A noite não tinha sido fácil para o Grande Rei, ele continuava com aquela sensação ruim de quando algo está para acontecer, e ainda teve as notícias do ataque ao castelo do Rei Luna, tudo aquilo parecia estar ligado de alguma forma, Pedro passou horas na sala de reuniões pensando no assunto, mas não conseguiu achar uma ideia razoável, sua cabeça não funcionava direito, ele não parava de pensar na garota misteriosa, e tudo piorou com o forte barulho da tempestade que chegará a Nárnia naquela noite.

Todo o castelo estava dormindo, o silêncio pairava pelos corredores vazios e escuros de Cair Paravel. Deitado em sua cama Pedro se mexia de um lado para o outro a procura de uma posição confortável, e por mais que tentasse dormir, os fortes pingos da tempestade batendo em sua janela o impediu. Mas depois de um tempo aquela tormenta quase virou uma melodia, como se tivesse alguém batendo com os dedos na sua sacada, então ele adormeceu.

O sonho começou exatamente como o anterior, seus três irmãos mais novos sumiram, tudo virou escuridão e Cair Paravel não passava de ruínas, contudo, dessa vez a garota não apareceu para fazê-lo acordar. Pedro já estava ficando desesperado quando num piscar de olhos ele se viu numa floresta de pinheiros. Chovia forte e suas roupas ficaram encharcadas em poucos minutos pesando em seu corpo. Ele olhava ao redor a procura de algo familiar, foi então que viu não muito longe uma luz fraca iluminando a vasta escuridão do local, só então se deu conta de onde estava. O Ermo do Lampião.

De repente a chuva parou, tudo ficou em silêncio, não se ouvia vento algum nem a correnteza do Grande Rio. A floresta ao seu redor parecia está adormecida há muito tempo, era como se Nárnia fosse um filme em câmera lenta e Pedro um espectador confuso. Então ele resolveu seguir seus instintos, fechou os olhos e aguçou os ouvidos. Por alguns minutos não escutou nada até que zunidos começaram a incomoda-lo. Pedro abriu os olhos rapidamente esperando encontrar algum inseto perambulando próximo ao seu rosto, mas nada encontrou tudo parecia mais calmo do que antes.

Porém mesmo de olhos abertos o zunido continuou. Pedro seguiu o som pela floreta até que esses se tornaram sussurros, ele achou estranho já que parecia estar sozinho, tentou distinguir o que falavam, mas não conseguiu, pode perceber apenas que era uma única voz, uma voz feminina, uma que ele não conhecia bem, mas que logo reconheceu. Era a garota misteriosa que aparecera em seu outro sonho.

Pedro começou a correr atrás dos sussurros na esperança de encontra-la de novo, e conforme seguia rumo a oeste do ermo os sussurros ficavam mais altos até que ele pode entender o que ela falava:

—Está na hora meu rei! O mal já está em nossa amada Nárnia, logo chegará a Cair Paravel. Deve vim a minha procura imediatamente, só você pode quebrar o encanto!- disse a garota com sua doce e calma voz.

Pedro se virou rapidamente, pois a voz parecia ter vindo de trás dele, e então ele a viu. Ela estava a sua frente, com um sorriso no rosto. Sua pele estava mais branca que o normal devido ao frio que ali fazia. Usava um vestido branco esvoaçante que deixava seu colo a mostra, mas cobria os braços até os pulsos. O cabelo negro estava semipreso e enfeitado com uma coroa de rosas vermelhas. Seu rosto estava mais belo do que Pedro se lembrava, e seu olhar esbanjava simpatia e nobreza. (Roupa)

Pedro foi se aproximando lentamente dela, quando novamente escutou sua voz:

—Pode acordar meu rei!- disse a menina, e logo a cena começou a ficar turva e escura.

—Não, me deixe ficar um pouco mais!- disse Pedro na esperança de ficar ao lado da garota por mais tempo. Mais já era tarde. Tudo ficou escuro e então ele acordou.

O dia acabará de amanhecer em Nárnia, as árvores com suas folhas repletas de orvalhos ainda acordavam da noite chuvosa que se passará. A grama antes seca por causa do imenso sol do reino, agora estava úmida e mais verde. Ontem uma forte tempestade invadiu Nárnia, tão forte que os quatro reis pensaram que não iria se acabar, e assim se passou a noite.

