The Bastard Heir escrita por Soo Na Rae, Lady Ravena


Capítulo 39
Capítulo 33 - Amores palacianos.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, gente, bati meu record! Em 3 dias consegui terminar um capítulo para vocês meus amores, mas é que realmente eu estou apressada. Infelizmente fiquei de recuperação em duas matérias, por sorte, estou indo precisando de poucos pontos, mas ainda sim a partir do dia 2, até 17, não vou escrever. A chefia vai passar pra Mellyne, por isso estou sendo acelerada.
Talvez eu consiga postar mais um até lá, difícil, mas vou tentar.
Mais uma vez voltamos a Hessen, é necessário, pois eles são o reino inimigo de Overath e acho que aqui vocês vão conhecer uma das responsáveis principais dele no momento
Boa leitura! E falando em Hessen, aqui a matéria do blog para quem não a viu ainda, atualizada e com algumas coisas mudadas.

http://thebastardheir.blogspot.com.br/2015/10/o-reino-vermelho.html



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Capitulo 33

Amores palacianos.

“A luxúria é como a avareza: quantos mais tesouros têm, mais sôfrega se torna”. — Barão de Montesquieu.

Castelo Real de Hessen, 15 de junho no ano do Senhor de 1487.

O quarto estava profusamente iluminado por várias de velas, cujas luzes se multiplicavam por meio de enormes espelhos, refletindo-se nas paredes. Damas correndo de um lado para o outro traziam panos e água quente, o médico chegava e mais três testemunhas também, estes últimos deveriam presenciar o momento para assegurar de que o filho viera do ventre da rainha, e que nenhuma manipulação seria feita. Lá fora, apenas um céu escuro e vazio, mas dentro do castelo tudo se encontrava em euforia para o nascimento da primeira criança do rei.

Os cabelos dourados de Adela já se encontravam bagunçados, seu rosto pálido estava molhado de suor e seus gritos ecoavam pelo castelo. Tinha apenas dezesseis anos, era sua primeira gestação. Não era uma adolescente, ou uma simples menina, havia algo muito mais importante acima do mero estágio da juventude. Adela é esposa do Rei de Hessen, portanto a Rainha de Hessen, coroada e com todos os direitos legais e divinos.

— Majestade, aguente, por favor! — pedia uma das damas, Germanie, segurando a mão da rainha.

— Minha mãe... — parou e gemeu de dor, um pouco mais baixo que o anterior — ela concebeu oito crianças e sobreviveu. Será que eu não conseguirei isso? — a rainha gritou, estava com medo, com dor e assustada. Queria sobreviver. Precisava esfregar na cara da concubina que era fértil e que seus filhos apenas seriam os herdeiros, não aqueles dois bastardos dela.

— Tenha fé! Quando contemplar seu filho pela primeira vez, trouxer alegria ao rei e a este reino, tudo valerá a pena.

O médico judeu da corte levantou a ampla manga de sua túnica branca e examinou o estado da rainha. A criança estava próxima, já era possível ver sua cabeça.

— Senhora, agora tudo depende de Sua Majestade, vossa criança logo estará em seus braços.

Adela respirava ofegante, gritou e usou de todas as suas forças para a criança sair logo de seu corpo.

“Eu sou a rainha, não posso falhar com minha missão”.

Após dolorosos momentos, Adela ouviu o choro da criança e a dor que antes dominava seu corpo ia esvaindo-se aos poucos, dando lugar a um forte cansaço. Sua roupa estava encharcada de sangue, mas ela estava viva e sua criança nos braços do médico que fizera seu parto. Sentiu-se vitoriosa, conseguiu trazer o filho do rei ao mundo.

— É um menino, um menino, Vossa Majestade! — anunciou o médico.

Adela sorriu, concebeu um varão logo na primeira vez. Não existia orgulho maior para uma rainha. Germanie, que antes segurava a mão da rainha, foi pegar a criança com o doutor. Ela não tinha muita simpatia para com aqueles que não professavam a verdadeira Fé, mas sabia que Isaak Simmel, mesmo ainda com seus vinte e oito anos, era um dos melhores médicos de Hessen, um talento formado nas melhores universidades italianas.

