X escrita por Tyrell


Capítulo 4
004 — Arena


Notas iniciais do capítulo

Senhoras e senhores, eu lhes apresento o capítulo atrasado! *joga purpurina rosa nos leitores" Eu demorei para fazer, desculpe. E mil obrigadas a Sugar Free por ter recomendado! Esse capítulo é para você, moça. Ah, aliás, leiam as notas finais, por favor. É importantíssimo. Anyways, bom capítulo para vocês!



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Outra vez, um disparo de revólver ecoou pelas copas das árvores da Schwarzwald, assustando os fugitivos que Elise Wagner era incapaz de reconhecer. Havia uma densa bruma no local, algo curioso na opinião da mulher que nascera naquelas terras; raras vezes viam-se névoas como aquela na Schwarzwald, nem mesmo nos piores dias em Sankt Blasien ou em Schiltach. Se era possível ponderar em um sonho, Elise diria para si mesma “Bem, ao menos isso irá ajudar a família a fugir, seja lá do quê. ”. Uma explosão foi ouvida e algumas árvores começaram a pegar fogo quase que do nada, tornando a visão cada vez mais embaçada e os gritos cada vez mais altos.

Elise reconheceu-os com certa facilidade: havia uma voz masculina, que, segundo suas meditações obscuras, deveria ter algo em torno dos 40 ou 45 anos; uma voz feminina, fina e esganiçada, porém extremamente reconfortante aos ouvidos da alemã, parecia ser uns cinco ou sete anos mais jovial do que a do homem; e também havia um casal de crianças, além do choro alto de um bebê. Elise fora inábil na tarefa de entender o que as crianças diziam; embora alemão fosse sua língua-mãe, as crianças falavam tão rápido que ela mesma duvidava que seus pais estivessem entendendo um por cento do que elas praticamente gritavam em seus ouvidos.

A visão clareou e ela pode ver o vislumbre do rosto do bebê, e quase que imediatamente sentiu um estranho alívio. Era uma criança bonita, de fato. Cabelos dourados iguais à mais pura pepita de ouro, pele pálida e olhos escuros como ébano, Elise sentiu uma leve vontade de proteger aquela criança, mesmo sabendo que aquilo não se passava de um sonho e que aquela pequena criaturinha curiosa não existia realmente. Ele – ou ela – não chorara em nenhum momento, mesmo diante dos estrondos das balas, dos gritos e das labaredas de chamas que insistiam em tentar impedir a família de se salvar.

No entanto, o que mais perturbava Elise era o fato de que ela se lembrava perfeitamente das duas cidades que circundavam aquele local. Schiltach e Sankt Blasien. Era como se aquilo fosse uma informação óbvia que estivera escancarada em sua cara o tempo inteiro, embora Elise apenas tivesse a conhecido naquele mesmo sonho. Ela era familiar à cada uma daquelas casas; a arquitetura, as pessoas, o rio de Schiltach, as capelas em Sankt Blasien que pareciam implorar para que ela as visitasse e orasse. Em ambos locais, ela se sentia totalmente em casa. O que a levou a crer que uma das cidades – ou ambas – era seu lar em sua “vida passada”.

Quando família chegou em uma casa após a incessante correria que pareceria durar horas, Elise queria ter rido. Era o típico cenário de um conto infantil; estavam na Schwarzwald, chamada de Floresta Negra pelos estadunidenses, em uma casa no meio das árvores e ainda estavam sendo perseguidos por um inimigo desconhecido. Só faltava uma bruxa dos doces aparecer-lhes ali para engordá-los e posteriormente, comê-los. Cômico. Jasper teria feito uma de suas audaciosas piadas se estivesse em seu lugar, o que provavelmente a faria rir. Jasper sempre a fazia rir.

— Verschwinde von hier! Wir haben nichts für Sie! — A voz masculina trovejou, como uma tempestade. A mente de Elise automaticamente traduziu a frase, de imediato: “Saia daqui! Nós não temos nada para você! ”. Não houve resposta, porém, a observadora da cena sentiu o clima se tornar cada vez mais tenso a cada segundo que se passava.

Elise ouviu um estrondo na porta, como se alguém estivesse tentando penetrar naquela residência abandonada, e congelou. Ela conhecia aquele barulho, conhecia o que estava por trás daquela frágil porta de madeira. Estremeceu e notou que a menina do casal de crianças fizera o mesmo, e a ouviu choramingar com uma voz abafada; deveria estar escondendo o rosto no meio nas vestes da mãe.

