Guerreiros escrita por L M


Capítulo 79
Bônus: Chang - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus!!!! Queria agradecer imensamente a leeka pela recomendação adorável e especial!!!! Fiquei muitoooo feliz, obggg mesmo!!!!! ♥
Então gente, esse é o último capítulo Bônus, explicando mais sobre a história do Chang, que se dividirá em duas partes! A primeira para sua infância e a segunda para ele na guerra!
Se vocês quiserem que eu o faça mais no final, abordando/explicando outro personagem, fiquem a vontade nos comentários para pedir. Só lembrando, que esse é o último Bônus, depois terá a continuação da batalha, se quiserem outros bônus, farei mais no final mesmo, talvez antes do epílogo.
Boa leitura!!!!
Obgg mais ma vez leeka :D



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https://www.youtube.com/watch?v=Ar7nVbjAsEw

O pequeno garotinho estava ofegante, o corpo curvado para frente, com ambas as mãos postas em cada joelho e os olhos envoltos de raiva por ainda não ser o melhor. O homem alto a sua frente de cabelos incrivelmente pretos, curtos e lisos o encarou sério, os braços fortes estavam cruzados sobre o peito pálido, ao passo que fitava o pequeno garoto bufar de raiva pelo fracasso. O homem fechou a mão direita em punho e o fogo emanou dali, como uma tocha quente, envolvendo todo o punho do mesmo, chamando a atenção do pequeno garoto que endireitou o corpo vendo com um mínimo sorriso e os olhos brilhando, o chakra quente envolto da mão do pai:

—Por que eu ainda não consigo, papai?-perguntou a pequena criança cabisbaixa, os olhos puxados marejando, mas mesmo sendo um garotinho de seis anos, ele não iria chorar na frente do pai:

—Porque você se cobra tanto, meu filho?-perguntou o homem se abaixando, ficando de joelhos, na frente de seu pequeno:-Chang, não se trata do sucesso rápido. Para alcança-lo requer tempo e esforço, e assim, ser apreciado com a melhor sensação que existe.

—Quanto tempo vou demorar?-perguntou o pequeno soluçando:

—Anata ga toru jikan wa mondaide wanai, watashi no otokonoko. Yume o jitsugen suru ishi no chikaku de matte iru no wa nanidesu ka?-falou o homem sorrindo para o menino que o acompanhou com um mínimo sorriso. O guerreiro puxou para seus braços o pequeno ser, e o acolheu ali, no calor de seu peito:-O tempo que você demorar não importa, meu garoto. O que é a espera perto da vontade de se realizar um sonho?

—O vovô disse que não posso demorar muito, que tenho que honrar nosso clã.-falou o garotinho e o homem fechou os olhos o abraçando mais forte. Por algum motivo, sabia que tal frustração sentida por seu pequeno, tinha algo a ver com outra pessoa:

—Seu avô as vezes, diz coisas que devemos ignorar.-falou o homem se afastando de Chang e colocando sua mão na cabeça do menino:

—Shikashi sore wa bureide wanaideshou ka?-perguntou a criança inocente fazendo um bico para perguntar e cruzando os bracinhos, gerando uma risada do pai pela perspicaz do filho:-Mas não seria desrespeito?

—Não Chang, não seria... Nem sempre devemos ouvir algo que sabemos que não nos fará bem.-falou o homem se erguendo e de mãos dadas com o filho saíram do dojo:

—Então posso ignorar a mamãe quando ela me manda arrumar o quarto?-perguntou o pequeno com os olhos brilhando:

—Anata ga watashi o sofā de netainara, hai... Anata no sofu to issho ni kore o tamochimashou, anata no okāsan wa taisho suru no ga muzukashīdesu.-falou o homem sorrindo e a criança assentindo:-Se quiser que eu durma no sofá, sim... Vamos manter isso só com seu avô, sua mãe é mais difícil de lidar. Mulheres são complicadas filho, elas alcançam onde ninguém mais chega... No coração.

—E o que acontece?-perguntou o garotinho assustado:

—Quando você for mais velho e conhecer uma mulher que faz seu coração dispará, ela chegou lá.-falou se pai sorrindo pelo olhar desesperado de Chang:

—E o que eu faço quando ela chegar no meu coração?-perguntou Chang quase em pânico:

—Você a arrebata para si.-falou o homem e o menino o olhou confuso:-Acalme-se, meu filho, um dia você entenderá.

—Espero que nunca...-murmurou o pequeno.

Saindo do dojo uma mulher de longos cabelos pretos e lisos, vinha com um leque em uma mão, sorrindo meiga para ambos. Era a mãe de Chang, Alli, com seu vestido rosa claro com flores sákuras de cor branca e um véu sobre os braços também da coloração branca. Porém Chang franziu o cenho, ao ver que segurando a mão de sua mãe, uma garotinha de cabelos castanhos amarrados em um pequeno coque de fita verde-água clara e vestido simples branco com flores da mesma cor da fita, caminhava em sua direção:

—Chang, meu querido, eu quero te apesentar a um pessoa.-falou Alli chegando próximo dos dois e o rosto da pequena garotinha se tornou rosado, o que Chang não entendeu:-Esta é Emi! Meinoa Emi... Filha de minha amiga Azami.

A garotinha fez uma pequena reverência ao seu pai e Chang emburrou a cara, logo mudando de expressão ao ver o olhar quase assassino de sua mãe para si:

—Sore wa yorokobidesu, Emi-cham.-falou seu pai, curvando a cabeça em respeito:-É um prazer, Emi-cham.

