Premonição - O Início escrita por Victor Crype


Capítulo 2
Capítulo 2 - Andando no Ar




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Quinta-Feira – 14 de maio

Murilo estacionou o carro no estacionamento improvisado num ponto feito pelos promotores do evento logo após o acostamento. O festival ocorreria num campo plano onde outrora fora um grande amontoado de grama. Eles haviam se dado ao trabalho de cortar o mato de toda a área deixando-o bem baixo e ralo. Então haviam cercado todo o perímetro do festival com grades móveis de dois metros ligadas entre si por correntes grossas.

Ao lado de tudo eles haviam improvisado um grande estacionamento para comportar os carros dos visitantes, uma vez que estes não poderiam deixar seus carros na estrada. Murilo reparou que uma grande montanha fofa de mato cercava o festival enchendo o ar com um cheiro adocicado.

Quando desceram do carro, Sâmea terminou de estacionar bem ao lado deles. Erick esquadrinhou o ambiente com seus olhos escuros e coçou sua barba por fazer:

− Sério esse mato jogado é um perigo. Com o calor que está ele poderia pegar fogo e causar um incêndio.

Murilo tranquilizou o amigo com tapinhas nas costas:

− O mato está verde ainda, as chances de formar um incêndio são mínimas. Além disso – o garoto apontou para duas escavadeiras próximas aos montes de mato – Eles vão remover isso logo.

Sâmea se aproximou com os outros e falou:

− Vamos entrar?

Todos concordaram animados e se dirigiram para o ponto onde a cerca terminava deixando um vão largo, onde havia uma casinha de madeira pintada de azul com uma grande catraca. Eles se aproximaram da casinha encarando a senhora de aspecto gentil que estava dentro dela. E um por um eles entregaram seus ingressos para serem picotados e passaram pela catraca.

Murilo sorriu ao ver o festival finalmente. Barracas de brincadeiras com prêmios e de comida estavam espalhadas de forma desordenada, onde uma pequena multidão já caminhava. O pequeno parque estava no extremo oeste da cerca e um grupo de crianças já tentava burlar a altura da pequena montanha-russa.

Postes de metal com caixas de som foram espetados no chão com distâncias regulares tocando uma música em volume alto. Eles passaram por uma barraca vazia, que parecia ser apenas um lugar para guardar tralhas. Murilo engoliu em seco ao perceber os objetos perigosos que estavam ali. Desde pregos gigantes para os brinquedos do parque, até três botijões com gás.

Após andarem mais um pouco finalmente puderam ver o amplo espaço deixado para os dois helicópteros. Eles haviam deixado um espaço visivelmente grande tendo como objetivo a segurança. Um helicóptero era preto e tinha várias pinturas de chamas vermelhas, seu registro em tinta fosforescente próximo a calda brilhou na noite que caía: DE-081. O outro helicóptero era mais simples, era inteiramente branco e seu registro era AT-11H.

Murilo estava andando distraído olhando para tudo, por isso quase tropeçou numa caixa grande aberta. Evandro segurou o garoto para ele não cair, por isso ele demorou um instante para entender o que estava dentro dos caixotes. Quando viu foi como um choque. Caixas e mais caixas de fogos de artifício estavam jogadas parcialmente ao céu aberto, provavelmente para aquela noite. Uma leve brisa varreu o campo balançando a lona que cobria as caixas de fogos mais ao fundo e Murilo assustado ouviu a música que tocava naquele momento:

Agora olhe para mim, eu estou brilhando

Fogos de artifício, uma chama brilhante

Você nunca mais me apagará

Estou brilhando

Era um trecho da música Part of Me da Katy Perry. Ele engoliu em seco e não pôde deixar de rir alto:

− Que coincidência.

Paloma perguntou para o garoto:

− Que coincidência?

Murilo meneou com a cabeça e seguiu os amigos que já se dirigiam em direção da pequena fila para os helicópteros. Foi Maria Júlia quem perguntou:

− Vamos andar já nos helicópteros Sâmea?

Sâmea ironizou:

− Murilo está morrendo de vontade de andar logo.

Todos olharam para o garoto esperando uma resposta.

− Bem... – Murilo falou sem jeito – Eu quero muito andar, talvez a fila fique enorme depois, e depois que nós curtíssemos o passeio, ficaríamos livres para curtir o resto do festival.

Ana Clara concordou:

− Verdade gente e eu não posso ir embora muito tarde por causa dos meus pais.