— Sohn, wenn etwas passiert, nehmen Sie Ihren Schwestern, so weit wie möglich. — A voz feminina sussurrou, com a voz entrecortada pelas batidas incessantes. A porta não aguentaria mais; Elise conseguia ouvir o som da madeira se destruindo a cada estrondo. “Filho, leve suas irmãs para o mais longe possível”. O menino tentou protestar por um segundo e meio, entretanto foi interrompido pela voz fina, porém autoritária em relação ao irmão, da menina que antes estava aos prantos no colo da mãe.

— Gut, mutter. — “Entendido, mãe. ”. Não havia um pingo de lamentação ou melancolia na voz da menina, entretanto, era possível ver que aquela decisão doía tão profundamente na alma dela quanto doía na do irmão. Era necessário, Elise sabia, mas a decisão de abandonar a família para a própria sobrevivência desta mesma era não deveria caber às mãos de crianças. Elise temia, no fundo de sua alma assombrada por demônios que ela mesma desconhecia, que aquilo nunca mais ocorresse com outra pessoa.

Um último estrondo foi ouvido e Elise acordou imediatamente de suas fantasias fúnebres. Estava novamente suando às bicas e com lágrimas enchendo seus olhos esverdeados, dentro da Cela do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Olhou em volta e não viu ninguém; o que a preocupou. Suas roupas estavam coladas ao corpo, então a mulher retirou o macacão cinzento com seu número de prisioneira e ficou apenas com a camisa e as calças. Continuava suada, mas pelo menos estava conseguindo se refrescar um pouco. Se aproximou da porta da Cela e notou que estava entreaberta, e que uma estranha luz saía de dentro dali. Oras, o que estava acontecendo, afinal? Outro sonho? Uma alucinação? Elise não sabia, porém estava preocupada com a resposta para aquilo.

Abriu a porta, desconfiada do que viria a seguir, entretanto, se surpreendeu; havia um mundo inteiro fora daquela porta. Árvores frutíferas das mais variadas espécies, arbustos tão verdes quanto os de um desenho de uma criança, flores florescendo e pássaros cantando. Parecia a Floresta Amazônica, de fato, embora Elise nunca tivesse a conhecido em sua vida. O sol brilhava altivo em um céu sem nuvens que faria a alemã deitar-se sobre a grama e observá-lo até o fim de seus dias. Aquilo era o paraíso. Lisbeth tinha encontrado o paraíso.

Antes que pudesse pôr os pés para fora da Cela em direção à liberdade, Elise levou um tiro.

I

Daniel já tinha se acostumado com os gritos noturnos da Cela ao lado da sua. Todavia, eles ainda o abalavam. Era uma voz feminina que gritava, como se estivesse sendo torturada por uma criatura saída dos piores filmes de terror que poderiam passar pela mente do homem de 25 anos. Ele tinha pena e curiosidade em relação àquilo, contudo nunca se pronunciara a respeito. A Cela Doze era complicada e difícil de compreender, e Daniel sabia que desconheceria as razões para os gritos e as lendas em torno dos habitantes daquele local até sua morte. No mínimo, era o que ele acreditava fielmente.

Dormira mal a noite. Não pelos gritos, mas sim pelos devaneios que insistiam em encher sua mente de teorias, ideias e planos. Daniel não tinha esperanças de voltar para o mundo real, de voltar para Sam, mas ainda lhe restava um pingo de coragem para armar uma estratégia para sair de lá. Ele não era o melhor estrategista do mundo, mas tentar não é um pecado. Daniel tentaria uma, duas, três, mil vezes até conseguir. E cada um de seus parceiros de Cela sabia disso melhor do que ninguém.

Daniel, apesar de ser dito como líder do Treze, não tinha amizade com a maioria deles. Annabelle era quieta e antissocial, então conversar com ela era quase impossível. Ninally era mais fácil de interagir, sendo que ela havia iniciado a amizade com Daniel por si mesma, quase que sabendo que ele era uma pessoa reservada o suficiente para se manter levemente afastado dos outros. Mariana... Falar com ela estava fora de questão. A albina o repelia sempre. Ou melhor dizendo, ela tinha aversão a todos que a cercavam, mais do que qualquer um. Mais do que a Cela Doze, com certeza. E Kenai “ia com a cara” dele até onde fosse possível, talvez por ser amigo de Nina ou porque Daniel havia salvado sua vida em um dos Testes. Não era possível ter certeza disso quando praticamente não se conversava com o outro.

