Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 46
Capítulo QUARENTA E CINCO


Notas iniciais do capítulo

Meus planos era ter postado na última sexta feira, dia 8 de março. Mas aconteceram taaantas coisas!!

Quero me lembrar desse mês com muito carinho. Uma nova etapa da vida da Bella começou quando ela decidiu, ainda que sem entender a importância do que estava fazendo, ir para Forks com os filhos, e uma nova etapa começa para mim.

Quero falar que 8-março é muito mais do que uma data simbólica. Não devemos ser lembradas apenas em dias como esses, mas todos. Mas se esse dia existe, é por que é importante e deve ser exaltado.

**Muito obrigada a vocês que comentaram no capítulo anterior.
***Todas concordamos que o que Edward fez não tem como ser apagado.

Existem arrependimentos que podem mudar uma pessoa, é o que eu gosto de pensar. Mas ainda acho que as suas ações, qualquer que sejam, elas nunca serão apagadas.

Obrigada e vamos chorar?!
De alegria, por favor... as últimas lágrimas espero que tenham sido assim para vocês ;)



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Capítulo
QUARENTA E CINCO

Alguns anos depois.

 

Muitas não sabiam quando exatamente tinha começado as agressões.

Outras ainda não sabiam que o que estavam enfrentando era um relacionamento abusivo.

Elas não tinham certeza, mas talvez tivera começado logo no primeiro encontro, logo depois que eles se cumprimentaram ainda tímidos e ele colocou a mão em sua cintura de forma possessiva puxando a cadeira do restaurante para que ela se sentasse antes que o maître inconveniente que, segundo ele, não parava de olhar para o seu decote fizesse.

Talvez, ainda não tenha sido no primeiro encontro, mas alguns meses depois, quando as pessoas ao redor delas começavam a perguntar coisas do tipo:

"Mas você não gostava de fazer tal coisa?"

"Por que deixou de ir para aquele lugar?"

E quando elas não reagiam da forma que as amigas, que a família esperava quando estas acusavam aquela pessoa, e respondiam dizendo que não era bem assim, elas os estavam defendendo. Afinal eles sempre sabiam o que era melhor para elas, pensavam.

Todas essas vezes, elas não sabiam, mas era a reação da manipulação que estavam vivendo constantemente, e quando reagiam com as pessoas que insistiam em fazer aqueles tipos de perguntas, elas aumentavam o tom de voz negando o que as amigas mais próximas diziam. Era o comportamento defensivo delas atuando. As defesas passam a ser projetadas nas pessoas que não sabem o que está acontecendo quando prefere colocar uma blusa de manga cumprida ao invés de uma camiseta normal no calor de 38ºC que faz lá fora. O culpado não passa a ser a pessoa que realmente deixou aquelas marcas e xingou-as pela manhã, mas sim as pessoas que estão fora disso. 

Inúmeras histórias passavam por ali, e a de Bella não era apenas mais uma, era a sua história, que ela compartilharia com o mesmo pesar do primeiro dia, mas com algo novo que reacendia a chama da vida, da esperança não só nela, mas em outras tantas mulheres, diariamente. 

Muitas dessas mulheres procuravam a ONG ainda com pensamentos culposos sobre si mesmas, sobre a atitude que tiveram no café da manhã quando não responderam da forma esperada pelos maridos e apareceram com o olho roxo. 

Muitas não aceitavam de primeira que precisavam de ajuda, mesmo depois de estarem ali, em um lugar que as acolhia. 

A realidade da violência doméstica não era admitida com facilidade pela maioria das mulheres que chegavam ali, porque grande parte da sociedade não admitia. 

Elas tinham acompanhamento psicológicos individuais e em grupos, uma série de atividades e de palestras para que elas entendessem que não estavam sozinhas.

Muitas viam ali como o lugar que as protegeria no curto espaço de tempo entre estar ali e estar em casa, onde a violência acontecia. 

Algumas iam lá só para conversar, dividir as suas histórias, e no final do dia voltavam para suas casas, para aqueles homens, que deveriam cuidar, amá-las. 

Algumas estavam em recuperação, porque a vida continuava mesmo após um relacionamento abusivo. 

Mas todas tinham uma grande semelhança: eram guerreiras.