A dama de companhia, com ajuda de uma criada, enrolou a criança em um cobertor vermelho e a levou para fora do quarto, onde o rei e mais alguns nobres aguardavam.

Todos, principalmente o rei, olharam para a aia esperando ansiosamente a resposta.

— Um varão — disse Germanie sorrindo. — Aparentemente é saudável.

Maximiliano, o rei, cobriu a boca com as mãos. Depois não sabia o que dizer, sentiu uma sensação estranha. Um misto de alegria, satisfação e orgulho. Atrás do Senhor do País, ouvia-se apenas elogios.

“Deus Seja Louvado”

“Viva a Rainha e ao Príncipe”

“O futuro da dinastia foi garantido”

— Majestade, compartilhamos a vossa felicidade, meus parabéns — disse um visconde, no qual ele nem se lembrava do nome, pois o tal veio apenas acompanhando outro nobre.

O rei estendeu os braços pedindo seu filho, a dama entregou a ele e fez uma leve reverência.

Seu filho. Sim, era seu filho. Seu menino, seu herdeiro, seu principezinho estava em seus braços. Como era forte. Um verdadeiro Von Kopper. Os olhos do pequeno eram cinzentos como os da rainha, o pequeno em poucos momentos quebrou toda uma estrutura de aparência, pois há quase duas gerações os príncipes e princesas Von Kopper nasciam com olhos verdes. Assim tinha sido com Max e seus irmãos, Magno, Regina e Cristina.

— Meus senhores — virou-se para os nobres — eu vos apresento meu primogênito, Eadric Bernhard Von Kopper, pela Graça de Deus, Príncipe Herdeiro de Hessen e Vosso Futuro Soberano.

Todos os presentes fizeram uma demorada reverência, não apenas ao rei, como ao príncipe herdeiro. O rei então levou a criança até o quarto, os presentes, com exceção da aia da rainha, o acompanharam.

— Isabeau apparaît, non pas parce qu'ils se cachent — Isabeau apareça, não a porque se esconder.

Após as palavras de Germanie uma mulher bela, alta, com tez um tanto bronzeada, de longo cabelo castanho escuro ondulado e olhos negros, saiu quase que sorrateiramente do seu esconderijo, ou seja, atrás da parede, de onde ouviu todas as anunciações sobre o nascimento do filho do rei... Seu Max.

— Então é um menino? — ela perguntou de frente para Germanie, sem medo e firme.

— Oui — respondeu em francês, alargando um sorrisinho sarcástico. Ambas eram francesas, mas geralmente falavam em seu idioma natal quando estavam para iniciar uma discussão. Achavam mais elegante que discutir em alemão.

— Je dois aussi un homme — eu também tenho um varão.

— Oui, Philippe, que le roi n'a même pas supposé — Sim, Philippe, aquele que o rei nem ao menos assumiu.

Ficou imóvel. Pela primeira vez não tinha uma resposta na ponta da língua, o que era raro. Entretanto Lorena estava certa. Seu Max nunca assumiu Philippe... nem Felícia. E ela ainda o amava loucamente, mas diferentemente da irmã de seu amante para com o esposo, ela não era rainha. Que ódio! Ele sempre lhe prometera tantas coisas, porém não cumpriu metade delas, no entanto... Ele continuava sendo seu Max, seu rei e pai de seus dois filhos.

— Isabeau, és tão formosa, mas o rei já não pensa em você há meses. Desde o inicio da gravidez de Minha Senhora, ele quase sequer troca palavras convosco, muito menos a visita em seus aposentos. Talvez esteja aqui por caridade mesmo, pois não tens como sustentar adequadamente aqueles seus dois bastardinhos e precisa servir de aia das damas desta corte. Se quiser posso oferecer-lhe cem vinténs de prata e um colar de esmeraldas mui valioso que tenho, quase nem uso, porém ainda deve valer muito no mercado — e aproximando-se mais da cortesã, Germanie sussurrou — E não fique assim, existem vários homens importantes nesta corte, homens fracos, que vós poderá ainda levar para a cama e ganhar favores.

