ela não me deixou terminar.

–-Me deixa terminar, por favor.

–-Claro fala. Realmente estava decidida a falar, então fiquei quieto o máximo que pude.

–-Eu sei que toda a culpa é só minha, sou eu que não tenho tentado melhorar as coisas, tenho mantido o foco em algo que é mais fácil para mim...

–-A culpa não é só sua eu...

–-John eu quero o divorcio.

Quando ela disse isso eu simplesmente travei, realmente não esperava um pedido desses, não assim, só por uma briga, não dessa forma, banal e barata.

–-Que? Eu não...

–-Eu não consigo mais levar isso adiante, não quero mais que você perca seu tempo comigo, eu...

Ela nem terminou e saiu correndo para esconder que queria chorar ou que não estava bem.

Se trancou no quarto. Eu bati na porta algumas vezes, mas não insisti e parei me sentando na porta.

–-Não Jane, não vai ter divorcio, a gente só precisa conversar, eu precisava de um tempo, por isso eu dei uma saída. Ela fez silêncio por algum tempo.

Eu fiquei tentando arrumar palavras para fazê-la sair de lá, ou ao menos abrir a porta pra gente conversar.

–-Foi uma noite difícil pra mim, além da gente ter brigado e eu ficar pensando se tinha feito o certo, eu ainda dormi separado de você, porque por mais que a gente durma junto e não tenha contato físico nenhum, eu sei que você está sempre ai do meu lado, dormindo, e eu sei que você está bem enquanto dorme, porque quando o dia amanhece e as coisas começam de novo, você trabalha como uma forma de fuga pra algo grande ai dentro de você, algo que eu ainda não consegui conhecer, só que essa coisa ai dentro ta fazendo a Jane sumir todo dia, cada dia eu te conheço menos. Cadê a Jane brincalhona e distraída que me fazia rir todas as manhãs? Cadê a Jane sempre disposta a sair, curtir, dançar comigo, cadê a minha Jane? Porque ta sumindo de mim amor?

A porta abriu e me levantei para correr e abraçá-la, mas ela segurava uma bolsa e seus olhos estavam negros de ódio de novo.

–-Jane, o que está fazendo? Não vai sair daqui... Não pode pedir o divorcio por tão pouco.

–-Pouco John? Estou pedindo porque a gente não ta bem, e por mais que tentamos mudar, nosso casamento não vai pra frente, faz um ano que arrastamos isso, e só estamos nos maltratando.

–-Não sei se consigo, eu amo você, nunca passou pela minha cabeça me separar, por mais que estejamos de mal a pior, só precisamos tentar de novo, e de novo, incansavelmente, conseguimos por um ano inteiro, só mais um pouquinho, por favor?

–-Pra quê? Para você jogar na minha cara sua frustração porque eu não sou boa o bastante? Para fazer cobranças sobre coisas do passado? Ela gritou

–-Jane, não seja injusta comigo, eu só preciso desabafar às vezes e você é minha mulher, se eu não falar com você vai ser com quem? Senti um certo ódio dela estar falando aquelas coisas.

Segurei seu braço tentando impedi-la de descer as escadas.

–-Me solta John, ou vou quebrar seu nariz de verdade.

–-Não pode ta fazendo isso comigo.

Ela se virou me olhando, e segurou meu rosto, achei que fosse ter a chance de beija-la, mas ela estava no ataque e era rápida.

–-Estou fazendo isso pela gente, você vai ficar melhor agora.

Ela desceu as escadas correndo como se precisasse pegar alguma coisa na sala de lareira antes que eu a impedisse de novo. Ela foi para a cozinha e pegou as chaves do carro, eu fiquei bem na porta não deixando-a entrar. Tinha medo nos olhos dela.

–-Jane, sabe aquele beijo que me pediu ontem? Eu não devia ter te negado, será que posso te dá-lo agora? Você ainda quer?

