X escrita por Tyrell


Capítulo 6
006 — Austrália


Notas iniciais do capítulo

EU RETORNEI, POR FIM.
ESSE CAPÍTULO É PARA AQUELA LINDA, DIVA E MARAVILHOSA DA ANNA QUE RECOMENDOU A FIC. ME ABRAÇA, SUA LINDA.
E sim, eu mudei de conta por causa de umas paradas loucas que aconteceram aí. Ah, e eu andei notando que vocês quase sempre me chamam de "autora", "você", etc, mas sério, sem formalidades, somos todos friends aqui. Podem me chamar de Ozzy, se quiserem, porque Ozymandias é muito grande e cansativo de escrever. Mas enfim, pulando essa parte, aos avisos! Eu ia colocar isso no outro capítulo, só que esqueci. Todos os capítulos agora têm uma música específica, porque a Malaska me deu uma ideia em um dos comentários divosos dela. A música-tema desse é Immortals, do Fall Out Boy, que por acaso é da trilha sonora de BIG HERO 6 (também conhecido como Operação: Big Hero) AQUELE FILME PERFEITO QUE DESTRÓI MEUS SENTIMENTOS POR CAUSA DO TADASHI SOCORRO. Parei. Well, o resto está nas notas finais, então leiam porque é ULTRA importante.



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*

Arlington, Estados Unidos.

— Olha, isso não vai dar certo. — Val diz, cética. As sobrancelhas dela se unem enquanto enfia o garfo com força na carne e olha nos olhos de Jasper como se ele realmente tivesse ficado louco. Ele não sorri, o que a deixa levemente incomodada; o alemão sempre sorria quando fazia uma brincadeira, a russa havia notado. No entanto, ele estava quieto. E Valentina sabia que Jasper podia ser tudo, menos quieto. Ele se ajeita na cadeira, tirando os pés da mesa e com as costas totalmente eretas, deixando-a continuar a falar. — São apenas quatro horas antes que eles acordem, Jasper, não é tempo o suficiente para criar uma explosão sem que ninguém ouça. Mesmo que essa sala seja a prova de som, o barulho de uma coisa dessas pode ser ouvido por até um quilômetro de distância. Antes de você se dar conta, vamos estar presos de novo.

— Confie em mim, ok? — "Missão impossível", Valentina pensa para si mesma. Seis semanas e ela tinha absoluta certeza de que não confiava cem por cento naquele alemão intrigante, no entanto, ele tinha conquistado algo que era o suficiente para que ela continuasse ao seu lado; a curiosidade de Val. Embora acreditasse ser incapaz de gostar de alguém na vida, ele havia sido o único que conseguira chegar perto disso. Manteve-se calada, sabendo que Jasper tinha tido aquilo da boca para fora; ele compreendia melhor do que ninguém que Valentina nunca confiaria nele. — É o mais próximo que conseguimos de uma chance, Val, em nove meses. Além disso, depois da explosão, existe a possibilidade de que eu possa usar meus poderes. Sair correndo vai ser fácil, mesmo carregando você. Então vamos para Moscou e ficamos por lá até... Sei lá, acontecer alguma coisa?

— Grande plano, senhor Wagner. Agora que tal sair de seu mundo de sonhos e cair na real? Tivemos tanta sorte de encontrar uma garrafa de nitrogênio líquido escondida naquele sótão e o que você pensa? "Ah, vamos explodir a saída de ar com uma explosão controlada e morrer!"— Ela diz, irônica. Em sua cabeça, haviam milhares de outras possibilidades de fugir dali usando aquela garrafa sem explodir nada e chamar atenção; estava naquele lugar há anos e tinha o gastado planejando uma estratégia de fuga impecável. Entretanto, Jasper havia negado todas as opções e continuava firme com sua ideia. Aquela teimosia deixava Val irritada.