Então com a concordância geral de todos eles caminharam até a fila que já se formava. Eles haviam criado duas filas em zigue-zague com grades de metal, a certa distância dos helicópteros. Dali dava para ver o parque com perfeição.

− Quantas pessoas cabem em cada helicóptero mesmo? – Evandro questionou.

− Oito – Murilo respondeu inocentemente – Por...

A correria que se seguiu foi incrível. Só então Murilo sem entender nada resolveu contar as pessoas que já estavam na fila. Sete na fila do helicóptero preto e seis na do helicóptero branco. Quando finalmente entendeu era tarde demais. Evandro e Leandro chegaram primeiro a fila do branco e Renan na do preto. Eles iam embarcar primeiro enquanto os outros iam ter que esperar cerca de 20 minutos na fila até a sua vez.

Murilo entrou rabugento na fila do helicóptero preto. As meninas riram da sua cara ao ver ele chegando. Paloma se adiantou enquanto faziam o zique-zague entre as barras de metal da fila:

− Te demos o voo de presente, mas ninguém falou de deixar você ir primeiro.

− Eu não disse nada – Murilo retrucou.

Nesse momento os pilotos dos helicópteros começaram a embarcar os passageiros e orientá-los. Renan acelerou o passo e tentou entrar no helicóptero as pressas, mas acabou tropeçando e quase caiu. O piloto o segurou pelo pescoço e ralhou:

− Quer morrer garoto?

Do outro lado Evandro e Leandro entraram no outro helicóptero e o piloto fechou a porta. Atrás dos dois, uma criança era a próxima na fila e estava com sua mãe. A criança segurava um balãozinho com a figura de um helicóptero. Ao ver que ia ter que esperar a criança se chateou e começou a chorar, soltando o balão que estava em sua mão. O balão voou lentamente em direção ao céu, estourando logo em seguida.

A música que tocava nesse instante chamou a atenção do garoto:

Vamos mais alto e mais alto

Eu sinto como se já estivesse lá

Essa noite, estou andando no ar

Essa noite, estou andando no ar

Outra música da Katy Perry, Murilo constatou. Walking on Air. Outra coincidência. O rapaz tentou afastar a estranha sensação de dejavú e olhou para o céu. O Piloto abriu a porta do helicóptero e entrou.

Alguns minutos depois o as hélices começaram a se mover e lentamente cada um dos dois helicópteros começou a subir no ar. O preto no alto e um pouco mais abaixo o branco.

Alguns metros atrás pré-adolescentes pegaram um dos fogos de artifício e tiveram a mesma ideia. Um deles pegou um fósforo e o acendeu. O outro colocou o pavio do fogo de artifício na pequena chama, mas não acendia apesar do pavio estar ficando com a ponta vermelha. Então um segurança do festival gritou:

− Parem vocês aí!

Os meninos correram jogando o fogo de artifício para a caixa de qualquer maneira e fugiram seguidos pelo guarda. Um vento atravessou o festival e foi sentido por Murilo quando o vento bagunçou seus cabelos, além de acender a ponta do pavio do fogo de artifício.

Murilo só ouviu quando o assovio do fogo de artifício passou sobre as cabeças de todos. Com um giro ornamental no ar, o fogo de artifício atingiu a hélice traseira do helicóptero preto e explodiu colorindo o céu. A hélice traseira se soltou com um estalo rasgando a carcaça de metal e atravessando Renan no peito.

Mais fogos de artifício começaram a atravessar entre as barracas e a explodir no chão e no céu. Gritos encheram o ar. O Helicóptero preto começou a girar sem controle no céu e a ir em direção ao branco. A calda do preto atravessou a grande janela da frente do helicóptero branco esmagando metade dos tripulantes do mesmo. Entre eles Evandro e Leandro. Então presos um no outro os helicópteros começaram a girar no ar numa grotesca dança.

As pessoas na fila pareceram descongelar nesse momento e a correr atropelando umas as outras e pulando as pequenas grades de metal para não perderem tempo com o zigue-zague da fila. Erick tentava ajudar Brenda a pular uma das grades quando os dois helicópteros atingiram o chão e explodiram. O fogo engolfou Brenda tostando-a e atirou Erick alguns metros no ar deixando-o próximo a minimontanha-russa.

O garoto se levantou com a pele chiando graças às queimaduras. Ele viu um fogo de artifício vindo em sua direção, ele saltou no chão desviando do mesmo, mas o fogo explodiu atingindo os trilhos da pequena montanha-russa. Erick só teve tempo de ver um vagão se aproximar dos trilhos destruídos antes do mesmo descarrilar esmagando-o em seguida.