— É hoje. — Nina murmura, com um tom de voz circunspecto e levemente distraído. Ele não precisou a questionar sobre nada para saber o que a espanhola queria dizer; os Testes.

Para Daniel, os Testes eram uma forma que o governo americano encontrava de extinguir os mutantes sem que atrapalhasse o Protocolo X. Segundo Caleb Roth e seu sarcasmo, “os Testes são uma espécie de competição entre vocês para que os cientistas descubram quem é forte e quem não é. Os fortes ficam e ganham ‘glórias’, como um jantar ao lado da Megera; os fracos... Bem, vamos dizer que eles não têm tanta sorte assim. ”. O que, na linguagem do ex-médico clandestino, significava que eles iam para o Corredor da Morte e recebiam a injeção letal porque o governo queria proporcionar uma morte rápida e tranquila para quem passara anos “ajudando” o Protocolo. No entanto, morrer na Arena era muito mais fácil do que sobreviver para o Corredor da Morte. O quinto membro da Cela Catorze poderia confirmar isso.

Daniel não podia negar; estava nervoso.

— Eu sei. — Ele sussurra de volta, quase inaudível. Não se levanta da cama no chão de imediato, permanecendo deitado em posição fetal em direção à parede, não desejando olhar para sua companheira de cela. Ninally estava lá há mais tempo; sofrera por culpa daquilo mais do que Daniel pudesse imaginar. Ele tinha compaixão e admiração por ela, que tinha sobrevivido a tantos anos de encarceramento e Testes, um após o outro, sem nenhum medo corroendo-a por dentro. Mesmo quando Uriah, seu único amigo, fora morto, Nina continuou impassível aos acontecimentos. Entretanto, Daniel sabia que ela sofria.

Ele se levantou, espreguiçando-se e encarando a mulher. Os outros membros já haviam ido embora para a Arena, possivelmente para aproveitar o tempo que lhes restava para treinar até a hora chegar. Daniel se questionou a razão para Nina ficar lá até lembrar-se que ela era a última a sair da Cela nessas ocasiões; se era medo ou outra coisa, Daniel não sabia. Ela nunca o contava sobre isso, em nenhum momento.

— Estou com um mau pressentimento. — Nina diz, sentada em um canto da parede e segurando os joelhos, com a cabeça enterrada nas pernas e os cabelos escuros impedindo Daniel de ver sua expressão. — Tive pesadelos a noite inteira. Explosões. E os gritos da Boca de Algodão só pioraram tudo.

Daniel não responde, apenas assente com a cabeça, sem ter certeza de que ela viu ou não. Então, ele se senta ao lado dela e a abraça desconsertadamente, notando que a menina estava apática e pálida de tão branca. Ele se espelhava nela, de certa forma. Nina era antissocial e não falava com muitas pessoas fora da Cela, e Daniel sabia que ela tinha engolido seu medo de relacionamentos para conversar com ele quando chegara. Se não fosse pelo auxílio e experiência dela, ele teria enlouquecido. Ali, Nina era a única amiga e a única pessoa que Daniel se importava verdadeiramente, mesmo que ela tivesse uma personalidade razoavelmente conflitante à sua.

— Acha que alguém vai morrer? — Daniel a questiona, sério. Nina podia prever a morte das pessoas, então ele necessitava perguntar aquilo. A espanhola não o responde de imediato, continuando a mirar a parede quase com interesse. Ela suspira pesadamente, sem mover um músculo para falar.

— Sim.

II

Gideon não estava exatamente nervoso com os acontecimentos que se seguiriam durante aquele dia. Ou melhor dizendo, o Velho não estava nervoso. Ele estava preocupado com o que aconteceria se o Dragão simplesmente invadisse e tomasse o controle do corpo do afro-americano à força dentro da Arena. O Velho temia que o Dragão acabasse matando alguém em nome da defesa do corpo de Gideon, e sabia que o Jovem também tinha alguma parte desse temor. Dois terços de Gideon estavam inquietos; o resto, nem tanto.

Jasper estava igualmente despreocupado em relação às batalhas na Arena, entretanto, de outra forma. Ele sabia que iria ganhar a maioria das batalhas sem causar danos verdadeiros aos seus adversários, pois os observava há tempos. Conhecia seus pontos fracos, seus temores, como derrotá-los em pouco tempo, como ganhar aquilo. No entanto, algo dentro dele dizia que uma coisa daria errado. Elise tinha o informado sobre seus sonhos e aquilo tinha enchido a mente do alemão de teorias. O que aquilo significava, aliás?