Tudo aquilo havia começado no momento em que Jasper caiu em uma das salas e achou uma parte da "cela" totalmente frágil. Assim, ele arrancou o metal que cobria uma passagem para dentro de uma outra sala. Valentina pensou, inicialmente, que fosse uma saída e ficou esperançosa pela primeira vez em anos, aguardando ansiosamente pelo retorno do rapaz loiro em sua jornada por dentro do novo lugar. Entretanto, ele voltou 15 minutos depois com um sorriso radiante; tinha encontrado uma enfermaria abandonada, que possivelmente estava lá para os primeiros socorros dos líderes que viessem a se esconder naquele lugar durante a tal guerra. Algo que passaria despercebido pelo Governo com facilidade.

Remédios, vacinas, várias e várias coisas que serviriam para qualquer coisa. No entanto, o que mais chamou a atenção dos dois fora aquela garrafa com um líquido familiar. Nitrogênio líquido, algo raríssimo de se encontrar e um tiro de sorte para a russa e o alemão. "Uma chance", ele tinha dito, com os olhos negros brilhando como um verdadeiro ônix. Fora naquele mesmo momento que Valentina quase sentiu-se sorrir com a probabilidade de uma fuga daquele lugar nojento que era o mais próximo que ela tinha de lar. Entretanto, depois de semanas pensando em uma maneira de sair de lá, a melhor ideia que haviam tido era a de explodir a saída de ar e fugir por ali. Mas Val não confiava naquela ideia.

— Amanhã. — Jasper diz, distraído, ignorando o recente protesto da garota de olhos azuis. A dita cuja revira os olhos e desiste de tentar convencê-lo do contrário, sabendo que o alemão dificilmente recorreria à ideia dela naquele caso. Jasper era teimoso, sarcástico, odiosamente inteligente e com uma habilidade excepcional de conseguir saber exatamente o que ela estava pensando como ninguém jamais conseguira. Por isso, Valentina se sentia de mãos atadas quando se tratava dele; na visão dela, era como tentar discutir consigo mesma. — Nós faremos isso amanhã, sem mais atrasos. — Ela solta um suspiro e vê que Jasper começara a sorrir para ela de canto, totalmente imerso em seus próprios pensamentos. Sentiu-se inquieta e desviou o olhar, tentando se manter concentrada no quadro preso na parede em seu lado direito.

Cinco dias. Ela desconfiava daquilo há cinco dias.

*

Sydney, Austrália.

Nina estava presa em seus devaneios, mais do que sequer imaginaria estar. Embora correr pelas ruas australiana geralmente a distraísse, ela não conseguia parar de pensar no que Gideon havia lhe dito no bunker, vulgo centro de operações dos mutantes que Yoongi havia comprado há algumas semanas. Aquilo fazia as engrenagens de sua cabeça se moverem com tamanha velocidade que assustava até mesmo ela, a dona deles próprios. O que ele queria dizer com “Uriah se importava com você. Mais do que imagina”? Havia uma informação velada ali, ela notou, que tinha passado despercebida por todos esses anos. Uriah se importava com ela, sim, mas o que significava “mais do que imagina”? Balançou a cabeça tentando ignorar os pensamentos, porém várias outras preocupações apareceram em sua mente do nada.

O plano de Elise era intrigante, ela sabia. Sacrificaria tudo para salvar seu irmão e estava jogando com todas as cartas que tinha em nome do benefício dele, entretanto, Nina sentia que ela não estava confiante ao ponto de fazer aquilo sem ligar para os possíveis erros de cálculo. Mesmo que todos os mutantes ali presentes estivessem utilizando todo o arsenal de inteligência que tinham, Nina compreendia que não era o suficiente. Invadir o Pentágono era impossível, por mais inteligentes os membros da “resistência” eram. Na visão dela, era jogar-se de cabeça no território inimigo com uma melancia na cabeça e gritando para ser fuzilado.