—Chang! Não vai falar nada?-perguntou Alli fechando o seu leque bege com uma foça desnecessária, o que fez o garotinho sorrir e engolir a seco:

—Olá, Emi-cham.-falou o garotinho e a menina inflou as bochechas coradas e fez uma reverência exagerada para o menino, que olhou o pai confuso, mas este encarava sério para um ponto ao longe. Chang, em dúvida, acompanhou o olhar do pai, encontrando seu avô os fitando acima do morro:

—O-O-Olá Ch-Chang-kun...-gaguejou a menina:

—Isamu...-murmurou sua mãe, virando-se para seu pai:-O seu pai está o chamando, querido.

—Já estou indo! Com sua licença.-falou o pai mais sério do que de costume.

Chang viu o olhar preocupado de sua mãe acompanhando o pai para longe até o mesmo sumir de vista junto ao avô. Chang era apenas uma criança e não entendia muitos assuntos do mundo dos adultos, como também pouco conseguia enxergar em ações o que estava acontecendo; porque quando se é criança, a vida é a mais bela mentira já vista, e uma fachada para os problemas.

Alli suspirou voltando a sorrir, encontrando ambas as crianças a encarando confusas:

—Naze watashi wa sore o kodomo no yō ni mite iru nodesu ka? Chang, sutekide, Emi to asobiniiku... Watashi wa kitchin de okāsanto kukkī o tsukuru tsumoridashi, dochira mo soko ni ite hoshikunai.-falou Alli sorrindo e abrindo novamente o leque:-Ora, por que estão me olhando assim, crianças? Chang, seja bonzinho, e vá brincar com a Emi... Eu vou fazer biscoitos junto com a mãe dela na cozinha e não quero nenhum dos dois lá.

—O que?!-a voz de Chang saiu mais alta do que ele esperava, o que fez sua mãe arquear uma sobrancelha e ele dar três passos para trás:-Digo... Por que mamãe? Eu sou um menino e ela uma menina! Como se brinca com uma menina?

—Ora, meu pequeno... Sei que você dará um jeito.-falou Alli se abaixando na altura do filho:-Não achou ela bonitinha?

Chang engasgou com a saliva, encarando a mãe com os olhos arregalados, a face vermelha e quente (que o menino jurava ser seu chakra) e a boca escancarada:

—Mama!-berrou o menino:-Mamãe! Não! Ela não é! E eu tenho que treinar.

—Ah, quem disse isso?-pergunto Alli com uma expressão confusa:

—O vovô disse.-falou o garotinho e Alli bufou:

—Estou tomando ranço desse velho.-falou a mulher e o filho a encarou com dúvida:-Esqueça o que ele diz! E vá brincar com a Emi, senão não comerá biscoitos.

—A senhora é muito má, sabia?! Chantageando o próprio filho?! Isso é coisa que se faça?!-bradou a pequena criança:

—Disse alguma coisa?-perguntou a mulher o encarando com um olhar raivoso, mexendo no leque em mãos:

—Vamos brincar, Emi-cham!-falou Chang indo até a menina quase correndo.

O rosto da garotinha se tornou rosado novamente e ela assentiu inúmeras vezes mexendo a cabeça. Alli deu um sorriso mínimo e se tornou séria ao retornar para casa novamente, com um ar superior para os guardas que ali ficavam de prontidão em ordem de seu sogro, mas ela não iria brigar com ninguém hoje, não... Deixaria seu filho brincar mais o quanto pudesse, e evitaria que o pai de seu amado o transformasse em mais uma arma para o "orgulho do clã". Pelo menos ela pensava que Isamu fosse lutar mais.

Chang foi correndo até próximo de uma enorme árvore de sákura's que ali ficara florescendo, acima de um riachinho com águas cristalinas contendo vários peixes-gatos. O Sol brilhava, e o céu estava de um puro azul conforme o garoto pulava em cima de uma pedra que ali tinha em pose de "fortão":

—Dakara watashitachi wa nani o suru tsumoridesu ka?-perguntou o menino a Emi que estava parada segurando o vestidinho com ambas as mãos, dando a visão dos pequenos pés dela, envoltos em uma sapatilha de cordas branca:-Então, o que vamos fazer?

—Do que você quer brincar, Chang-kun?-perguntou Emi largando o vestido e mexendo nas mãozinhas:

—Asobu tame ni dare ga watashitachi ga akachan no yō ni asobu to itta nodesu ka?-bradou o garotinho se sentando na pedra, erguendo um joelho e mantendo a outra perna esticada, exibindo uma expressão de indignação:-Brincar? Quem falou que vamos brincar, igual a um bando de bebês?!

—Naze, anata wa sore o itta nodesu ka-falou Emi o encarando em dúvida:-Ora, mas você disse!

—Ah, Emi-cham!-exclamou o garotinho revirando os olhos e pulando da pedra caindo de joelhos, mas logo se levantando como se nada tivesse acontecido (como se não estivesse sentindo dor pela queda), tossindo de leve:-Falei isso para que minha mãe me deixasse em paz! Na verdade eu teria que estar treinando agora, para um dia liderar meu clã e ser o mais forte guerreiro. Como o meu pai!

—Anata wa mada wakaidesu! Watashi no okāsan wa kodomo-tachi wa asobu hitsuyō ga aru to itte, anata wa kodomodesu!-falou Emi cruzando os bracinhos e corando ao notar Chang a encarando sem nem ao menos piscar com o cabelos negros até a nuca brilhando a luz do Sol:-Você ainda é muito novo! Minha mãe diz que crianças precisam brincar e você é uma criança!

—Bobagem!-falou o garotinho indo até a margem do lago e olhando seu reflexo nas águas límpidas, com Emi ao seu lado tímida:-Um dia Emi... Eu vou ser tão forte quanto o meu pai! Vou poder fazer fogo com as mãos!

—Fogo com as mãos?! Como se faz isso?-perguntou a garotinha  encarando com seus enormes olhos claros Chang, que a fitava sorrindo ao despertar a curiosidade de Emi:-Minha mãe diz que brincar com fogo é perigoso, podemos nos machucar!

