Melodia escrita por Hoshi


Capítulo 32
Trinta e Dois




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617651/chapter/32

 

— ENTÃO VIEMOS AQUI PARA FALAR DISSO? - Pergunto. 

 

— Sim, claro. - Denise responde na maior naturalidade.

 

Seu rosto e corpo ainda estão vermelhos. Seu cabelo que estava desgrenhado estão ajeitados perfeitamente assim como a maquiagem que está intacta.

 

— Bem, continue. - Digo.

 

— Como tava falando, tenho-a as minhas fontes confiáveis que o Cascão e a Magali querem ficar juntes. 

 

— Aham.

 

— E que você já sabe disso.

 

— Aham... Nossa, suas fontes são exatas mesmo. 

 

— Claro, linda.

— Bem, Comunicação Social você já vai fazer, resta saber se vai ser jornalista ou acessora

 

 

— Né? - Ela diz e rimos.

 

Paramos um pouco. 

 

— Tá, agora voltando ao que eu queria falar.

 

 Denise sempre foi uma pessoa direta e objetiva. Seu jeito extrovertido e mandão de ser, aproxima e afasta muita gente. Somos amigas, somos humanas, temos defeitos. Mesmo assim consigo enxergar sua vontade. Ela só quer o nosso bem. 

 

No entanto penso: "e o próprio bem dela?".

 

Será que ela não pensa em si mesma ao não ser visualmente?

 

— Agora que temos um grupo em comum...

 

— Que aliás você me colocou. - Interrompo-a injuriada.

 

— Sim, claro. Pelo que eu saiba, você faz parte do segundo ano do ensino médio. - Diz irônica.

 

— Humpf, mas mesmo assim. Vocês mandam muita mensagem! - Protesto.

 

— Você é que não fala nada. Só quando tem dúvidas das aulas. 

 

— É, ué.

 

— Affs, Mônica. Esse grupo também é pra gente falar entre nós mesmes. Como eles dizem, -  Diz com certo desprezo. - "para nos aproximarmos um dos outros". Parece até que você vai fazer o ENEM. 

 

— Tá, tá bom. Pera, ENEM... - Repito. - Aninha vai fazer esse ano, né?

 

— Sim, ela e uns outros povos. ENEM é Exame Nacional do Ensino Médio. São dois dias de provas, que inclui todo tipo de matéria e a redação que sempre tem um tema misteriosinho aí...

— No sábado e no Domingo, né? 

 

— Sim. - Ela responde.- Não! Quer dizer... agora mudou, são em dois domingos, dois finais de semanas seguidos, mas diferentes.

— É, eu vou fazer vestibular. E quem sabe isso também.

 

— Sim, e eu também. Mas a gente só no ano que vem, a Aninha e os outros vão fazer para a nota que eles tirarem decidirem qual faculdade eles são aptos para fazer. 

 

— Nossa, que barra isso. Não parece ser legal.

 

— E não é. O ENEM não é nenhum pouco democrático também. Além de causar estresse, por uma nota em dois dias que vai decidir o seu futuro! - Denise se exalta.

 

— Dê, só da gente "ter" que fazer uma faculdade para ser reconhecido não é democrático, não é justo. É hipocrisia demais. - Desabafo. - Quer dizer, eu quero muito fazer a faculdade, vestibular, mas se eu não fosse tão influenciada pela sociedade e obrigada, não sei se faria. Do tipo, precisa de um diploma para ser reconhecida?

 

— Sim, eu também! Mas...vamos voltar ao que viemos falar...Enfim, esse foi um dos motivos por causa do Estudão. 

 

— Sempre teve esse Estudão? - Pergunto.

 

— Aham. - Continua. - Mas os Pop, nunca foram. Nem quiseram se integrar a grupos e tals. 

 

— Ah, tá. E, aliás, como você tem todos os telefones?

 

Ela ri convencida.

