❝Você não pode quebrar o quê já está quebrado.❞

As flores nunca haviam sido tão bonitas e tão horríveis para Wanda. As pétalas azuis da rosa que ela havia pedido para ser modificada no laboratório caiam de suas mãos trêmulas, mesmo que a morena estivesse esforçando-se para manter-se estável e controlada. Ela tropeçou em seus próprios pés e Visão a amparou, já que o mesmo estava ao seu lado. Tudo que ela fez foi sussurrar um obrigada tão baixo que mal conseguiu ouvir a própria voz.

Sua expressão estava neutra, para que ninguém desconfiasse de nada. Mas, por dentro, ela estava destruída. Total e completamente, destruída. Respirar doía. Se mexer doía. Fisicamente, ela estava em perfeitas condições. Mentalmente, sua cabeça parecia ter sido vítima de um terremoto seguido de um tsunami.

Dizem que você não pode quebrar o quê já está quebrado. O estado da garota havia acabado de provar o contrário. Seu coração ainda batia. Seus ossos estavam todos nos lugares, não havia nada de errado com ela, para quem olhasse por fora. Mas ninguém se atreveria a olhar do lado de dentro. Se fizessem isso, mesmo a pessoa mais forte estaria em lágrimas. Ela sentia seu coração batendo; sabia que ele ainda estava lá, mas… Porquê ela sentia como se ele tivesse sido arrancado de seu peito?

Você pode sim, quebrar o quê já está quebrado. Você pode pegar seus pedaços e estraçalha-los lentamente. E depois, pegar os pedaços desses pedaços e repetir tudo de novo. É um ciclo sem fim, e era, com toda a certeza, a pior dor que Wanda já havia sentido em toda sua vida. Aquela tarde se repetia milhares e milhares de vezes em sua cabeça. Ela procurava uma falha, uma prova de que ela pudesse ter evitado aquilo. E ela conseguia milhares… Se não tivesse mandado-o ir ajudar os outros, se simplesmente tivesse deixado ele ficar com ela, ajuda-la… Mas Clint estaria morto, sussurrou uma voz na sua cabeça. Se querer que ele estivesse morto, e que seu irmão estivesse vivo era ser egoísta, então ela era a pessoa mais egoísta do mundo. Não se orgulhava disso, mas todas as vezes antes de fechar os olhos a noite, era isso que passava por sua cabeça.

Wanda olhou em volta. As árvores, outrora cheia de flores, tornavam-se laranjas e caiam no chão. O dia estava ensolarado, e ela odiava isso. Desviou seus olhos para a lápide a sua frente. Uma lágrima solitária e quente escorreu de seu olho direito.

“ R.I.P. Pietro Maximoff

– ∞ 2015

Bravo herói e amado irmão.”

Outra lágrima escorreu, e com essas vieram mais e mais, até que um soluço escapou da garganta de Wanda.

— Gostaria de um tempo sozinha? — questionou Visão, ainda ao seu lado. A morena apenas assentiu, e quando ouviu o vermelho finalmente se afastar, ela desabou.

Seus joelhos fraquejaram e ela caiu, deixando um berro de dor escapar de sua garganta. Ela soluçou novamente. Seu coração, mais uma vez, despedaçado. Tremendo mais ainda, ela colocou as rosas azuis em frente a lápide cinza. Com as pernas bambas, ela se levantou, abraçando a si mesma com força. Se afastou de lá, mas invés de ir para onde sabia que Visão estaria esperando-a, seguiu para a colina que havia perto dali.

Sabia que provavelmente notariam seu sumiço daqui a algum tempo, mas isso não importava. Nada mais importava.

Ela parou na ponta de onde a montanha acabava. Uma queda de quase vinte metros. Tirando os braços de sua cintura, ela os direcionou para sua nuca, tirando o colar que sempre havia ficado pendurado em seu pescoço. Pegou-o com sua mão direita e o observou brilhar na cor escarlate, ela soltou o colar, mantendo ele no ar com a mente. Seus olhos brilhavam no vermelho de sempre. Ela deu um passo para frente.

E simplesmente fechou os olhos e se deixou cair.

❝Toda nova manhã, tudo que consigo fazer

Me segurar à promessa, que todos sabemos que é verdade

Que quando tudo acabar, quando essa vida acabar

Eu vou acordar no Céu

E correr para te encontrar❞ – Tyrone Wells "Let Go"