Agentes escrita por Ana Cdween


Capítulo 5
Consulta


Notas iniciais do capítulo

Oie :) capitulo novinho saindo do forno pra vocês. Quero reviews



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John

Entramos no consultório, Jane se sentou ao meu lado e puxou minha mão para junto da dela, ela tremia, eu só não sabia se era por frio ou era por medo da médica.

A médica entrou, era uma moça alta e bela, seus olhos brilharam quando olhou para Jane.

Ela leu a ficha que preenchemos na recepção. –-Senhor Smith, Senhora Smith, qual o problema com vocês?

–-Eu passei mal ontem e hoje Doutora, tive mal estar e cheguei ao vômito.

–-Mais algum sintoma, algo que tenha notado, alguma mudança no seu corpo? Nos hábitos?

–-Não, nada de anormal, eu acredito que seja algo alimentar porque só me sinto mal depois que como.

–-Quantas vezes já vomitou?

–-Almoço e jantar de ontem, almoço de hoje.

–-Vomitou duas vezes ontem, Jane? Não me falou nada. Eu odiava quando Jane omitia coisas de mim.

–-Eu me esqueci, amor.

–-Você sente cansaço, dor no corpo? A médica insistiu querendo amenizar o pequeno conflito entre nós.

–-Nada Doutora.

–-Minha mulher anda com bastante sono e muito ansiosa.

–-John, não estou dormindo mais que o normal e não estou ansiosa coisa nenhuma.

–-Algum ganho de peso? A médica tentou manter o foco enquanto nós dois nos olhávamos.

–-Não que eu tenho notado.

–-Senhora Smith, pode por favor tirar os sapatos e o casaco pra gente dar uma olhada no peso? Vou também fazer um exame rápido nas suas mamas a procura de nódulos ou algo anormal. Os preventivos estão em dia?

–-Tenho um marcado na semana que vem, os demais estão todos normais.

–-Ótimo, são raras as mulheres que vem com todos os exames em dia, isso mostra o quanto você cuida da sua saúde. Algum corrimento ou cheiro?

–-Meu xixi tá meio forte, mas acredito que seja por conta de eu estar no período fértil.

–-Faz tabela?

–-Eu marco por uma questão de organização mesmo.

–-Hum! Dores nas pernas? Região abdominal?

–-Nada.

–-Pode subir na balança, e é você quem vai me dizer sobre seu peso.

O celular da Jane começou a tocar na bolsa.

–-É o Edd, posso atender?

–-Pode amor, mas vai lá fora.

Eu sai as deixando lá dentro, Jane estava na balança, ela tremia porque a médica pediu pra ela tirar o casaco, e lá dentro era bem branco e frio.

–-Oi Edd.

–-John, que bom que atendeu, seu celular está aqui, tem umas 100 ligações da Jas, tem algumas mensagens, parece que ela está ligando para o celular da Jane, mas vocês não atendem.

–-Não ouvi tocar, deve ser quando a gente estava no banho.

–-Hum banho juntos, hoje tem hein!

–-Edd deixa de ser besta, Jane está doente, to no hospital com ela.

–-Achei que ela só tivesse passado mal. Uma fodinha faria bem a ela.

–-Não, ela não está bem cara, estou preocupado.

–-Relaxa John, sua mulher é tão macrobiótica que no máximo ela comeu uma cenoura estragada.

–-Ela ta vomitando até as tripas, cara.

–-A Gladys quando estava gravida vomitava até as tripas, era nojento.

–-Edd liga para Jas e diz que está tudo bem, que estou com Jane no hospital.

–-John esquece, eu não falo com aquela doida, liga você. Ela ligou 100 vezes e não atendi, só li as mensagens que ela mandou aqui.

–-Edd, quebra essa pra mim.

–-John não, eu não falo com ela mais.

–-Tá bom, deixa pra lá, depois a Jane liga e fala com ela.

–-Melhor assim, aquela doida não gosta de você cara, evita falar com ela.

–-Eu sei Edd, agora preciso voltar, deixei Jane com a médica lá dentro e não senti confiança nela.

–-Do que está falando?

–-Que acho que a médica gostou da Jane.

–-Sério? Edd gargalhou.

–-Ela sorriu e vi os olhos dela brilharem quando entrou na sala.