O clima estava meio pesado naquela manhã. Os quatro reis tomavam café da manhã no salão juntamente com seus conselheiros, amigos e Mary. Poucas eram as pessoas que ousavam falar algo, todos estavam com a mesma sensação ruim de Pedro, até Ed, que outrora disse que ele estava ficando paranoico, começou a ter suas dúvidas.

—Você também teve pesadelos?- perguntou o Ed para Pedro, de forma que só ele escutasse.

—Não foi bem um pesadelo, bom, se for ver apenas pelo lado ruim foi, na verdade um muito assustador, eu vi cair Paravel sendo destruída novamente, e você e as meninas não... - Pedro não conseguiu terminar a frase. –Mais aquela garota de que lhe falai antes estava lá, ela me fez acordar de novo!- continuou.

—Entendo, o meu foi bem parecido, só que em vez de uma menina misteriosa vim me salvar, uma coisa bem pior aconteceu. - continuou Ed.

—O que aconteceu?- perguntou Pedro ao irmão.

Edmundo não respondeu, sua face de repente ficou pálida como a neve, ele estava assustado e parecia que iria desmoronar ali mesmo.

—O que aconteceu Ed?- perguntou Pedro, mas nada se escutou de Edmundo, ele apenas olhava o vazio. –ED!- gritou Pedro segurando o rosto do irmão, que voltou rapidamente a si.

—Me desculpe, é que lembrar dela me deixa mal!- balbuciou Ed.

—De quem exatamente você ta falando?- perguntou Pedro preocupado com o irmão.

—De quem mais seria... Jadis!- disse Ed sem mais delongas. –Ela apareceu do meu lado, estava diferente, mais nova, somente a reconheci pela voz, disse que iria se reerguer e não cometeria erros dessa vez!- completou.

Ambos ficaram calados por alguns minutos, só a ideia da volta da feiticeira branca já os deixava com medo. Depois de um tempo pensando, Pedro foi quem se pronunciou:

—Não acho que ela vá voltar, afinal o próprio Aslan a matou, isso seria impossível... Não há porque se preocupar meu irmão! De qualquer modo, quando estivermos sozinhos, podemos conversar mais sobre o assunto, tenho algumas coisas para lhe contar!- concluiu Pedro sorrindo para o irmão, que sorriu em resposta.

Nesse momento um mensageiro chega correndo na sala com um sorriso no rosto, e ainda arfando ele faz uma mesura rápida e já começa a falar:

—Majestades, tenho boas notícias vindas da Arquelândia!-

—Pois então, fale, por favor!- disse Susana ansiosa.

—As revoltas foram contidas graças às tropas que enviamos. Não há mais perigo, a Arquelândia foi salva!- disse o mensageiro.

Vários vivas foram ditos, o clima ruim que pairava sobre todos agora deu espaço para alivio e felicidade. Mary pulava de alegria, ela correu em direção a Pedro para lhe agradecer e o abraçou forte:

—Obrigada, obrigado, nem sei como lhe agradecer!- disse ela sinceramente.

—Não é preciso querida, sabe que pode contar conosco! Agora seu país está a salvo!- disse Pedro.

—Há majestades, sinto interromper, mas essas não são as únicas notícias!- disse o mensageiro.

—Não são? Então conclua meu amigo!- disse Ed.

—O Rei Luna virá  pessoalmente agradecer a vossas majestades! Avisarei quando ele chegar.- concluiu o mensageiro com uma enorme satisfação.

—Mais que maravilha! Obrigado, e, por favor, avise a todos e pesam que preparem quartos para nossos convidados. - disse Susana ao mensageiro, que fez novamente uma mesura e saiu para dar o recado do qual lhe foi cabido.

—Não acredito, o dia não poderia ficar melhor! - disse Mary excitada em poder rever os pais.

—Isso sim é uma notícia boa, estávamos realmente precisando de visitas, esse castelo estava ficando parado não acham?- disse Lúcia toda animada com várias ideias lhe percorrendo a mente.

—No que está pensando Lu?- perguntou Pedro.

—Em algo para comemorar a chegada de Luna e a vitória na Arquelândia- disse Lúcia com um ar sapeca. –Que tal uma festa?-