Cassis escrita por Kaline Bogard


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!

:D



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Cassis

Kaline Bogard

Parte 02

Os rapazes seguiram pelo pátio vazio do colégio até sair no campo que dava caminho à quadra de esportes. Árvores grandes floresciam junto ao muro que rodeava a área. E as árvores eram motivo de constante preocupação: alguns alunos aproveitavam para escalá-las e saltar o muro.

Porém naquele momento o horário de aulas acabara. Não havia porquê alguém vigiar o local, então a privacidade estava garantida.

Draco Malfoy caminhava a frente pelo menos três passos, certo de que Harry o seguia.

Intrigado e curioso, o moreno não conseguia sequer imaginar um motivo pelo qual seu inimigo de anos requisitara tal conversa. Malfoy nunca se importara de discutir em publico, humilhando Harry e seus amigos diante de uma platéia sempre que possível. Então qual o motivo de querer falar em particular?

Sem dizer nada Draco parou sob uma das maiores árvores, cuja copa arredondada estava permeada de folhas marrons prestes a cair e cobrir o chão. Um prelúdio do outono que se aproximava.

Também em silêncio Harry enfiou as mãos no bolso e observou as costas magras do colega de classe. Malfoy parecia mais magro do que se recordava. Seria isso o que chamara sua atenção mais cedo...?

– Potter...

A voz baixa de Draco foi o suficiente para tirar Harry de seus pensamentos. O moreno voltou toda a atenção para o outro.

– O que você quer?

Malfoy hesitou por alguns segundos antes de continuar.

– Se lembra quando nos conhecemos?

A pergunta fez Harry rir com certo deboche.

– Como poderia esquecer? Você não deu sossego depois daquele dia.

Draco Malfoy era um filhinho de papai esnobe e arrogante. Provara isso em todas as ocasiões possíveis, sempre perseguindo a Harry, órfão de pai e mãe; a Ronald Weasley, nascido em uma família de classe baixa que sobrevivia a duras penas, e a Hermione Granger, esforçada e sabe-tudo da sala, uma “nerd” em sua definição mais perfeita.

Sim. Harry Potter se lembrava muito bem de como tudo começara.

– Eu... – Draco murmurou. Harry percebeu que o outro erguia a cabeça de leve para admirar o céu azul.

– Escuta, Malfoy, não tenho o dia todo. Meus amigos estão me esperando. Diga o que quer dizer logo de uma vez.

Nesse ponto Draco virou-se e fitou o moreno com seus intensos olhos grises, que no momento pouco tinham da frieza que lhe era tão característica.

– Eu estou tentando, Potter – falou num tom irritado, para logo em seguida suavizar tanto a voz quanto a expressão facial – Mas é difícil pra mim, está bem? Tenha paciência.

– Nossa, quem vê pensa que vai me pedir desculpas – Harry gracejou meio incrédulo.

– Eu só... acho que começamos do jeito errado.

– Você “acha”? Disso eu tenho certeza, Malfoy. O que vem agora? Pra que essa conversa? Vai dizer que quer começar tudo de novo fazendo “do jeito certo” e virar meu amiguinho.

Um pequeno sorriso estendeu os lábios finos do loiro.

– Não. Não quero um recomeço. Mas... quero dizer que sinto muito. Por tudo o que eu fiz.

– Ah, claro. Está perdoado – Harry meneou a cabeça e fez menção de dar as costas para ir embora. Não tinha paciência para as brincadeirinhas de Malfoy. Além disso, Hermione e Ron esperavam por ele.

– Falo sério, Harry – o loiro afirmou com certo desespero.

Ouvir o eterno inimigo o chamando pelo primeiro nome foi uma surpresa. Mas não o bastante para Potter. O rapaz permaneceu de costas para Draco enquanto respondia.

– Fala sério? Acha mesmo que isso vai passar uma borracha em todos esses anos? Sinceramente? Não me interessa nem um pouco se você sente ou deixa de sentir algo. Essa conversa é perda de tempo.

– Potter...

– Até mais, Malfoy. E não me procure mais.

O moreno afastou-se jurando que não daria mais ouvidos ao loiro. Nem mesmo se ele o chamasse novamente.

Mas Draco Malfoy não o chamou. Apenas assistiu enquanto Harry se afastava cada vez mais rápido, cada vez mais para longe de si.

Em silêncio levou a mão ao pingente que carregava no pescoço. No fundo ele entendeu que tudo que começava errado terminava errado. Queria pedir desculpas para Harry e, em seguida, confessar algo que sentia no fundo de sua alma e escondia de todos, até de seus melhores e únicos amigos.

