Vollfeit - Interativa escrita por N Spar


Capítulo 12
Capítulo 11: inquilino


Notas iniciais do capítulo

Olá, jovens, como vão? Acredito que ninguém mais esteja acompanhando, porém estou postando para ter certeza, aeuhaeh.
É isso. Boa leitura, (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/618264/chapter/12

– CAPÍTULO ONZE –

Inquilino


Joerelin sentia a lâmina fria em contato com a palma de sua mão. Alisando-a delicadamente aguardava, ao lado de uma padaria fechada, pela irmã de Aris. A rua estava vazia e escura, fazendo com que qualquer ruído, por menor que fosse, se tornasse suficientemente alto. Olhou de um lado para o outro da via em busca de sua oponente, mas o que enxergava se restringia ao breu que tomava conta das construções antigas do bairro. Concentrada, ouviu pingos de água caírem nas pedras do solo após uma coruja piar. Riu internamente. O pio do animal era considerado, por muitas pessoas, como um sinal de futura morte.

Continuou descansada até que uma estrela de metal passasse a centímetros de sua orelha esquerda. O objeto emperrou no lampião ali perto, fazendo-o perder sua luz. Olhando para cima com a sensação de ali encontrar Liz, chateou-se após verificar o equívoco. Sem visão de sua adversária, começou a correr para a porta dos fundos da padaria. Chegando lá, outra estrela apareceu rapidamente na maçaneta da tábua grossa de madeira. A espiã não queria sua desafiante se escondendo logo no início. Antes de correr novamente, colheu a estrela presa e a guardou entre sua faixa de couro na cintura.

Não conhecia a localização da inimiga e isso começava a irritá-la. Preferia oponentes que ficassem sempre em sua frente, valentes o suficiente e dispostos a severos machucados. Em seguida, iniciou uma escalada até o topo de uma das casas. Agiria, como pedido anteriormente, como uma verdadeira espiã. Recebendo o vento moderado daquela noite, ficou estática até que sentisse um peso em suas costas.

– Parece que conseguiu fazer algo – Liz pronunciou enquanto pressionava as costas de Joerelin, com o pé, no telhado.

A guarda movimentou sua cabeça até que fosse capaz de encarar a loira, que apontava uma adaga em sua direção.

– E você, vai conseguir me matar? – sorriu ironicamente e, não tendo respostas, continuou. – Porque você já matou tanta gente que não deve conseguir mais, certo? É difícil conviver com isso tudo?

– E o que seria “isso tudo”? – finalmente perguntou, encontrando certa ameaça em sua voz.

– Você não lembra? – disse com falso espanto. – Ah, pobrezinha... Então irei te lembrar das mortes horríveis que aconteceram em sua família... Principalmente com Mart – sorriu.

– É melhor que não fale da minha família – continuou apontando sua adaga.

– Ah, está com saudades do Aris, aquele que tentou te assassinar? Entendo, mas é uma pena que ele esteja no reino vizinho em missão.

Instantaneamente, Liz acionou a lâmina de metal para frente. Antes de atingir a orelha de Joerelin, seu braço foi tomado por uma súbita dor, deixando-o tombar.

– O que você controla? – apesar da dor, sua voz continuou indiferente.

– Água. Bem legal, não é? – concordou com a cabeça com sua própria pergunta. – É sempre “os íntimos do ar”, “eles têm poderes incríveis”, e subestimam usuários como eu – deu de ombros. – Mal sabem que posso provocar uma perda de braço em minutos, certo? Impedi o fluxo da água no seu braço e, consequentemente, do sangue.

Liz riu.

– É disso que se trata? Ser reconhecida? – riu novamente. – Entendo, mas é uma pena que isso nunca vá acontecer – disse sarcasticamente e, com o braço restante, direcionou um golpe na garganta da garota.

(...)

Estava em um lugar fechado e abafado pelo receio das pessoas ali presentes há dias. O cômodo, sem muitas fontes de iluminação, dessa vez contava com ele e mais três indivíduos de uniforme verde até que dois homens aparecessem.

– Os reis tomaram a decisão – um deles falou formalmente após entrar.

Uma das mulheres que o analisou lançou um olhar rápido, mas apreensivo, para o jovem sentado a sua frente, fazendo um arrepio tomar conta de suas costas.

– Ele não se lembra de nada, assim como os outros – a moça respondeu. – Mas, como já explicamos, a situação dele é diferente...

– Os reis já têm ciência disso – o segundo guarda rebateu. – Levaremos o garoto.

Terminando a frase, aproximou-se do menino de cabelos claros e o levantou. Este, com expressão constantemente confusa e tensa, acompanhou-o para fora do local. A luz solar o acertou brutalmente após saírem de uma grande construção, que concluiu ser um castelo, em direção ao extenso jardim do tal reino do Sol. Em sua frente, um caminho de pedras mais claras marcava a rota para fora das muralhas que tampavam o que quer que existisse para além delas. Ainda com os olhos quase totalmente fechados pela dor que assolava sua cabeça, começou a observar o resto da área. Arbustos corpulentos e milimetricamente aparados rodeavam a trilha, que era serpenteada para, talvez, saídas laterais. Em sua retaguarda, mirou mais uma vez a entrada alta do castelo após uma curta escada. Nas portas de madeira avermelhada, encontrou um sol médio esculpido no centro. Quando se voltou para frente, encontrou algo que não fazia parte do cenário, mas que prendeu muito mais sua atenção.

