“- Atirem!”

Gritava uma voz feminina floresta adentro.

“- Mais uma vez, atirem!”

O som não era de armas de fogo, eles atiravam com arco e flechas em alvos à certa distância.

Estavam treinando novos moradores de Freedom City para a caça. Aliás, essa era uma das únicas coisas a se fazer ali para gastarem um pouco de energia.

— Mestre Luíza, o professor Hudson quer falar com você. _ Um rapaz vestido com roupas de couro avisava.

Ela era Mestre em Arco e Flechas do Reino da Liberdade, que era formado por construções inspiradas nas cidades americanas do mundo real.

O local onde eles estavam era uma imensa floresta verde, com uma flora e fauna perfeitamente deslumbrantes, cheia de criaturas lindas e repleta de paisagens marcantes que rodeavam o monumento principal. Um grandioso castelo que mais lembrava o famoso Walt Disney World, cercado por pequenas casas e prédios médios onde habitavam aqueles que escolhiam aquela cidade para viver. Protegido ainda por um imenso muro que contornava todas as extremidades da cidade. Separando a civilização, com suas construções azuis e brancas, do verde da natureza, num grande círculo.

Enfim, mesmo sendo algo magnífico para se imaginar, este era apenas um pedaço muito simples se comparado à todas as outras maravilhas que existiam naquele mundo virtual, porém, mais perfeito até que a própria realidade, pela qual chamaríamos de mundo real.

Tudo começou em 2139, quando o ser humano descobriu uma forma de dar vida eterna à memória daqueles que viriam a morrer através do implante de um pequeno chip em certa parte do cérebro das pessoas, responsável por armazenar lembranças e sensações durante a vida. Salvando a memória delas e todos seus sentimentos até a hora de sua morte.

No começo, algumas pessoas não gostaram da ideia. Diziam que estavam desafiando as leis de Deus, achando que conseguiriam dar a eternidade àqueles que jamais existiriam após um último suspiro. Mas, as empresas responsáveis pelo marco, dispensaram as críticas e apenas levaram ainda mais o projeto adiante. A maioria das pessoas, estavam com eles.

Através desse chip, aqueles que morriam eram transferidos para dentro de um programa muito realista chamado Cyber World que reconstruía os seus corpos da forma como eram antes, em dados digitais muito realista utilizando suas lembranças. O processo acontecia formando primeiro um cérebro digital capaz de guardar informações como reações sentimentais e corporais humanas, movimentos e expressões físicas, tendo ainda, capacidade de sobra para novas memórias adquiridas durante a “nova vida”.

Tudo demonstrou ser produtivo, quando um dos programadores veio a falecer acidentalmente numa batida de carro, na véspera do grande dia em que apresentariam a fabulosa criação.

Em sua homenagem e como demonstração de que realmente funcionava, os outros produtores o chamaram pessoalmente para depor à todos aqueles que duvidavam sobre o sucesso do advento tecnológico mais surpreendente de todos. E ali, numa grande tela do mundo real, ele apareceu. O Dr. Antony Thompson, fisicamente igual como quando estava em vida, agora recriado de forma tecnológica tão perfeita que parecia ser mentira ter morrido. Ao dizer cada palavra sobre o que ocorreu durante seu próprio acidente, ele se emocionava, exatamente como um ser humano faria. Emocionando também sua família e amigos ali presentes, ouvindo suas declarações. Ele dizia se sentir vivo, mais vivo do que nunca. Que era estranho até mesmo para ele pensar que tudo havia dado tão certo. Ele disse que podia ouvir normalmente, falar e que até mesmo se sentia cansado, mas não tão cansado quanto um homem humano ficaria, já que antes, com 63 anos mal podia caminhar alguns quilômetros que já doíam as pernas. Disse ele, retirando um sorriso imenso de todos os que lhe prestavam a atenção.

Ele com certeza era exatamente como antes, talvez, um pouco melhorado em alguns aspectos, assim como, no aspecto de resistência. Ele não precisava mais se preocupar com doenças, nem mesmo com dores musculares, apesar de ter todos os músculos e sentir todos eles.

Ele ainda demonstrava que não era uma ação programada aquilo que dizia, conversando e respondendo às perguntas dos seus filhos e outros familiares ali presentes. Retirando a sombra de qualquer dúvida decorrente. Tornando um verdadeiro sucesso a invenção.