— Está me provocando de propósito! − disse, em tom acusador.

— Estou dizendo a verdade, você é passado e nunca será uma rainha, conforme-se!

Isabeau tremeu. Max sempre fora seu protetor enquanto ela acumulava fortuna e poder em Hessen, era assim desde que ela chegara da França a aquele reino como dama da antiga rainha e conquistou o coração de Maximiliano, naquela época o príncipe herdeiro. Enriquecera com a relação, mas sabia muito bem que, num capricho, qualquer dos Grandes Nobres e Clérigos de Hessen, poderiam ordenar sua prisão e o confisco de suas posses e terras com apenas uma palavra. Por isso temia, tinha medo de perder tudo e isso não era impossível. Bastava acusarem Isabeau de heresia ou traição, ninguém a defenderia, afinal ela era odiada por muitos que não achavam digno uma mulher qualquer, filha de um casal que ascendeu com a burguesia e sem sangue real, ganhar títulos e posses que pessoas que nasceram no seio da realeza mereciam muito mais.

Desde que o rei começou a se afastar dela, a fortuna da cortesã tem diminuído aos poucos, tudo era usado para sustentar seus filhos, que viviam em um simples castelo no interior. Humilhada e abandonada. Era assim que se sentia. Antes da chegada de Adela da França, ela era como a rainha naquele país, ainda continuou mesmo com sua chegada, contudo jamais esperaria que a maldita fosse conquistar o coração do seu amado, com quem ela dividiu a cama por várias noites e destes frutos fizeram gerar dois filhos em seu ventre.

Por ser apenas uma baronesa, Isabeau inclinou a cabeça em reverência a Germanie, uma duquesa, ainda que apenas por casamento. Em seguida levantou a barra do vestido rubro e saiu em passos acelerados.

Isabeau fugiu para os seus aposentos, batendo com a porta. Assustou Úrsula, que arrumava as roupas da ama. Lágrimas escaldantes de mágoa e vergonha molhavam a face da baronesa. Limpou-as com as costas da mão e depois a estendeu o dedo para a criada.

Brynhilde, alguma carta chegou? Dê-me agora — ordenou. Úrsula simplesmente temia quando a mulher lhe chamava pelo seu nome verdadeiro, pois era um nome que a ligava diretamente com suas origens rheians, o povo a quem ela havia abandonado há alguns anos, após sua conversão ao cristianismo, tudo por que se apaixonou por um cristão. Apenas duas pessoas sabiam disso. Isabeau e seu falecido marido, que levou o segredo para a cova. Nem mesmo sua filha pequena tinha conhecimento, era perigoso demais se arriscar. A baronesa descobriu quando Úrsula se viu obrigada a preparar um chá de ervas que curaria sua filha de uma doença, a mesma pegou-lhe no flagra e Úrsula foi idiota. Não conseguiu inventar uma desculpa a tempo, e que inventou não convenceu a astuta cortesã.

Úrsula observou-a, alarmada.

— Tens certeza que deseja ler vossas correspondências?

— E você, criada, tem certeza que quer morrer ardendo nas chamas da fogueira?

Ainda havia lágrimas nos olhos de Isabeau enquanto a observava. Úrsula suspirou, dobrou a estola de arminho e a pôs corretamente no baú de roupas de sua senhora, em seguida foi pegar as correspondências ainda amarradas por uma fina cordinha em cima da mesa de cabeceira.

Isabeau sentou-se em sua cama e ficou tamborilando os dedos em seu colo, uma maneira sua de descarregar um pouco do estresse acumulado. Nunca funcionava, mas ela ainda insistia, ou pelo contrário seria capaz de assassinar alguém. Úrsula por outro lado revirava as cartas, olhando diretamente para o remetente, pois sabia que certos assuntos não interessavam muito a Isabeau, além disso, ela dera uma espiadinha outrora e tinha esperanças que alguma carta fosse do interesse da mulher, antes que ela pusesse os olhos na correspondência que falava de seus filhos.

— Cartas de vosso irmão, Pierre, dizendo que esta muito contente pelo nascimento do primeiro filho e...