Durante aquele tempo Bella ouviu muitas histórias, muitas tragédias enquanto outras, como a sua, tinham se transformado em superação.

Muitas dessas mulheres estavam ali porque precisavam de apoio quando todos tinham virado as costas ou ela foi induzida a acreditar nisso pelos próprios maridos, e não sabiam mais a quem recorrer.

Não foi necessário que Alice refizesse o convite de anos antes quando ela voltou de sua viagem de quase um ano pela Europa e trouxe novidades que Bella, naquela época ainda não sabia, mas mudariam completamente a sua vida. 

O que antes tinha se tornado história de fundo, passou a ser plano central da sua história, daquela nova fase que era conquistada na sua vida, e que poderia ser o caminho que a conectaria com outras tantas mulheres que passaram e que ainda podiam passar pelo o mesmo que um dia ela tinha vivido.

Foi assim que nasceu a One by All, uma adaptação do mulheres ao redor do mundo que como objetivo principal ajudavam outras. 

No mundo todo existiam mulheres que não sabiam, mas buscavam a sua identidade perdida depois de terem convivido com a violência e com as consequências que elas deixavam em suas vidas, buscavam a sua autoconstrução, o domínio de suas próprias vidas de volta as suas mãos. 

Era isso o que elas faziam.

Angela, depois de anos sem se verem aceitou fazer parte da One by All, assim como Alice que tinha uma grande parcela naquilo tudo, porque a sua amizade tinha feito a diferença todas as vezes que Bella achava que não conseguiria. A Dra. Denali veio pouco tempo depois, quando Bella recomeçou os estudos, logo depois de ter sido aceita com uma bolsa integral no curso de psicologia da Brown pelo seus próprios esforços. 

Muitas das suas conquistas ali se deviam a esses esforços e as pessoas maravilhosas que Bella tinha ao seu lado, que a ajudavam a manter não só aquele espaço em Nova York vivo, mas dando frutos, como também as suas esperanças.

Nos quase quatro anos que se seguiram desde a inauguração da One by All, Bella via naquelas mulheres a força diária que ela pensava que não tinha. Afinal, se ela levou anos para sair de um relacionamento abusivo, e parar de se enganar e aceitar que não existia mágica para isso, não significava que era franca. 

Podia ter demorado, mas depois daquele encontro deles no Fulton State Park, Bella aceitou, finalmente que tinha acabado. Não existiam mais correntes que a prendiam a falsas promessas como foi um dia. Ela já não setia mais aquele peso das correntes arrastando-a para o chão, com um barulho opressor do contato frio. 

Refletir sobre o que tinha vivido ou sobrevivido para chegar ali podia ajudar, mas não melhora as feridas. 

E durante o primeiro ano foi assim.

Com as consultas com a Dra. Tania Denali Bella aprendeu a confiar na família e em desconhecidos como ela. Aprendeu a narrar a sua vida em primeira pessoa sem sentir vergonha, mas com força ao ouvir a sua voz e como as pessoas podiam se sentir conectadas umas as outras por suas próprias histórias.

Parecia que os últimos anos que se seguiram desde que ela voltou de Forks tinha sido na verdade séculos. Ela tinha vivido praticamente 100 anos naqueles quase quatro anos.

Antes delas fundarem a ONG para mulheres que sofreram e que ainda sofriam de violência doméstica, houve um processo de cura e de acompanhamento enquanto tudo estava sendo estudado. Bella achou que demoraria para sair daquele estado inconstante de sentimentos opressivos que desestabilizavam-a. Ainda existiam dias difíceis que ela não conseguia se lembrar sem chorar, mas já não era mais como antes. Eram lágrimas de alívio porque de alguma forma ela estava ali, e podia contar a sua história, por mais dolorosa que esta fosse e embora ela soubesse que haviam tantos outros bons momentos que quase compensavam tudo, porque de alguma forma sempre saiam feridos de uma história como a sua, uns mais que outros.

Ela lutou para voltar a sentir confiança em si mesma, e nos outros. Buscava força e esperança em seus filhos que tiveram um papel fundamental em sua recuperação.

Benjamin e Noah eram tão perceptivos e atenciosos, e aprenderam com a ajuda da psicóloga, a lidar com seus sentimentos em relação a separação dos pais.