—Não é perigoso! O fogo que irei fazer, vai ser como o do meu pai! Bonzinho!-falou o menino erguendo uma mão, como se houvesse fogo nela:-Ele aquece e conforta quando estamos tristes.

Ele colocou a mão na bochecha de Emi, inocentemente, que arregalou os olhos corando, conforme o garotinho sério acariciava a bochecha rosa da menina:

—Ele não é para machucar, porque ele tem sentimento.-falou Chang baixinho, como se fosse um segredo entre os dois:-E quando nós amamos ele não machuca, ele cuida... Meu pai que me disse!

—Dono yō ni utsukushī!-exclamou Emi sorrindo abertamente, ainda um pouco rosa nas bochechas, ao passo que Chang sorria assentindo retirando a mão em contato com a face dela:-Que bonito!

—Meu pai faz carinho na bochecha da minha mãe quando ela está brava ou falando muito.-falou o garotinho dando de ombros:

—Mas eu não estou brava, Chang-kun!-falou Emi seguindo o garotinho que voltava em direção ao dojo:

—Não, mas eu estava ficando com a sua falação sobre "o que sua mãe diz".-falou Chang gargalhando com a expressão surpresa da garotinha se tornando um bico de raiva:

—Yamero! Omoshirokunai!-falou Emi cruzando os braços:-Para com isso! Não tem graça!

—Anata no kao wa omoshiroidesu!-gritou Chang rindo alto, correndo de uma Emi enfurecida atrás do mesmo:-Sua cara é engraçada!

—Sore wa nanimonai, taikutsuna baai!-gritava ela atrás dele, correndo no jardim:—Não é nada, seu chato!

Sem preocupações sem escutar os gritos dos dois homens que vinham de dentro da enorme casa.

Porque a infância é como um botão de flor, esperando pacientemente para desabrochar e conhecer o mundo, correndo o risco de ser despetalada ou até arrancada, porém era um risco que a vida colocaria para todos.

                                                                            ***

 

https://www.youtube.com/watch?v=LtHF9iih8rw

4 anos depois.

—Sore o kikku! Orosu! Sōdesu! Kimiwarui! Dojji! Atakku!-as ordens eram ouvidas por todo o jardim ao redor do dojo. A voz alta de Isamu mandando um Chang executar os movimentos. Agora com 10 anos, o garoto já sabia lutar, mas lhe faltava disciplina, assim como qualquer criança:-Chuta! Abaixa! Direita! Rasteira! Esquiva! Ataca! 

Chang lutava com Yuko Nohara seu amigo que morava em uma fazenda próxima a residência Honō ryū, ambas as famílias contendo um laço e amizade. Seu pai gritava em sua cabeça, o suor pingava da testa do garoto, e o cenho franzido com leves dores pelo peito e barriga, pelos golpes recebidos; os cabelos negros batendo até os ombros, que vez ou outra o atrapalhava atacar Yuko.

O garoto possuía os cabelos castanhos curtos e olhos verde-musgo, ambos lutavam sem camisa apenas com suas calças com os dizeres de seus clãs descendo pelas pernas, na lateral do tecido. Yuko atacou Chang com uma rasteira, mas o garoto pulou escapando da mesma, pegando impulso e girando com a perna direita esticada, com o intuito de chutar a face do oponente, todavia Yuko ergueu o braço e com o pulso repeliu o ataque, mas Chang sorriu de lado girando o corpo, ainda no ar, e com a outra perna chutou a barriga do garoto que foi psra trás ofegando.

Yuko caiu de costas, logo erguendo ambas as pernas e subindo novamente, socando a cara de Chang que virou-se todo para um lado, pela força do golpe, os olhos enchendo-se de lágrimas contendo a dor, mas os dentes cerrados de raiva o impediam de derramá-las:

—Idiota!-gritou Chang socando o garoto na cara que o fez cair para o lado, porém quando ia socá-lo novamente sentiu seu punho ser segurado e ao olhar para tras, seu pai estava lá, sério e imponente com uma sobrancelha arqueada.

Isamu puxou Chang para trás, fazendo o filho cair de costas exclamando de dor:

—Yūko ga katta!-falou o homem suspirando, fazendo com que ambos os garotos erguessem os rostos com os olhos arregalados descrentes:-Yuko ganhou!

—O que?!-exclamou Yuko com um leve sorriso:

—MAS, O QUE?!-berrou um indignado Chang se levantando, abrindo ambos os braços:-O último golpe foi meu! Que sacanagem é essa, pai?!

—O golpe pode até ter sido seu...-começou Isamu, mas o filho o interrompeu:

—"Até" não, foi meu!-falou o garoto e Isamu bufou impaciente, fazendo com que Chang se retesasse um pouco. O pai andava com muita raiva ultimamente, na verdade desde sempre, havendo brigas e gritos entre ele e seu avô a todo momento, e quando sua mãe entrava no meio, aí ninguém conseguia dormir naquela casa:

—Não interessa, Chang! Yuko teve mais disciplina e ordem para escolher os movimentos certos e precisos, como o punho para repelir seu golpe, o movimento de queda que se tornou um impulso para acertá-lo na cara...-falou Isamu, com Chang o interrompendo novamente:

—O que, com certeza, ficará roxo, Yuko! Idiota!-bradou Chang com raiva, fazendo Yuko erguer ambas as mãos em sinal de um pedido de desculpas:

—E por último, mas não menos importante... Ele não xingou seu adversário, no caso você, nenhuma vez!-falou Isamu e Chang bufou revirando os olhos:-Não ouse revirar esses olhos para mim, garoto. Aceite a derrota e faça melhor na próxima vez, e não esse fiasco, no qual acabei de assistir.