Os dois estavam com os pensamentos voando enquanto almoçavam em silêncio no chão, ao lado da porta da Sala de Cálculo Avançado, onde tinham a visão perfeita para Lexington. Era o ponto de encontro deles desde que se conheceram por interveio de Nikita, que era amiga de Jasper. Podiam ver os prédios e arranha-céus, as pessoas andando e vivendo suas vidas, sem se preocuparem com o fato de que nunca poderiam viver aquilo novamente. Tanto Gideon quanto Jasper tinham se acostumado com essa ideia ao passar dos anos e meses.

O Velho foi substituído pelo Jovem depois de quase uma semana agindo no lugar de Gideon, que olhou para Jasper com um sorriso sapeca. Enquanto a personalidade anterior era calma e cheia de experiências, a atual era jovial e infantil. Inocente e brincalhona. Como uma criança feliz de 10 anos, que nunca conhecera a morte em primeira mão. O Jovem sorriu para Jasper, que pareceu não se importar com a repentina mudança do amigo; ele já estava habituado àquilo.

— Hey, Jazz! Quanto tempo falta para brincarmos? — Jasper levantou os olhos e deu seu melhor sorriso sincero. Enquanto tratava O Velho como um “avô ou pai querido”, com o Jovem era totalmente o contrário. As posições se invertiam e o alemão passava a tomar todo o cuidado possível para com seu amigo, porque ele era o único que ele tivera em toda sua curta vida. Jasper queria preservar a ingenuidade e generosidade d’O Jovem, porque suas ações eram uma das poucas coisas verdadeiramente boas que se tinham no MIT.

— Trinta minutos. E estamos atrasados. — O rapaz louro se levantou, se espreguiçando e bagunçando os cabelos. Gideon se levantou logo atrás dele, ainda sorrindo como uma criança em um parque de diversões. O Jovem mal notou a ausência dos “desenhos” no rosto de Jasper, se concentrando mais no que aconteceria a seguir do que no amigo. Estava ansioso pelos Testes, ansioso para mostrar seus poderes pirocinéticos que fariam os cientistas felizes. E eles lhe dariam um pirulito de morango e lhe diriam que ele salvara o dia, como um super-herói das histórias de quadrinhos ou dos cavaleiros dos contos de dragões que sua mãe lhe contava. O Jovem gostava de tudo isso. Quando o alemão começou a correr, o mais velho o seguiu e contou várias piadas no caminho, que fizeram o outro rir. Apostaram corrida no caminho e fez Jasper prometer que brincariam de esconde-esconde depois dos Testes. Diante da visão dos outros, pareciam duas crianças inocentes.

Porém, não existia lugar para inocência nas Arenas.

Quando se separaram, Gideon ficou triste por meio minuto até ver Nikita. Ela sorria radiante para ele, quase como se soubesse que era O Jovem ali. Ele tinha vontade de abraçá-la e protegê-la, por sabe se lá qual motivo. A abraçou diante daquela multidão de pessoas, sem se importar com o que os outros pensavam. Ele a amava, de certa maneira, como se ela fosse sua irmã. Depois notou a presença de Sahani, que os olhava fingindo que não os conhecia. Não se importou com aquilo e continuou agarrado ao corpo quente e calmo de Nikita, sem notar que ela poderia morrer naquele mesmo dia e deixá-lo só. Gideon já havia perdido pessoas demais em sua vida; não queria perdê-la também. Não queria perder Sahani. Não queria perder nenhuma delas.

Jasper não conseguiu olhar nos olhos da irmã quando chegou, mas sabia que ela estava incorruptível. O sonho da noite anterior tinha a estressado ao ponto de que ela acordara todos os membros da Cela com seus berros, e, quando Henry tentara acalmá-la, tudo parecia piorar. Ela parecia estar sendo torturada e cada toque em sua pele a fazia estremecer e tentar se defender, seja lá do quê. Jasper perdeu as contas de quantos socos e chutes Henry e Yoongi levaram enquanto tentavam fazê-la acordar. E, quando ela acordara, Elise parecia estar traumatizada. Falava por meio de monossilábicas, tremia toda vez que chegavam perto de si, chorava pelos cantos e mantinha uma expressão indecifrável.

Então o alarme soou.

A Arena estava aberta para a carnificina.