Desde que Yoongi explicara a situação para ela há três meses, Nina não tinha certeza se era uma boa ideia arriscar a própria segurança em nome da salvação de sua raça. Estavam indo contra a maior potência do mundo e eles eram apenas sete; e pior! Daniel havia os avisando que não podia sair do país até encontrar Sam, portanto a ajuda real dependia de apenas seis pessoas sem experiência nenhuma com guerras dessa proporção. Eram muitos riscos e uma missão praticamente suicida, no entanto, ninguém havia ido contra a ideia.

Salvar todos os mutantes que encontrassem e unir-se contra Ted Worthington com o objetivo de uma sociedade inter-racial parecia mais um sonho inalcançável e infantil do que um futuro provável. Nina tinha se acostumado com a ideia de que nunca iria se encaixar em lugar nenhum; nascer mutante era assinar o próprio atestado de óbito social e físico, o que significava que ela já estava morta no dia que nasceu com aqueles malditos poderes fúnebres. Porém, não era hora de remoer o passado. Aquilo apenas a levaria a outros pensamentos ainda piores, sobre sua avó e seu tio desaparecido. Suspirou e parou de correr na Ponte da Baía de Sydney, observando a água antes de retornar para casa.

Sentiu o vento em seus cabelos e começou a acalmar-se, colocando seus devaneios em ordem para resolvê-los depois. Estava anoitecendo e a cidade ficava ainda mais fria durante a noite, no entanto, ela queria continuar correndo até encontrar alguma loja de música ou algo do gênero. Cantar a ajudaria ainda mais a encontrar maneiras de resolver seus problemas, além de que mataria a saudade que tinha de ouvir as notas saindo de seus lábios, formando uma bela canção com sua voz soprano. Sem notar, percebera que começara a cantarolar uma música antiga, de uma cantora francesa chamada Elisée que contava a história de uma mulher que perdera a família em um terrível acidente e que agora sofria dos demônios que insistiam em persegui-la.

Quando chegou em casa, ouviu sua calopsita, Miranda Mount ou apenas Sra. Mount, cantando a mesma música. Sorriu; desde que ganhara aquele pássaro, ela tinha sido a única alegria de sua vida por meses sem fim, com suas músicas e perseguições nada convenientes pela cidade. Ela amava Miranda, de fato, por ela ser a única que não a julgava por seus atos e pensamentos. Sabia que o pássaro também havia sofrido na vida; tinha sido capturado por caçadores ilegais de forma brutal e recuperado recentemente até ser mandado para um pet shop, onde foi comprado por sua vizinha que acabou dando a ela. E Miranda tinha praticamente se apaixonado por Nina.

A razão de Nina ter ido para casa era pelo convite de mulher que trabalhava no MIT com quem ela conversava há vários dias. Embora não soubesse o nome verdadeiro dela pela insistência da outra de que a chamasse de “Camberra”, cidade onde morava atualmente, Nina estava atraída pela teoria lhe apresentada; de que os mutantes não foram cem por cento responsáveis pela explosão do Instituto e que havia alguém, dentre os políticos ali presentes, que estava planejando aquilo há meses. A teoria em questão a intrigava, mesmo que fosse improvável e que ninguém no bunker tivesse acreditado nessa teoria, nem mesmo Yoongi. Entretanto, Nina sentia que deveria fazer o que era necessário. Assim, comprou uma passagem de ônibus para Camberra e marcou em encontrar a mulher, ignorando os protestos de Henry quanto à possibilidade de ser algum mentiroso ou alguém do CCM.

Colocou Miranda dentro da gaiola e terminou de arrumar sua mala, que era pequena, visto que ela iria passar poucos dias na cidade e, então, partiu. Três horas de viagem a frente até chegar em Camberra, a capital, porém seria um bom tempo para observar a estrada australiana com mais atenção. Se tivesse sorte, poderia ver um canguru, mesmo que a possibilidade fosse mínima naquela época do ano. Aquilo a distrairia, de fato. Pegou seus fones de ouvido e colocou na primeira música que viu, tão antiga quanto seu tio; 400 Lux, de Lorde. Era uma canção boa de se ouvir e Nina rapidamente acabou por adormecer ali mesmo, em seus próprios devaneios e problemas.