Ela se aproximou me encostando, segurou minha nuca e tocou meu rosto, seu cheiro me invadiu, seu toque me arrepiou, não me contive e a puxei para mais perto, a abracei forte. Olhei fundo nos olhos dela, que retribuiu me olhando com desejo, seus olhos estavam magnéticos como antigamente. Tocou meus lábios tão devagar que quase não me contive em acelerar, mas, assim como ela, eu queria que fosse lento para que aproveitássemos. Quando enfim pude sentir sua boca quente na minha, não me contive e queria mais, a segurei pela cintura, só que por baixo da roupa, sentindo sua pele macia e fria, eu estava doido e a apertei mais forte. Nosso beijo acelerou e por alguns segundos perdi o controle e me esqueci de todo o contexto, só queria que o beijo durasse o máximo. Senti suas costas e ela estava rígida, apertei bem forte fazendo-a amolecer um pouco, perder a rigidez. Acariciei de leve o meio de suas costas e senti o quão a deixava excitada, ficou arrepiada e soltou o corpo no meu. Apertei seu bumbum a puxando mais para mim.

Eu queria arrancar a roupa dela e ama-la ali na garagem mesmo, sentir ainda mais seu corpo no meu, poder beijar cada centímetro, e eu desejava muito. A empurrei para frente prensando seu corpo no meu e sentindo a tensão no em seus músculos. Enlouqueci quando ela arranhou meu pescoço e tive que parar o beijo para respirar, ela me olhou e seu olhar era muito hipnotizante, não consegui desviar o olhar nem por um segundo, mas eu sentia sua pele arrepiada com meu toque, acariciei de leve sua cintura e me concentrei naquilo, quando ela colocou as mãos no carro subi as mãos para tirar a camiseta, mas ela escapou entrando no carro, estava o tempo todo arrumando um jeito de sair, o beijo talvez estivesse sido uma distração, me excitou para me deixar vulnerável e ir embora.

Entrei na frente do carro e ela arrancou com o carro na minha direção gritando

–-Não piora as coisas, amor. Como ela ainda podia me chamar de amor?

–-Jane, não pode desistir assim.

–-Não estou desistindo, só não estou insistindo em algo que já não rola mais. Ela baixou alguns centímetros do vidro, mas não o suficiente para eu destravar a porta.

–-Não rola? E esse beijo não significou nada? Forcei a porta do lado de fora mesmo.

–-Não. Acelerou me deixando, mas antes de ir dei uma boa olhada nela e vi as lagrimas em seus olhos.

Assim como eu, ela não queria aquilo, devia estar perdida e mais uma vez, ao invés de enfrentar o problema de frente, ela optou pelo caminho mais fácil e foi embora.

Entrei em casa pegando meu celular e insistindo em falar com ela, porém não sabia que não adiantaria. Fiquei muito transtornado, andei pela casa e em tudo que eu colocava meus olhos eu via Jane, cada detalhe daquela casa, até o cheiro me remetia a ela.

Liguei para o Edd, já que ele era o único cara em quem eu confiava.

–-Edd.

–-Oi cara.

–-Jane foi embora.

–-O que?

–-Jane pediu divorcio e foi embora.

–-Assim do nada?

–-A gente brigou ontem, ai hoje tentamos conversar e ela pegou e falou do divorcio e saiu.

–-Vai atrás dela cara.

–-Não sei onde ela foi, to transtornado, acho que se eu pegar o carro agora vai dar merda.

–-Não sai dai não, eu vou pra ai, a gente toma umas cervejas, eu levo o computador da agencia e a gente tenta rastreá-la.

–-Tá bom Edd, não demora senão vou fazer uma loucura cara.

–-To indo, não sai dai.

Eu subi para o nosso quarto e senti o cheiro do perfume da Jane ainda no ar. Fui até o closet e abri o armário, as roupas dela estavam lá. Era tão apaixonante o perfume, que fiquei ali em pé sentindo o cheiro e olhando as roupas por muito tempo, só desci quando a campainha tocou e era o Edd.


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Notas finais do capítulo

Xo Jolies



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