Abraçava-a porque era difícil. Era difícil imaginá-la evanescendo em uma cama de hospital, era difícil imaginar a pessoa mais vivaz que conhecera caminhando em direção aos braços da morte, doía apenas pensar que a mulher mais forte que já conhecera seria derrotada por algo invisível a olho nu e que aquela a quem amava e idolatrava teria sua vida arruinada por uma noite de descuido.

E por ser difícil conceber a ideia de que sua irmã - o seu anjo guardião, a guerreira que a protegia desde a infância – estava com AIDS, ela continuou abraçando-a fortemente, derramando suas lágrimas de adolescente sobre a camisa da mais velha, absorvendo o cheiro da pele, a maciez de seu cabelo, gravando cada detalhe em sua mente para que jamais pudesse esquecê-la.

Trouxe-a ainda para mais perto de si, como se seus braços frágeis pudessem escondê-la do olhar irrefreável da morte. Em resposta, a mulher de longos fios negros apenas alisou o cabelo macio da irmã mais nova, esperando pacientemente até que parasse de chorar e arrependendo-se da notícia trágica que precisara dar à garota. Ainda assim, continuou ostentando um sorriso de conforto nos lábios, como sempre fizera e sempre faria – até que a doença a levasse.