Steven Rogers se localizava no saguão de treinamento dos mutantes. Havia se dado muito bem com a maioria. Ele e Delilah ficariam amanhã do dia seguinte, assim logo após o café iriam voltar para a SHIELD. Desde a noite em que ouvira a voz de Charles em sua mente, seus devaneios eram realizados frequentemente. Ele realmente gostava de Lila? Porque ficava tão nervoso quando estava com ela? Porque no dia do piquenique, sentiu imensa vontade de sentir seus lábios? Incrivelmente rosados, adicionou ao pensamento.

Ah, não! O que estava pensando?

Socou mais uma vez o saco de areia. Steve se encontrava em uma sala, um pouco isolada e não tão frequentada pelos alunos. Ouviu um impacto na parede do local. Era incrível como o loiro possuía o dom de socar com tanta força o saco, fazendo-o praticamente voar.

— Ei, vai com calma ai, rapaz. – sugeriu Logan,esgueirando-se no batente da porta, com o charuto na boca. Rogers se perguntava se aquilo não fazia mal a saúde do homem. – Tá bem irritadinho, não?

— Apenas pensativo. – ele respondeu.

— Ah, claro. – Rogers pode sentir um tom irônico em sua fala. - Enfim, apenas vim avisar que Delilah está te procurando. Parece que houve imprevistos e terão de ir embora mais cedo. Pelo jeito que eu vi ela, parece ser urgente.

Mal Logan atreveu terminar seu aviso e Steve saiu correndo. O que será que havia acontecido? Passou por um corredor onde Jean disse que Lila estaria em seu quarto. Assim que o loiro chegou ao local, abriu a maçaneta; deparou-se com a mulher já vestida com o macacão da SHIELD.

— Acho melhor vestir o uniforme, Capitão. – comentou, séria.

— Aconteceu algo? – perguntou, enquanto já retirava o escudo debaixo de cama, e pegava seu uniforme em uma mochila.

— Nate foi capturado por uns agentes da HIDRA, estava na Triskelion em Washington. Tony rastreou o local para onde estava sendo levado pela pulseira que mantém um código de rastreamento. Minha ideia. – Lila explicou. – Estão na Alemanha. Precisamos ir agora. Te espero lá fora, o jato deve ter chegado.

— Chego lá em dois minutos.

Delilah assim que fechou a porta, suspirou, segurando as lágrimas. Não falaria para Steve, nem a ninguém que recebera um vídeo de um número desconhecido. Nele, aparecia Nate amarrado em uma sala negra. Com cortes pelo corpo e o olho esquerdo arroxeado em volta. Ouvia-se apenas uma voz conhecida falando ao fundo, devidamente alegre e feliz pela dor dos outros. É só voltar para mim, Lilinha. Assim não machucarei seus amigos.

Respirou mais uma vez, contando até dez.

Entregou sua mochila ao agente que estava no jato, vendo Steve se aproximar; juntamente com o Professor Xavier e Logan.

— Precisa de ajuda? – perguntou Wolverine com um típico sorriso de canto.

— Obrigada, Logan, mas não precisa se preocupar. – ela forçou um sorriso que saiu bem convincente. – Professor, eu...

— Você consegue. A peça chave para realizar tudo o que pode, é esvaziar a mente. Faça isso e tudo dará certo. – Charles balançou a cabeça, positivamente.

Steve e Lila montaram no jato, partindo á Alemanha, onde os outros já estariam. Ela estava impaciente, tiquetaqueando a pontas dos dedos em suas próprias pernas. Sua cabeça estava um alvoroço. Nate estava em perigo, se acontecesse alguma coisa, se culparia pela vida toda. Devia isso a ele.

— Está escondendo algo. – manifestou-se Steve, que a observara desde a hora que entraram ali.

— Oquê? Não.

— Não perguntei, eu afirmei isso. Está preocupada, escondendo algo muito importante.

— Como pode ter tanta certeza assim? – arqueou a sobrancelha, começando a ficar irritada.