–-Vai ver foi...

–-O pior é que foi pra Jane.

–-Ta falando porque ela não deu bola pra você?

–-Nada disso Edd, Jane é gostosa e anda rodeada de gente querendo come-la, não to afim de dividir minha mulher não.

–-A médica é gostosa?

–-Edd porque ta...

–-Leva as duas pra cama John, aproveita cara!

–-Não seria má ideia, já basta dividir a Jane com a Jas, imagina dividi-la na cama com outra mulher, não! Não tenho mais essa fantasia.

–-Seria excitante.

–-Edd vou desligar e voltar pra consulta.

–-Vai que as duas estão se pegando amigão, aproveita.

–-Cala a boca Edd.

Desliguei e guardei o celular no bolso e respirei fundo antes de entrar.

Jane abriu a porta no mesmo momento em que eu entraria na sala

–-Já?

–-Sim, intoxicação leve por alimento, ela me deu essa receita aqui e precisamos comprar esses remédios.

–-A gente para numa farmácia no caminho de volta. Toma aqui seu celular, liga pra Jas, parece que ela ligou umas 100 vezes para o meu celular que está com o Edd, ela está preocupada com você.

–-Ah depois eu ligo, não estou afim de falar com ela agora.

–-Algum problema?

–-Não amor, só quero esquecer do trabalho por uns dias, relaxar, ficarem casa, nada de trabalho.

–-Duvido.

–-John por favor, hoje não, tá? Não estou mentindo, eu estou precisando de férias, preciso descansar.

–-Hum!

–-Não seja cínico comigo, amor.

–-Quer comer alguma coisa em algum lugar?

–-Vamos pra casa, a gente come alguma coisa lá.

–-Então ta.

Jane

Quando entramos no consultório eu estava tensa e queria algo para me apoiar, segurei forte na mão de John, mas ele não segurou de volta, ele estava me deixando bem brava com esse gelo idiota.

A doutora entrou, eu me senti incomodada porque ela era muito bonita e tenho a certeza de que John não tiraria os olhos dela.

–-Senhor Smith, Senhora Smith, qual o problema com vocês?

–-Eu passei mal ontem e hoje Doutora, tive mal estar e cheguei ao vômito.

–-Mais algum sintoma, algo que tenha notado, alguma mudança no seu corpo? Nos hábitos?

Sim tem um sintoma, ciúme! --Não, nada de anormal, eu acredito que seja algo alimentar porque só me sinto mal depois que como.

–-Quantas vezes já vomitou?

–-Almoço e jantar de ontem, almoço de hoje.

–-Vomitou duas vezes ontem, Jane? Não me falou nada.

Droga, ainda por cima não falei nada para o John sobre ontem. --Eu me esqueci amor.

–-Você sente cansaço, dor no corpo? A médica continuou sem dar espaço para uma DR.

–-Nada Doutora.

–-Minha mulher anda com bastante sono e muito ansiosa.

–-John, não estou dormindo mais que o normal e não estou ansiosa coisa nenhuma. Do que John estava falando?

–-Algum ganho de peso? A médica se manteve firme mesmo com nosso pequeno conflito.

–-Não que eu tenha notado.

–-Senhora Smith, pode por favor tirar os sapatos e o casaco pra gente dar uma olhada no peso? Vou também fazer um exame rápido nas suas mamas a procura de nódulos ou algo anormal. Os preventivos estão em dia?

Como eu queria que John saísse, por mais que ela fosse médica, eu teria vergonha dela me tocando perto dele.--Tenho um marcado na semana que vem, os demais estão todos normais.

–-Ótimo, são raras as mulheres que vem com todos os exames em dia, isso mostra o quanto você cuida da sua saúde. Algum corrimento ou cheiro?

–-Meu xixi tá meio forte, mas acredito que seja por conta de eu estar no período fértil.

–-Faz tabela?

–-Eu marco por uma questão de organização mesmo.

–-Hum! Dores nas pernas? Região abdominal?

–-Nada.

–-Pode subir na balança, e é você quem vai me dizer sobre seu peso.

Meu celular começou a tocar, por um momento me gelei toda por John ter de abrir minha bolsa.

–-É o Edd, posso atender?

–-Pode amor, mas vai lá fora. Graças a Deus, me livrei dessa.