*

Camberra, Austrália.

Claire não estava segura com a ideia de deixar sua filha sozinha em casa, mesmo que por poucos minutos. Seu pai, James, estava trabalhando a esta hora do dia e ele definitivamente não ficaria muito feliz em saber que sua filha tinha marcado em encontrar-se com uma pessoa desconhecida. Mesmo que Ninally Valdez não fosse uma desconhecida para Claire, que era uma das responsáveis pela médium, ela sabia que James não concordaria com aquela ideia e adquiriria aquela posição rígida e responsável. Entretanto, Claire precisava compartilhar suas reflexões obscuras que a incomodavam há meses com alguém além de si mesma, visto que Hannah não tinha idade para saber daquelas coisas. Claire, de fato, não queria destruir a inocência da filha diante dos problemas que viriam pela frente; ao menos, queria poupá-la de um sofrimento precoce.

Prendeu seus cabelos loiros em um rabo-de-cavalo mal feito e pegou as primeiras roupas que encontrou em seu guarda-roupa; uma calça cáqui, camisa cinzenta, casaco de couro marrom e tênis surrados. Parecia mais nova, com suas feições angelicais e olhos azuis, entretanto, era uma mulher de quase trinta anos. Claire pegou sua bolsa e deu uma última olhada na casa que alugara há nove meses, que era pequena e pintada de branco, prendendo-se às feições da boneca Barbie de sua filha, da edição de colecionador. Sorriu ao se lembrar das recordações com Hannah nos Estados Unidos e fechou a porta de sua casa sem manter-se muito concentrada em seus sentimentos, selando seu destino por fim.

Ao chegar no Aeroporto na área dos ônibus, Claire parou e esperou em uma das cadeiras do lugar, se comunicando com a filha por um aplicativo para saber como ela estava. Hannah dizia que todas as portas estavam trancadas e que não havia um único barulho além do programa que ela estava vendo no momento, um documentário sobre o século 21 e as graças que ele trouxera à sociedade de hoje. Claire suspirou; Hannah amava aqueles programas, mesmo que Claire não fosse a maior fã do mundo deles. Então, no exato momento em que levantou seus olhos, ela viu Ninally imediatamente.

Ela possuía cabelos castanhos, longos que caíam como uma cascata natural. Seus olhos eram um verdadeiro caleidoscópio; castanho, azul, verde... Depois de anos, a própria Claire não tinha certeza de quais eram as cores exatas. Ninally tinha um corpo esbelto, não obstante, ela era “baixinha”; 1,56 cm de altura, se a memória de Claire não estivesse falhando. Ninally era bela, de fato, e o sobretudo negro que usava aumentava ainda mais sua beleza. No entanto, Claire não se sentiu intimidada pela aparência avassaladora da espanhola; em sua mente, ela mesma era bem mais bonita.

— Madri. — Claire se pronuncia, com sua voz repleta por seu sotaque australiano, assustando a espanhola. Nina a encarou, avaliando-a até lembrar-se de onde a conhecia. Claire não sorriu em nenhum momento; não gostava de ser esquecida pelas pessoas, mesmo que Nina não fosse obrigada a se lembrar de todos os cientistas do MIT. A australiana levantou as sobrancelhas, o que fez Nina estender a mão na direção dela, sendo que o cumprimento rapidamente foi retribuído.

— Camberra. Não imaginava que fosse você, Claire. Me surpreendeu, de fato. — A espanhola responde, ainda sem sorrir para Claire. Efetivamente, não havia tempo para gentilezas enquanto havia o risco eminente de um futuro malsucedido e horroroso onde o mundo se tornara um caos maior do que já estava, graças ao ódio de uma cadeia de presidentes revoltosos. Claire deu de ombros.