Bella e Edward tinham assinado aqueles papeis coincidentemente no dia do seu aniversário, e então, apesar de tudo, uma nova vida que já tinha começado, a esperava.

Era um novo começo.

Não houve discussão, apenas Edward sentado a sua frente com o seu advogado ao lado e Bella com a sua advogada, para que eles formalmente assinassem algo que tinha sido estabelecido entre eles, e que Edward, de alguma forma, soube respeitar. 

Eles nunca mais se viram sozinhos desde aquele dia no Fulton State Park, quando Bella teve a certeza de que ela não era a única destruída naquela história. 

Se Edward tinha mesmo se arrependido, ela podia ver isso nas pequenas, mas grandes concessões que ele foi capaz de fazer, e diferente do que Bella temia, ele não tinha tomado os seus filhos dela.

Edward podia ter alegado qualquer coisa, e ainda que Bella tivesse todos ao seu lado, ela não duvidava que ele podia consegui a guarda total dos filhos.

Bella não sabia, mas um dia antes Edward tinha confessado para as autoridades que durante anos agredia a sua esposa. Isso fez com que as ações da Cullen Enterprise que estavam nas alturas despencassem em uma questão de minutos.

Aquela declaração dele de alguma forma tinha vazado, e ainda assim, Edward não recuou e confirmou todas as interpelações que tivera.

Bella ainda se lembrava nauseada das coisas que diziam na TV, naqueles canais sensacionalistas

Com o divórcio que foi no dia seguinte ao da revelação, Bella ainda não acreditava no que ele tinha feito, e por isso não acreditou quando ele respeitou a sua decisão de estarem ali para assinarem aqueles papéis, mesmo com tudo o que aconteceria dali pra frente.

Aqueles comentários na TV, nas redes sociais ou em qualquer outro veículo não duraram muito, afinal sempre teriam novos relatos a serem jogados no ventilador. 

A Cullen Enterprise voltou a ser a empresa de tecnologia que exportava e importava produtos de qualidade para seus clientes, mas com a novidade que tiveram pouco tempo depois disso ela voltou a ficar no trending topics do Twitter.

Edward Cullen não era mais o presidente da Cullen Enterprise apesar dela continuar pertencendo a família que tinham a maioria das ações e que continuavam ocupando o imponente One Trade Center.

Ele fez a coisa certa, foi o que Carlisle tinha dito quando desligou o telefone comunicando a todos que estavam sentados a mesa, inclusive Bella, sobre os, até então boatos que corriam nas redes sociais.

Eles não sabiam aonde estava Edward desde que assinaram aqueles papeis. Hoje ela entendia que ele quis se afastar de tudo o que um dia tinha significado o poder que ele gostaria de ter e não tinha com seus próprios sentimentos. Nos corredores da Cullen Enterprise ele pôde mandar e desmandar nas pessoas sem que o remorso lhe abatesse. Era assim que Edward Cullen, durantes muitos anos, viveu. Viveu na escuridão do que ele achava que podia ser libertador.

O fato dele ter abandonado a empresa naquela época, tendo tantas coisas para lidar, como o divórcio, e ainda confessar para as autoridades fez Bella reviver algo que sempre estivera escondendo, sem muito sucesso. Aquele era o pai que os filhos mereciam e o homem que ela deveria amar com todas as forças, mas que não sabia mais como fazê-lo.

Não que existisse uma formula naquela época, e não que existisse uma hoje.

No dia que Carlisle fez as ligações tentando conversar com Edward e não conseguindo, eles estavam se preparando para o jantar, Ben e Noah já estavam dormindo no andar de cima, e Bella não se sentia mais como uma intrusa como tinha sido no começo, quando ela ainda tentava lutar contra aqueles sentimentos. Alice e Jasper tinham ido jantar fora e quando eles souberam da notícia, assim como Esme, Alice sorriu e apertou a mão do noivo um pouco mais forte. 

Mais tarde, ela entendeu o que aquele sinal de comprometimento significava. Edward tinha tirado a presidência do pai e o expulsado da empresa por questões muito mais pessoais do que de negócios como Edward tinha conseguido alegar para a os acionistas naquela época. Katherine May tinha agido mais uma vez, mas nem mesmo assim aquilo foi capaz de diminuir a culpa de Edward.