Eu pesei e tinha emagrecido uns 3 quilos, não fiquei nem um pouco preocupada, porque como estava vomitando e não tinha comido nada por isso deveria estar mais magra.

–-Senhora Smith deita na maca, tira a camiseta e o sutien por favor.

Eu fiquei tensa, mas não era a primeira vez que fazia aquilo

–-Não sinto nada de errado nos seios, pode se vestir.

–-O que eu tenho afinal, Doutora?

–-Jane se lembra da data da sua última menstruação?

–-Era sobre isso que queria falar, marquei a ginecologista porque faz dois meses que tá atrasada.

–-Jane, eu não vejo nada errado com você, todos esses sintomas são de uma gravidez.

Quando ela terminou a frase senti minhas mãos gelarem. –-O que? Do que está falando?

–-Atraso de menstruação, vômito, ansiedade, sono. Se sente mais excitada, mais libido?

Ela estava muito errada, era impossível, eu e John raramente transamos. –-Eu não estou grávida, eu até emagreci.

–-A perda de peso no início é normal.

–-Tá errado, eu não... Não posso ter um bebê.

–-Vamos fazer um exame de sangue pra confirmar. Ela pegou um bloco de pedido de exame.

–-Não precisa Doutora, eu só quero remédios para parar o vômito.

–-Eu posso te dar algo para amenizar, mas não vão parar até seu organismo se acostumar com o feto.

–-Eu não estou grávida, eu tomo pílula.

–-Que pílula você usa?

–-Eu não me lembro o nome, é...

–-Jane, não precisa mentir para mim, uma mulher organizada como você não se esqueceria o nome da pílula que usa, você não está tomando, não é?

–-Você pode, por favor, fazer a receita? Não me sinto muito bem, quero ir pra casa.

–-Tudo bem Jane, uma hora ou outra vai descobrir a gravidez mesmo.

Eu me sentia mal, estava ficando sufocada e doida pra sair dali, não podia ser, não agora! Ela fez a receita e me entregou.

–-Tem o telefone da minha casa ai nessa ficha, se ligar e falar algo para o meu marido, você vai perder seu registro médico, ouviu?

–-Se quer esconder, tudo bem Sra. Smith. Só não vai conseguir fazer isso muito tempo, logo seu marido vai notar sua barriga crescendo, os seios fartos, essas coisas.

–-Eu não estou grávida.

Sai sem agradecer, e ainda dei de cara com John na porta, eu estava nervosa, será que ele percebeu alguma coisa?

Insisti com a história da intoxicação, afinal era o que eu tinha, mas a palavra gravidez saindo da boca da médica ecoava na minha cabeça.

Decidimos não comer na rua porque eu ia acabar passando mais mal, então compramos os remédios, passamos no escritório dele para pegar o celular e fomos para casa.

Fiz algumas torradas para mim e para o John, ele fez leite com chocolate cremoso. Eu fui jogar o pacote de pão no lixo e encontrei a caixinha de cookies lá dentro, parece que John desistiu de me dar. Eu fiquei chateada porque isso nunca tinha acontecido, nunca tinha achado nenhum presente no lixo, mesmo que fosse apenas o cookies da padaria.

Eu virei e fitei o rosto dele, por um momento queria lhe dar um tapa na cara por ter jogado o meu presente fora, mas me lembrei que tinha machucado o nariz dele e como o conheço bem, tenho a certeza de que ele estava bem mais furioso após sair do banheiro com a cara inchada de manhã.

Eu queria conversar com ele, pedir desculpas por tê-lo machucado, mas eu estava bolada demais com o papo da médica. Eu comi em silêncio. John não tirou os olhos de mim, acho que queria se certificar de que eu estava comendo.

–-Amor, não estou afim de cozinhar hoje, a gente pode pedi alguma coisa e tomar um vinho, usar a sala de lareira? Faz tempo que a gente não fica lá.

–-Tô afim de dormir cedo.

–-Amanhã é sábado querido, pode dormir até mais tarde. Que mal tem em passar um pouco do horário hoje?

–-Eu vou dormir cedo, pode ficar o tempo que quiser na sala de lareira.

–-Então tá.