— Ele pode ter quantos quiser, com a quantidade de dinheiro que já mandei para ele — murmurou.

— Gonzalo Toledo, estilista de Aragão, quer saber se ainda deseja a encomenda das túnicas negras de veludo.

— Ultimamente o destino tem conspirado tanto contra mim, que usar a fria e austera moda da Espanha será apenas para completar meu sofrimento...

E seu pior medo chegou, a carta que vinha de Halle, um povoado no interior de Hessen.

— De Halle — disse e Isabeau levantou-se num salto e arrancou a carta de sua mão, não teve a delicadeza em retirar o envelope.

“Senhora Baronesa é com muita alegria digo que vossos filhos, Philippe e Felícia, crescem saudáveis, porém é com muito pesar que digo que o dinheiro esta acabando. Philippe necessita de casacos novos e Felícia de cachecóis para o rigoroso inverno não muito longe de se aproximar”...

Leu a carta inteira, soluçando baixinho, até chegar ao último paragrafo.

— Santo Deus, isto não terá fim? O Conde de Konstanz deseja reclamar ao rei para tomar sua casa de volta, se isto ocorrer meus filhos serão despejados. O que farei? Os mandarei para um mosteiro? E eu ficarei como?

— Tente reclamar ao rei...

Mesmo tentando aconselhar Isabeau, a mesma em um ataque de fúria passa a mão pela sua mesa arremessando seus livros, pergaminhos e até algumas joias.

— Ele se esqueceu da mulher que pariu dois filhos dele, e mesmo que ele se lembrasse de mim, todos aqui me odeiam! Adela concebeu um príncipe logo de primeira, eu estou arruinada...

— Senhora acalmasse, deixe-me...

— Ce fils de pute, misérable, traître...

“Boca suja”

Pensou Úrsula, ela tocou os ombros de Isabeau e a pôs sentada novamente em sua cama.

— Eu tenho uma ideia, tente conversar com a Princesa Cristina, apesar de ser uma menina de forte personalidade e... — ela prendeu um pouco os lábios e logo falou — não ter um bom relacionamento com a senhora, ela é justa. Mande uma carta para ela, fale das crianças. Sabe como o rei sempre ouviu a irmã mais nova.

— Cristina virou viúva, seu marido, o Delfim Joaquim, esta morto há mais de quatro meses e a princesa nunca mais retornou para cá. Não acho que ela vá perder seu tempo comigo, além disso, a meretriz esta de mal com o irmão...

— Ora senhora, por favor. — agachou-se, ficando de frente com Isabeau e segurando suas mãos — Não acredite nesses boatos que a senhora mesmo espalhou. Cristina e Maximiliano são irmãos, eles são muito unidos desde a infância, uma simples briga fraterna não iria romper essa forte amizade deles.

— Quieta — ordenou tapando a boca dela, no entanto Isabeau riu, soltou uma risada um pouco histérica com direito a cair de costas na cama. — Ninguém mandou aquela garotinha me chamar de concubina. Pelo visto, eu ganhei o jogo. Convenci o rei de que Cristina estava sendo cortejada por seu pajem e que permitia os cortejos, com direitos a encontros noturnos.

— E ele acreditou na senhora? Não acredito — indagou espantada.

— Não foi tão difícil entrar no quarto da princesa, “pegar emprestada” uma de suas camisolas e colocar no quarto do pajem... Apenas sei que o corpo do homem nunca foi achado — sussurrou a última parte. — Este foi o preço por ter “desonrado” à princesa.

— Minha Senhora, eu sei que nunca gostou de Cristina, mas acha mesmo que foi certo fazer isso? A pobrezinha deve ter ficado até mal falada na França, sendo que se casaria com o herdeiro do trono! Bem... Agora ela é uma viúva. Lembre-se que a senhora também esconde todas as correspondências da princesa, o rei pensa que ela não se importa mais com ele. Ousei espiar uma de suas cartas, pouco após ela ter se casado com o príncipe francês, ela relatou o sofrimento que passou naquele reino. O marido era um verdadeiro monstro!