Bella se lembrava de não ter sentido raiva quando soube daquilo, de todas as coisas que Edward foi capaz de fazer apenas porque não aceitaria perder aquela mulher. E Bella sabia que existia algo muito pior do que perder alguém que achava que tinha amado, mas perder alguém que de fato o tinha amado.

Durante muito anos, ainda casada com Edward, Bella entendeu que existiam coisas piores do que aquilo, sentimentos que ela tentava reprimir, que ela esperava que Edward pudesse fazer o mesmo; não por ela, mas pela pessoa que ele vinha provando ser capaz de ser.

Bella preferia pensar que Edward não tinha voltado a ser a pessoa que ela achava que conhecia antes do casamento, e que via nos raros momentos de paz que tinham, mas sim alguém que um dia ele odiou ser, e que ela nunca foi capaz de conhecer quando seus olhos estavam escuros demais e confundiam quem ele realmente era, alguém que hoje aprendia a conviver com as suas perdas e com as consequências das suas atitudes.

Às vezes ela se perguntava como teria sido se ela tivesse conhecido aquele Edward. Como as coisas poderiam ter sido diferentes, sem cicatrizes, sem dor, apenas amor. Será que eles seriam felizes?

No começo das consultas com a Dra. Denali Bella descobriu que pensar naquilo não a ajudava.

Ainda que pensar naquilo não fosse bom para a sua recuperação, hoje quando ela parava para pensar em si mesma e em Edward, depois de ter sido capaz de enfrentar o que a violência doméstica trouxe para a sua vida, Bella gostava de pensar nas inúmeras possibilidades que era capaz de criar em sua cabeça, mas no final, em nenhuma delas ela ficaria com ele. 

Não depois do que tinha vivido, não depois do que ela queria para os filhos. 

Então, Bella gostava de pensar que nos dias que Edward estava viajando, nos dias que ele não estaria com Ben e Noah que normalmente eram nos finais de semana, ele estava se reconstruindo, buscando peças soltas dentro dele que nunca se encaixaram. Que ele estava construindo sua própria história longe da pessoa que um dia ele tinha sido.

***

Amar não devia ser machucar, não devia acusar, não devia desconfiar. 

Hoje ela sabia disso, e era por causa disso, por causa de tudo o que um dia ela passou que estava ali, ajudando outras mulheres, compartilhando suas experiências e vendo o quão semelhantes suas histórias podiam ser.

As lágrimas se transformaram em esperanças para ela e tantas outras mulheres que sobreviveram a dias e a anos difíceis de suas vidas, quando muitas não tinha essa sorte. 

Não importava os anos que se levassem, elas aprendiam a se encontrar em meio a tantos pedaços quebrados. Juntas aprenderam a sorrir sem se sentir culpadas por aquele gesto simples. Aprenderam a se respeitar, e a reconquistar o amor próprio que tinha sido arrancado delas com anos de violência psicológica e física.

Muitas das histórias que fizeram parte da One by All eram de vítimas de violência doméstica que constantemente enfrentavam inúmeras barreiras se deviam voltar para o ex-marido ou namorado, parceio ou parceira. Elas tinham as mais diversas explicações e diziam que já fazia, três meses, seis, quase um ano que eles nunca mais tinham encostado um dedo sequer nela, ou sido agressivos de alguma forma. 

Muitas acreditavam realmente nisso, e uma vez que elas tinham escolhas elas voltavam.

Nem todas voltavam para o One by All para contar sobre o final ou começo daquela história quando tomavam aquela decisão. Mas aquele espaço sempre estaria de portas abertas para recebê-las.

Bella conhecia bem os sentimentos que envolviam tomar aquela decisão.

Por vezes ela ponderou o que aquilo podia significar.

Quem levantava aquela questão nos encontros em grupos sempre estaria sujeita a julgamentos lá fora, mas nunca ali dentro. A One by All respeitava as escolhas de todas as mulheres que chegavam ali, e era assim que deveria ser sempre.

A conclusão que muitas chegavam no final daquela questão levantada, sobre voltar e acreditar nas promessas no ex, era se valia mesmo a pena. Se valeia mesmo a pena confiar que a história não se repetiria. Todas tinham histórias para contar, e não saberiam o final delas até que dessem a última chance que eles sempre pediam, por que na maioria das vezes existiam o e se... 