— Estamos sem tempo. Você vai ficar na minha casa, por enquanto. — A australiana retruca, quase que sem piscar. Nina nota, internamente, que ela está com profundas olheiras e seu olhar parece mais cansado do que o normal para si. Claire deveria estar passando as noites em claro há meses com aqueles devaneios presos em sua mente desde a explosão; Nina sabia que Claire era uma das que estavam mais próximas das labaredas e uma das pessoas que tinham visto os mortos de perto. Mesmo com a personalidade egocêntrica e indiferente da australiana, Nina compreendia que aquilo poderia destruir o emocional até mesmo dela. A espanhola não contesta e espontaneamente a segue, sem mais conversas.

Os minutos até a casa de Claire foram silenciosos, porém, paradoxalmente, barulhentos pelos pensamentos soturnos de ambas as mulheres. Ainda que fossem conhecidas há anos, agiam como se fossem total estranhas; analisando discretamente uma à outra, desejando saber o que passava por sua psique em relação a tudo. Nina sabia que não era inteiramente bem-vinda à casa de Claire e que a razão para ela ter insistido era por uma forma de conversar com ela sem ter uma companhia duvidosa; nenhuma das duas queria ir para um hotel e ter que suportar a constante desconfiança de que alguém pudesse estar ouvindo sua conversa. Em conclusão, elas poderiam ser presas se não fossem capazes de manter seus planos em total sigilo.

Ao chegar no local, Claire destrancou a porta e entregou uma chave extra para Nina, que nada disse. Durante o tempo que a espanhola observava a decoração comum e confortável da casa, Claire foi correndo na direção do quarto da filha após jogar seu casaco em cima do sofá. Encontrou Hannah rindo de um desenho animado, algo que a fez sorrir. A australiana entrou no quarto e sentou-se ao lado da filha, acariciando sua cabeça enquanto explicava a situação com palavras mornas e dóceis. Hannah compreendeu e Claire sentiu-se alegre ao notar que sua filha, além de esperta para idade, era compreensiva em situações necessárias. Ficou lá até a menininha adormecer e saiu, trancando a porta por não confiar em Nina o suficiente para deixá-la no mesmo ambiente que a filha. Encontrou-a sentada na mesa de piquenique no quintal, parada como uma estátua de cera e observando um passarinho que passava por ali. Claire se encostou na porta, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Há quanto tempo você não dorme? — Nina a questiona, quase que sem se mexer um milímetro. Claire suspira antes de falar, prendendo seus olhos na cor azul de seu esmalte de unha.

— Meu recorde. Quarenta e duas horas, desde que eu cheguei a uma conclusão logo depois que você me disse que viria para cá. Preferi te dizer pessoalmente porque... Bem, é algo muito importante. — Claire volta seus olhos na direção de Nina, que imediatamente nota o ar que a australiana deixa. Ela estava visivelmente mais inquieta do que o habitual. Seus olhos caleidoscópios se arregalam, antes mesmo que a mulher termine de falar. — Olhe, não é uma conclusão definitiva, mas todas as pistas apontam que... Que Uriah Winston foi responsável pela explosão.

Nina nada diz. Ela pisca várias vezes antes de apagar no chão, ouvindo apenas as batidas de seu coração e seus próprios pensamentos, que gritavam incansavelmente três curtas palavras; Uriah está vivo.

*

Manchester, Inglaterra.