— Estou pouco me importando, quem são os Valois para falar de castidade? E Cristina apenas esta pagando por ter me insultado e nunca ter me tratado bem. Além disso, a princesa deve estar muito bem em Mayen, com aquela aspirante à freira da Regina. Onde já se viu? Regina esta casada há tempos e nenhum herdeiro. Será que o rei é algum impotente?

— Ouvi dizer que é lindo...

— Tanto faz, apenas sei que todos, todos sem exceção, irão pagar por isso que esta acontecendo comigo. Adela da França principalmente! Termine de arrumar meus pertences, pois prefiro sair deste lugar com a pouca dignidade que me restou, a ser expulsa e perder ela completamente.

Três anos depois, novembro de 1490.

Adela concebeu outra criança, uma menina, a quem batizaram de Josephine. A princesa tornou-se herdeira do trono poucas semanas depois de seu nascimento, pois enquanto todos os nobres e clérigos estavam ocupados em seu batizado na capela, uma tragédia aconteceu. Eadric, o príncipe herdeiro do trono sumiu de seus aposentos.

O castelo e o reino estavam um verdadeiro caos. Como, por tudo que há de mais sagrado? Como isso pode ter acontecido? O castelo é praticamente impenetrável e possuidor de uma guarda capaz de perfurar o peito de que ousar entrar sem a permissão real.

— Convoquem todas as patrulhas, revistem todos os estabelecimentos comerciais e casas, as maiores até as pequenas! Procurem em todas as terras desde país, e não descansem antes de haver uma noticia definitiva sobre o paradeiro do príncipe — ordenou o rei furioso para o chefe da guarda.

O nascimento da princesa pouco pode ser comemorado, a rainha não saia de seus aposentos. Chorava e passava maior parte do dia rezando para que encontrassem seu precioso menino. Maximiliano estava arrasado. Após a partida de Isabeau, tudo no castelo parecia estar mais calmo. Ele e a rainha nunca viveram momentos mais alegres no casamento. E agora um problema deste ocorria?

Entrou em seu quarto e a forte batida na porta, apenas mostrou que o rei não queria ser incomodado. Atirou tudo no chão, ousou arremessar utensílios religiosos na parede do quarto e levantou seu genuflexório, o jogando com força contra o chão.

Ele chegou mais próximo da janela e fechou às cortinas, a luz matutina estava lhe irritando. Não dormiu durante a noite inteira e também não sentia vontade. Queria apenas paz. Paz. Será algo tão complicado? Suas mãos estavam trêmulas, ontem mesmo abraçava seu filho e talvez em breve ele possa esta segurando sua mortalha. Isto é. Se o achassem.

Max precisava se recompor, precisava mostrar postura. Em breve iria ao quarto da esposa dizer para ela fazer mesmo, pois apesar de tudo eles continuam sendo reis e como reis... Não poderiam mostrar aos outros, o que sentiam de verdade.

“Reis e Rainhas não tem vida própria, há momentos em que as aparências valem mais que a verdade por trás de quem somos”.

Regina vivia lhe dizendo isso, principalmente quando Max cometia alguma desfeita. Sentiu-se horrível por nunca ter dado muita atenção ao que sua irmã mais nova falava. Ela sempre foi mais inteligente que ele, mas agora a acusavam de louca no reino dela. Pelo menos a rainha de Overath estava lá, feliz com seu primeiro filho.

Escutou o barulho da maçaneta, andou até sua cama onde se apoio aos braços de madeira avermelhada e fechou seus olhos fortemente. Evitava chorar. Não chorou em nenhum momento. Era forte como todo Von Kopper deveria ser.

Agora ouviu a porta ser fechada e passos leves, já deveria ter virado para saber que era a pessoa que ousava entrar nos aposentos reais sem ser anunciada. E então, antes que ele se desse conta de algo, viu pelo canto dos olhos uma mão feminina tocar a sua. Ficou imóvel, sentiu o a fragrância do perfume e o reconhecia muito bem. Poderia reconhecer de longe, no entanto não sabia se poderia temer ou ficar feliz pela presença da pessoa que o usava.