Se valia a pena arriscar tudo novamente, tudo o que aquela jovem ou o que Bella mesma já tinham conquistado com suas vidas. Se valia mesmo a pena arriscar tudo, mesmo tendo a incerteza, o medo pairando a cada dia nas sombras.

Aquela questão não era uma das mais fáceis de responder, Bella sabia disso por experiência própria.

Então ela se lembrava de que todas, assim como ela, mereciam mais do que dúvidas, incertezas ou medo. Mereciam muito mais do que aqueles homens prometiam em lhes dar.

Por mais que digam que todos temos controle sobre nossas próprias ações e sabemos como elas podem impactar na vida de outros, não existem escolhas fáceis. Existem lutas constantes da qual todas nunca podiam se afastar. E não importava qual fosse essa luta, Bella lutaria pela sua e pela de muitas: romper um ciclo não era fácil, mas também não era impossível. Lutar, por mais difícil que seja, que os dias daquelas mulheres sejam tão incertos e dolorosos como os seus um dia foram, lutar que as estatísticas de violência contra mulheres caiam, lutar que para que seus filhos jamais tenham aquelas lembranças de um passado difícil de apagar, e que eles pudessem ter o seu pai, independente de quem um dia ele tinha sido, ao lado deles. Apoiando suas conquistas e descobrindo o mundo com eles.

Quando os meninos souberam que Edward estava chegando de viajem aquela manhã e que os levaria para passear no zoológico, foi quase impossível mantê-los quietos, até mesmo na sala de leitura onde eles supostamente deviam ficar sentados enquanto as voluntárias liam histórias para as crianças. Bella os levou até a caixa de área com escorregadores, balanços e tudo o mais para que eles descarregassem a energia deles até que Edward chegasse.

Agora, Ben e Noah estavam brincando de correr com outros meninos e meninas que estavam ali. Filhos das mulheres que a One by All recebia. Ali era um espaço para as crianças ficarem, se divertirem e passem o tempo e para as mães se sentirem mais seguras em estar ali, quando muitas não tinham com quem deixar seus filhos. O espaço era aberto, o que o fazia ainda mais especial em dias ensolarados como aquele. Ben e Noah quase sempre estavam ali, eles diziam que era um dos seus lugares favoritos, e era por isso que Bella sempre os trazia quando eles não tinham aula na parte da manhã e nenhuma atividade ao longa da tarde. Ela tinha uma Au Pair que a ajudava, e todas que recebeu em casa eram garotas especiais que cuidavam dos seus meninos com amor e atenção. Parte de uma família de 3 com um pai que jantava de vez enquanto na casa que Bella tinha conseguido comprar nos subúrbios de Nova York. 

Era bom o sentimento de conquista que vinha sentindo, e agora, a poucos dias dos meninos fazerem sete anos e assoprarem as velinhas e fizessem seus novos pedidos, Bella tinha certeza de que tinha feito a escolha certa.

Agora, desde que tudo tinha acontecido, anos atrás, eles vinham reconstruindo suas vidas e não começando de onde ela fora interrompida. 

Afastando algumas lágrimas bobas que começavam a escorrer pelo seu rosto, Bella se lembrou de que nunca mais saberia como poderia confiar em alguém que a tinha machucado da maneira que ele tinha sido capaz de fazer, mas de alguma forma - ela sorriu ainda olhando para os filhos agora escorregando no brinquedo atrás de outras crianças - ela  conseguira um espaço em sua vida para que Edward pudesse se redimir e superar seus fantasmas, mesmo que a uma distância segura estabelecida entre eles. 

Ele tinha decidido passar um tempo longe, não muito como ele esperava porque ela desconfiava que as conversas por telefone ou Skype com os meninos estavam ficando cada vez mais difíceis para ele, quando ele desejava estar perto. 

Edward tinha feito muitas coisas erradas, coisas que Bella não poderia esquecer, mas agora ele corria atrás do tempo perdido, e de escolhas certas. Quantas mulheres, esposas, filhos podiam ter a mesma... sorte?

Os dois juntos tinham tido filhos lindos e que mereciam o melhor de seus pais apesar de saber que nenhum dos dois eram perfeitos. Eles mereciam crescer em um lar saudável, mesmo que cada um morassem a quilômetros de distância.

