Pedro cavalgava tranquilamente com seus três irmãos mais novos, Susana, Edmundo e Lúcia, nos arredores de Cair Paravel. Era um dia lindo, o sol brilhava forte, entretanto, a leve brisa marítima que soprava ali refrescava os reis e rainhas deixando o ambiente agradável e divertido. Tudo estava perfeito.

Eles conversavam coisas aleatórias sobre os últimos três anos que passaram governando Nárnia, quando num piscar de olhos, Pedro se viu sozinho, seus irmãos sumiram do nada sem deixar rastros. No começo o grande rei achou que era apenas uma brincadeira de mau gosto, mas depois de alguns minutos começou a ficar assustado:

—LÚCIA! SUSANA! EDMUNDO, ONDE VOCÊS ESTÃO?- gritava Pedro preocupado, já arfando enquanto cavalgava de um lado para o outro a procura dos irmãos.

Nada escutou, nenhuma resposta, aquilo não era uma brincadeira. Pedro voltou-se rapidamente para o castelo, que se encontrava a pouco mais que 100 metros, para pedir ajuda, mas ao fazer, se deparou com outra cena horrível: Cair Paravel estava sendo destruído.

Os enormes pilastes, que outrora sustentavam o castelo,  desmoronavam, levando a gloriosa construção ao chão. Pedro podia ouvir gritos e choros de narnianos suplicando por ajuda de todos os lados. Seu coração se encheu de tristeza, não aguentaria aquela tortura por muito tempo... até que tudo ficou em silêncio, e a única coisa que podia se ouvir era a respiração ofegante de Pedro e seu choro desesperado.

—O que está acontecendo?- pensou ele em voz alta agora vendo tudo com clareza, mas se negando a acreditar no que estava diante de seus olhos.

Cair Paravel, sua casa, não passava de destroços e cinzas cobertos de sangue narniano, seu povo. A grama e a mata ao seu redor perderam a vida, em cima de sua cabeça o sol já não brilhava como antes, estava maior e vermelho já nos últimos momentos de vida, o céu azul e limpo de Nárnia agora estava negro e nebuloso, era a pior cena que Pedro havia visto em toda sua vida, e o pior ele estava sozinho.

O grande rei suplicava para que aquilo fosse um pesadelo e que acabasse logo, não estava mais aguentando ficar ali em meio a toda aquela catástrofe. Foi quando avistou ao longe uma figura se aproximando. Não conseguiu distinguir quem era de imediato por causa da densa neblina que pairava no local, mas depois de alguns segundos semicerrando os olhos concentrado viu que se tratava de uma moça de longos cabelos negros e pele branca como a neve. Pedro desmontou do cavalo e foi ao seu encontro, correndo, suplicando por ajuda, enquanto ainda chorava:

—Por favor... Não sei mais o que fazer, me ajude, o que está acontecendo?- disse ele arfando já frente a frente com a garota, mas por alguma razão, não conseguia distinguir o seu rosto claramente.

—Meu rei, isso é apenas um sonho, você já pode acordar!- disse a garota sorrindo enquanto tocava o rosto dele delicadamente o fazendo ficar calmo, então ele pode ver rapidamente seu rosto, era belo, delicado e possuía uma áurea diferente de todas as garotas que ele já conhecera. A vontade dele era de ficar ali com ela para sempre, mas no mesmo momento, Pedro viu um forte clarão tomar conta de sua visão.

Ele acordou atordoado em sua cama. Sua testa pingava de suor e a camisa que usava, estava grudada em seu corpo. Pedro levantou suspirando aliviado, havia sido apenas um sonho, nada daquilo era real, ou pelo menos era isso que ele tentava se convencer de ser verdade.

Pela janela podia se ver o sol brilhando a todo vapor, isso além do barulho que se ouvia lá fora. O rei tomou um banho, vestiu uma calça de couro simples, uma camisa branca de mangas longas feita de linho e um casaco preto com detalhes em dourado, e quando foi pegar sua coroa se deu conta do porque de tanto barulho, ele lembrou que a princesa da Arquelândia estava vindo passar um tempo no castelo. Seu nome é Mary e ela é uma moça muito bonita e simpática, os quatro reis a adoravam e a tinham como uma amiga, mas esse não é o único motivo de sua estadia, na verdade ela veio passar mais tempo com seu noivo, o Rei Pedro.

Pedro caminhava pelos corredores a procura de seus irmãos, e depois de muita procura os encontrou na sala de jantar onde todos tomavam um maravilhoso café da manhã.

—Bom dia!- disse Pedro ao se sentar em uma das cadeiras

—Bom dia! Como dormiu? Aposto que passou a noite acordado ansioso!- brincou Susana seguida de risos de todos da mesa.

—Engraçadinha, dormi bem, obrigado!- disse Pedro fazendo careta entrando na brincadeira na tentativa de disfarçar seu desconforto.

O tempo passou rápido, conversas pra lá, conversas pra cá, até que todos terminaram de comer, ficando apenas Pedro e Edmundo na mesa. Fez se silêncio por alguns minutos, então Edmundo percebendo a inquietação do irmão, não aguentou de curiosidade e perguntou:

—O que está havendo? Você mal tocou na comida... Não me diga que está realmente ansioso com a chegada da Mary... – brincou.

—Não, mas por que raios todo mundo me pergunta isso? Foi apenas um sonho que tive essa noite, um sonho ruim!-

—E o que acontecia nesse sonho?- perguntou Ed curioso.

Pedro olhou de um lado pra o outro a fim de se certificar que não havia mais ninguém no cômodo, o que ele menos queria no momento era espalhar pânico, pois era assim que ele se sentia no fundo:

—Nós estávamos cavalgando não muito longe daqui, foi quando do nada você e as meninas sumiram, pensei que fosse uma brincadeira, mas também vi Cair Paravel desmoronar completamente, e o pior, todos nossos amigos estavam mortos. Tudo tinha mudado, o céu ficou escuro e o sol estava diferente... Eu fiquei apavorado, não sabia o que fazer... -

Edmundo ficou calado por alguns segundos analisando cada palavra, então suspirou e continuou:

—Imagino como deve ter sido horrível, mais foi apenas um sonho Pedro não fique preocupado, acabou!- disse o irmão mais novo com o intuito de conforta-lo, mesmo que também tivesse ficado com uma pulga atrás da orelha sobre o assunto.

—Eu sei Ed, mas parecia tão real, como se fosse um aviso... E ainda tinha uma garota!-

—Uma garota, hum?- disse Ed fazendo uma cara maliciosa para o irmão, que riu em resposta.

—Não estou brincando, quando eu já estava quase enlouquecendo, ela apareceu. Ah era tão linda Ed, você tinha que ver, ela me fez acordar com apenas um toque, mas queria ter ficado mais um pouco com ela, era diferente de qualquer uma que já conheci!-

—Cara, você tem que se decidir, sua noiva está chegando ai e você fica sonhando com uma garota “diferente”...- brincou Ed, e antes que Pedro pudesse responder, ouviu-se uma trombeta ecoar por todo o castelo. Edmundo sorriu e olhou sapeca para o irmão:

—Falando nela!- disse Ed rindo.