— Dá para ver nos seus olhos. Sua expressão. – respondeu, mantendo a expressão calma.

Ficou calada. Nenhum dos dois ousou dizer mais nenhuma palavra. Steve murmurou algo, que Lila não pode escutar. Ignorou aquilo, mordendo o lábio.

~♥~

— Estão atrasados, pararam no caminho para fazer um lanchinho?– disse Tony, assim que chegaram ao local marcado. Steve ignorou-o como sempre e Lila estava preocupada demais para respondê-lo. – Casalzinho TPM, ótimo! Digam o plano rápido, ou vou entrar ali sem vocês. Gosto de festas como essa.

— Não há nenhuma festa aqui, Stark. – comentou Delilah, um pouco afastada. – Mas ela vai começar daqui a pouco, quando entrarmos. Ei, onde está Banner?

Todos estavam no interior de uma floresta, na Alemanha, alguns metros deles havia um armazém abandonado, cercado de agentes armados em sua volta.

— O Brócolis decidiu ficar, ele tem se sentindo mal esses dias.

— Não temos nenhuma pista de onde o Agente Ryland pode estar. – assegurou Natasha.

— Thor foi mesmo embora? Ele seria tão útil nesse momento, queimando aqueles infelizes. – desabafou a morena, que apertou o celular que mantinha em mãos. Jogo-o para a ruiva. – Agora tem.

Todos olhavam para o vídeo perplexo, menos a Romanoff, ela já vira muitas coisas piores do que aquilo. Steve por um momento lançou um olhar para a Agente Rockwell, que apenas desviou o olhar, sabendo de que assunto se tratava.

— Pelo estilo do local, deve ser em um andar subsolo. – disse Clint. – É algo típico.

— Podemos entrar pelos fundos, enquanto estávamos vindo, percebi uma porta extensa por lá. Têm agentes, mas podemos passar sem problema. – falou, Steve.

— Pelos fundos? Podemos chegar com estilo pela frente, aniquilando todos. Quem concorda comigo? – Tony parecia bem animado.

— Steve tem razão, se entrarmos pelo fundo há maior chance de encontrarmos o subsolo primeiro. – Lila afirmou com a cabeça. – Você podem ir procurar Nate, eu preciso ir atrás de outra pessoa.

— Você é louca? Eles te pegam em cinco segundos, ele é um dos comandantes da HIDRA. – Barton rolou os olhos com a tamanha ingenuidade da garota.

— Ele quer a mim, Clint, não vocês. Não, Nate. Ninguém. – Lila parecia incomodada. – É a HIDRA, se algo acontecer com mais qualquer um de vocês...

— Somos a S.H.I.E.L.D, Lila. A HIDRA nos odeia. – Natasha tentou amenizar a tensão. – Hector está apenas utilizando uma ameaça idiota para conseguir o que quer; e você está indo na dele.

— Lila, odeio dizer isso mais, a ruiva tem razão. Somos uma equipe. Logicamente que a Barbie do Espaço não está aqui, porque deve estar penteando seu cabelo; no entanto somos aqueles que vão te ajudar. E porque eu gosto do Salsinha, - Tony soltou uma risada, fazendo bico em seguida. – Eu fiquei com um dó do Scooby, tadinho, deve estar sofrendo tanto nas mãos do Pirata nesse momento.

— Cala a boca, Stark. – Lila permitiu-se soltar uma risada. – Vamos logo.

Steve deu as coordenadas e guiou os outros para a parte dos fundos. Tony foi à frente, já disparando seus raios propulsores. Metido, pensou a agente. O resto foi logo depois. Clint disparava flechas a partir que mais agente iam se aproximando. Natasha, Steve e Lila continham-os através de luta corpo a corpo. Stark avisou-os pelo comunicador que já havia arrombado a porta, os três foram os primeiros a entrar.

Romanoff gesticulou para que a seguisse, assim se fez.