— Papai, papai - Bella foi despertada dos seus pensamentos pelos gritos dos filhos e percebeu que por um momento tinha se descuidado da atenção com eles. 

Mães não precisam ser perfeitas a todo momento.

Bella acompanhou com os olhos a correria dos meninos até um pouco mais distante de onde ela estava e se levantou do banco de madeira que estava sentada, olhando para o homem que despertava toda aquela empolgação em seus filhos, e de repente foi difícil não rir.

Ela estava rindo, rindo muito porque os meninos tinham corrido para abraçar o pai que tinha se agachado na altura deles para abraçá-los. Ben e Noah o pegaram de surpresa o que fez com que os três caíssem para trás, aos risos, assim como ela, parada rindo depois de se levantar e ver aquela cena. 

Uma centelha de esperança, por mais pequena que esta fosse, deveria ser festejada, e seus risos sendo misturado por todo aquele espaço aberto era apenas o começo. Enxugando as lágrimas que foi capaz de soltar com mais afinco depois daquele riso incontrolado, Bella viu que Edward a observava, ainda rindo, divertido com o momento.

Eu posso garantir que vê-lo através dos olhos inocentes de Benjamin e Noah pode ser uma boa experiência para aqueles que te amam.

Ela não sabia se Edward ainda se lembrava daquelas palavras ditas uma vez em uma carta ao que parecia terem sido escritas há uma eternidade, quando na verdade só alguns anos tinham se passado. 

Muitas coisas tiveram que acontecer para que eles estivessem ali, vivendo aquele momento, e outras tantas ainda aconteceriam, mas Bella nunca se esqueceria daquelas palavras, tanto quanto qualquer outras, dolorosas ou não que tinham sido ditas.

Ela acenou para Edward de longe, sabendo que os meninos não seriam capazes de esperar pelas formalidades de cumprimentos normais entre adultos. Ela tinha deixado as mochilas deles na recepção aonde ela avisou que Edward poderia pegá-las, então foi assim, tão rápido quanto ele chegou, os meninos se esquecerem que tinham uma mãe que ainda esperava que eles se voltassem para ela e corressem com toda a empolgação que tiveram alguns segundos antes.

Se conformando que tinha sido trocada, ela se afastou do banco e seguiu para dentro, pensando que o dia só estava começando e que ainda naquela tarde uma palestra seria dada.

Ela estava de costas quando ouviu passos apressados atrás dela, e duas vozes que sem a qual ela não saberia se teria sido capaz de sobreviver a dias difíceis a chamavam.

 Mamãe, mamãe.

Bella se virou, e viu que os filhos corriam até ela e então ela pensou como algumas histórias podiam se repetir, mas que as pessoas que fariam parte dela, estas sim tornariam tudo melhor, independente das barreiras que tinha que ultrapassar.

— A gente ama você - os dois repetiam, e pareciam estar em uma competição sobre qual dos dois amava mais a mamãe, porque falavam cada vez mais alto enquanto se aproximavam, correndo.

Dessa vez, diferente do que tinha sido com o pai, ela se ajoelhou na altura dos filhos e os recebeu de braços abertos, e esperando pelo impacto ela foi capaz de suportar o peso deles e o seu próprio com uma pequena inclinação para trás.

Ela sorriu, e sussurrou, para ninguém em especial, mas viu que Edward ainda estava aonde ele tinha ficado desde que o viu:

— Eu venci.

Aquilo não era uma competição como a qual os meninos travavam sobre quem devia amar mais a mamãe, mas era tão infantil quanto.

Edward assentiu, fazendo Bella se perguntar se ele tinha mesmo ouvido.

— Se cuidem - Bella alertou quando os meninos correram de volta para o pai e pegaram em sua mão. Edward estava engraçado com as duas mochilas de formato de carro nas costas, uma de cada lado dos ombros. - E cuidem um do outro... assim como do pai de vocês - ela disse por último.

Então eles se afastaram, saltitantes, empolgados com toda a energia que não deviam ter perdido no parque, mas sim multiplicada por mil.

Bella estava traçando a sua nova história enquanto lutava contra todos os traumas, que de uma forma irônica foram definitivos para aceitar e buscar a sua recuperação lá atrás. 