– Bom dia, senhores – a garota que se aproximava proferiu simpaticamente.

– Os reis agradecem sua gentileza – um dos guardas respondeu rapidamente e, despedindo-se com um aceno de cabeça, acompanhou o outro para dentro do castelo.

O jovem, agora na presença apenas daquela baixa menina, desviou o olhar. Encará-la não parecia certo, embora seus olhos brigassem com seu raciocínio para fazer exatamente isso.

– Olá – a jovem disse, fazendo-o fitá-la com certa relutância. – Sou a Neri. Pediram-me para cuidar de você – sorriu.

Assentiu vagarosamente com a cabeça.

– Sei que não consegue confiar em ninguém... – continuou. – Esquecer sobre sua própria vida deve ser uma péssima experiência, então não quero que passe por isso sozinho.

Mais uma vez, sua reação se baseou em um rápido aceno. Todavia, a garota não retornou a falar. Seu coração pesou por agir de modo negligente e lamentou por não conseguir mais ouvir a voz doce e calma de sua interlocutora.

– Não me lembro do nome que possuo – respondeu finalmente após criar coragem. – Mas me disseram que, antes de perder a consciência, alguém me encontrou e ouviu que me chamo Eslin.

Olhou para a garota, que agora sorria e tornava seu rosto, já gracioso, ainda mais amigável.

– É um prazer conhecê-lo, Eslin – disse com ternura.

– É um prazer conhecê-la também – tentou sorrir, mas seus lábios pouco se mexeram. – E te agradeço, Neri.

Neri sorriu em retorno.

– Pediram-me para que eu cuide de você até que melhore e ganhe sua memória, então se importa em ficar na minha casa? É o único lugar que tenho.

– Não gostaria de ir, tenho certeza de que te atrapalharei. Você não tem culpa do que aconteceu comigo.

– Talvez ninguém tenha, não é? Mas se não fizermos o bem pelo próximo, só existirá o mal – seus lábios ligeiramente rosados criaram um sorriso fechado, mas sincero.

Eslin observou os olhos grandes e castanhos da garota. Eles pareciam brilhar de curiosidade e diversão, fazendo-o questionar internamente sobre sua situação e sobre a própria jovem, que parecia digna de confiança dos tais reis. Concordou com a cabeça e finalmente um sorriso aparecera em seu semblante receoso.

– Neri... – preparou-se para algo que parecia constrangedor. – Você tem a minha idade?

Recebeu um riso baixo, porém caloroso, da menina, que começou a andar em direção aos portões abertos.

– E quantos anos você teria? – questionou divertidamente.

– Ah... – surpreendeu-se com sua pergunta anterior enquanto a seguia. – Sou realmente tolo – deixou-se rir de si mesmo.

– Por mim, você deve ser um ano mais velho – falou Neri ainda com o rosto coberto de traquinice. – Tenho dezoito.

– Realmente? – perguntou com espanto e, após vê-la admitir, continuou. – Entendo.

– Você é uma das poucas pessoas que não tiveram uma reação exacerbada – sorriu. – A maioria entra em choque e pergunta por mais duas décadas se francamente tenho essa idade.

– Nada faz mais sentido, não é? – pronunciou com diversão.

Neri deu de ombros e continuou sorrindo. A garota, com pouca altura e peso, tinha uma aparência frágil. Seus traços lhe davam um aspecto inocente junto com o olhar de criança travessa. Eslin não entendia como, porém sentia nela algo que conseguia afastar ocultamente toda essa impressão de vulnerabilidade.

Caminhando ao seu lado até o reino vizinho, que descobriu se chamar Ihene, ouviu os contos que Neri dizia conhecer desde criança. Enquanto ouvia as palavras da garota, visualizava mentalmente as cenas do sol e da lua se conhecendo e das estrelas aparecendo inesperadamente para eles. Imaginou como seriam a comida do reino da Lua e o festival anual que Neri apontava como o melhor momento do ano.

– Faltam duas semanas – contou sobre a festa. – A tradição é fazer no sábado e no domingo que marcam o centésimo octogésimo segundo dia do ano.

– A metade do ano?

– Exato – assentiu com a cabeça. – Há outros feriados, como os que homenageiam cada elemento da natureza e seus usuários.

– Como assim? – falou confuso.

– Há magia aqui – sorriu. – E em outros reinos também. Nascem pessoas capazes de usar o ar, a água, a terra, o fogo ou o relâmpago.

Os lábios de Eslin se entreabriram levemente.

– Você é uma delas?

– Quem sabe – deu de ombros e sorriu. – E o que acha de você?

– Controlar o ar me parece a melhor coisa – respondeu pensativamente. – Uma sensação de liberdade...

Após um tempo imaginando como seria reger o elemento, percebeu que Neri o observava com curiosidade mais uma vez. A garota, com seus olhos brilhantes, riu ligeiramente.

– Realmente parece o melhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vollfeit - Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.