Alexa e a Guerra da Irmandade escrita por Priscila Luciani
— Você é a garota. – afirmou Alexa.
A ruiva abaixou a cabeça e deixou que a tristeza tomasse conta de seu ser, lágrimas transbordaram de seus olhos, e Melinda teve que ajudá-la a se sentar. Colocou as mãos na cabeça e foi apoderada por soluços altos. Seu desespero era tanto, que Alexa esqueceu-se de suas dúvidas e apressou-se em acalmá-la, saltou do sofá e ajoelhou-se em frente à Aurora, acariciando seus cabelos e puxando-a para um abraço.
— Fique calma. Por favor, fique calma. – exasperou-se a garota.
Aurora agarrou-se à ela e chorava ainda mais. Melinda e Bernardo observavam a cena com o coração apertado, sem saber que atitude tomar, seus corpos ficaram paralisados diante das duas. No fundo de seus corações eles sabiam que aquela cena era bem mais comovente do que a garota imaginava.
A ruiva desvencilhou-se gentilmente do abraço de Alexa, e tomou o rosto da garota em suas mãos, olhando profundamente para os olhos castanhos e marejados daquela que a consolara.
— Obrigada.
Alexa tentou falar, mas seus lábios não responderam ao seu estímulo, e ela continuou parada, fitando aqueles olhos verdes que a encaravam com tanto amor.
— Sim, eu sou.
A garota não se espantou com a revelação, pois soube da verdade assim que Aurora entrou naquela sala e respondeu sua pergunta com voz triste.
— E onde está sua filha? - questionou Alexa.
E aos prantos Aurora respondeu:
— Eu a perdi.
Alexa abraçou novamente Aurora e a confortou dizendo:
— Fique tranquila. Eu encontrarei sua filha. Eu prometo!
O coração de Aurora apertou ao ouvir a promessa daquela jovem que estava disposta a ajudá-la. Ela se afastou um pouco, o suficiente para pôr as mãos no rosto de Alexa e olhar em seus olhos.
— Obrigada minha querida. Mas não se preocupe com isso agora. Venha, quero lhe apresentar um lugar.
Aurora pôs-se de pé, e Alexa fez o mesmo, a ruiva pegou sua mão e a conduziu pelas cortinas brancas, e então a garota pode ver uma adorável cozinha onde Domícia remexia em panelas de barro sobre um fogão à lenha com detalhes rústicos. Tudo naquele lugar era lindo, desde os quartos aconchegantes à sala espaçosa e bem decorada, e em qualquer canto que fosse havia quadros e flores, muitas flores, de todas as cores e tipos. Pensou em seu pai, que adorava enfeitar a casa, e seu coração doeu. Queria que ele estivesse ali. Queria que ele explicasse o porquê de tantas coisas estranhas estarem acontecendo. Em um dia ela era uma garota normal, que adorava se embrenhar por lugares desconhecidos por curiosidade, que corria pelos campos de dentes-de-leão com seu vestido azul e cabelos ao vento, que se escondia em cantos da casa para ler, e que sempre era descoberta por causa de Lua. E agora, era uma estranha em um lugar que não conhecia, cercada de pessoas estranhas, com exceção de Bernardo, que também parecia estranho, e confiando em uma mulher que conhecera há pouco, mas que pela qual sentia uma ligação esquisita, algo que não conseguia explicar. Talvez fosse o fato de as duas terem algo em comum: a dor de terem que se ver longe das pessoas que amam, ou simplesmente tinham se reconhecido.
Aurora atravessou a cozinha em direção a uma porta de baia, mas antes deu um beijo na senhora que agora estava picando hortaliças sobre uma tábua de madeira, a velha ficou ruborizada com a atitude de Aurora, que saiu sorrindo, ainda de mãos dadas com Alexa.
Assim que atravessaram a porta, a garota se deparou com o jardim mais lindo que já vira em sua vida. Flores das mais variadas cores em canteiros perfeitamente cuidados, onde borboletas coloridas faziam festa, tecendo uma imagem inesquecível, a grama era de um verde vivo, que dava a impressão de ser um enorme tapete, e o que mais que chamou atenção de Alexa: uma árvore enorme de copa frondosa e tronco retorcido, que dava a impressão de ser um portal para outra dimensão.
— Que lugar lindo! – exclamou a garota.
— Você gostou?
— Nossa! É maravilhoso!
Enquanto Alexa apreciava o local com os olhos arregalados e as mãos à boca, Melinda e Benjamim se aproximaram. O rapaz colocou-se ao lado da garota, que não percebeu sua presença e agachou-se para pegar uma borboleta, levantando-se em seguida com o lindo animalzinho de asas azuis no dedo indicador.
— Uma borboleta azul! – disse, entusiasmada.
— Sério?! Pensei que fosse um pônei cor-de-rosa. – alfinetou Bernardo.
Finalmente Alexa percebeu a presença do garoto ao seu lado.
— Bom, agora eu estou vendo um familiar do pônei: um asno. – falou, encarando o jovem.
— E eu estou vendo uma jaguatirica desengonçada com problemas mentais.
Alexa fulminou-o com os olhos, e Bernardo conhecia BEM aquele olhar, então não pensou duas vezes, saiu correndo feito um louco pelo jardim, e a garota seguiu atrás dele, gritando vários “Vou te matar!”, “Vou arrancar seu fígado”, “Vou extinguir sua raça do planeta”, e várias outras expressões carinhosas.
Aurora sorria ao ver a cena, imaginando como duas criaturas podiam se odiar e se amar tanto ao mesmo tempo.
— Por que você não contou à ela? – perguntou Melinda, se aproximando da ruiva.
— Pelo simples motivo que paralisa a todos. – ela abaixou-se e juntou uma flor caída, depois se recompôs e encarou a amiga de tantos anos – Medo.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!