A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 66
Capítulo 45




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Não sabia onde ficava a prisão no palácio, então fiz com que Margareth nos mostrasse o caminho. Era como em filmes, ficava em um calabouço subterrâneo, muito mal iluminado.

Tivemos que descer uma enorme escadaria, e eu quase não aguentei de dor, onde a bala me apertava. Mas não demonstrei aquilo pra ninguém.

Na primeira cela que encontrei, pedi que colocassem Margareth. As chaves das grades das celas, estavam todas penduradas perto da entrada da prisão, e os soldados não tiveram dificuldades em abrir a cela, jogar Margareth lá dentro e depois fechá-la.

Feito isso, comecei a andar pelo enorme corredor de celas vazias, gritando por Júlio. Já estava quase achando que ele não estava ali, quando vi na última cela do lado esquerdo, uma mão segurando a grade.

Sem pensar em mais nada sai correndo, ignorando a dor em minha cintura. Cheguei à cela, e vi que realmente era o Júlio. Me joguei contra as grades, pegando em suas mãos e suspirando enquanto olhava pra ele:

– Ai Júlio! Nem acredito! Júlio!

Mas ele não estava muito bem. Estava barbudo, sujo, com as roupas rasgadas e parecia alguns quilos mais magro.

– Achei ele. Aqui. Corram – gritei para o grupo que estava comigo e com as chaves da cela dele.

Júlio não me disse nada, apenas ficou me olhando e se segurando nas grades, como se não aguentasse ficar em pé. Danilo veio correndo com as chaves, ele deu uma rápida olhada no irmão, pareceu surpreso com o estado dele, mas abriu rapidamente a cela.

Quando vi que estava destrancada, dei um empurrão em Danilo e entrei rapidamente, agarrando Júlio. Sem me conter comecei a chorar.

Tudo que eu sentia por ele e o medo de lhe perder veio a tona. Não me importava que Danilo estivesse ali, não me importava que vários outros soldados estivessem nos olhando. O que importava era que Júlio estava diante de mim, e bem. Não muito bem, mas, pelo menos, estava vivo.

Segurei seu rosto em minhas mãos, e apertei meus lábios contra os dele, em seguida comecei a beijar todo o seu rosto.

– Júlio, Júlio. Eu te amo. Júlio, obrigado por continuar vivo – eu dizia, enquanto encostava meus lábios em cada parte do seu rosto.

– Liss! - foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Sua voz saiu muito baixa. Percebi que ele estava a ponto de desmaiar. Seu corpo balançava de um lado para o outro e ele tentava se manter em pé.

Soltei seu rosto imediatamente quando percebi, e agarrei seu braço, gritando pros outros:

– Ajudem aqui. Ele vai desmaiar.

Danilo era o que estava mais perto de nós, e foi o primeiro a chegar para me ajudar. Puxamos Júlio para fora da cela, e o colocamos sentado no corredor, encostado em uma parede. Ele reclinou a cabeça e fechou os olhos, muito cansado. Agora onde tinha mais luminosidade, percebi que tinha alguns hematomas também em seu rosto, e em todo seu corpo. O que haviam feito com ele?

– Chamem um médico. - eu gritei de novo. Estava com os nervos a flor da pele e não conseguia me controlar. - Chamem Khaless.

Um dos soldados saiu correndo da prisão procurando por ela.

Me agachei ao lado de Júlio, ignorando a pontada de dor cada vez maior, ainda mais agora que eu apertava a perna contra o quadril, e fiquei olhando para ele. Com medo de lhe tocar e machucar.

Khaless veio correndo com sua maleta e se ajoelhou ao lado de Júlio e de frente para mim.

– Acho que ele tá desmaiado – eu disse para ela. Ele permanecia de olhos fechados desde que tinha sido colocado lá.

Mas quando me ouviu ele abriu lentamente os olhos e fitou ela, mostrando que eu estava errada. Competente, como sempre, ela começou a ver a pulsação dele, e depois de verificar algumas outras coisas disse:

– Eu acho que é falta de alimento e desidratação. Alguém busque alguma coisa doce para ele comer e um copo com água. - sua voz saiu alta e calma. Não sei como podia se manter assim.

Um outro guarda, foi quem saiu correndo dessa vez. Uns 5 minutos depois ele voltou trazendo um pedaço de chocolate e um copo d'água. Khaless pegou primeiro o copo d'água e alcançou para Júlio:

– Consegue segurar? - ela perguntou. Ele segurou o copo com a mão trêmula e ela ficou segurando também para garantir. Ele levou vagarosamente o copo até a boca. - Tome devagar. Um gole de cada vez.

Foi o que ele fez. Ele tomou um gole e depois de uns instantes tomou outro. Depois Khaless lhe alcançou o pedaço de chocolate:

– Tente comer. Você vai se sentir melhor.

