Cassis escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

A última parte!

Boa leitura :D



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Cassis

Kaline Bogard

Parte 03

Draco encostou-se no batente da porta e respirou muito fundo. Estava de costas para o interior. Não queria ver a cena deprimente que se desenrolaria lá dentro.

A mulher de aparência severa continuava no fim do corredor. Os olhos muito calmos estavam fixos em Malfoy.

– Deu certo? – Lovegood perguntou inclinando-se de leve para frente e entrelaçando as mãos às costas – Como foi?

– Foi... – Draco pensou no que diria. Desistiu de frases elaboradas optando pela verdade nua e crua – Um milagre. Voltei no tempo, no dia em que passei mal pela primeira vez.

– Hum... dois anos atrás?

– Dois anos e meio atrás. Minha primeira crise: foi quando descobriram a doença. Então viajei para os Estados Unidos, depois Canadá e de volta a Europa. Nunca mais o vi.

– Mas conseguiu se despedir de forma apropriada?

Malfoy levou a mão ao pingente. Um vira-tempo capaz de conceder milagres tanto a pessoas vivas quanto a espíritos. Os lábios se estenderam num sorriso sarcástico. Existia forma apropriada de dizer adeus a quem se ama?

Apesar do sorriso, as palavras de Draco vieram despidas de qualquer afetação.

– Não. Não consegui. Tentei me desculpar, mas nem isso ele aceitou. Talvez, mesmo naquela época, já fosse tarde demais para nós dois. Ou talvez nunca houvesse qualquer chance de existir “nós dois”.

– Mas se o vira-tempo tivesse te levado mais longe no passado.

Nesse momento as luzes do corredor piscaram rapidamente. Tanto Malfoy quanto Lovegood observaram as lâmpadas até que se estabilizassem.

– Você... – os olhos grises fixaram-se na loira com certa curiosidade.

– Não. Não eu. Meu corpo morreu há muito tempo, mas meu pai se recusa a desligar o aparelho. Enquanto ele não fizer isso, tenho que ficar aqui e... assistir. Apenas assistir.

– Não se arrepende de nada?

– Hum... não que eu me lembre. Talvez por isso nunca tenha recebido um milagre.

As luzes piscaram novamente. Demoraram um tempo maior para ficarem estáveis dessa vez. Então Luna descruzou as mãos e deixou os braços caírem junto ao corpo.

– Eu menti – afirmou desviando os olhos para o piso – Tenho um arrependimento sim.

– E qual é? – Draco soou um tanto apressado.

– Ter demorado a perceber... como a vida é fugaz.

– Preciso que me devolva isso, senhor Malfoy – a mulher parada no fim do corredor aproximou-se a passos curtos, mas rápidos. Estendeu a mão para recolher o vira-tempo.

Draco respirou fundo. No quarto a suas costas o aparelho de monitoramento dispararia em segundos, despertando seu pai da vigília cansada. Sua mãe, exausta, fora pra casa se recuperar um pouco antes de voltar para o lado de seu único e amado filho.

Não teria tempo de despedir-se de nenhum dos dois. Tão triste...

Lentamente começou a retirar o cordão do pescoço.

Sim. Tinha muitos arrependimentos e muitas angústias. Carregaria todas consigo, para onde quer que fosse. Mas aquela dor de não ter se declarado, de ter estragado tudo e destruído sua única chance... era disso que mais se arrependia.

Recebera a chance de tentar concertar pelo menos um pouco. Voltar uma única vez no passado e olhar pela última vez naquelas orbes verdes que tanto adorava, que provocava com gosto apenas para ver se incendiando de fúria.

Voltara no tempo e, novamente, fizera tudo errado. Sempre errado, como se preso de um carma do qual nunca pudesse escapar. Um destino que jamais pudesse mudar.

No instante em que depositou o pingente nas mãos da misteriosa mulher um vento frio agitou os cartazes presos parcamente na parede.

– Dementors... – Lovegood sussurrou dando um passo para trás.

Draco olhou para as três grandes criaturas, seres sombrios que flutuavam a dez centímetros do chão, monstros enviados pela morte para recolher almas perdidas.

Ainda assim Malfoy recusou-se olhar dentro do quarto. Sabia que se olhasse para o próprio corpo sobre o leito ou para seu pai, guardião esperançoso, desmoronaria. Seu coração se partiria de dor.

As luzes piscaram mais uma vez. O vento repetiu-se mais frio e forte.

Quando as lâmpadas voltaram a funcionar, apenas Luna Lovegood continuava no corredor, sozinha com um sentimento de pesar sobre os ombros.

No quarto em frente o aparelho de monitoramento começou a soar de forma aguda num tom crescente. Logo o senhor Malfoy despertaria e o quarto seria tomado por enfermeiros. Tudo inutilmente.

Haveria dor e lágrimas o bastante. Luna vira tudo isso acontecer, não apenas uma, mas incontáveis vezes.

Silenciosa rumou para um dos bancos do corredor e sentou-se.

A vida.

Tão fugaz era a vida.

E só percebemos quando é tarde demais.

Fim


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse final.

Até a próxima.



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