“Eu amo você”.

Era tudo o que queria falar e não podia. Não tivera chance. Se Potter não aceitara suas desculpas, o que faria com seus sentimentos? Recusá-los tão somente? Esnobá-los?

Quando Harry não passava de um borrão sumindo na distância prestes a cruzar todo o pátio Draco permitiu-se sentar embaixo da árvore e encostar-se no tronco muito antigo, quase centenário como aquele colégio. Ergueu uma das mãos e permitiu que os dedos esguios envolvessem o pingente como se pudesse tirar alguma força do pequeno objeto. Cansado, suspirou.

Não tirava a razão do moreno. Tinha sido um babaca durante aqueles anos, aporrinhando-o e aos seus amigos na frente de todo o colégio dia após dia. Tudo isso por que era fraco e covarde. Fraco diante do sentimento que descobria existir dentro de si. Covarde por que preferia esconder o amor o mais profundo que conseguisse em seu coração ao invés de lutar por ele, permitir que aflorasse.

Agora pagava o preço. E um preço bem alto.

Mais do que ódio em retribuição... Harry Potter lhe oferecera a pura indiferença. E isso doía um bocado. Uma brisa mais gelada, típica do outono soprou derrubando algumas folhas amarronzadas no chão gramado. Draco ergueu os olhos e tentou vislumbrar o alto céu azul. Não conseguiu. Tudo o que pode entrever foi um cenário borrado pelas lágrimas que marejavam seus olhos e que em segundos deslizariam pela face pálida.

H&D

Como Harry corretamente imaginara tanto Ronald quanto Hermione esperavam por ele no portão da frente da escola, afinal, tinham combinado passar o resto da tarde juntos.

– Pronto, amigão? – o ruivo perguntou.

– Hn – foi a resposta um tanto seca. Enquanto ajeitava a alça da mochila no ombro ia adiantando o passo e caminhando a frente do casal que logo o seguiu.

Foram andando por algum tempo em silêncio. Harry intrigado com a investida de Draco Malfoy e o inesperado pedido de desculpas. O que ele poderia estar planejando? Quanto de sinceridade haveria na súplica? Se é que havia alguma...

Se bem que os olhos mercúrio tinham um certo brilho de...

Então Harry parou de andar subitamente. Foi tão repentino que Hermione quase se chocou contra suas costas.

– Ele parecia mais velho... – Potter sussurrou finalmente compreendendo o que tanto o intrigara no antigo rival. Sim, Draco Malfoy parecia mais velho do que se lembrava. Não que ficasse reparando muito... porém agora que chegara aquela conclusão era evidente. Como não notara antes?

– Que disse? – Ron parou de andar ao lado do amigo.

– Ele parecia mais velho! Vocês não notaram isso também? Quer dizer... não muito mais velho, talvez um ou dois anos... mas os olhos dele...

– Olhos de quem, amigão?

A pergunta irritou Harry.

– De Malfoy, claro. De quem mais eu estaria falando?

Hermione e Ronald trocaram um olhar confuso.

– Então a doninha apareceu pelo colégio?

Harry respirou fundo.

– Como assim “apareceu pelo colégio”? Ele estava na sala o tempo todo junto com Parkinson e Zabini!

– Não... ele não estava – Hermione falou com calma, apesar das sobrancelhas franzidas traírem a preocupação sentida – Eles estavam apenas os dois. A carteira de Malfoy ficou o tempo todo vazia.

Foi a vez de Harry olhar longamente do ruivo para a garota.

– Estão brincando comigo? Eu o vi muito bem! E agora mesmo... ele me chamou pra conversar! Vai dizer que não viram isso?

– Não – foi a vez de Ron falar meio chocado – Você parou de andar e nos mandou vir na frente. Pensei que quisesse ir ao banheiro.

– Mas... eu... Malfoy...

Weasley passou um braço pelo ombro de Harry e começou a puxá-lo para frente.

– Não sei que alucinação foi essa, amigão. Ouça o que eu digo: pare de fumar o que quer que esteja fumando.

Hermione lançou um último olhar para o rosto de Harry onde a incredulidade era visível, antes de adiantar o passo e seguir na frente.

– Talvez seja melhor mudarmos os estudos para outro dia.

– Com certeza! – Ron meneou a cabeça – Alucinar com o desbotado do Malfoy... fala sério!

Harry Potter não disse nada. Apenas virou um pouco a cabeça e tentou olhar para trás, incrédulo de que realmente tivesse imaginado tudo aquilo.

Continua


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Notas finais do capítulo

Não foi betada! Desculpem os erros!



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