Ela o fazia estremecer. Derreter. Não! Segurou-se, tinha que aguentar. Jurou nunca mais encostar um dedo nela e tinha que ser forte... Deveria criar alguma regra para aquela tentação jamais ser vista. Mas era ela que tocava nele, Max nem ao menos ordenou sua vinda.

— Isabeau — murmurou, com a voz rouca — O que faz aqui? Eu não pedi que viesse.

Ela recuou alguns centímetros e foi quando ele virou. A mulher não tinha mudado muita coisa, podia dizer que estava um pouco mais magra e com os cabelos mais longos que antigamente. Estavam amarrados em um coque e Isabeau sempre gostara de deixar a cabeleira castanha livre e solta. Fora isso, nada tinha mudado. Continuava bela e com o mesmo ar misterioso e perigoso de sempre, como se o seu olhar não passasse exatamente para os outros o que ela sentia realmente.

— Qual é o problema?

Ele balançou a cabeça de leve.

— Nenhum — todos. O que você faz aqui? Vai arruinar tudo. Vá embora! Quer dizer, não fique, gosto de contemplá-la... Sentir-te.

— Não minta para mim, Hessen inteira sabe. Vosso filho — e abaixou a cabeça, fingindo tristeza — sei como deve estar se sentindo.

— E que comece o teatro — respondeu sarcástico, bufou.

Isabeau estreitou os olhos, preocupada. Ele não confiava mais nela? Esperto...

— Apenas vim mostrar minhas condolências, senhor.

— Sois desprezível e falsa, deve estar comemorando por dentro. É muito ousada, ou tola para pisar aqui novamente.

Ela se afastou alguns passos, cruzando os braços na altura do peito.

— Eu não faço esse tipo de coisa, sabe? Conhece-me bem e sabe que nunca desejei que nada de ruim ocorresse com o senhor.

O rei não era ingênuo. Ah, isso ele não nunca foi mesmo, desde tenra idade ele sabia mais do que devia. Entretanto sempre foi muito precipitado e quando suas emoções o dominavam, ele nunca sabia o que fazer. Aquela mulher exercia um encanto sobre ele. Isabeau foi à primeira mulher com quem ele teve algo mais a sério, ardente e profundo, Philippe e Felícia estão ai de prova. Oh, ele ao menos se lembrava do nome deles.

— Sei que esta triste e exasperado...

— Claro que sim, outrora estava apenas triste em saber que nunca mais poderei ver meu filho, agora estou furioso por que uma energia completamente negativa penetrou em meus aposentos.

— Então me expulse agora, se tens coragem, é um rei e nasceu para mandar — retrocou ela, se aproximando um pouco de Max, encarando profundamente aqueles olhos verdes do homem.

— Agora que estava começando a me divertir, queria apenas observar até onde a senhorita se humilharia.

— Posso saber desde quando é crime amar? — perguntou dramática.

— Pode-se dizer que você não chegou muito longe – observou ele com delicadeza. — Vestido simples e nenhuma joia.

— Nesses últimos tempos o luxo não tem despertado meu interesse — ela garantiu. Deu alguns segundos, ficou calada e percebeu que nenhuma reação vinha do rei. Depois, enquanto ele ainda esperava alguma explicação, ela começou a se afastar.

— Espere! – chamou Max. Alcançou-a em menos de três passos, segurou-a pela cintura e a puxou até ficar com o rosto quase colado com o seu.

— Não tenho o hábito de permanecer na companhia de pessoas que me insultam — afirmou Isabeau.

— Eu sei, pois a senhora acaba com elas.

A baronesa sorriu.

— Majestade, eu não sou mais responsabilidade sua. Vim apenas para mostrar meus pêsames pelo príncipe, sei que vosso herdeiro era tudo que havia de mais sagrado para o senhor — e acariciando o seu rosto, chegou mais perto e depositou um beijo um pouco próximo de seus lábios.

Feiticeira, tentadora e razões de todos os meus pecados...

Ela olhou para ele, tentada a se favorecer daquela situação, a mulher sussurrou de maneira um tanto aveludada em seu ouvido.