A troca silenciosa de olhares entre Nikita e Gideon apenas dizia uma única coisa para Elise; eles não estavam cem por cento seguros do que ela dizia. O fato de ter viajado para o Bunker sozinha sem avisar Yoongi não era algo que estivesse martelando em sua cabeça; se ele a procuraria como um louco ou apenas desse de ombros diante seu desaparecimento não a preocupava ao ponto de parar imediatamente o que precisava fazer, independente a opinião do coreano diante disso. Ela se lembrava da localização da sede com perfeição — afinal, havia sido ela quem comprara a estrutura fortificada subterrânea inglesa há cinco semanas. —, no entanto, era a primeira vez que a visitava pessoalmente.

Era uma construção há dez metros abaixo do solo e da casa de Gideon e Nikita, que viviam ali como um casal falso e recém-casado chamados Jonas e Eleanor, com as paredes cobertas por ligas de metal, carbono e aço, além de puro concreto. Não era um lugar luxuoso, apesar de ter custado muito caro e todos os mutantes terem contribuído com uma parte, principalmente Dagna, que havia pagado a maior quantia. A capacidade era de quarenta pessoas e tinham cinco dormitórios para oito pessoas, embora nunca haviam sido usados. Uma cozinha de aço e um depósito de comida comprado por Nina tinha alimentos o suficiente para um mês, no entanto, era a única parte “boa” do lugar. O sofá era barato e doloroso de se sentar, o único telefone era de fio devido a profundidade e a lâmpada vivia piscando, além de que o ar-condicionado precisava ser limpado a cada dois dias. No entanto, o lugar era cheio de mesas improvisadas lotadas de papéis e desenhos da estrutura do Pentágono, além de fotos de vários outros mutantes sendo avistados em diferentes lugares e computadores velhos utilizados para hackear. Na visão deles, o suficiente para poder rastrear quem quer que quisessem, mesmo que não fossem tão bons quanto a CIA.

Nikita estava massageando as têmporas do rosto, com os olhos fechados. Ela estava visivelmente incomodada com as condições em que estava vivendo, embora Elise soubesse que ela estava fazendo o possível e o impossível para continuar firme, o que fazia de Gideon um alicerce no momento. Elise suspirou e continuou a falar, coçando a lateral da cabeça.

— Vocês sabem... Precisamos de dinheiro. Dagna e Yoongi estão zerados, Nina sumiu e Henry está ocupado demais com as próprias dívidas para gastar seu dinheiro conosco. A única forma seria...

— Elise, é o Banco Central de Londres. Já estamos nos arriscando muito, gastando dinheiro e chamando a atenção com os nossos próprios rostos. Invadir um banco é praticamente se entregar de mãos beijadas para o Worthington!

— Isto é... — Gideon começa, pondo a mão no queixo, pensativo. — ... Se não tivermos um bom plano de escape. Além disso, seria a nossa primeiríssima ofensa oficial contra o Governo. Ted crê que o Banco de Londres é impenetrável e é lá onde ele guarda seu dinheiro corrupto desde o Escândalo dos Bancos Suíços. Seria genial.

— Vamos acabar todos mortos... — Nikita diz, mais para si mesma do que para os outros dois membros da sala, colocando as mãos em volta da cabeça. Parecia aterrorizada com a ideia de assaltar um banco e Elise sabia a razão; de todos os mutantes do MIT, Nikita era quem mais temia o CCM por ter sido especialmente torturada por eles durante meses. A alemã suspirou antes de retornar.

— Como Nina sumiu e perdemos contato com o Daniel, teremos que nos contentar com só cinco pessoas. Vou contatar a Dagna daqui a pouco e pedir para que ela ligue para o Yoongi. Eu sei que ele não é o tipo de pessoa que enche os outros de perguntas, mas não estou no clima para ouvir os questionamentos dele quanto ao meu “desaparecimento”. Ele sabe que estou bem, creio eu. — A mulher se levanta, olhando uma última vez para o casal. Gideon abraçara Nikita desconsertadamente, enquanto ela continuava apática diante da ideia de ser capturada novamente pelo CCM. Entretanto, Elise prometera a si mesma, em seus próprios pensamentos, que ninguém iria ser sequestrado outra vez por Worthington.

