“Hey, Lukas, você quer sair comigo?”

“Não.”

Isso acontecia todo santo dia, desde que os dois se conheceram, de um modo não muito comum: era natal, e sobrou um peru congelado na loja. Mathias ficou encarregado de levá-lo para Berwald, seu amigo – ou ao menos o dinamarquês o considerava um amigo. Já Lukas queria levá-lo para jantar com seu irmão menor, Emil. Os dois pareciam brincar de cabo de guerra, até que foram expulsos da loja. O norueguês não se esqueceria disso tão cedo, motivo para não aceitar os insistentes pedidos do outro.

“Aah, vamos lá, Lukas! Eu sei que você gosta de mim!” disse o dinamarquês, com um sorriso de canto. Lukas virou os olhos.

“Não, eu odeio você.” Respondeu, coisa que não parecia ajudar muito.

“Não odeia.”

“Odeio.”

“Não odeia não.”

“Odeio.’

“Aah, como você diz não pra esse corpo lindo e saradão, Lukas? Vamos láa...”

“Não.”

E continuou do mesmo jeito até Dezembro de um ano depois. Na véspera de natal, ambos parcialmente enterrados na neve, Lukas por causa das – agressivas – tentativas de Mathias de acertá-lo com neve, e este por “diversão”.

“Ei..tem certeza que não quer considerar aquele encontro agora?” perguntou Mathias, afastando a neve que caía do nariz, que já começava a ficar vermelho de frio. Desta vez, porém, não obteve resposta. O dinamarquês riu abafado, olhando para o norueguês com uma expressão brincalhona. “Luuukas...e o encontro?”

Lukas não respondeu. Estava corado, ou pelo frio, ou pela expressão já bastante estranha do outro. Mathias riu, e se aproximou do outro, passando um braço por suas costas.

“Luukaaaaas...vamos láaa...encontro?”

“....” o norueguês corou mais.

“Isso é seu sim, Luquinha?” perguntou o outro, se inclinando contra Lukas, que não parecia fazer nada.

“...pode ser.”

“Aha! Eu sabia que ninguém resiste ao meu tanquinho maravilho-“

“Acho que mudei de ideia.”

“NÃO! Lukas, você quer mesmo ir? Mesmo?” perguntou Mathias, um tanto desesperado. Lukas suspirou, e fez que sim com a cabeça. Como “recompensa”, ganhou um forte abraço do outro, quase perdendo o ar.

“M-menos, seu idiota! Isso dói e- MATHIAS! SOLTA!” Gritou, se debatendo pra fora do abraço, mas Mathias não soltaria tão cedo, esfregando o rosto contra o do outro.

“Aah, você é tão fofo quando fica irritado...~” disse o dinamarquês, rindo.

“DESSE JEITO EU DESISTO!” Ameaçou Lukas, o que fez com que Mathias o soltasse imediatamente. “O-obrigado.”

“Tudo se você vier! Vamos na minha casa mesmo, okay?”

“...na sua casa? Mathias, você teve um ano. É sério?” perguntou Lukas, com uma expressão nem incrédula, nem conformada. Era mais um olhar de desaprovação.

“É!” Mathias não parecia conseguir ler a atmosfera nem que ela acertasse sua cara com um soco.

“...bom, eu já aceitei..”

“Aceitou mesmo. Eu gravei.” Disse o dinamarquês, rindo, algo que provocou um susto em Lukas.

“Você..O QUÊ?”

“Gravei! Vou me lembrar disso pra sempre!”

“...deleta.”

“Não!”

“Deleta. Agora.”

Mathias fez que não com a cabeça, e Lukas partiu pra cima do outro, fazendo um buraco na neve e quase rolando rua abaixo.

“DELETA!”

“NUNCA!”

Quando entardeceu, e Lukas finalmente conseguiu deletar o áudio do celular do dinamarquês, Mathia acendeu a lareira, e preparou os melhores biscoitos que conseguia. Blueberry e açúcar.

Sua sala de estar também fora especialmente organizada, coisa que não acontecia muito. Era quase sempre uma bagunça de papéis, canetas, peças de lego e coisas de cabelo. A mesa de centro havia sido re-colocada no lugar, e a TV, que tinha a tela quebrada por um acidente com o Wii de um amigo finlandês bastante competitivo, tinha sido ao menos colocada na parede novamente, em cima da lareira. Esta tinha, enfileiradas, várias fotos de lugares verdes com colinas, fotos do próprio Mathias quando menor, e agora, uma foto de Lukas.

A campainha tocou, e Mathias correu para atender, cheio de expectativa.

“Lukas! Entra aí!” Exclamou, quase empurrando o outro para dentro. O norueguês ergueu a sobrancelha. Não esperava que a casa fosse tão..organizada. Ele provavelmente só arrumou agora..pra...pra mim.

“Pode olhar! A-ah, é..não ligue a TV. Ela não é lá muito estável..desculpa, não tinham uma melhor pra eu comprar hoje. Sério, eu tentei online. Disseram que “o prazo é de 2 dias” e essas coisas aí.” Disse Mathias, pegando os biscoitos do forno, e terminando de colocar a geléia em cima deles. Só o vendo trabalhar tanto, Lukas sentiu-se corar. Ele realmente faria isso tudo pra mim?