Depois de mais algumas recomendações, com Yuko prestando atenção e Chang mau-humorado de braços cruzados a todo momento, Isamu os liberou para o resto da tarde. Chang fez menção de sair dali rapidamente, mas parou quando seu nome fora soado pelo local e o garoto parou:

—Watashi wa anata ni hanasu hitsuyō ga aru!-falou Isamu de braços cruzados olhando para as costas do filho:-Preciso falar com você!

—Droga...-murmurou garoto baixo, somente para si fechando os olhos, em seguida virando-se para o pai que o encarava sério:-Pode ir na frente, Yuko! Eu te vejo no portão principal do clã.

—Wakatta! O ai shimashou Honō ryū!-falou o garoto fazendo uma reverência, na qual Isamu retribuiu, e em seguida se retirou correndo do local. No momento, Chang invejava muito o amigo:-Entendido! Até mais ver, senhor Honō ryū!

Um silêncio desconfortável se instalou pelo local, o que fazia um frio correr pelo estômago de Chang, que de maneira nenhuma queria encarar o pai.

Isamu se aproximou do filho e se ajoelhou na frente do mesmo que mantinha a cabeça abaixada, a expressão séria de desagrado, as mãos em punho, almejando desesperadamente sair dali. Odiava ser repreendido pelo pai, ainda mais na frente de Yuko, queria ser sempre o melhor para mostrar para o pai que não precisava brigar com seu avô, quando o velho o criticava, porque ele estava forte o suficiente:

—Chang.-murmurou o homem e o garoto encolheu os ombros:-Olhe para mim.

Chang obedece, encontrando um par de olhos negros, assim como os seus:

—Anata no tatakai wa kyō wa yokunai to wa omowanaide kudasai.-a voz do pai soou amena, quase calma; o garoto sentia falta desses momentos com o pai, que se tornavam a cada dia mais difíceis de acontecer. O homem nunca mais o chamou de "meu filho", ou "meu garoto", menos ainda "meu pequeno", não que Chang quisesse ser chamado disso, mas não estava pronto para ser tratado com tanta frieza pelo pai que tanto amava:-Não pense que sua luta não foi boa hoje.

—Watashi wa kangaeru hitsuyō wa arimasen, anata wa sudeni sore o ōgoe de itte imasu.-falou Chang com raiva, desviando o olhar novamente, apertando tanto as mãos em punho, que chegava a doer:-Não preciso pensar, o senhor já disse em voz alta.

Odiava não ser bom suficiente para agradá-lo, sentia-se um inútil quando não obtinha êxito em algo. Por mais que sua mãe falasse a noite aos sussurros em seu ouvido, que não importava o que ele faça, seu pai sempre iria amá-lo, não era a total verdade para o pequeno Chang:

—Não ponha palavras em minha boca, Chang!-falou o homem e Chang se encolhe, quase querendo desaparecer perante a voz fria e sádica do pai para com ele:-Sabe o motivo de não ter ganho o combate hoje, não foi por eu não ter gostado de seus golpes... Pelo contrário eu os adorei!

—Poderia me elogiar de vez em quando então, pai. Eu não me importaria... Pelo contrário não iria me sentir tão babaca, iria adorar!-falou o garoto sério encarando firme o pai, fazendo com que Isamu visse a si mesmo no filho, o que não o agradou:

—Anata wa sutekina kawai kodesu! Hontō no hito wa kore ga tsuyoku naru hitsuyō wanainode, watashi wa anata o shitte imasu... Anata wa sukunakutomo" hijō ni yoi" mono o ereba rirakkusu shimasu. Anata ga bukiyōna hito no yō ni kōdō shi tsudzukeru kagiri, don'na kachi ga arimasen!-falou o homem, com a voz áspera, as palavras atingindo o tão descompensado e frágil coração da criança, que arregalou os olhos, para logo respirar fundo, mantendo sempre um "Não chore", rodeando sua mente:-Você é um insolente, moleque! Não elogio, porque um guerreiro de verdade não precisa disso para se tornar forte e eu te conheço... Você irá relaxar se receber ao menos um "muito bom". Não merece nenhum, enquanto continuar agindo como um petulante!

—Posso ir?-perguntou o garoto com a voz baixa e a cabeça tão baixa quanto:

—Não preciso mais olhar para você... Vá!-falou Isamu virando-se de costas para o filho que nem ao menos esperou outras palavras, apenas saiu correndo dali o mais depressa possível.

Conforme corria o ante-braço ia cobrindo os olhos que transbordavam em lágrimas, os dente cerrados e o vento bagunçando os cabelos. As malditas lágrimas caíam desenfreadas pelo seu rosto, pelo papel de idiota que o garoto passara com o pai dentro daquele dojo. Nunca Isamu falara assim com ele, nunca... Chang amaldiçoava sua sorte e seu comportamento, porque se seu pai brigava com o mesmo, o garoto estava errado! Muito errado! Porém não adiantava, por mais que lhe doesse cada palavra do pai e se arrependia de suas ações, odiava chorar. Esta é a prova de que Chang sempre fora forte, desde criança, porque os fortes choram sozinhos e nunca na frente de alguém, o garoto considerava tal ato uma demonstração de fraqueza e detestava se sentir assim, com a garganta formando um bolo, uma vontade de gritar e fugir, conforme sua dor escorria pelo rosto em forma líquida, que deixava os olhos vermelhos e inchados.