Mesmo que isso custasse sua própria vida.

Saiu do bunker e foi para dentro da casa, subindo as escadas. A casa era de campo, grande e espaçosa com dois andares. Totalmente branca por fora, embora a maioria da casa por dentro fosse pintada de amarelo-claro. Era um lugar confortável, do tipo em que Elise gostaria de morar se não tivesse nascido mutante. Subiu novamente as escadas, dessa vez em direção ao segundo andar, onde estava seu quarto. Abriu a porta e encarou a lareira, que estava acesa; já era inverno, época do ano favorita dela, porque era uma das poucas ocasiões onde era verdadeiramente feliz. Lembrou-se da vez em que ela e Jasper, aos quinze anos, há quase uma vida atrás, roubaram um trenó e desceram uma montanha de neve aos risos histéricos. Caíram logo depois, ainda rindo e com arranhões e machucados, porém não estavam se importando com o pouco de sangue que pintava o branco. Estavam felizes demais para ligar. Suspirou melancolicamente e encarou o próprio quarto. Era um lugar grande, com uma já conhecida lareira de tijolos e uma cama de casal, vestida com uma roupa de cama florida da quase mesma cor das cortinas; amarelo como o sol. O jeito estava dando um ar caloroso ao cômodo, mesmo sendo inverno. O ar-condicionado estava desligado, entretanto, Elise gostava do clima dentro do quarto; uma mistura gostosa do frio com o calor, que lhe trazia um sentimento bom. A televisão estava desligada, pois a alemã não estava com humor para ouvir sobre as terríveis notícias que assolavam o mundo e a preocupavam ainda mais. Tudo o que Lisbeth queria era relaxar, mesmo que por meros trinta minutos.

Deitou-se na cama e encarou o teto, ainda com suas roupas casuais, os devaneios a mil por hora. Quando se deu conta, estava adormecendo enquanto seus pensamentos diminuíam gradativamente e seu corpo finalmente relaxava. Manteve-se acordada por um segundo, para formar um sorriso genuíno em seu rosto, e deitou-se com Orfeu em um ócio sem sonhos e sem medos.

*

Washington D.C., Estados Unidos.

Ravena Churchill trocou um último olhar com Caleb antes de entrar na Sala Oval, deparando-se com a presença quase mórbida do Presidente americano, seus auxiliares e outros três líderes mundiais que não deu-se o trabalho de encarar. Não era a primeira vez que a mulher entrava naquele local, não obstante, era a primeira em que ela entrava ao lado de seu ex-marido em um lugar cheio de pessoas. Mesmo que vivessem afastados e atualmente trabalhassem em lugares diferentes, o destino continuadamente os fazia se reunirem em nome do bem maior em momentos inoportunos na opinião da escocesa e do irlandês.

— Doutora Churchill, Doutor Roth! Há quanto tempo! — Ted manda um sorriso caloroso, que não é retribuído por parte dela. Caleb, no entanto, sorri da mesmíssima forma para ele. Aquele era um dos motivos pelo qual ela havia se divorciado do irlandês; “Regra N°. 43: Nunca, em hipótese nenhuma, sorria ‘daquela’ forma para pessoas acima de você politicamente. Pode ser falta de etiqueta, em alguns casos. ”. E quem disse que Caleb obedecera aquela ordem?

— Seja breve, sr. Presidente. — Ravena diz, apática. — Por que nos tirou de nossas atividades científicas para uma reunião de última hora? Por falar nisso, já se passa das vinte e uma e creio que o senhor não costume marcar algo após esse horário, visto que é uma pessoa muitíssimo ocupada e que precisa acordar cedo para suas tarefas, creio eu.

— Bem, gostaria de saber notícias sobre as buscas do Comitê de Controle Mutante diante do desaparecimento das cobaias desde o atentado do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, visto que a senhora é responsável por tanto os procedimentos científicos quanto as estratégias de atraí-los e captura-los.

