– E então, Fernando? Vai ou não?

Fernando coçava a cabeça. Ele estava sendo “rebelde”, como Michele dissera, mas não era tão fácil assim. Se ele não ia ser o dono da empresa, ele teria que salvar de alguma forma. E ele não descobrira outra ainda, a não ser seguir com o noivado. E se ele não fosse, sabia que ia estragar tudo. Mas se falasse que sim, estragaria aquela noite.

– Vou ignorá-la, ok? Não irei.

Mas o clima esfriara. Michele pegou um livro para ler, e Fernando passou a mexer no celular. Aproveitando a distração da amada, acabou respondendo a mensagem:

Sua louca, me acordou!

Lógico que era mentira.

Desculpe. Isso estava martelando na minha cabeça há dias. Se não podemos mudar nosso destino, achei melhor pelo menos aceitarmos a situação, e nos conhecermos melhor. O que acha?

Fernando suspirou, enquanto respondia:

Por mim tudo bem. Agora vou desligar o celular, estou com sono.

Desligou, e virou para Michele, que ainda lia:

– Ei. Quero falar contigo.

Michele fez que sim com o polegar.

– Só acabar esta página.

Mal Michele colocou o livro no chão ao acabar a página, Fernando passou novamente o braço sobre seu ombro.

– Não quero que fique esse clima chato entre nós. Não na sua cama, pelo menos.

Michele ficara vermelha; esquecera completamente da situação: ele estava sem camisa, ao seu lado, e eles estavam na cama dela. Ela olhou para o corpo dele; era bem definido [1], e, apesar de não gostar muito disso, não podia deixar de admirar, pois não era aquele definido feio: o corpo de Fernando, realmente, era muito bonito.

Fernando se aproximava cada vez mais, pronto para dar um beijo. Foi então que Michele percebeu: Fernando também estava vermelho.

Michele nunca tinha parado pra pensar; ela sabia que tinha sido a única menina que ele tinha se relacionado. Então, eles estavam experimentando as coisas juntos.

Eles se olharam por um tempo indeterminado. Fernando não seria canalha o suficiente para fazer algo com ela, e abandoná-la depois. Beijou-lhe a testa, e ambos decidiram ficar apenas abraçados, até o sono bater.

No dia seguinte, eles foram tomar café com os amigos, e Fernando se lembrou de ligar o celular, mandando mensagem para Letícia:

O que você acha que poderíamos fazer?

Quase imediatamente veio a resposta.

Estava esperando. Não sei, o que tem em mente?

Fernando disse precisar usar o banheiro, e seguiu para o mesmo. Uma vez lá dentro, mandou a resposta:

Não sei. Quando souber, me mande mensagem. Estou na casa de uns amigos...

Ok. Divirta-se. Ei, de onde conhece aquela moça da festa? Michele?

Fernando se surpreendeu com a pergunta. Não esperava, e não sabia o que havia ocorrido em Amsterdã.

Ela foi bolsista no Elite, pra nadar pelo colégio. Treinava lá até recentemente, antes de se machucar seriamente. E vocês, se conhecem?

A resposta veio quando Fernando havia voltado para a sala.

Nos conhecemos em Amsterdã. Era aniversário dela, e lhe dei presentes. Nunca tive amigos antes... É triste. Ela é uma menina legal. Está ai contigo?

Sim, estamos fazendo um chá de panela. Ela e o irmão, Iago, se mudaram recentemente.

– O que tanto fala no celular, Fernando? Preste atenção quando falamos com você!

Fernando levantou os olhos do celular.

– Um minuto. Vou encerrar a conversa, ok?

Que legal! Vou aí, posso?

Fernando olhava da tela do celular pra Michele, e dela para o celular novamente. Como perguntar, sem levantar suspeita?

Vou ver com ela, um minuto.

Fernando ficou olhando para ela, sem saber o que fazer. O silêncio dominava a sala. Até que Alex pegou o celular da mão do amigo e leu:

– Letícia? Aquela sua noiva? O que ela quer?

Fernando ficou sem graça. Michele ficou olhando para ele, esperando uma resposta.

– Ela perguntou o que estava fazendo, e quer saber se pode vir.

Todos olharam para Michele. Meio sem graça, ela deu de ombros.

– Por que não?

Fernando mandou a mensagem para Letícia, afirmando que ela podia ir. Foi à cozinha preparar algo pra comer, e Renato o seguiu. Ao chegarem à cozinha, Renato indagou:

– O que está pensando? Passou a noite com Michele, e estava conversando com sua noiva, no celular?

– Fala como se tivesse acontecido algo demais naquele quarto. Apenas conversamos, e nos beijamos. Fala como se tivéssemos feito... – Fernando corou, e virou-se para pegar água.

Renato virou os olhos, e se dirigiu de volta a sala. Ao chegar à porta, se virou e concluiu:

– Apenas... Não a machuque mais.

Fernando acabou de tomar a água e se dirigiu de volta a sala. O clima estava tenso, ninguém falava nada.

Sara as vezes tentava falar algo, mas depois balançava a cabeça e depois voltava a ver TV. Letícia olhava para todos, então quebrou o silêncio.

– Bom, eu só conheço a Michele aqui, direito. Nunca falei muito com meu noivo. Gostaria que cada um falasse um pouco de si.

Aos poucos, cada um foi se apresentando. Quando Miguel, que foi o último, acabou, Alex olhou para o relógio.

– Bom gente, acho que está ficando tarde, não é? Todos aqui trabalham e / ou estudam, então acho melhor irmos.

Todos confirmaram. Antes, ajudaram Michele e Iago com a bagunça, para que fosse mais fácil. P decidiu passar aquela noite na casa dos primos; colocaram o colchão na sala, onde os três dormiram. Antes de cair no sono, P perguntou para Michele:

– Está tudo bem? Aconteceu algo ontem?

Iago ficou curioso também; se endireitou e passou a ouvir a conversa.

– Ah, nada demais... Só... Conversas. E alguns beijos.

P balançou a cabeça.

– Talvez seja melhor assim. – e ele olhou pela janela. – nunca se sabe o dia de amanhã.

Michele concordou com a cabeça, e bocejou. Teria um dia longo, e precisava descansar.