O garoto chegou até o portão principal avistando Yuko já vestido o esperando, Chang correu até ficar atrás de um enorme árvore, com as costas nuas em contato com a aspereza do tronco, ele foi deslizando até sentar no chão, o rosto impassível, os cabelos caindo no mesmo, e dos olhos, as lágrimas ainda desenfreadas deslizavam, conforme ele tentava limpá-las com violência e soluçar o mais baixo possível. Não queria que ninguém o visse naquela situação vergonhosa, que para ele era o cúmulo, mas o pequeno não podia evitar, por mais que fosse forte ainda era uma criança. Pensava no que sua mãe faria se o visse assim, na certa bateria com o leque na cara do pai, o que não era uma ideia horrível, se levasse em conta que Alli fez o mesmo com seu avô, quando o velho o xingou de "filho inútil". Doeu? Claro, como se alguém houvesse acertado um soco na boca do estomago de Chang, porém ele se manteve firme na hora, não demonstrando o quanto tais palavras o machucaram, porém somente deixou-se chorar quando já estava em sua cama debaixo dos lençóis; e não doeu somente pelas palavas, mas pelo pai não ter levantado e o defendido, todavia sua mãe se mostrou ser mais feroz e valente do que qualquer guarda que tentou segurá-la de terminar de quebrar o nariz do avô. O garotinho dormiu aos prantos naquela noite, ouvindo os gritos dos pais brigando no quarto ao lado.

Chang passou ambas as mãos pelo rosto molhado, não sabendo distinguir ser de suor ou lágrimas, apenas o limpou, puxando os cabelos para trás de sua face. Quando se sentiu pronto, sem nenhum vestígio de lágrimas, ele se pôs de pé e vagarosamente foi caminhando até o amigo que o esperava pacientemente, mal fazendo ideia de que o mesmo estava atrás de uma árvore chorando como se o pai tivesse o batido, e ele preferiria que tivesse acontecido isso, porque um golpe doeria menos do que ter as palavras do pai ecoando até agora em sua mente, machucando seu pobre coração, porque as piores palavras vem de quem mais amamos:

—Yuko!-chamou Chang o amigo que se virou, dando visão a blusa do garoto posta em um dos braços do Nohara:

—Chang! Você demorou!-falou o garoto sorrindo coçando a nuca, porém ao encarar o rosto do amigo, seu sorriso foi se desfazendo:-O que aconteceu?

—Não aconteceu nada, por quê a pergunta?-rebateu Chang pegando a blusa dos braços do amigo e a colocando, exibindo o símbolo do dragão em vermelho tendo contraste com o preto do tecido:

—Você está estranho... O que o Isamu-sama queria?-perguntou Yuko e Chang engoliu a seco:

—Nada demais, apenas dizer que me treinará mais.-falou o garoto dando de ombros mexendo nos cabelos:

—Hontōdesuka?-perguntou Yuko apertando os olhos em direção a Chang que ficou nervoso.O garoto queria contar, mas seu orgulho não deixava, há coisas que precisam ser enfrentadas sozinhas, sem ajuda:-Verdade?

—Watashi wa shitsumon no riyū o shiru koto ga dekimasu ka?-bradou Chang com raiva, mas Yuko nem ao menos mudou a expressão:-Posso saber o motivo do interrogatório?

—Shinpai... Anata wa sōde wa arimasen.-falou Yuko o encarando severo, os olhos verde-musgo arrebatando Chang a quase contar ao amigo o que houve, mas se conteve:-Preocupação... Você não é assim.

—Assim como, Yuko?! Estou normal!-falou o garoto teimando:

—Você não tem esse olhar, Chang... Conheço você!-falou Yuko franzindo o cenho, ainda impassível aos berros do amigo:

— Dono yō na ikken, Yūko! Totsuzen daremoga watashi yori jibun o yoku shitte imasu ka? Yamero!-gritou Chang com raiva. Detestava jogar suas frustrações em pessoas inocentes, mas Yuko não estava ajudando em nada com aquele monte de perguntas:-Que olhar, Yuko?! De repente todo mundo me conhece melhor do que a mim mesmo?! Que droga!

—Olhar triste e amedrontado...-murmurou Yuko e Chang parou o encarando com a boca escancarada. O amigo conseguiu distinguir por seus olhos. Claro, ali ele não podia mentir, não era como dar um sorriso falso; porque os olhos são os espelhos da alma e somente os mais próximos a ti conseguem enxergar o que eles dizem:

—Não é nada, Yuko! Não precisa se preocupar...-falou Chang sorrindo de leve colocando uma mão no ombo do amigo que repetiu o gesto:-Caramba que roxo é esse na sua cara?!

—Na minha?! Já viu a sua?!-rebateu Yuko e ambos riram juntos:-Temos um lugar para ir.

—Nani? Dōiu imidesu ka? Watashi wa ima nanika ni chōsen shite iru to omottanode, watashi wa anata o utsu koto ga dekimashita.-falou Chang sorrindo presunçoso, beijando o punho:-O que? Como assim? Pensei que fôssemos competir em alguma coisa agora, para eu poder te derrotar.

—Watashi o shinjite, watashi wa sukidesu... Shikashi, anata wa oboeteinai nodesu ka?-falou Yuko o encarando com cenho franzido e um sorriso brincando nos lábios:-Acredite eu iria preferir... Mas você não se lembra?!

—Não lembro do que?! Yuko não sei do que você tá falando, qual é...?! Bati tão forte assim.-falou Chang rindo da cara de raiva do amigo:

—Muito engraçado... Emi vai te matar!-falou o garoto e Chang parou de rir em um súbito de pânico:

—Oh, meu Deus... Emi?! Mas o que tem essa garota?!-indagou Chang e Yuko gargalhou, fazendo o jovem Honō ryū revirar os olhos impaciente:

—Não se lemba que você concordou de nós irmos fazer um piquenique com a Emi e a Sayuri?!-indagou Yuko gargalhando ainda mais da expressão de assombro de Chang:

—Watashi wa nani ni dōi shita no ka?!-Chang quase berrou seguindo Yuko que já caminhava pela estrada de chão, saindo de seu clã:-Eu concordei com o que?!