“Aqui estão. Pode sentar no sofá, é confortável! Bem, Berwald me disse isso quando eu comprei. Eu acho bom. V-você decide.” Disse o dinamarquês, um tanto mais atrapalhado do que o comum. Não viu, mas Lukas abriu um sorrisinho discreto. O sofá não era “tão ruim assim”, na opinião do menor.

Depois de tirar todos o biscoitos do forno e ajeitá-los num prato, Mathias se juntou ao outro no sofá, fechando a porta da casa. Tinha trazido um cobertor, daqueles de flanela, bem quentinho. Se enrolou todo nele, até que notou o norueguês tremendo.

“Ah! Aqui, pode..pode vir também.” Convidou, com um sorriso largo no rosto. Lukas corou, e hesitou um pouco, mas se juntou ao outro. Só porque está muito frio. “Já provou os biscoitos? São amanteigados com geléia! Quentinhos, eu..eu acabei de tirar do forno.” Mathias pegou um biscoito para si, e comeu com um sorriso, tentando convencer o outro a pegar um também. Funcionou, pois foi isso que aconteceu.

“Ficaram..”

“Ruins? Péssimos? Melados? Oleosos? Me fala logo, vai me matar de ansiedade!” Interrompeu o dinamarquês que se segurava para não morder as unhas.

“Não, hã..eu..eu gostei.” Disse Lukas, com a mesma expressão...inexpressiva. Mathias, porém, sorriu largamente ao ouvir isso, e o abraçou.

“Muito, muito, muuuito obrigado! E-eu..eu não sabia se você gostava de biscoitos. Só..assumi..ah, droga, eu deveria ter feito café..” resmungou o dinamarquês, se soltando do outro. Lukas não admitiria, mas se sentiu um pouco triste quando isso aconteceu.

“N-não tem problema.” Respondeu, e corou. Droga, por que eu tive que gaguejar? Não posso dar muita corda pra ele, ou vai achar que..que estou..a fim dele..e eu claramente não estou. Nunca.

Mathias deu de ombros a respeito do comentário do outro, ainda um pouco desanimado, mas pegou outro biscoito. Por deus, ele não vê meu rosto? Bem, eu devia estar feliz que ele não reparou como estou vermelho.. pensou o norueguês, engolindo em seco mais alto do que esperava. Mathias virou-se.

“Lukas? Alguma coisa errada? Ficaram secos sem café, não foi?..”

“N-não!” o norueguês interviu rápido “Ficaram ótimos, é q-que...”

“É que?” indagou Mathias, inclinando-se para ouvir. Ah, ótimo, agora minhas bochechas parecem uma bola de árvore de natal. Parabéns, Lukas. Pensou o menor, desviando o olhar.

“É que..eu..hã..ah, como consegue esse cabelo?” perguntou, se esquivando do assunto. Mathias sorriu.

“Estou feliz que você perguntou! Bem, geralmente, uso L’oreal Paris, mas às vezes..” começou o dinamarquês, e Lukas voltou a desviar o olhar. Já posso ver que isso vai durar um pouco...ah, mas..ele fica tão..fofo..falando sobre o que ele gosta..PARE DE PENSAR ESSAS COISAS, BONDEVIK!

“Hã..Mat?” Perguntou o norueguês, meio por acidente. Xingou em silêncio. Não, não era pra fazer isso!

“Hm?”

“Você..hã..tem alguma coisa que a gente possa fazer?” perguntou, erguendo a sobrancelha. O que passou pela cabeça de Mathias o fez corar muito, coisa que surpreendeu Lukas.

“E-eu..é..bem..AH! Bem, eu..c-coleciono LEGO..” disse, ainda corado. O norueguês não sabia bem se estranhava, ou pedia pra ver. Fez o último.

Por um bom tempo, ficaram construindo casas de LEGO, silenciosamente, apesar de que ambos sentiam o coração disparar quando as mãos se encontravam por acidente. Ele é tão..tão bonito quando fica dedicado.. pensava Lukas, e o dinamarquês pensava o mesmo.

“Hey, hã..Lukas?”

“Sim?”

Mathias não disse nada, apenas o beijou timidamente na testa. O norueguês parecia prestes a explodir, quão vermelho ficara. Pareço uma garota adolescente.. pensou, envergonhado.

“O que foi isso?!” perguntou, soando mais indignado do que queria. Bosta.

“H-hã?! Eu só..só..m-me desculpe, eu..” gaguejou Mathias, arrependido, mas antes que pudesse completar a frase, foi puxado pelo norueguês, que selou os lábios dos dois, vermelho.

“Você errou de lugar, idiota.” Disse, voltando à expressão imparcial, mas Mathias não deixou que morresse ali, tomando-o de volta para si e o beijando de um modo um tanto mais apaixonado.

“Acertei agora?”

Lukas fez que sim com a cabeça, atônito, e voltou a beijá-lo também. Quando precisaram de ar, tornaram a se separar, mas as testas ainda se tocavam.

“Sabe, não está mais tão frio assim..” resmungou o norueguês, que como resposta, ganhou uma risada do outro.

“Claro que não. Falei que eu era quente e sensual.”

“Mathias.”

“O quê?!”