 

— Porque eu tenho. Esqueceu? Nunca revelo minhas fontes. Eu tenho que saber sobre tudo.

 

— 'Tá', desculpa aí, multimídia.

 

— Sou mesmo. - Nós rimos. - Aí, deixa eu continuar. Nesse Estudão é que a gente entra como cupido para junta Casgali!

 

— No Estudão? A gente? Cupido? - Tento assimilar.

 

— Aí, Mônica você é inteligente e lenta para algumas coisas! 

 

— Eu entendi, boba. Só que achei que o Estudão, como o nome diz, era para, realmente, estudarmos.

 

— Sim, é. Mas o Cascão é da sua turma. A Magali é da minha. Esse evento por um semana promete juntar as turmas, ué. A gente age como cupido e faz a nerd da Magali ajudá-lo.

 

— Eu vou ajudar quem? E, ei! Não sou nerd! - Escuto a vozinha que é tão fina quanto a minha.

 

Paraliso ao lado da Denise. Mas sei que ela vai saber desvia-lá melhor do que eu.

 

— Magali. - Respondo. - O que você tá fazendo aqui? 

 

— Ah, é que bateu uma fome e fui pegar biscoitos e tomar leite. - Ela responde.

 

— Ah, Magá, que susto. E, que feio! Estava escutando nossa conversa! - Denise protesta. Ela definitivamente disfarça melhor do que eu. Aí eu lembro que ela diz que jornalista ou qualquer comunicólogue atuam um pouco.

 

— Nada ver. Eu só passei e escutei: "..a nerd da Magali vai ajudar não sei quem."

 

— Ah! Bom, você pode ajudar o Cascão. - Denise diz com naturalidade.

 

— O Cascão? - Ela pergunta em dúvida. 

 

— É, ele precisa de ajuda. - Confirmei. - Aí a gente pensou...- Vacilo na voz. - porque não a Magá? 

 

— Mônica, te conheço bem. Você não sabe mentir. - Ela impõe.

 

"Droga!" Penso. " Verdade, ela me conhece bem demais." 

 

— Por qual motivo mentiríamos, Magá? O Cascão precisa de ajuda mesmo. Nada melhor do que aproveitar esse Estudão para ajudá-lo. - Denise diz. 

 

— É. - Confirmo. 

 

— É, Vocês têm razão. - Magá confirma pensativa. - Bem, de qualquer forma já vou indo. Vocês vão ficar? 

 

Olho para Denise que a mesma olha para mim.

 

— Não, já vamos também, né, Denise?

 

— Sim. - Limita-se a dizer em confirmação.

 

 

                               *  *  *

 

Os dias tem passado como numa completa rotina. O final do ano já está aí. Um ano que vou passar sem minha tia. O primeiro Natal distante da minha "família", se é que posso chamar aquele inferno de "família". Agora vou passar com meus amigues.. 

 

Soa tão diferente proferir esse termo. 

 

Meus amigues.

 

Não por estar numa forma da letra "e" para representar os tipos de gênero: masculino, feminino, os não-binários...E sim, por ter amigues.

 

Há um ano, eu, com meus 15, acharia remota essa possibilidade. E hoje é tão natural. Acordá-los, vê-los, brincar, conversar, interagir com eles e, puxa, ter uma banda.

 

Agora, estou exatamente como estaria há um ano. Sentada, deitada vasculhando minha mente, procurando inspirações para compor.

 

O diferente é o local. Meus sentimentos. As circunstâncias e perspectivas.

 

E isso muda tudo.

 

Minhas amigas são legais suma forma de inspiração muito boa. Os meus amigos, os meninos, também.

 

A Denise tem ficado cada vez mais próxima de mim para falarmos sobre os casais queremos que juntar. O legal de estar sendo cupido, é que: 1) Eu conheço mais os meninos que a gente tá tentando juntar; e 2) Eu conheço mais a história deles.

 

Uma coisa que não sabia é o que o moço da cantina já foi namorado da Magali. 