—Também não sei como... Mas é só a Emi piscar aqueles olhos pra você e pronto, você faz tudo o que ela quiser.-falou Yuko e Chang sentiu o rosto esquentar:

—Que absurdo! Eu não faço isso, seu idiota!-falou Chang segurando no braço do amigo:-Por quê nós vamos? Podemos faltar!

—Anata wa muchūdesu ka? Korera no on'nanoko wa okotta koto ga arimasu ka? Karera wa anata no hahaoya no seikakuna kopī no yō ni mie, watashi wa anata no hahaoya ni tsuite no akumu o motte irunode, ikou!-bradou Yuko arrastando um Chang chocado pelo braço:-Ficou louco?! Já viu essas meninas com raiva? Parecem uma cópia exata da sua mãe e eu tenho pesadelos com a sua mãe, então vamos logo!

—Você é um medroso, sabia disso?!-indagou Chang revoltado:

—Os medrosos são os últimos a morrer.-falou Yuko:

—Quem disse uma mentira dessas?!-indagou Chang com raiva:

—Eu! Cale a boca e vamos logo, veja pelo lao bom.. Nós vamos a um piquenique comer!-falou Yuko entusiasmado:

—Argh!-resmungou Chang.

                                                              ***

 

https://www.youtube.com/watch?v=D5kKldQQzGs

4 anos depois.

Yuko ia na frente com ambas as mãos atrás da cabeça sorrindo abertamente porque novamente iriam a um piquenique com Sayuri e Emi, mas Chang já estava suspeitando seriamente que a vontade de ir ao encontro, não era somente pela comida e sim por uma outra pessoa. Já fazia algum tempo que ele via o quanto o Nohara estava estranho quando ficava perto da garota; Sayuri era bonita, isso Chang não podia negar, ela possuía os cabelos curtos lisos castanhos, a pele bem pálida com algumas sardas e os olhos marrons como se fosse a própria terra, mas se dissesse isso a Yuko capaz de levar um soco na cara. Não... Chang não se sentia estranho como Yuko, porém estava começando a se sentir ligeiramente incomodado com sua frequência cardíaca quando via outra pessoa, que ele nunca, nem sobre tortura, iria admitir a alguém.

Emi.

Por alguma razão a morena estava começando a se tornar linda aos olhos do jovem guerreiro, não era mais aquela garotinha chata que corava e batia em si quando excedia na brincadeira. Não... Ela estava como uma perfeita dama, a pele morena como se os próprios raios de Sol tivessem a beijado, os cabelos castanhos que formavam cachos nas pontas os olhos que Chang se perdia, em um tom de mel único, o doce favorito do garoto, agora um rapaz de 14 anos.

Já havia virado rotina em uma vez na semana os quatro se encontrarem na campina de flores do campo, após o treinamento de Chang, já que Yuko agora estava ajudando seu pai com a fazenda onde moram. O jovem guerreiro estava a ponto de fugir, conforme os dias se passavam e sua convivência com o pai estava cada vez mais difícil, havia piorado desde que o mesmo voltara de um pequeno confronto a dois meses. Gritava sem parar, tanto com ele, quanto com sua mãe que aguentava melhor do que ele, que sempre respondia o mesmo, só não apanhando ali, porque Isamu descontava tudo no treinamento pesado. Fazia algumas semanas que Chang não retirava a camisa, não importava o quão calor estivesse, estava repleto de marcas pelo peito e nas costas, como se o mesmo tivesse levado uma sura, (o que não foi diferente), porém hoje Chang fez questão de revidar. Se não fosse seu avô, que pela primeira vez fizera algo de útil, que entrou no meio da briga, com toda certeza o estrago teria sido maior. Tanto nele, quando no pai que também saiu com escoriações, que Chang fez questão de deixar.

Chang caminhava com dores por todo o tórax e nas penas também, estava com a calça de seu clã negra, sapatos do mesmo tom e uma camiseta de treinamento que ele não se deu o trabalho de retirar. Os braços morenos fortes estavam a mostra, devido ao treinamento pesado, Chang estava mais forte para a idade; os cabelos negros maiores, batendo até o meio das costas e lisos brilhavam e balançavam, ele não gostava de prende-los, gostava de deixa-los soltos. Os olhos tão negros quanto uma pedra ônix, faziam vários corações se apaixonarem perdidamente pelo mesmo, ainda mais quando levava o emblema de dragão do clã em suas costas. Mas Chang não ligava para isso:

—Tem como ir mais devagar, Chang?! Assim ao anoitecer chegamos lá!-reclamou Yuko se virando para encará-lo. Chang nunca contara nada do que acontecia dentro de sua casa para o amigo, não por não considerá-lo de confiança ou algo do tipo, mas toda família tinha seus segredos, e Chang que queria poupá-lo do seu inferno pessoal:

—Que tal eu ir nas suas costas, Yuko?! Pra mula só falta o rabo.-falou Chang gargalhando, conforme o garoto Nohara parava o encarando com os olhos apertados:

—Tá querendo apanhar, Honō ryū?! Vou fazer um estrago nesse rostinho que faz todas, TODAS, as garotas da vila suspirarem.-falou Yuko gargalhando em seguida, conforme recebia um soco de Chang que já chegara ao seu lado:

—Não mudaria nada, meu amigo...-falou Chang piscando para o mesmo, porém que fez várias garotas corarem ao vê-lo fazer tal gesto:

—Kore wa fuseidesu! Soshite, anata wa nani mo te ni iremasen! Anata no mondai wa nanidesu ka? Mangaichi,-ka ga sukidesu ka?-perguntou Yuko e Chang arregalou os olhos empurrando o amigo no carrinho cheio de terra de um senhor, fazendo ambos o xingarem:-Isso é uma injustiça! E você não fica com nenhuma! Qual o seu problema...?! Gosta de homens, por acaso?!