Eu terminei de comer as torradas de cabeça baixa, não queria olhar para ele com meus olhos de arrependimento para ele não perceber o quanto eu estava me sentindo mal. Ele comeu também em silêncio, mexendo no celular, não se importando comigo. Será que ele estava fingindo não se importar? Eu já não sabia, andei pisando tanto na bola que talvez ele não tivesse motivo nenhum para se importar comigo. Mas porque eu to pensando assim? Afinal, ele é só um disfarce, não é o que todas dizem? Mas e você Jane, acha que ele é só um disfarce?

Eu levantei, deixei a louça na pia, fiquei por algum tempo segurando na bancada e olhando pro nada, quando percebi que fiquei tempo demais subi para o quarto. Tirei os casacos pesados, à calça e vesti moletom, queria me sentir o mais confortável possível, soltei o cabelo, eu estava meio desgrenhada, por isso dei uma penteada e depois fiz um coque frouxo, peguei uma cobertinha e desci, queria ver tv na sala.

Dei uma espiada e John continuava na mesa mexendo no celular. Eu fui pra sala, liguei a tv e me deitei me cobrindo o máximo com o cobertor. Todos os canais pareciam não fazer nenhum sentido, para não parecer que estava diferente, acabei deixando num filme. Eu não estava prestando atenção, estava longe, pensando no que a médica tinha tido, que talvez eu estivesse grávida.

Eu estava com o ciclo atrasado dois meses, e como ela deduziu, eu não tomo remédio, eu até tomava quando as coisas estavam quentes no casamento, mas no último ano esfriaram tanto que não achava necessidade. Quando rolava sexo eu tomava pílula do dia seguinte e estava tudo certo. Fiquei lembrando quais foram às vezes que eu e John transamos nos últimos dois meses, prevendo a possibilidade de eu estar grávida e realmente houve uma ou duas no mês passado em que as coisas esquentaram e eu não me lembro de ter tomado pílula e nunca usamos camisinha. Eu tremi porque realmente tinha a possibilidade da gravidez.

John passou pela sala e quando me viu deitada veio até mim, mas não deitou comigo, se sentou na poltrona e colocou os pés na mesa de centro, eu odiava isso, mas não estava num bom momento nem para reclamar.

–-Ta se sentindo bem?

Acenei com a cabeça.

–-Precisa de alguma coisa?

–-Estou bem, o que vai querer pedir para o jantar?

–-Não se preocupada com isso não, mais tarde a gente pensa nisso.

–-Tá. Voltei o rosto pra tv.

Ficamos em silêncio vendo tv, um não ousava olhar para o outro, nem por um momento, nada. Eu levantei e fui até o banheiro, eu estava apavorada, fiquei segurando o choro porque eu estava em choque. Fala com John sua burra! A voz na minha cabeça gritava me apavorando mais.

Lavei o rosto, me olhei de novo no espelho e sai, voltando para o sofá. John não estava mais lá.

Talvez fosse só um sonho. Me belisquei várias vezes, mas eu não acordava. Não é um sonho Jane!

Eu fechei os olhos e tentei pensar em coisas positivas, afinal era só uma criança, eu era casada e muito bem sucedida, talvez eu não tivesse competência para cuidar da criança, mas poderia dar as melhores babás do mundo, aliás, o melhor de tudo, mas, e o meu trabalho? Como eu iria para as missões com uma barriga enorme?

John

Comemos quietos, eu fiquei observando se ela realmente estava comendo, porque sempre que ela está doente tenho de faze-la comer a força.

Não queria papo, mas eu sentia que ela ia querer conversar a qualquer momento. Dito e feito!

–-Amor, não estou afim de cozinhar hoje, a gente pode pedi alguma coisa e tomar um vinho, usar a sala de lareira? Faz tempo que a gente não fica lá.

Claro meu amor, a gente pode dormir lá, bem abraçadinho. Que tal? Foi isso que me veio à cabeça para responder, mas eu não podia, ainda estava zangado. --Tô afim de dormir cedo.

–-Amanhã é sábado querido, pode dormir até mais tarde. Que mal tem em passar um pouco do horário hoje?

–-Eu vou dormir cedo, pode ficar o tempo que quiser na sala de lareira.

Mas tomara que vá logo pra cama, fica tudo tão vazio sem você amor, eu queria estar bem e dizer.