Murilo corria tentando achar os amigos, mas não conseguia, havia fogo por toda a parte. Foi então que ele avistou o irmão mais velho da Paloma, Nilton, próximo a ele. Ele fez menção em chamar o garoto, quando a barraca de tralhas em chamas explodiu. Os pregos reserva do parque zuniram pelo ar, metralhando Nilton pelo corpo todo e prendendo-o de forma bizarra na barraca mais próxima.

Sem poder acreditar Murilo ficou olhando para o amigo por alguns instantes e enfim criou coragem para fugir antes que algo acontecesse com ele. Ele não viu para onde havia ido direito, havia muita fumaça e gritaria, as caixas de som soltavam um barulho ensurdecedor nesse momento. Murilo olhou pela fumaça e avistou Ana Clara e Tainy próximas a ele. A luz vinda do carrossel em chamas o ajudou a se guiar.

Quando o garoto chegou próximo ao brinquedo ele ouviu quando o fogo derreteu a caixa de controle do carrossel, causando um curto circuito, fazendo o carrossel ganhar uma velocidade milagrosa, e a girar feito doido. Murilo apenas teve tempo de gritar quando um dos cavalos do brinquedo se soltou e pareceu sair galopando o ar como se tivesse vida e atingiu Ana Clara e Tainy espirrando sangue no garoto.

Murilo olhou para os corpos retorcidos das garotas e caiu no chão sem saber o que fazer. O fogo e a fumaça eram a lei por ali, porém graças ao giro do carrossel a fumaça havia se espalhado o suficiente para mostrar a ele o quão afastado ele estava da saída.

Ele estava perdendo as esperanças quando viu Paloma e Maria Júlia correndo de mãos dadas entre o restante de pessoas que ainda estavam ali. Murilo correu até elas e berrou:

− Temos que sair daqui agora!

As meninas gritaram em concordância, então Murilo pegou Maria Júlia pela outra mão. Eles chegaram numa massa intransponível de pessoas. Por algum motivo as pessoas não estavam conseguindo passar pela catraca da saída. Murilo deu um encontrão com alguém. Ele e Sâmea se entreolharam apenas por alguns instantes.

O fogo que consumia o combustível do helicóptero preto finalmente atingiu o tanque de combustível do branco causando uma explosão. A hélice do helicóptero branco subiu no ar com potência, descrevendo um arco em seguida.

Sâmea foi cortada na vertical quando a hélice caiu, e as pessoas logo após a ela foram cortadas em pedaços. Murilo apenas olhou espantado para as duas partes da garota aos seus pés e para o monte de corpos tampando a saída. Sem pensar duas vezes puxou as duas garotas para longe dali.

Quando enfim pararam Paloma indagou:

− O que fazemos agora?

Eles olharam a sua volta a procura de uma saída.

Maria Júlia olhou para a cerca e falou:

− Podemos escalar a cerca ou usar algo para cortar a corrente!

Como que em resposta na barraca mais próxima havia um machado enterrado num toco de madeira. Murilo olhou para a estranha panela que ainda estava no fogo dentro da barraca, algo estalava dentro dela. Desesperado ele puxou o machado com força demais.

Quando desprendeu o machado da madeira Murilo acabou elevando os braços no ar e atingindo a placa da barraca com o machado. A placa caiu pesadamente atirando um líquido amarelado no ar logo atrás do garoto. A panela quente caiu no botijão de gás e graças ao calor esse explodiu e Murilo foi atirado no ar ainda com o machado.

Quando Murilo se levantou sentindo seu corpo encharcado com o conteúdo das latas onde caíra, viu Paloma caída no chão com o machado cravado na cabeça e ao seu lado Maria Júlia dava seus últimos suspiros, deformada pelo óleo fervente. Murilo estava se sentindo zonzo com o cheiro do líquido q o encharcava dos pés a cabeça.

Gasolina.

O ruído da caixa de som mais próxima parou e uma música se fez ouvir:

Pois querido, você é fogos de artifício

Vamos lá e deixe suas cores explodirem

Murilo apenas teve tempo de ver o derradeiro fogo de artifício vindo em sua direção e explodindo bem em seu rosto, atirando seu corpo, que se desfez em chamas e explosões coloridas, para longe.


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Notas finais do capítulo

Musicas usadas: Part of Me by Katy Perry, Walking On Air by Katy Perry, Firework by Katy Perry



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