Sabia que jamais me expulsaria de teus aposentos, nós o compartilhamos durante tanto tempo... Não me deixe.

Shh...

Ele a silenciou com a própria boca, tomando os lábios dela com os seus. A baronesa mal teve tempo de arfar antes que de novo os lábios dele possuíssem os dela com uma ferocidade. Estavam presos nos braços um do outro. Foi diferente de qualquer outro beijo que tivessem dado, cheio de ferocidade e permeado por uma estranha agressividade.

A carne de ambos era fraquíssima, se conheciam desde a adolescência e era difícil se desapagar. Ele a imprensou na parede de forma um pouco violenta, era muito bom ter os lábios dele em sua pele, causando-lhe arrepios. Isabeau arqueou mais o pescoço para que ele tivesse mais acesso. Havia um fogo dentro dela que queimava lentamente fazia anos.

Sentiu as mãos de Max nos botões do vestido de veludo negro, enquanto o tecido se soltava conforme cada um deles ia passando pela casa. Aquilo era tudo o que Max jurou que nunca mais faria novamente, mas quando o corpete de Isabeau caiu até a cintura, deixando-a despudoradamente exposta, ele já não respondia por si. A empurrou para próximo da cama, onde ela mesma fez a questão de cair deitada e logo o amante se encontrava por cima. Ela estava totalmente embaixo dele agora, com os olhos vidrados de desejo, e era muito melhor do que qualquer um dos seus sonhos.

Por que havia a deixado ir embora?... Era a mulher de sua vida, sua primeira... Mas com certeza não a única.

Atualmente, dezoito anos depois, 1508

Com um decote à moda francesa, um casaco justo, Isabeau ajustou o manto branco sobre os ombros e verificou se o capuz dourado com a sua orla de flores prateadas estava enquadrado perfeitamente. 42 anos. Deveria estar com a aparência mais envelhecida, porém ao que parece, os anos foram mais generosos com ela. Claro que já eram notáveis alguns fios prateados em sua cabeleira castanha, porém nada que um bom capelo ou touca pudessem esconder. Beliscou as faces para que ficassem mais coradas e caminhou até sua mesinha de cabeceira, onde apanhou um perfume e o espirrou pelo pescoço.

Acabara de tomar um relaxante banho de ervas aromáticas, importadas diretamente da Turquia. Era tão bom viver como rainha. Quando viva na França, os banhos não eram muito cobrados, no máximo duas ou três vezes por semana estava ótimo, mas quando chegou a Hessen precisou rapidamente aprender seus costumes e hábitos. Tomar banho ao menos uma vez no dia poderia ser comparado a alguma lei e muitas vezes, visto como uma diversão. Deve ser por isso que a expectativa de vida do reino é um pouco maior que nos outros, mas quando ocorre uma epidemia de peste, ou qualquer doença, não há quem escape. Não era tão diferente de Overath, ambos saíram das mesmas terras, eram descendentes de um povo pagão. Um reino irmão que se separou por que duas irmãs não conseguiram chegar a um bom acordo.

Úrsula, sua leal dama, tirou um colar de pérolas do potinho de joias e virou-se para mostrar a sua senhora. Isabeau assentiu e a serva colocou aquela peça em seu pescoço.

— Às vezes, Úrsula, eu tenho vontade de ir ver aonde vós enterrastes o herdeiro Eadric — admitiu, deixando a mulher um pouco espantada com a maneira fria na qual a nobre desembuchou. Todavia, Úrsula ficou um pouco trêmula, seus olhos cinzentos exalaram um pouco de medo, algo que ela tratou de disfarçar logo.

— Não é bom ficar falando disso — sussurrou.

— Tens razão — sorriu. — Tenho o rei em minhas mãos, e apenas duas tolas que impedem que meu filho fique na linha sucessória. Não hei de perder meu precioso tempo com os mortos, principalmente com o filho da falecida Adela.

— Senhora, mas sabes que Philippe ainda não fora...