–-Então tá. Respondeu com a fisionomia triste, acho que ela não esperava uma resposta tão ríspida, será que eu estava exagerando?

Continuamos comendo, ela se levantou e foi até a cozinha onde ficou por algum tempo, dei uma espiada e a vi encostada na bancada, ela parecia muito triste e me senti culpado, Jane estava tão perdida quanto eu, a única diferença é que ela se apoiava no trabalho, enquanto eu tentava de alguma forma desesperadora fazer as coisas melhorarem, e de alguma forma acho que esse gelo pode piorar as coisas.

Voltei pra mesa e logo ela passou por mim, provavelmente indo para o quarto, parecia transtornada, será que a magoei? Não era isso que eu queria!

Fiquei espiando até ela descer para a sala, vestida com um moletom cinza que eu adorava e com um cobertor nas mãos. Eu resolvi dar um tempo e depois ir até ela.

Me sentei na poltrona e fiquei vendo tv, esperava que ela falasse, mas como não disse nada eu dei o primeiro passo e perguntei se ela estava bem, mas ela estava vaga nas respostas, eu há tinha magoado.

Após mais silêncio ela levantou e saiu, provavelmente para o banheiro, ela bateu a porta e fui ver o que estava havendo. Fiquei escutando do lado de fora. Tinha silêncio demais lá dentro. Eu subi as escadas até o quarto, me sentei na cama pensando no que faria. Tirei a roupa de frio e fiquei de cuecas sentindo o frio um bom tempo, tremer me ajuda a pensar. Resolvi descer e sentar ao lado dela no sofá, ficar quieto, sem muito papo, mas ficar ao lado dela. Ela está doente e vai vê só está carente. Coloquei uma camiseta e uma calça de moletom e desci. Ela dormia, mas seu rosto era triste, como eu não via há muito tempo. Estava encolhida e tremia um pouco, será que era de frio? Mas estava tão quente lá dentro, moletom e coberta, será que é frio? Sentei perto do pé dela e levantei a coberta revelando seus pés frios e descalços, como sempre ela estava sem meias, Jane odeia meias. Eu toquei e seus pés pareciam duas pedras de gelo. Quando puxei sua perna para meu colo ela acordou, meio assustada e me olhando feio.

–-Calma pedrinha de gelo.

–-Assustei. Ela tinha a voz rouca.

–-Só estiquei suas pernas, pode voltar a dormir se quiser.

–-Meu corpo dói.

–-Também, dormindo encolhidinha e tremendo de frio.

–-Não estou sentindo frio.

–-Não é o que diz seu pé, porque não calça uma meia?

–-Odeio meias amor.

–-Eu sei, mas eu gosto de insistir. Fiquei acariciando seus pés frios e suas pernas por dentro do moletom.

Ela ficou me olhando por um tempo, seus olhos eram magnéticos e senti vontade de pega-la pra mim como antes.

Seus olhos verdes enormes me olharam com mais atenção, estavam um pouco marejados, mas ela apertava os lábios e fez um movimento como se engolisse o choro.

Eu não queria que ela pedisse desculpas, porque eu sabia que com ela me olhando daquele jeito, seria difícil não abraçá-la e beijar aquela boca maravilhosa e insaciável dela.

Antes que ela pudesse dizer alguma coisa eu voltei o rosto para a tv e mudei também o foco dela, com certeza ela pediria desculpas, só pelo rosto de desespero, já que ela nunca sabia por onde começar.

Ficamos por um tempo lá vendo TV, eu mantive meus olhos sempre pra frente como se prestasse atenção no filme, mas eu sabia que ela me olhava algumas vezes, mas não era porque queria algo mais do que uma massagem no pé, eu queria fazer sexo com ela, aliás, eu sempre quero, mas ela se senta culpada pelo belo machucado que eu ganhei na boca e no nariz, por isso olha e depois para de olhar, ela sente vergonha, mas o pior é não se arrepender.

Já escurecia, resolvemos pedir um yakissoba e tomar um vinho. Acendi a lareira e nos sentamos no sofá. Há quanto tempo não fazíamos isso?

Comíamos em silêncio, eu prestava atenção nela enquanto seus olhos fitavam o fogo, tudo parecia em paz até Jane colocar a caixinha de comida na mesa de centro e subir para o quarto, subiu correndo, parecia eufórica, mas acho que devia estar passando mal, corri atrás.