— Tem certeza que sabe para onde está indo, Nat? – questionou a outra agente.

— Eu espero que sim. – a ruiva sorriu zombeteira.

Steve arrombou outra porta. Ops! Parecem que alguns agentes não estavam esperando por isso. Delilah deixou os amigos para trás, indo á frente, era egoísta de sua parte? Sim, mas achava preciso. Seguiu para um corredor, onde encontrou apenas um agente que estava de costas. Manipulou a arma que continha em mãos, fazendo-o atirar nele próprio.

Passou por outro local, descendo as escadas.

— Delilah onde você está?— a voz de Steve soou em seu ouvido.

— Brincando de esconde- esconde, Picolé, não percebeu? – ironizou Tony.

—Estou bem, relaxa. Peguei um atalho para o subsolo, estou descendo umas escadas que não faço ideia onde vai dar.

— Nossa, que ótima notícia, Lila. Parabéns. – ouve o som de um rugido. – Ora, ora, parece que o verdão decidiu aparecer. Isso sim é boa notícia.

Delilah deu de cara com um novo corredor. Grande e extenso. Abaixou-se rapidamente, sentindo uma faca raspar seu ombro, caindo no chão.

— Droga! – resmungou, vendo um vulto negro de um homem de máscara. Levantou-se tirando a arma calibre nove no coldre da coxa. Seguiu-o a mesma direção do homem, que caminhava de costas. Atirou umas três vezes, em todas elas o homem foi rápido o bastante para desviá-las. Como era possível?

Aproximou-se iniciando uma luta corpo a corpo, ele dava terríveis golpes, enquanto ela desviava ou bloqueava-o com atenção. Era uma sincronia, não passava disso. O homem, cujo Lila observou que possuía uma braço biônico, deu-lhe uma rasteira; fazendo-a cair no chão. Ele voltou a caminhar e dessa vez Lila não decidiu segui-lo.

Levantou-se indo para outro lado do corredor, limitou-se a correr rapidamente, entrando em uma sala. Nate estava preso em uma maca com os braços e pernas em fechaduras de ferro, estava desacordado.

— Vamos, Nate. Acorda. – Lila dava leves tapas em seu rosto. – Idiota, filho da mãe! Vou ter que te dar aulas de como se defender de ataques surpresas, porque não é possível. Ryland!

— Vai perder tempo, Lilinha. – uma voz grossa vinha diretamente do batente da porta. Delilah novamente perdeu o foco, o corpo trêmulo, a boca seca. – Quando tempo, pequena. Sete anos passa tão rápido.

Ela limitou-se a se virar. O homem, que não passava de cinquenta e oito anos, o cabelos castanho já ficando grisalho; os olhos azuis sem brilho, a pele enrugada com o tempo. Mas o sorriso, o sorriso carregado de malícia. No pescoço uma grande cicatriz estendida. Fora feita por Lila, através de um estilete, na primeira tentativa de fugir.

Pegou seus braços finos e frágeis, apertando-os com tanta força, que talvez evitasse a passagem do fluxo de sangue. Não, Lila não conseguia esvaziar sua mente naquela hora. Pânico de vê-lo novamente era amedrontador. O homem segurou o pescoço da mulher, que ficava sem ar, quase fechando os olhos.

— Solta ela. – a melodia calma que emanava da voz de Steve, fez-a recobrar um pouco sua consciência.

O velho soltou uma gargalhada maléfica.

— Ah, minha Lilinha. Você me trocou por esse sujeito idiota?

— S-ste-v-ve. – balbuciou com dificuldade. O homem liberou-a, jogando-a no chão frio. – Sai daqui, Steve. Por favor.

— É melhor fazer o que ela está dizendo, garoto.

— Lila, não irei te deixar aqui. – Steve tentou se aproximar, mas foi barrado pelo homem. Tentou a luta corpo a corpo que ganhou fácil, afinal, o Capitão América tinha mais experiência do que um mero velho. Correu até a mulher. – Vamos sair daqui.