— Calada! — disse alto. A insistência de Úrsula irritava-a. — João I de Portugal não era filho legitimo do rei e tornou-se soberano, por apoio dos nobres e do povo após a morte do rei... Além disso, a herdeira do reino vizinho não era filha legitima e todos conseguiram facilmente uma bula que mudava essa situação.

— Senhora, são os Von Strauber — disse como se fosse óbvio. — Após os reis católicos de Castela e Aragão, os monarcas overatianos são os que mais colaboram com o Vaticano.

— Perdemos a aliança com a Itália, meu rei não ficou nada satisfeito. Sua mãe, a rainha Adelaide era filha dos governadores de Veneza, deveríamos ter o apoio da Itália em todas as circunstâncias, porém aqueles cardeais são tão fáceis de subornar e manipular.

— E dos francos...

— Oh, minha França, na qual não sinto saudade nenhuma — riu. — Max também ficou irritadíssimo com isso, mas ninguém esperava. Os franceses nos traíram completamente.

— O que houve realmente?

— Se tem algo que aprendi em todos esses meus anos na corte é que o dinheiro pode tornar o ilegal, legal — afirmou enquanto sentava-se na cama para Úrsula lhe por os sapatos. — Hessen e a França já são amigos e aliados antigos, a primeira esposa de Max era uma princesa da França. Não lembra? Mas pelo visto os overatianos resolveram usar algo que os franceses amam, ouro e dinheiro, para os fazerem mudarem de aliado. O rei veio descobrir isto ontem, através de um soldado, pois tropas francesas foram vistas na fronteira indo em direção ao reino vizinho.

— Vossa Majestade tem um temperamento muito forte, não deve ter gostado nada disso e ele ainda pretendia mandar um embaixador para a França para negociar um casamento entre a Princesa Josephine, com seu primo, o Delfim Orlando.

Merda! — ergueu-se, andou de um lado para o outro. — Essa era a chance de mandar essa insolente para longe. Porém Maximiliano é lerdo, um fraco! Ele parece se esquecer de que os reinos mandam ouro, Roma faz palácios e assim todos saem ganhando. Por serem primos, Josephine e Orlando precisariam apenas de uma bula para se casar e finalmente eu me livraria daquela fedelha... Por Cristo...

— E o que rei vai fazer?

— Provavelmente algo que ele faz muito bem, nada! — e apoiou-se na parede, suspirando. — Todas às vezes eu tento convencer ele a invadir logo Overath, tomar as terras que seus ancestrais tanto desejavam, ele o faz, mas não temos sido vitoriosos ultimamente. Desde que Otto Von Strauber assumiu o comando do exercito. Mas ele disse que conseguiu fazer um acordo importante que pode nos ajudar muito.

— Com quem?

— Ele ainda não me contou, Max apenas me falou que em breve eu saberei.

— Por falar no rei, a senhora não queria visita-lo.

Isabeau sorriu maliciosa.

— É claro, pelo visto eu tenho que consolar ele de tantas coisas ruins que vem acontecendo... Até mais Úrsula e arrume essa bagunça, pois provavelmente não dormirei aqui hoje.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente acho que fui bem direta e rápida na relação deles, nos momentos assim mais quentes, mas eles já se conhecem faz tempo. Max e Isabeau são amantes desde antes, durante e até depois do casamento do rei.
E vocês aqui conheceram uma bitch mais bitch e perversa que a Cora ^^
O caso deles sempre foi tapas e beijos, mas eles sempre acabavam na cama de qualquer jeito hahahaha. Ainda sim, os tempos mudaram. O que será que o rei quer falar de tão importante para ela?
O link dos modelos são divididos, na primeira parte são Isabeau, Max e Úrsula, quando novos. Adela também esta. Na terceira parte já é Isabeau e Úrsula mais velhas. Eu ponho o lindo modelo do Max (gente, sou louca por esse homem) mais velho, quando ele aparecer novamente, mas quem quiser ver já, basta ir na matéria do site. Adela morreu, então não é necessário.
Tags do próximo capítulo (acabei de inventar isso rs, rs)
Hannelore, romance, intrigas, seleção, ciúmes...
É isso kkkkk
Beijos e até a próxima.