–-Ta tudo bem? Ela procurava alguma coisa numa gaveta do closet.

–-Só vim pegar o iPod pra gente escutar música. Ela sorriu me mostrando o que tinha nas mãos.

–-Nossa, me assustou, achei que estivesse passando mal de novo.

–-Já tomei os remédios, não vou passar mal de novo.

–-Não faz mais isso. Esse é o iPod de quando namorávamos?

Ela acenou com a cabeça e desceu, eu fiquei pra trás tentando lembrar da briga que tivemos, aliás, me lembrando de quando ela brigou comigo dizendo que eu tinha perdido nosso iPod, até eu estava me achando culpado, já que ela nunca perde uma agulha e eu vivo perdendo minhas coisas.

Desci em seguida, ela mexia na lista de músicas e sorria. Eu sabia muito bem que música ela estava procurando, dizíamos ser nossa música, sei lá, na época éramos dois bobos apaixonados e tínhamos até música tema. Meu Deus, como éramos jovens.

Jane

Acho que eu adormeci, porque levei um mega susto quando John esticou minhas pernas no colo dele. Ele ficou acariciando meu pé, trocamos algumas palavras, mas nada de profundida, nada que nos levasse a reconciliação e muito menos a um sexo selvagem.

Vimos o filme todo que passava, ele prestava atenção enquanto eu só pensava em como meu dia tinha sido, em como aquela maldita médica estragou tudo. É Jane, fácil culpas a médica quando você não se cuida! Eu estava começando a odiar meu subconsciente me falando verdades na cabeça.

Quando o filme acabou já era noite, e hora do jantar. Eu escolhi yakissoba porque John adora e porque eu estava com vontade de comer. Uni o útil ao agradável, fiz um agradinho para o meu marido e confesso que foi muito bom quando ele sorriu por eu não ter brigado até a gente pedir pizza. A escolha da comida foi em paz, só espero que seja assim até depois que eu dormir.

Ele se ofereceu para acender a lareira, logo a comida chegou e ele como é cavalheiro, foi buscar e pagar.

Comemos quietos, mas eu estava feliz porque por um momento me esqueci do que vinha me maltratando o pensamento.

Porque não escutar música? Eu perguntei para mim mesmo e depois sai correndo a procura do iPod que John me deu no inicio do namoro. Ele veio atrás achando que eu tinha corrido porque eu estava passando mal, até parece, não tem nada de errado comigo, nadinha, estou ótima! Eu bem que tentava pensar assim.

Desci assim que achei e sempre que olhava pra ele me lembrava da briga feia que tive com John achando que ele tivesse o perdido, quando na verdade estava numa gaveta da iTemp. Eu gargalhei enquanto descia as escadas e John veio logo atrás ainda com uma cara de indignação pelo iPod ter lhe rendido a culpa.

Eu fiquei procurando nosso cantor favorito, Jack Johnson, parece clichê e infantil, mas quando éramos jovens tínhamos até uma música tema, que era a que escutávamos para namorar. Todas as outras ouvíamos limpando o apartamento que moramos até comprar a casa, ele escutava para trabalhar nos projetos e eu para cozinhar, eram músicas que embalavam nossos momentos juntos. Sempre que queria me levar para a cama ele colocava Better Together, eu só olhava e pulava no colo dele, era como uma regra: nossa música = a sexo.

Não durou muito tempo, mas foi muito bom quando éramos tão românticos que dava tédio em quem estivesse envolta.

–-Inventei uma história de que íamos viajar, só vou para o escritório na quinta.

–-Bom que você descansa.

–-Quem sabe a gente não possa viajar de verdade?

–-Não Jane, eu tenho projeto na semana quem vem, não posso faltar.

–-Nem se o Edd...

–-Jane, não! Tinha de ter me falado antes.

–-Não tem problema, podemos marcar pra depois.

–-Isso, quando você resolver tirar umas férias de verdade à gente viaja.

–-Você sabe que não depende só de mim.

–-Ah sem essa Jane, já faz uns 3 anos que você trabalha direto, não aguento mais esse lance de você não ter mais folga, isso acaba com a gente. E você sabe que é verdade.

–-John nós até viajamos no ano passado.