Júlio levou o chocolate a boca, e tirando pequenos pedaços, comeu, mastigando lentamente e fazendo de tudo para conseguir engolir. Ele demorou longos 10 minutos para comer tudo e todo nós, apenas o observávamos em silêncio.

Quando terminou já parecia bem melhor. O açúcar tinha lhe dado energia novamente. Ele terminou de tomar o copo de água.

– Você sente mais alguma coisa? - perguntou Khalesse preocupada – Era só falta de comida e água?

– Sim. - a voz dele parecia mais forte agora. Era quase a voz que eu conhecia.

– Ele foi torturado – foi Danilo quem falou o óbvio. Aquilo explicava os machucados e as roupas rasgadas.

– Eu estou bem. Já passou. - Júlio começou a querer tentar levantar.

Me ergui e alcancei a mão para lhe ajudar. Ele segurou minha mão e olhando nos meus olhos ficou de pé. Em seguida me puxou para perto dele e me abraçou.

O mundo parou novamente para mim. Nada mais importava. Não existia mais ninguém ao nosso redor. Me senti inteira por tê-lo comigo novamente. Nem imaginava o tanto que sentia falta do calor do seu corpo contra o meu, de sentir seus braços fortes ao redor do meu corpo, suas mãos em minhas costas, ouvir as batidas de seu coração encostada em seu peito musculoso. Aquela sensação era muito melhor do que eu me lembrava.

Ele me apertou ainda mais contra o seu corpo. Como se o contato entre nós ainda não fosse suficiente. E continuou me apertando.

Foi ai que eu gritei de dor, e me afastando dele, que havia me soltado, levei a mão a cintura, por cima da farda, onde a bala havia me atingido.

Senti aquele líquido quente molhando minha mão e olhei para baixo. O sangue estava vertendo como água.

Júlio e os outros perceberam o sangue, não tinha como não perceber. Ele se aproximou de mim, e puxou minha mão que cobria o local ferido:

– O que aconteceu? - perguntou. Embora ainda estive muito fraco estava preocupado comigo.

– Eu levei um tiro mais cedo – admiti.

Khaless se aproximou de mim, seu dever de médica sempre pronta para ajudar.

– Deixe eu ver – pediu. Ergui minha farda e mostrei a ela. Não dava para ver mais nada, nem a bala. O sangue cobria tudo. - Tenho que tirar a bala e estancar o sangue. Precisamos levá-la daqui. O melhor seria que fosse comigo pra clínica no quartel.

– Não – gritei – Faça o que for preciso. Mas aqui. Não vou sair do palácio. - e de perto de Júlio, pensei, mas não acrescentei.

Júlio veio ainda mais para perto de mim, e antes que eu percebesse o que estava fazendo, me pegou no colo para me tirar dali.

– Me largue - gritei de novo – Eu consigo andar. Você tá muito fraco. Júlio, por favor. Você não vai conseguir me carregar até lá em cima.

E era verdade, seus braços estavam tremendo. Tinha certeza que nós dois íamos cair, se ele insistisse naquela ideia. Mas ele era teimoso de mais para se importar com aquilo. Ele achava que conseguiria de qualquer maneira me proteger.

Graças a Deus, Danilo veio na direção de Júlio e pediu para me levar. Júlio ficou meio indeciso no começo, mas, por fim, resolveu ceder e me entregou a Danilo. Subimos para o quarto andar , enquanto isso expliquei a Khaless quando tinha levado o tiro e que a bala não estava muito funda.

Khaless não falou nada. Apenas ordenou que achassem um lugar o mais limpo possível.

Me levaram para o quarto de Golt, ao lado de Margareth. Eu nunca havia entrado naquele espaço. Era tudo muito luxuoso, e a cama parecia ser toda feita de ouro.

– Coloque-a deitada naquela mesa. - Khalesse falou pra Danilo, apontando para uma mesa de escritório com papéis e um computador.

Júlio correu, derrubou os papéis no chão e sem muita delicadeza jogou o computador em cima de uma cadeira. Danilo me largou deitada. A mesa era grande o suficiente para caber meu corpo inteiro.

Khaless me ajudou a tirar a parte de cima da minha farda e deixar meu ferimento, que sangrava cada vez mais, a mostra. Ela começou a passar álcool em uma faca, parecia a mesma que tinha usado com o guarda no quarto de Margareth, e depois esterilizou as mãos:

– Isso vai doer um pouco, Liss. Mas como você não quer ir a clínica médica no quartel, terá que aguentar.

– Tudo bem. - eu disse. Eu aguentaria qualquer coisa. Ela pegou uma seringa e perfurou minha pele perto do buraco da bala, espalhando o líquido da seringa por dentro do meu corpo. - O que é isso?