Ele era apenas o primeiro cidadão de Freedom City, uma cidade no coração do país virtual que representava os Estados Unidos. Assim como havia outras cidades que representavam outros destaques que existiam no mundo real. Sendo estes, Cyber City ( Japão ), Tower City ( Itália ), Chili City ( México ), Freeze City ( Rússia ), Merchant District ( China ), GreenValley ( Brasil ), Old Valley ( África ) e Desert Zone ( Egito ). Pela junção de todos, o continente ficou sendo chamado de Freedom Continent, pois, unia virtualmente os países mais divergentes do mundo verdadeiro.

Mas, para guardar tanta memória que refletia em cada detalhe do mundo real, da vida "em vida", era preciso um grandioso computador, capaz de guardar toda essa informação mais a informação de todas as lembranças dos milhares de pessoas que quando "partissem" e se tornassem um Cyber Humano, deveriam permanecer, somando ainda as novas informações que os mesmos obteriam durante a nova vivência, que era infinita. E para isto ser possível, surgiu naquele ano, mediante à uma tecnologia super avançada onde super computadores cabiam na palma da mão de uma criança, um imenso prédio negro, no centro de Tóquio, no Japão real, que era nada mais nada menos que um “prédio computador”. Exatamente como se define. Um prédio em que cientistas e renomados profissionais da área trabalhavam dia e noite monitorando e fazendo a manutenção do mesmo para garantir que tudo continuasse perfeitamente correto como esperado por várias gerações, mantendo assim uma ligação entre dois mundos, o real e o virtual. Uma janela que permitia aqueles que já não estavam mais entre nós, voltarem para conversar, pondo a conversa em dia.

Apesar do tamanho, a Black Tower, como ficou conhecido o prédio de armazenagem de dados, não havia gasto nem mesmo 5% de sua capacidade de armazenagem, cinquenta anos depois, quando já haviam milhões de pessoas cibernéticas vivendo no mundo cibernético. Um grande feito.

No princípio a raça predominante se chamava New Humans ( Novos Humanos ), porém, depois foram surgindo outras, à pedido daqueles que já imaginavam como seria a vida naquele mundo. As novas raças também tinham melhorias físicas, como as que tinha a primeira raça, isto é, se comparar ao corpo humano do mundo real, os corpos virtuais tinham certas vantagens. Elas eram as seguintes:

New Humans: Eram pessoas normais, com o corpo normal, igual de qualquer ser humano “vivo”, só que neles se pode fazer modificações instantâneas na aparência, sem perder a essência do físico que tinham antes da transferência ( *transferência = pós morte para nova vida ). As melhorias se comparado ao antigo corpo são: mais 30% de velocidade que a do humano comum e o dobro de força dependendo do estado físico ( magro, gordo ou forte ), além de que não se cansam facilmente. Antes da transferência, aqueles que estão aptos para viverem no mundo virtual, que escolhem esta raça, podem decidir qual etapa da vida querem aparentar após a morte, em sua “ressurreição”: criança, adulto ou idoso.

Animateds: São aqueles que já foram humanos, mas optaram por ter o corpo com algumas modificações um pouco bizarras após a transferência, como orelhas, rabos e garras de coelho, raposa, gatos, cachorro, urso e guaxinins, até mesmo asinhas de fadas. As melhorias estão na agilidade de +100%, e nos saltos super altos, porém, estes não são muito resistentes ou fortes como os Novos Humanos, mesmo assim, muitos optam por se tornarem Animateds. Timeline disponível: Criança e adulto.

Holly Spirits: Estes tem uma beleza sem igual, optando por modificar totalmente a aparência que antes tinham em vida, se tornando criaturas angelicais. As melhorias são a possibilidade de voar, através de asas das mais diversas cores que somem ou aparecem quando querem e a diversidade das cores de cabelo em tons mais cintilantes. Apesar da beleza, são os menos resistentes, e não são tão velozes como as duas raças anteriores. A única Timeline disponível para os que escolhem pertencer aos espíritos sagrados, é a Adulta.

Slim Beasts: Estes são ex-humanos que optaram por terem o corpo totalmente modificado também, porém, de forma macabra. Eles tem chifres, rabos pontiagudos e podem escolher se querem ou não asas sombrias, como as de corvos ou morcegos, além da cor dos olhos macabras e tatuagens por todo o corpo. Aqueles que escolhem essa transformação, normalmente são aqueles que seguiam o estilo dos amantes do rock em vida, e dizem fazê-lo por moda. As melhorias gerais de condicionamento físico estão na velocidade. Pois correm e se movimentam de forma muito rápida, chegando a ser 65% mais rápidos que um ser humano comum. Sua força física também não é tão ruim, sendo 65% mais forte que a humana do mundo real, sendo considerada no mundo virtual, como mediana. Sua única Timeline disponível também é a Adulta.