—Anata wa kurutteru no? Mochironde wa arimasen! Watashi wa shimasuga, watashi wa anata yori mo hikaemedesu... Soshite, tokorode, Sayuri wa mada anata ni okotte imasu ka?-prguntou Chang e Yuko revirou os olhos erguendo os braços:-Ficou louco, cara?! É claro que não! Eu fico sim, mas sou mais discreto que você... E por falar nisso, Sayuri ainda está com raiva de você?

—Não sei o motivo dessa "raiva" dela, afinal... Nós não temos nada! Qual o problema em eu ficar com outras garoas?-pergunto Yuko:

—Ah, deixa disso! Você queria ter algo com a Sayuri, mas é covarde demais para admitir para ela.-falou Chang gargalhando bagunçando os cabelos de Yuko, que cinco centímetros mais baixo:

—Ah... Eu sou covarde?! Você também é então, meu amigo.-falou Yuko e Chang o encarou em dúvida:

—Por que?-perguntou o garoto:

—Ora... Acha que eu não vejo o jeito que você olha para Emi, aliás... Sempre olhou, né?!-falou Yuko dando de ombros e Chang engasgou com a saliva.

Não demorou muito para os garotos adentrarem na campina de grama baixa verdejante, repleta de flores do campo em branco, rosa claro, lilás amarelas e azuis anil. O lugar era calmo, com algumas árvores que exibiam seus frutos orgulhosas nos galhos grossos, o céu azul com algumas nuvens fazendo formas e a brisa soprando leve. O local realmente era capaz de acalmar até a pessoa mais sedenta em preocupações, Chang depois de um tempo, passou a adorar o lugar.

Ao longe avistaram uma toalha branca com escritos em japonês de coloração vermelha, as comidas já postas e sentada de postura ereta estava Sayuri de kimono até a canela azul escuro com estrelas amarelas bordadas no tecido, com uma faixa grossa amarela na cintura. A garota nem ao menos olhou na direção dos dois garotos, o que fez Chang jurar ouvir um engolir a seco de Yuko.

Todavia em pé acenando para os dois, estava Emi. Um kimono que batia até a canela também, branco com flores rosas claras, uma faixa mais grossa na cintura também rosa, descalça e sorrindo em direção a eles. Chang ergueu um braço acenando, conforme Yuko dava um berro:

—Kon'nichiwa, on'nanoko! Watashi wa uete iru!-falou Yoko sentando rapidamente em cima da toalha. Sayui nem ao menos ergueu os olhos de seu doce para cumprimentá-lo:-Olá, garotas! Estou faminto!

—Olá, Chang!-respondeu Sayuri seca, o que fez Yuko arquear uma sobrancelha e abrir a boca em decrescência:

—Oi Sayuri.-responde Chang encabulado passando uma mão atrás da cabeça, logo sentindo braços o circularem e suas costas rugirem de dor. Uma dor aguda que o deixou tonto, porém abriu um singelo sorriso tentando suportar a mesma, encarando Emi que o olhou o cenho franzido:

—Sorehanandesuka? Anata wa umaidesu ka?-perguntou ela baixinho para que somente ele escutasse. Mas Yuko e Sayuri já iniciavam mais uma discussão para prestarem atenção nos dois:-O que foi? Você está bem?

Emi depois de uns anos começou a fazer cada vez mais parte dentro da vida de Chang, tonando-se sua melhor amiga e confidente. Ela, assim como Yuko, conseguia ver quando ele não estava bem, porém Emi era mais insistente em descobrir, mas Chang nunca contaria a ela... Não queria preocupá-la:

—Estou ótimo, Emi.-falou Chang sorrindo, o que pareceu não convencê-la:

—Mesmo?-perguntou ela irônica passando seus braços ao redor dele novamente, encarando sua face. Apertou-os ali e Chang se retesou quase sem ar, provando que mentira e Emi o soltou com um olhar franzido, Chang não sabia dizer se era preocupação, raiva ou tristeza. Rezava para ser raiva:-Está mentindo.

—Sore wa nanimonai... Amarini mo omoi torēningu.-respondeu ele dando de ombros, indo apartar a briga dos dois, porque já estava vendo Sayuri tampar o doce na cara de Yuko:-Não é nada... O treinamento que foi pesado demais.

—Não... Vem comigo!-falo Emi o puxando pelo braço que também lhe causou dor:

—O que...?! Argh... Pra onde?-perguntou Chang:

—Vamos dar uma volta.-falou Emi decidida e com um olhar determinado:

—E vamos deixá-los sozinhos?! Sayuri está com uma faca.-falou Chang apontando para os dois que discutiam com as vozes já se elevando:

—Ela não vai fazer nada. Ela gosta do Yuko e está com ciúmes.-falou Emi simples assim dando de ombros, fazendo Chang erguer ambas as sobrancelhas e abrindo a boca:

—O QUE?!-gritou Yuko se virando para Emi:

—Emi! Traidora!-gritou Sayuri:-Eu vou embora!

—Mas não vai mesmo, pode me explicar essa baderna toda de ciúme agora!-gritou Yuko a segurando.

Sayuri jogou o doce na face do garoto.

Chang ia até o amigo, mas seu braço fora segurado e ele se viu acompanhando Emi até mais adentro da campina, até as vozes de ambos os amigos estarem mais baixa. A garota não o encarou durante todo o trajeto, fora para uma parte repleta de flores e a garota o encostou em uma macieira, fazendo Chang xingar baixo pela dor. Começara a se arrepender amargamente de ter vindo hoje, sabia que deveria ter ido para o quarto passar uma boa quantidade de ervas em suas costas, que ele aprendeu depois de tantas vezes vendo o médico colocá-las em si:

—Chang, o que está acontecendo?-perguntou Emi cruzando os braços um pouco corada de estar na frente do garoto bonito, que a encarava sério com as costas encostadas na árvore atrás do mesmo:

—Watashi wa sore o kikaneba naranai to omoimasu ka?-falou o garoto sorrindo de lado, vendo as bochechas de Emi corarem. Gostava de fazê-la corar, por alguma razão, sentia-se especial pra ela:-Acho que sou eu quem deve perguntar isso, não acha?!