 

Do tipo, namorando mesmo, por um tempo bem longo. A infância deles praticamente toda. E eu já tinha o visto. Sem ser aqui na escola. Só não sei onde...

 

Se bem que é filho do cara que tem mais redes de padarias espalhadas por aí e a fora. Então é bem provável de já tê-lo visto na TV, em alguma inauguração ou algo do tipo. 

 

Ou com avental e pequeno chapéu distribuindo pães no bairro. 

 

" Meu Senhor! Da onde eu tiro tanta coisa esquisita!?" 

 

— Aí! - Bufo debruçada na cama.

 

— Mônica, se você continuar assim vai quebrar a cabeça! - Cascuda se pronunciou anunciando sua chegada.

 

— Eu estou só pensando! - Me justifiquei me remexendo na cama.

 

— Eu sei! Vai quebrar a cabeça de tanto pensar! 

 

Nós rimos.

 

— Isso é possível? - Perguntei em meio às risadas.

 

— Sei lá. - Ela respondeu.

 

— Você como a aluna mais inteligente deveria saber... oh, inteligência suprema! - Brinquei. - Deve ser um saco as pessoas te cobrarem assim o tempo inteiro.

 

— Nem me fale! Nem gosto de pensar nisso. Ser cobrada o tempo inteiro... cansa, sabe? Puxa, estou sendo cobrada de todos os lados! - Desabafou.

 

— Ô, se sei...- Murmurei.

 

— Hum, eu aqui falando... você que tem que compor músicas o tempo inteiro... 

 

— Nem, já até acostumei. 

 

— Banda, colégio, família... conciliar tudo deve ser bem barra... ainda ter que compor música diferente para o festival de fim de ano, puxa!

 

— É... pera?

 

— O que foi? - Ela perguntou me olhando.

 

— Compor o que? Música nova para o festival do fim do ano?

 

— É, ué. Pelo menos é o que geral tá falando. Vocês estão como a melhor banda do colégio.

 

— Talvez porque somos a única banda do colégio. - Falei na lógica.

 

— A única que tá aí o ano todo, né? Porque no festival das bandas, tudo bem, vem bandas de vários lugares, mas aqui no colégio já tem os grupinhos de bandas.

 

— Grupinhos de bandas? - Perguntei com certo deboche. 

 

— É. Uns grupos aí. Grupos de bandas ou sei lá. Tipo os Pops tem o grupo das meninas e dos meninos. Eles separadamente se apresentam e ficam com o prêmio. Sempre. 

 

— Uau. Não sabia...

 

— Deveria saber, então. Não é considerada uma nerd também? - Ela piscou e nós rimos novamente.

 

— Estou carregando esse título não sei como. - Bufo.

 

— Hum, agora eu lembrei. A sua melhor inimiga é líder do grupo das meninas dos Pops. - Ela fala.

 

— Primeiro: sério que usam esse nome mesmo gente? Meio ridiculozinho...

 

— Pois, é, né...

 

— Segundo: A Carmen canta? Ela é líder de um grupo? Ser líder já torna-a bem ridícula... E somos inimigas?

 

— Sério mesmo. Ela se exibe. O pior é que sabem cantar. E o Toni é do outro. Cantam bem. 

 

Me jogo de volta na cama.

 

— Mas é claro que vocês arrasam. Cantam e tocam bem melhor que elas e eles. Pelo menos vocês são a esperança para o legado da panelinha deles acabar. Por isso tão dizendo que vão estar com uma música nova para acabar com eles na apresentação. 

 

Bufo na cama e vou com um travesseiro na minha cara. Tiro e olho para o teto procurando, vasculhado algum tema, alguma coisa.  Nada. 

 

"Estou ferrada. Muito sério."

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey, kon'nchiwa...

Alguns meses sem postar...

Mas vamos voltar com tudo agora!

Beijokas da Pietra



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Melodia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.