III

As primeiras duas horas correram normalmente na visão de Henry. A primeira luta fora entre as Celas Treze e Catorze, entre Sahani Hoogan e Annabelle Raggedy. Como Annabelle era imortal, o esperado era que ela ganhasse com certa facilidade como nos anos anteriores. No entanto, Sahani a venceu com certa facilidade por resistência. Annabelle tinha se cansado de lutar e desistido após a outra mulher a bater com um taco de basebol de aço. Foi uma luta demorada, levando uma hora e meia para terminar. Henry chegou a ver Dagna começar a ficar impaciente; ela era a próxima.

Ele sabia que Dags iria vencer antes mesmo de ver quem era seu oponente. Graças a ela, a Cela Doze ganhara duas edições anteriores seguidas sem muitas dificuldades. Sua inteligência somada ao medo que ela provocava nas pessoas facilitava tudo ainda mais, além de que era por culpa dela que a Doze era chamado de “Cela dos Homicidas”. O mais estranho na visão de Henry era que ela tinha pintado o cabelo de vinho antes de começar a treinar, o que a deixou mais assustadora e mais atraente do que já era.

Seu oponente era Kenai Nimble, o rapaz que tinha arrumado confusão com Jasper semanas antes. Henry ficou surpreso ao notar que seu companheiro havia detalhado a aparência do outro com perfeição; pele clara, cabelos castanhos claros cortados com um undercut acompanhado de um topete. Tinha olhos verdes, sobrancelhas grossas, lábios finos. Mas o que chamou sua atenção e o deixou completamente aterrorizado foi o corpo; forte e muito musculoso, ele deveria ter algo perto dos 1,90 cm de altura. Temeu o que aquele cara faria com Dagna.

Quando notou que Kenai tinha ido com tudo que tinha na direção dela, Henry quis fechou os olhos, esperando o pior. Então a norueguesa simplesmente desviou dele, como se não fosse nada. E retribuiu com um chute no estômago que doeu só com a mera observação. Seu queixo caiu; claro, ele não deveria ter a subestimado tão cedo. A loira, agora ruiva, desviava e transferia chutes e socos com habilidade e agilidade, e Kenai quase não a via chegando. No entanto, ele conseguiu dar trabalho para ela; depois da batalha ter terminado, ambos acabaram sendo levados para a Enfermaria para tomar pontos. E tudo isso em apenas trinta minutos.

Depois que Daniel Collins derrotara com dificuldade Nikita Anushka, Henry começou a se desesperar. Agora a luta seria em duplas, o que faria uma bela destruição e um espetáculo para os chefes de estados que assistiam aquilo. O 50° Presidente dos Estados Unidos, Ted Worthington, parecia se deleitar e rir sadicamente a cada ferimento que via. Henry sabia que ele era um preconceituoso assíduo, mas não chegou a se importar tanto com aquele homem. Seus olhos estavam concentrados na direção do Presidente russo, Vladimir Khrushchev, que parecia totalmente insatisfeito diante daquilo. Embora seu país fosse conhecido por ter o maior número de laboratórios anti-mutantes, Vladimir sempre parecia contra aos atos contra as “criaturas”. Simplesmente ele não gostava daquilo, embora Henry não soubesse o porquê. Se houvesse um líder político de que merecia simpatia naquele momento, Vladimir era ele. Ao seu lado, estava o Rei George VII do Reino Unido e o Primeiro-Ministro, Howard Wessex. Ambos pareciam indiferentes àquilo, entretanto, George era o único que parecia mais incomodado que o outro. Ele parecia se perguntar porque raios estava naquele lugar, Henry notou.

— Alois deve ter comido alguma coisa estragada antes de vir para cá. — Jasper comenta e Henry percebe que ele também estava observando os governantes invés das lutas. — Ou ele simplesmente deve estar enjoado com a nossa presença.

Alois von Heimann, o Presidente de Alemanha, realmente parecia nauseado, às vezes ameaçando vomitar a qualquer momento. Era algo engraçado e, ao mesmo tempo, não era. Tanto o cidadão do Estado que o outro comandava quanto o estadunidense leigo sabiam que Alois tinha puro nojo da raça mutante. Na visão dele, eram larvas em seu wurst que insistiam em aparecer o tempo inteiro, por mais que ele os eliminasse com sua faca de outro. Corrupto, Henry sabia que o Presidente germânico era o segundo mais corrupto de todos os que estavam ali. Perdia apenas para Ted, com toda certeza.

— Ingrid está de TPM. Eu vejo isso nos olhos dela. — Dagna também comenta, de repente, com seu forte sotaque cheio de “R’s”. Henry e Jasper riem com a menção da Rainha Norueguesa. Dagna continua, com o esboço de um sorriso nos lábios. — Frederik vai acabar pulando para dentro da Arena e fazendo uma entrevista se ela não descruzar os braços.