– É um anestésico. - respondeu ela, tirando a seringa de mim – Acaba não funcionando muito, porque a região perfurada por uma bala fica muito sensível e inflamada. Mas um pouquinho ajuda.

– Certo. - concordei.

– Então vamos lá – Khaless se aproximou com a faca, e eu apenas fechei os olhos para tentar esquecer aquilo.

Senti uma mão apertando a minha e abri os olhos percebendo que Júlio e Danilo estavam ali ainda, um de cada lado.

– Espera. - pedi para a médica, que já estava pronta para começar o procedimento – Júlio você precisa descansar e se recuperar. Você também Danilo.

– Vou ficar aqui com você – murmurou Júlio. Porque mesmo tão debilitado tinha que ser tão atencioso comigo? Chegava a ser exagerado.

– Danilo, tire ele daqui. Ele precisa comer alguma coisa e descansar. - olhei para Danilo pedindo ajuda.

Mas ele estava junto com o irmão nessa:

– Eu também não vou a nenhum lugar – foi o que disse.

Suspirei derrotada. Se eles queriam ficar ali e ver aquilo, beleza. Mas se eu fosse eles, aproveitaria a oportunidade para fazer alguma coisa de útil. Não valia a pena ficar comigo, só porque iam tirar uma simples bala de mim. Eu iria sentir um pouquinho de dor, mas e dai? Não ia morrer.

– Ok. - olhei pra Khaless – Pode ir.

Os dois irmãos seguraram minhas mãos e eu fechei os olhos. Só senti quando a faca entrou, perfurando ainda mais a minha pele. Apertei a mão dos meninos e cerrei os dentes, para aguentar a dor sem gritar. Era como se eu sentisse cada centímetro em que a faca encostava, procurando a bala.

Quando Khaless encontrou a bala, ela usou a faca para forçar a bala para cima, e aquela foi a parte mais dolorosa. Quase deixei escapar um grito de dor, mas me controlei. Não demonstraria um sinal de fraqueza. Apertei ainda mais as mãos, fincando as unhas na pele de Júlio e Danilo, cravando um dente contra o outro e cerrando os olhos.

– Pronto. - Khaless disse, e eu suspirei aliviada, abrindo os olhos. A dor tinha diminuído. Mas o sangue saia ainda mais. - Me alcance a minha maleta – ela pediu a Júlio, que alcançou depressa. Ela pegou a linha e a agulha e começou a costurar a minha pele. Mal senti as picadinhas da agulha. - Você teve sorte Liss. A bala não perfurou nenhum órgão interno. Vai ficar tudo bem.

– Eu sei. - disse. Estava cansada e sonolenta – Vi quando a bala me atingiu e conseguia enxergá-la em minha pele. Não estava saindo sangue nem nada. Resolvi me preocupar com isso mais tarde, porque vi que não teria problema.

– Mas você fez errado. - xingou ela – Deveria ter me contado assim que sentiu a bala. Teria sido mais fácil para você. Assim você pode pegar uma infecção. E a bala não estava tão na superfície assim como você disse, acho que ela foi perfurando seu corpo cada vez mais. E podia ter perfurado seu intestino se você demorasse mais para tirá-la. - ela começou a limpar o sangue coagulado em minha pele. Depois fez um curativo em roda dos pontos.

Não falei nada. Eu estava cansada demais. Ainda sentia um pouco de dor onde a bala foi retirada, mas nada comparado a antes. Queria apenas que me deixassem dormir.

– Liss, você está bem? - Júlio me perguntou inclinando seu corpo para a frente. Ele tinha percebido que eu estava me segurando para não cochilar ali mesmo.

– Estou. - juntei as forças que me sobraram para responder. - Só estou cansada.

Ele olhou preocupado para Khaless em busca de uma resposta sobre se aquilo estava certo.

– É normal. - ela explicou – Liss perdeu bastante sangue e está fraca. Agora só precisa descansar um pouco.

Júlio me pegou no colo delicadamente e eu nem consegui protestar. Ele me colocou deitada na cama de ouro que antes era de Golt e disse com voz suave para mim:

– Agora durma, Liss. Já fez a sua parte. Durma sossegada. - ele me deu um beijo na testa e mesmo estando morgada senti uma onda de calor e conforto.

Ele já estava se afastando quando espichei meu braço e segurei a mão dele, fazendo com que olhasse para mim mais uma vez:

– Júlio, me faça um favor e descanse também. Você também é humano. - minha voz saiu baixa e sonolenta.

– Ok, Liss. Atenderei seu favor. - ele abriu seu sorriso de tirar o fôlego.

Todos saíram do quarto e me deixaram dormir. Adormeci rapidamente com a lembrança do lindo sorriso de Júlio na cabeça.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é muito fofo. Finalmente a Liss admite que ama o Júlio



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