–-Jane ficamos só um final de semana fora, e voltamos mais cedo no segunda porque você tinha de ir para o escritório.

–-John eu...

–-To de saco cheio Jane.

–-Desculpa amor, prometo tirar férias o quanto antes pra gente fazer uma viagem de verdade.

–-Não promete as coisas Jane, você nunca cumpre e sabe disso.

–-Quando você se casou comigo sabia que era assim, sabe que eu posso ser chamada a qualquer hora do dia ou da noite, no feriado e final de semana.

–-Eu sei, só que eu sei também que está te fazendo mal, me importo com você e to cansado de te ver chegar sempre exausta em casa, com a maior cara de cansada, me da desanimo de te convidar para jantar fora, ou sei lá, ir ao cinema, você sempre recusa e dorme cedo.

–-John, estou trabalhando demais, eu admito

–-Jane, estou cansado de estar em casa com você e ser como se você não estivesse comigo, to cansado de jantar com você e sempre ter a sensação de que se eu te olhar você vai explodir de estresse, estou cansado de dormir na cama com você e ter sempre medo de te abraçar e estar te incomodando...

–-Eu já entendi, John...

–-Cansei da sua ausência, meu amor.

Quando John me disse aquilo foi o mesmo que levar um soco, na verdade, eu preferia um soco. Era difícil, nós nunca nos abríamos e eu senti que ele tinha acabado de se esforçar ao máximo.

–-Amor, me desculpa por tudo, não me ignora não, não quero dormir brigada com você, eu preciso tanto de você. Eu o agarrei, beijando seu rosto, mas ele me impediu de continuar.

–-Não, você não precisa de mim. Jane, me diz uma única vez que trocou seu trabalho por mim? Uma única vez em que me colocou antes da porra da sua agencia?

–-John eu...

–-Me fala Jane, me fala uma única vez em que fui sua primeira escolha, uma única fez em que me colocou a frente de tudo e de todos, e te juro que vamos esquecer que conversamos sobre isso nesse tom horrível. Vamos, pensa amor! To doido para te agarrar e arrancar essa sua roupa aqui nesse tapete, em frente esse fogo ardendo.

Eu fiquei quieta, fechei os olhos tentando pensar em algo para dizer, meus olhos se encheram de lágrimas e eu não tinha nada a dizer.

–-Não vai dizer nada, não é mesmo? Não tem como dizer algo que não existe.

Ele olhou bem no fundo dos meus olhos, como se esperasse que eu falasse algo e acabássemos bem, na cama, nos amando. Senti todo meu corpo inundado por um sentimento estranho, era uma sensação de vazio e oco, mas ao mesmo tempo era quente. Eu baixei a cabeça e negativei, já não segurei o choro. Ele subiu para o quarto batendo a porta.

Eu não entendia muito bem o que eu sentia, nunca me abri com ninguém. Jas é uma grande amiga, mas ela odeia John e sempre me incentiva a mata-lo, como falar que na verdade eu o amo? Mas nem eu tenho certeza disso, talvez o matando eu soubesse. E se eu contasse do meu trabalho? Talvez deixasse as coisas bem mais quentes e nos unisse, mas talvez ele fosse embora querendo distância da minha loucura.

Subi correndo atrás dele, ele entrou no nosso quarto e eu o segui onde ele foi, tentando abraça-lo, beija-lo, mas ele me afastava e quando eu consegui beija-lo, foi estranho, era vazio e frio.

–-Jane, por favor, eu preciso ficar um pouquinho sozinho, por favor!

–-Não faz assim...

–-Por favor.

–-Me da só um beijo amor, por favor, só um.

Ele estava mais calmo que eu, me olhou bem nos olhos e eu soube que não ganharia um beijo. Baixei a cabeça e sai, fechando a porta do quarto o deixando sozinho como ele pediu, eu também fiquei sozinha, e eu não queria ficar sozinha.

Desci e matei a garrafa de vinho, mas ainda não me senti anestesiada e muito menos esqueci o quanto meu casamento era uma droga. Parti pra algo mais forte, ataquei a garrafa de whisky do John, bebi tanto que comecei a chorar e acho que só parei quando o sono bateu e deitei no chão, bem em frente a lareira.


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Notas finais do capítulo

Xo Jolies



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