Ela não ensinava na One by All que podia ser fácil superar os anos difíceis, o trauma que todas ali tinham vivido, pois ela sabia por experiência própria como aquilo podia ser um trabalho árduo, mas que no final, ela dizia, era transformador. 

Ainda que o medo existisse Bella tinha certeza de uma única coisa apenas, que ela amava os  filhos acima de qualquer coisa, e ela não queria mais que o passado definissem quem Edward era para eles. Ela queria que eles crescessem com alguém que tentava se recuperar de tempos horríveis da sua vida, queria que eles nunca fossem capazes de repetir aquela história com as pessoas que eles escolheram amar. Mesmo com a dúvida que a assolou durante os primeiros meses depois da separação, ela sabia que não estava fazendo aquilo só por ela ou pelos filhos, mas por Edward também. 


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Notas finais do capítulo

**Eu nunca sei o que escrever quando uma história se encerra.

Aceito sugestões kkkkk :)

Cresci e amadureci com Mistakes, e ver que chegamos ao seu último capítulo é uma mistura de sentimentos tão louca. Não sei vocês sabem, mas dificilmente uma história se manter da maneira que você a imaginava no começo, quando ainda fazia rascunhos em um caderno e saia anotando inspirações pelo celular na fila do terminal de ônibus.

Aprendi que ela amadurece junto com você.

Foram anos de idas e vindas e a emoção que sinto por ter deixado uma mensagem tão linda como Mistakes trouxe é uma das minhas recompensas maiores.

Até quando ainda teremos notícias de mulheres mortas, até quando outras mulheres ainda serão capaz de culpar uma vítima de violência doméstica? Até quando essa sociedade machista vai parar de acusar mulheres que estavam apenas se divertindo e não implorando por serem estupradas? Até quando ainda ouviremos que 'em briga de marido e mulher não se mete a colher?' Até quando a nossa incapacidade de se colocar no lugar do outro vai nos fazer pensar que é tão fácil sair de uma relação abusiva?

Ajuda. Socorro. É o que essas mulheres pedem. É o que todas queremos. União, e não separação. Queremos ser amadas e lutamos que isso seja possível, e não um soco na cara. Elas não querem sentir medo quando chegam em casa, querem sorrir para aquela pessoa que as espera voltarem para casa bem.

Se você já viveu ou vive uma reação abusiva, peça ajuda, existem pessoas que podem te ajudar.

** Não, nunca vivi um relacionamento abusivo. Mistakes surgiu de histórias que vivemos sem realmente ser a protagonista. Não importa se foram só em jornais ou livros que podemos ter lido, essas histórias existem.

RECOMENDEM!!! :)

Vão no Twitter,no Facebook... vocês são a melhor maneira de atrair novos leitores. Se acharam importante e chegaram até aqui lendo Mistakes, é porque de alguma forma significou muito para você, então queira que outras pessoas também possam conhecê-la.

Preciso dizer que logo mais (sem data, mas já está a caminho) postarei uma One-Short :O Totalmente Beward. Nunca fiz nada parecido, e quero que saibam que é de comédia, mas sempre com uma mensagem linda por trás :)

Acompanhem meu perfil!!!

E nos vemos sempre em uma nova fanfic!!!

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“Relacionamento abusivo é todo aquele que gera, em uma das partes envolvidas explica a psicóloga Talita Rezende.

A Central de Atendimento à Mulher apurou que cerca de 86% dos depoimentos recebidos pelo número 180 são referentes a atos violentos em ambientes domésticos e familiares. Aproximadamente 37% dos denunciantes sofrem agressões todos os dias. E outro dado assustador: quase 40% das mulheres assassinadas ao redor do mundo foram vítimas de namorados e maridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Qualquer pessoa pode fazer um relato para o número 180 de forma anônima. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) estabeleceu a aplicação da Lei Maria da Penha mesmo quando a vítima não é quem faz a acusação contra o parceiro. Viu algo errado? É importantíssimo denunciar pelo telefone ou procurar uma delegacia."

METRÓPOLES, ATUALIZADO EM: 12/07/2018 22:20

https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/mete-a-colher-como-ajudar-uma-amiga-em-um-relacionamento-abusivo

;)