E por último a raça High Beasts. Estes fisicamente falando são bem fortes, os mais fortes e os mais musculosos do mundo cibernético. Em sua menor condição física, são mais musculosos que qualquer outro ser de outra raça. Sua força física ajuda no desenvolvimento das cidades, na parte construtiva. Sua linha do tempo disponível é também apenas a Adulta.

Apesar das diferenças, todos sempre conviveram bem, até porque, apenas podem acessar o mundo virtual após a morte, aqueles que foram boas pessoas durante a vida humana.

Além disso tudo, o próprio mundo cibernético tem um programa inteligente que aprende sobre as expressões humanas e seus sentimentos vividos no dia a dia, quando estes já se encontram morando no mundo cibernético. Transferindo essas informações para os animais e outras formas de vida artificiais desse novo mundo, criadas para alegrar o ambiente ou que tem outra serventia mais útil.

E há muitas criaturas verdadeiramente belas, das mais diversas formas vivendo neste local. Desde aquelas que se parecem muito com as que vemos no mundo real, quanto outras inteiramente novas. Jamais vistas antes. Algumas de maior destaque são os dinossauros e dragões que vivem em Old Valley, trazidos diretamente do "passado" tornando a aventura ainda mais empolgante. Porém, estes, são totalmente domesticáveis servindo como montarias para longas viagens, que substituem os grandes aviões na maioria dos países virtuais.

Para passar o tempo, existem artes e tradições que são mantidas. As profissões. Que ajudam no desenvolvimento e avanço da nova sociedade neste mundo mágico e divertido e elas são:

Químico: Especialista em poções que recuperam a energia e fazem passar sensações ruins. Que faz remédios.

Cozinheiro: Que faz ótimos pratos, como ninguém, já que uma das melhores sensações replicadas no Cyber Mundo é a fome e o paladar.

Alfaiate: Que costura desde roupas para desfiles, até roupas de couro para caça.

Minerador: Que tem facilidade em encontrar locais com ouro e joias preciosas. Locais estes, espalhados por todo o continente.

Caçador: Que caça animais nas florestas para venda e comercialização de sua pele e carne.

Construtor: Que cria bons locais para se viver. Também constrói embarcações e aeronaves.

E Ferreiro: Que a princípio construía armas para caça, mas agora, constrói para os exércitos dos reinos, assim como armaduras pesadas.

Cada morador do mundo virtual pode no decorrer de sua vivência escolher 3 tipos de profissões para si.

Mas uma última profissão teve que ser criada por emergência. Assim como existe proteção no mundo real, o novo mundo também teve que desenvolver um método policial para defender os cidadãos da grande ameaça que surgiu repentina. Esta profissão é denominada como Patrulheiro. Este mantém a ordem, defendendo o reino ao qual pertence de possíveis ameaças. Um tipo de policial Cibernético.

Mas que ameaça seria esta se o mundo criado cerca de cinquenta anos atrás, era tão perfeito?

No prédio Black Tower, no mundo real, algo estranho ocorria, algo que explicaria esses motivos e mudaria todas as coisas...

Naquela sala quase vazia, um último corpo de terno e gravata caia ao chão, ensanguentado. Era um dos guardas que vigiavam o setor principal, chamado núcleo cibernético. Quem o invadia, era um homem de cabelos longos e negros, vestido com o mesmo terno que os cadáveres usavam e um óculos de grau, bem fino, que ele ajustava a todo instante no rosto, para não fugir dos olhos. Em seu crachá havia um nome escrito: Steven S. Thompson.

Acompanhando-o, estavam dois guardas, que pareciam ser seus subordinados. Estes, bem armados.
 

Clicando em alguns botões, ele abria um dispositivo desses onde se põe um cd ou algum tipo de disquete, ativando certa programação.

Lá fora, já se podia ouvir o barulho da polícia chegando para capturá-los junto ao perturbador barulho que faziam as ambulâncias. Mas, para onde ele planejava ir ninguém poderia impedi-lo.

Na tela à sua frente, algumas letras apareciam dando-lhe acesso ao que queria.

Acomodando-se na cadeira. Ele que já estava em um dos últimos andares, não estava preocupado com nada. Apenas pegou um capacete de conexão preto e encaixou na cabeça, fechando os olhos e ouvindo: Acesso permitido, efetuando Reprogramação.

Continua...