Eu estava caminhando pelas iluminadas ruas de Berlim. Era inverno, e as folhas amareladas despencavam suavemente das árvores que ali estavam. Na verdade, as folhas já cobriam boa parte do chão. O vento soprava, suave.

Eu estava pensando em detalhes de minha vida, só por pensar mesmo. Quando de repente ouço uma conhecida voz vindo ao meu encontro. Era de Bill. Isso era a única coisa que eu sabia sobre ele.

-Andy! – ele continuava me chamando.

Poderia ser agora, poderia ser esse o momento em que eu finalmente conheceria o que por tanto tempo eu ansiava em saber, o que por tanto tempo vem me atormentando e transformando meus lindos sonhos em quase pesadelos.
Viro-me depressa e olho para ele, na esperança de que pudesse descobrir o detalhe que me faltava. E novamente, sinto a mesma decepção me invadir.

-Bill... – digo numa voz monótona e sem vida.

Não foi daquela vez. Não seria agora que eu conheceria seu rosto. Sim, não conseguia imaginá-lo, simplesmente não me surgia à mente.

E de repente, sou acordada daquele “quase-pesadelo” com o terrível som do despertador tocando, em cima de meu criado-mudo. Acordo assustada.

Mas o que estava acontecendo comigo? Agora já eram constantes sonhos como esse, aliás, eu tinha esses sonhos todas as noites. O que será isso? Eu sonho sempre que estou em algum lugar lindo, apenas pensando. E não demora muito ouço sempre a mesma voz, me chamando. Na primeira vez que sonhei fiquei muito assustada e apreensiva quando vi que quem chamava por meu nome não tinha rosto. E acordava desesperada.

Mesmo assim, as noites passavam, e eu não podia evitar esse sonho. E com o tempo, como consequência, fui conhecendo um pouco mais aquele garoto que tinha uma voz tão linda, o qual eu não conseguia imaginar o rosto, por motivos que eu própria desconhecia.

A única coisa que sabia sobre ele, era que se chamava Bill e que tinha 18 anos. Nem mesmo seu sobrenome eu sabia. E nossa conversa nunca passava de nossa apresentação, sempre que pudéssemos avançar, antes que tivéssemos tempo para isso, o despertador já estava tocando ao meu lado, me tirando do meu mundo de sonhos e me trazendo de volta para a realidade.

E mesmo não conhecendo o rosto daquele rapaz, eu percebia aos poucos que ele estava me conquistando. Não sei como, talvez com seu jeito doce de ser e o modo como me trata bem. Mas eu não podia simplesmente me atirar de cabeça em algo que eu não sabia onde iria parar. O mais possível era que aquele garoto nem fosse real.

E fora isso tudo, por que eu não conseguia, de maneira alguma, imaginar seu rosto? Vai saber.

Mas agora é hora de interromper meus pensamentos e começar mais um dia a procura de emprego. Eu morava com minhas duas amigas, Ana e Sophie em um não muito grande apartamento na cidade. Trabalhávamos para nos sustentarmos, e éramos praticamente independente.

Digo praticamente porque nossos pais ainda insistiam em mandar uma pequena quantia em dinheiro para nós todo o mês. Exatamente.

E agora, eu havia saído de meu último emprego. O motivo? Meu chefe. Aquele homem era um nojo, eu já não aguentava mais ele no meu pé, e ele sempre pedia para que eu ficasse até mais tarde, era horrível e eu mal tinha tempo de descansar. Então, pedi demissão.

As garotas vêm me ajudando a conseguir um emprego, mas não tem sido fácil. São poucos os lugares que precisam de ajudante, e eu não me encaixo em grande parte das categorias. Na verdade eu gostaria era de trabalhar com uma banda famosa, deveria ser ótimo.

E foi aí que vi no jornal, enquanto tomava meu café, o que poderia ser minha grande oportunidade. Um anúncio dizia assim: “ Procura-se alguém disposto a trabalhar na equipe de uma pequena banda chamada Tokio Hotel. Não precisa saber muito de música ou administração de bandas, apenas precisa ter paciência e tempo livre, ensinaremos tudo que precisa saber. O salário será tratado na hora.”

Abaixo havia mais algumas informações e o local onde seria a entrevista de emprego. Aquilo me parecia perfeito, pelo menos por enquanto. Informei às minhas amigas e disse que tentaria.

Após o café, coloquei uma roupa boa o suficiente para a entrevista de emprego e pensei um pouco no que iria dizer, o porque de eu “supostamente” servir para aquele trabalho.

Me despedi de Ana e Sophie, que me desejaram boa sorte, e me preparei para a entrevista.

Caminhei rapidamente para o local indicado, que não ficava muito distante de minha casa e logo havia chegado. Entrei e uma pequena fila de pessoas estava encostada na parede, esperando que chegasse sua vez.

Depois de mim, não vi mais ninguém para a entrevista. Não poderia “dar minha frente” à ninguém, eu queria prologar aquilo o máximo que pudesse, mas não teve jeito. E eu ficava cada vez mais nervosa.

E, de repente, ouço alguém me chamando, uma voz masculina:

-Senhorita Andy, pode entrar, por favor.

Com o coração batendo o mais rápido que aguentava, entrei. Havia uma mesa e duas cadeiras. Na primeira cadeira, atrás da mesa, estava sentado um homem alto e meio musculoso. Tinha cabelos loiros e os olhos em um tom esverdeado. Ele me parecia gentil.

-Sente-se, por favor. – ele disse, e gestculos para a cadeira em frente a dele, do outro lado da mesa.

Passamos algum tempo ali, falando sobre o porque de eu achar que merecia o emprego e o por que de eu querer tê-lo. No final, ele olhou para mim mais uma vez e disse:

-Nós analisaremos as possibilidades e, se for o caso de você ser escolhida, ligaremos para você até as 16:00 h de amanhã. Deixe seu telefone na recepção, por favor. – ele me sorriu gentilmente, e sua voz parecia esconder algo.

Como ele havia pedido, deixei meu telefone, e logo após me despedi e fui para casa.

Alguns minutos depois, já havia chegado, e agora, estava contando o ocorrido para minhas amigas, que me ouviam com atenção.