A Bianca estava sendo muito dura em relação à situação e ao mesmo tempo infantil. Na verdade, eu nem sabia mais o que ela estava sendo era uma mistura de personalidades e sentimentos que confundia suas atitudes, eu acho...

Ela havia mudado, a minha linda e sonhadora irmã agora era uma mulher amarga e receosa. A única pessoa que conseguia quebrar essa nova Bianca e a transformar naquela mulher forte e decidida era a Bruninha.

Confesso que sentiria saudades daquelas duas, da nossa vida maluca e engraçada e sem dúvidas o que mais me assustava eram suas últimas palavras ‘’Isso vai ser nossa despedida K’’. Como ela tinha forças pra agir assim? Como ela poderia querer não voltar? Já haviam se passado 5 anos, já é tempo suficiente para seguir em frente, ou pelo menos pra aceitar que o grande amor da sua vida na verdade era o cara errado.

Não havia justificativas para o que ele havia feito, mas ela nunca o deixou explicar, ela apenas virou as costas e fugiu de toda a situação. Eu a entendo. Mas chega uma hora que devemos parar de fugir e encarar nossos problemas de frente, mesmo que isso nos faça sofrer.

Acredito que com o tempo, você vai percebendo que aquela pessoa que você escolheu para passar a eternidade com você, não é bem a pessoa certa. Porém, pensando bem, qual seria o seu conceito de pessoa certa? O segredo, não é correr atrás das borboletas, e sim deixar que elas venham até nós. No final das contas, acharemos não aquele que procuramos mais aquele que procura por nós.

Eu entendia o que havia acontecido com a minha irmã e entendia suas atitudes. Ela sofria por um amor errado. Ela sofria pelo cara errado. Eu vejo a vida como um jogo de xadrez, enquanto estivermos em pé e lutando, nada, ainda, estará perdido. Nós todos podemos ser o que quisermos e sonhar com o que quisermos ir onde quisermos, porque possuímos apenas esta vida e se desperdiçarmos a chance de viver os nossos sonhos, ela acabara sem sentido.

A Bianca havia se perdido no meio do caminho, ela já não sabia quem ela era mais, ou seus sonhos ou até mesmo seus princípios, a vida dela não fazia sentido e eu queria ajudar ela a encontrar esse caminho de volta. Tentei durante cinco anos, mas ela fugiu e por um momento pensei que se ela encarasse tudo de frente ela conseguiria se achar, mas ela fugiu de novo e foi aí que eu percebi que ninguém pode ajudar ela achar esse caminho apenas ela mesma.

Não digo que eu desisti da minha irmã, é claro que eu não desisti, porém não há o que eu possa fazer a única pessoa que tem que se ajudar é ela mesma. Ela tem que se aceitar. E é por isso que estou partindo.

As duas me acompanharam até o aeroporto, eu segurava as lágrimas que provavelmente derramaria no avião naquele momento eu não estava sendo forte porque é difícil pensar que se está desistindo de quem a gente ama.

A Bianca parecia estar lidando bem com a situação, sem derramamento de lágrimas, olhos inchados ou raiva e eu a admirava por estar querendo fugir disso tudo, acho que porque eu sempre quis encarar tudo de frente, mesmo que fosse pra descontar isso na luta.

– Que horas é seu vôo K? – perguntou me tirando de meus devaneios.

– Daqui a 3 horas. Podemos nos divertir juntas por enquanto, o que acham?

– Pra onde a tia K ta indo mamãe? – perguntou Bruninha.

– Pro país que a mamãe e a tia K nasceram.

– E por que não vamos também?

– Porque nosso lugar não é lá, filha.

– É por causa do meu papai? – ela perguntou com um ar inocente.

Percebi que Bianca ficou sem reação e eu também. Aquela menina era esperta demais.

– É sim. – Bianca respondeu firme.

– E por que não vamos também? Devemos ficar todos juntos!

– Ah filha, é complicado. Quem sabe um dia não fazemos uma visita.

– Que tal hoje?

– Hoje não dá.

– Por que não?

– Porque não Bruna. – Bianca gritou deixando os olhos da criança marejados. Quando percebeu correu para abraçar a filha e logo já a tinha aninhada em seus braços.

Fiquei com o coração partido pela Bruna, ela não tinha culpa daquele nerd esquisito e totalmente sem graça ser seu pai, ele não era uma pessoa ruim, mas havia pisado feio na bola.

Divertimos-nos o tempo todo, e não foi uma despedida tão triste assim. Conseguiríamos levar o melhor de todos os cinco anos sem culpas ou ressentimentos.

Abracei-as e segui meu caminho já deixando todas as lágrimas seguradas rolarem por minha face, mas fui. Fui com toda a coragem que tinha e me acomodei no assento do avião, coloquei os fones e estava pronta pra me desligar do mundo quando senti duas pessoas pararem do meu lado.

Olhei. Eram elas. Bruna e Bianca. Bianca e Bruna. Eu não acreditava, a Bianca pela primeira vez em muito tempo havia tomado uma decisão certa. Ela enfrentaria tudo de cabeça erguida. Brasil aí vamos nós!

Incrível, como você espera tanto tempo por algo, e acaba acontecendo sem que a você mesmo perceba. Em algumas idéias insanas, acredito que às vezes é necessário enganar o coração, a mente. Imaginar que já não se quer mais, que já não é mais tão preciso, e então... Deixar tudo acontecer. Talvez seja loucura, mais talvez não. Afinal, tudo depende do ponto de vista.