—Não ouse mudar de assunto! Por que está mentindo pra mim?! Está com problemas com seu pai e não me falou!-falou Emi andando de um lado para o outro, até Chang segurá-la pelos ombros com um olhar acusatório, beirando a raiva. Emi o encarou com os olhos arregalados, ao se dar conta do que disse:

—Sore wa dō yatte wakatteru no? Emi?-perguntou Chang com a voz mais rouca do que de costume, fazendo os pelos dos braços da garota se arrepiarem:-Como você sabe disso, Emi?

—Sua mãe estava conversando com a minha mãe e... Eu acabei ouvindo.-falou Emi e Chang a soltou sentindo-se pior. Passou ambas as mãos no cabelos, estava nervoso, com raiva, não queria a pena de ninguém, não queria odiar seu pai... Não queria nada disso:

—Vou embora.-anunciou se afastando, mas grunhiu de dor ao sentir a garota abraçá-lo por trás. Ia fazer menção de tirá-la, estava com raiva, porém parou ao ouvir um soluço. Ela estava chorando. Chang nunca a viu chorar, e isso apertou demais seu coração:-Emi...

—Sumimasen... Watashi wa subekide wanai koto o shitte imasu! Anata wa watashi o jūbun ni shinjite inainode, watashi wa rikai shinakereba naranakatta! Watashi wa kaiwa o kiita koto o yurushite kuretaga,... Ā, Chan! Taihen mōshiwakearimasen! Watashi wa son'nani anata o nagusamete hoshikatta.-murmurava ela aos soluços, Chang sentia a camiseta molhar pelas lágrimas dela e isso fora pior do que todos os golpes que seu pai deu em seu corpo:-Me desculpe... Sei que não devia! Você não confia em mim o suficiente para se abrir, eu tinha que entender! Perdoe-me por ter ouvido a conversa, mas... Oh, Chang! Eu sinto muito! Eu queria tanto poder te confortar.

—Shite kudasai... Watashi no tame ni nakanaide kudasai!-falou Chang se virando e a abraçando direito, sentiu os baços dela em sua nuca o puxando para baixo, enquanto ele circulava a cintura delicada da menina,sentindo o perfume dela. Nunca esteve tão próximo do corpo dela:-Por favor... Não chore por mim!

—Por que ele faz isso? Isamu? Ele era tão gentil, como... Como ficou assim?-perguntou ela com a voz falha:-Deus! Até em sua mãe!

—Meu avô conseguiu fazer a cabeça dele, acabou com tudo de bom que o homem tinha! Ele mata agora em todos os confrontos, não tendo misericórdia... Ele grita com minha mãe e eu não admito isso... Não admito ele, sequer encostar nela.-falou o garoto a apertando mais contra si, sentindo as lágrimas dela molharem seu pescoço:-Por isso apanho tanto no treinamento, mas sou tão fraco que mal consigo feri-lo. Não suporto a ideia de machucá-lo.

—Não!-falou ela se afastando um pouco para encará-lo nos olhos, porém ainda o abraçando:-Você não é fraco. É seu pai e você o ama.

—O amor dói, minha Emi! Ele não me ama, e eu o deixo me machucar! Não sei até que ponto sou capaz de suportar mais...-desabafou Chang e ela chorou mais. Ele sorriu triste, ele quem sofria de dor e ela quem chorava por ele. Chang sentiu o peito se aquecer, passando os dedos delicadamente pelo rosto dela, limpando as lágrimas:-Por favor... Não chore! É pior do que sentir a dor que sinto agora.

—Miemasuka?-perguntou ela descendo as mãos vagarosamente pelo pescoço e peito dele:-Posso vê?

—Emi...-ele suspirou:

—Por favor...-ela pediu em um fio de voz.

Chang respirou fundo e largou a cintura da menina, virando-se de costas. Aos poucos e com grunhidos de dor ele retirou a camiseta, e ouviu o arfar da garota atrás de si. As costas largas e morenas do rapaz, estavam repletas de manchas roxas e vergões, manchas mais escuras, alguns arranhões vermelhos que desciam e rasgavam as costas dele. Emi passou os dedos delicadamente por ali, sentindo os músculos do rapaz se endurecerem, até Chang virara-se de frente para ele novamente, mostrando o peito um pouco menos, mas ainda contendo vários hematomas.

Emi fechou os olhos, sentindo as lágrimas deslizarem por seu rosto, e em um ato impensável ela beijou o peito esquerdo dele, o local onde ficava o coração, e ele pôde ouvir o retumbar do músculo disparado ao passo que o encarava. Os olhos estavam mais negros, os cabelos caindo em seu rosto belo; Chang estava seguindo seus instintos e desejos mais remotos, abraçando Emi pela cintura, trazendo os lábios dela para ele provar.

Os lábios se encontraram e um arfar fora ouvido dela, conforme as línguas dançavam unidas. Um calor subiu pelo corpo de ambos, ao passo que os corações batiam juntos em sincronia, eles mexiam os lábios juntos, cada um querendo prolongar mais o momento, cada um querendo dar tudo de si naquele simples ato de amor. Chang apertava a cintura dela, e ela bagunçava os cabelos dele, porém logo o ar se fez necessário, e eles pararam sorrindo ao encostarem ambas as testas, sorrindo cúmplices pelo amor correspondido, sorrindo por saberem que não estavam sozinhos.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Essa foi a primeira parte!!! A segunda parte será quatro anos depois, quando ocorre a convocação e vocês entenderão todo o ódio e Mitsuo e Kabuto por Chang!