— Eu e o Comitê decidimos que...

— Decidiram o quê? Que vão armar outra estratégia furada de tentar tocaiá-los em Lexington, que, aliás, está cercada por muros onde ninguém sai? Não se faça de burra, Ravena, porque isso você definitivamente não é. Qualquer idiota sabe que eles fugiram para outro país. É tão simples! Muitos devem ter ido para... Sei lá, Coréia do Norte? Eles não têm tratado de extradição conosco e as cobaias podem andar livremente por aí sem medo de serem presos. — Caleb nada diz diante do retruque do presidente; ele apenas olha nos olhos da ex-esposa e espera ver alguma dor em seus orbes azulados. Entretanto, Ravena se mantém firme com muita controvérsia em relação aos próprios sentimentos. O irlandês sabia que ela passava por cima dos próprios sentimentos, e até dos sentimentos de outras pessoas além dela mesma. A razão, no entanto, era algo que ele não gostava de comentar sobre.

— Nós decidimos que iremos pedir a colaboração da Interpol para encontrar as cobaias. O Sr. Roth crê que alguns devem ter retornado para seus verdadeiros lares, como Noruega, Alemanha e Coréia do Sul, que tem o tratado conosco. Sobre os países que não tem, resolvemos enviar um memorado ao senhor pedindo a realização da operação mesmo indo contra às leis do outro país em questão.

— Tá, tá. Faça o possível e impossível para encontrar aqueles cretinos. Quero todos mortos, sem exceções. Agora, estão dispensados. — Ravena saiu, respirando pesadamente e controlando algumas lágrimas que estavam insistindo em sair sem seu conhecimento, junto com todos os outros presentes na sala. No entanto, quando Caleb estava prestes a sair, o Presidente se pronunciou novamente, com uma voz grave e séria. — Menos o senhor, Dr. Roth. Preciso ter uma conversinha com você. — O irlandês para e lentamente vira o rosto na direção do outro homem, com um olhar confuso. — Sobre Uriah Winston.


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Notas finais do capítulo

(Sim, é a Claire no gif).
Ok, povo. Então.
Eu estou re-fazendo o Tumblr, por isso vários personagens estão incompletos e por isso tá cheio de inglês ruim + spoilers marotos. No entanto, o CoalaTD me deixou um negócio no capítulo anterior que me deixou bolada comigo mesma por não ter explicado. Bem, vocês devem ter visto o Tumblr e pensando "Ah, só Elise, Yoongi, Jasper, Dagna e Henry são os protagonistas". Não, gente. Eu criei um sistema junto com os arcos de história (ou seja, as séries de capítulo e tal), em que três personagens são os protagonistas de NOVE capítulos. O décimo é exclusivo dos cientistas e terá umas seis ou sete mil palavras (pode chegar a dez, sim), embora eles possam aparecer no meio do enredo, como a Claire, por exemplo, que apareceu agora. No Tumblr, está dividido assim nas colunas e os "co-protagonistas" são temporários, visto que eles narrarão os próximos arcos. Ou seja, o arco atual (que eu casualmente apelidei de "Inferno" porque tÁ DIFÍCIL PRA VOCÊS, VIU) é centrado na Elise, no Jasper e no Yoongi. O próximo ("Paradoxo") é centrado na Dagna, no Henry e na Mariana. O terceiro, "Medo", é pela Nina, pelo Daniel e pela Annabelle. E assim por diante. O último arco vai ser o maior e cada personagem vai narrar, em primeira pessoa, um capítulo até ser a vez da Valentina, que é a última. Acredito que vá ter um epílogo e uma segunda temporada se vocês ainda estiverem dispostos a ler uma possível continuação, visto que eu estou mega ansiosa com essa fanfic. De qualquer forma, espero que tenham gostado do capítulo e tenham um ótimo feriado :)



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