— Nate, - murmurou – Na maca.

Rogers quebrou as fendas de ferro com o forte impulso de seu escudo. Nathan que agora recobrava sua consciência desceu da maca com a ajuda do loiro. Lila observou um tiro passar raspando em sua perna. Virou-se abruptamente em direção à porta, o velho tinha uma arma em mãos apontando para ela.

— Se eu não posso tê-la, Lilinha, então ninguém também terá.

Nate pegou a arma que Lila mantinha em mãos, atirando no homem, que acertou praticamente em seu ombro. Ele rosnou de dor, levantando a arma novamente. Steve jogou seu escudo contra o velho, que caiu desacordado.

Ouviu-se um grande estrondo de trovões.

— Thor? – Steve perguntou pelo comunicador.

— É, o grandão loiro chegou. Lila?— questionou Natasha.

— Estou bem, estamos com Nate. – respondeu a agente.

— A Barbie está de brincadeira comigo, só pode!— resmungou Tony, mas todos estavam ocupados demais para perguntar.

— O que faremos com ele? – a morena olhava o velho com desprezo. – Não conseguiremos levá-lo.

— Deixe-o. – disse Steve. Delilah enrugou a testa. – Teremos outras oportunidades de levá-lo, a única coisa que precisamos focar agora é sair desde lugar.

— O Capitão tem razão, Lila. Vamos. – concordou Nate.

Ambos subiram as escadas, ofegantes. Lila interferiu seus passos, por certo tiro acertar sua coxa direita. Olhou para trás, encontrando-se com o homem mascarado que sumiu antes que Steve ou Ryland pudesse ver.

— Quem foi o desgraçado? – Nate perguntou olhando para trás, enquanto Steve ajudava-a levantar.

— Eu não sei, sumiu muito rápido. – mentiu, tentando ficar de pé, o que foi em vão. O loiro pegou-a no colo, entregando seu escudo ao outro agente.

A morena mordeu o lábio, reprimindo um resmungo de dor. Steve levou-a no colo até o pátio principal onde praticamente os agentes da HIDRA estavam aniquilados, como disse Tony. Clint correu até ela, com Romanoff ao seu lado.

— O que aconteceu, está perdendo muito sangue. – exclamou a ruiva.

— Um pequeno tiro, não sabia que doía tanto. Esses últimos meses estão sendo bem doloroso. – brincou Lila, com careta de dor.

Ela fitou os dois agentes que estavam perdidos, mas tinham a expressão indecifrável. Eles se aproximavam pouco a pouco com as armas em mãos. Clint estava pronto para atirar, quando foi barrado.

— Me deixe brincar. – pediu Lila como súplica.

— Você está quase morrendo e quer brincar? – ironizou Tony aterrissando.

— Quero testar umas coisinhas. E não estou morrendo, foi um tiro de nada, nem dói tanto.

Delilah esvaziou sua mente por completo, – algo meio que impossível – projetou uma ilusão cômica, de uma festa de boate. Em alguns segundos, enviou aquela ilusão nas duas mentes. Os agentes pareciam perdidos, olhando ao seu redor como se estivessem loucos, deixaram suas armas cair no chão. A morena riu.

— O que fez? – Banner perguntou, saindo do meio da floresta em sua forma já humana.

— Projetei uma ilusão de uma festa de boate, acho que esses agentes não curtem muito de festa. – disse, enquanto observava ainda os homens com o olhar confuso, que começavam agora, a sorrir alegres. Sentiu algo como uma ligação mental. Alguém com grande poder tentava entrar em sua mente.

— Ah, estão sabendo que a Rena está aqui? A Barbie decidiu trazer o irmãozinho. – disse Tony com desgosto, Steve fez careta reprovativa.

— Sim, eu sei. E nesse exato momento, Loki está tentando ler minha mente. – murmurou a mulher, olhando para o escuro da floresta, onde pode ver um vulto negro perto de uma árvore.