A Rainha Ingrid da Noruega e seu esposo, o Rei Frederik XI da Dinamarca, estavam presentes e aparentemente distantes um do outro. Após a união entre os dois países pelo matrimônio do casal, sempre se esperava que eles se uniriam contra os mutantes. No entanto, apenas Ingrid não gostava deles; Frederik era conhecido por sempre estar curioso e procurando saber mais sobre eles. Assim, a mulher estava com o cenho franzido e o nariz virado para o lado, demonstrando pura insatisfação diante do rosto iluminado do marido.

— Acho que ela só não vai embora deixando ele aí porque seria fora de etiqueta. — Henry diz, rindo. Dagna sorri quase de forma genuína e Jasper gargalha, jogando a cabeça para trás. Ele vira seus olhos para os outros dois membros da Cela, esperando vê-los rindo também. Entretanto, Yoongi está tão sério e concentrado que assusta, enquanto Elise continua apática. Henry suspira. — Marianne parece que vai explodir. Nunca vi a Presidente da França com a cara tão vermelha.

— Ela deve ter saído aos tapas com o Wessex. Sabe, com essa crise. — Dagna comenta e Jasper assente com a cabeça. — Depois que a França adotou essa política a favor dos mutantes, eu acredito que eles começaram a brigar mais do que já brigavam antes.

— Bizarro. A França é o único país até agora que está do nosso lado?

— Aparentemente, sim, pelo o que as mulheres da cozinha dizem. Eles estão caçando os laboratórios clandestinos até hoje e nos inserindo na Sociedade quase que à força. Acho que tudo isso porque o primogênito da Marianne nasceu mutante, o que significa que ela deve ter algum gene desses em si.

— Estamos em crise há quanto tempo? — Yoongi se pronuncia, áspero, sem tirar os olhos da arena. Os três voltam seu olhar na direção dele antes que Dagna respondesse, com uma leve indiferença; ela não simpatizava muito com o coreano, pelo o que Henry via.

— Quatro anos. Desde que você — Ela faz menção na direção de Jasper, que arregala os olhos pela primeira vez que Henry vira na vida. — Foi capturado no Havaí com uma identidade falsa francesa. A França não concordou, mesmo sabendo que era um documento falsificado, que os Estados Unidos simplesmente capturassem um cidadão sem avisá-los. Sabe, é como se eles estivessem tomando as dores da Alemanha desde que a Elise foi pega.

— Eu lembro do que aconteceu. O Alois estava no primeiro mandato dele e se pronunciou depois de oito meses dizendo que os Estados Unidos tinham total direito em capturá-los. Ou seja, o Ted deve ter molhado a mão dele de dinheiro para não fazer merda. — Jasper comenta, dando de ombros incomodado.

— O mundo está uma bagunça. — Henry diz, suspirando cansado e observando Sahani ser derrotada por Mariana Laurier, que sorria com tanto sadismo quanto o Presidente estadunidense. Ela se colocou no centro da Arena e segurou a outra pelos cabelos, mostrando sua vitória com orgulho. De relance, Henry viu o olhar pasmo de Nikita, que fechava os olhos de Gideon à força para que ele não visse tamanha violência.

Mariana foi arrastada para fora da Arena por membros do CCM, que lhe davam choques com uma arma e a prendiam. Aparentemente, Sahani a tinha irritado ao ponto de Mariana explodir de ódio e resolver matá-la. Se o CCM não intervisse, a albina teria concluído seu objetivo com louvor e glória. Henry fechou os olhos, desejando estar em outro lugar, muito longe dali. Por um momento, quis estar em sua Cela, sonhando com a liberdade invés de ser obrigado a lutar contra um dos amigos que fizera enquanto estava naquele local.

Ele estava pensando em como os olhos de sua mãe eram os mais bonitos que ele já vira na vida quando ouviu uma explosão ensurdecedora e tudo se apagou.


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Notas finais do capítulo

Enfim~
As cidades descritas nos capítulos existem mesmo. Schiltach, aliás, é um lugar lindo. Os monarcas aí também existem e são filhos dos herdeiros de seus respectivos países. Consegui criar o Tumblr. Tá aí o link: http://xxxfanfic.tumblr.com/
Ao aviso: Como eu esqueci de colocar na ficha, eu queria que vocês me dissessem o quem é o personagem que você criou e tal. Vou responder os comentários agora. De qualquer forma, até o próximo capítulo!



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