Nos dias que se seguiram, eu estive cada segundo do meu dia acompanhada. Hank, Charles, Logan, Peter e Ororo (que também foram avisados) estavam se revezando para ficar de olho em mim. Me senti em um reality e isso não foi lá muito legal.

Em um raro momento de solidão, aproveitei para caminhar livremente pelo lugar. Avisei mentalmente à Charles que precisava ficar um pouco sozinha e que não iria sair da casa. Acho que ele repassou o recado, porque ninguém veio atrás de mim.

Andava sem rumo, apenas observando os quadros e todo o estilo que compunha a enorme mansão. Quando me deparei, estava de frente a uma escada que nunca vira antes. Subi e acabei descobrindo um enorme sótão, cheio de coisas empoeiradas e uma janela que iluminava boa parte do local.

– Acho que estão te procurando, Diah. – a voz do Anjo me causou um arrepio por toda a espinha, mas ele não tinha sido rude – Desculpe, acho que te assustei. – ele estava sendo sincero.

– Tud-tudo bem. – sorri sem graça e coloquei as mãos no bolso – Disse que estão me procurando?

– Sim... Ouvi Ororo dizer para o Fera que você tinha sumido. – ele deu um sorriso travesso – O que aprontou dessa vez?

– Não aprontei nada, esse é o pior. – sorri – Já avisei Charles que precisava ficar só, ele deve repassar o recado...

– É, eu meio que sei, sem querer, disso tudo. – ele caminhou de costas até a janela – Vem aqui.

– Pera. – parei no meio do caminho – Por que você está sendo legal comigo? – falei um tanto confusa, fazendo ele gargalhar. Sim, ele riu porque estava se divertindo.

– Me perdoe, por favor. – parou um instante e respirou – Sei que começamos de uma maneira completamente errada, mas o professor me ajudou a entender melhor tudo isso. Pode acreditar em mim? – ele era palhaço, e isso me divertia.

– Sim. – falei antes de um instante em silencio. Me aproximei da janela e perdi o folego. Era a vista mais linda do mundo – Uau.

– Lindo, né? Uma pena que ninguém costuma vir aqui, além de mim... E você, agora. – ele sorriu – E ah, ler a mente alheia não é confiar. – ele piscou pra mim.

–

Passei a tarde conversando com Anjo e ouvi suas histórias de infância. Era estranho como ele conseguia ser agradável. A luz do sol mostrava bem sua beleza e ele era realmente angelical. Seus cabelos dourados caiam bem em sua pele marmorizada e seus olhos azuis-gelo. Completamente diferente do que eu me lembrava daquele dia no jardim.

Ao anoitecer, Charles me chamou para a “área médica” que parecia mais um laboratório futurístico. Logan estava lá e não gostou de me ver com o Anjo.

– O que...? – ele tinha suas garras a mostra quando me puxou pra trás dele.

– Não se preocupe, Logan. – Charles disse ao lado dele. Anjo pedia calma.

– Ele tentou ataca-la. – ele falou entredentes, colocando suas garras para dentro – E se tentar mais uma vez, pode dizer adeus à suas asas.

– Não me garantiria se fosse você, amigo. – Anjo piscou com um sorriso sarcástico no rosto. Eu bufei, pois via na mente dos dois no que ia resultar: luta.

– Quer saber? Acho que a sala está cheia demais. Por que vocês dois não vão brincar lá no jardim, hun? – falei, dando as costas para os três, examinando o local.

– Acho que Diah tem razão. – Charles disse e os dois saíram contrariados – Por onde começamos?

– Você é quem manda. – disse ao me sentar na maca, sorrindo e piscando para ele.

Então me deitei, e ele usou seus poderes para explorar meu cérebro. Viu que eu não conseguia acessar algumas memórias da minha mãe. Pra mim, era como se eu tivesse me esquecido de tudo o que já vivera, mas soubesse que está tudo ali na minha mente.

Ficamos ali por algumas horas, mas aquela cena acabou desencadeando meus típicos ataques. Emma estava no mesmo lugar e mesma situação que eu, com Charles vasculhando seu cérebro.

– Você tem certeza que pode me ajudar? – ela disse.

– Acho que sim. Consegui ajudar outros com seus poderes, posso ajudar você também. – ele sorriu amorosamente, dando um beijo na testa dela.

Acordei com Charles me olhando assustado. Ele achava que tinha feito algo errado e estava com medo de me ferir. Me sentei e sorri para ele, dizendo mentalmente que estava tudo bem. O mostrei o que tinha visto.

“Acho que certas situações liberam as memórias de situações similares que Emma passou.” ele pensou.

– É, eu tinha pensado isso também... – falei, distraída ao me levantar e calçar meu coturno – Obrigada, de qualquer maneira, - dei um beijo em sua bochecha- pai. – e ele sorriu.

–

A convivência com Logan e Anjo passou a ser insuportável por ambos se desafiarem o tempo inteiro. Eu sabia que o moreno não tinha a maior das paciências e era ranzinza por natureza, mas um dos esportes preferidos de Anjo virou ser minha sombra, principalmente quando Logan estava perto.

Meu único momento de paz era quando estava em meu quarto com as meninas. Me sentia uma garota comum com tantos comentários ácidos de adolescentes da idade delas. Sim, elas são dois ou três anos mais novas que eu, mas isso não é lá um problema.