A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 34
Capítulo 22




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Isso é só exercício. Nada de ruim irá acontecer com meus pais. Só um exercício. E a única coisa que eu preciso fazer é ficar quieta e aguentar a dor. Só um pouco de dor. Não vou morrer por isso.

Era nisso que eu tentava pensar, enquanto era amarrada de pé com os braços e as pernas esticadas. Dessa vez eu já sabia sobre o que seria o exercício e tentava manter o máximo de calma possível, enquanto Alexandre e Júlio prendiam firmemente minhas mãos e meus pés, em uma espécie de corda super forte.

– Pronto. - falou Alexandre quando terminaram. Ele se afastou de mim e ficou olhando com aquela sua cara sínica.

Júlio se afastou também e se colocou em um canto escorado na parede. Ele até olhava para mim e para Alexandre, mas era como se não prestasse atenção, como se não quisesse ver de verdade.

– Agora vamos ao que interessa — Alexandre deu uma olhada em toda a sala, vendo onde Júlio estava e se tava tudo ok para começar. Quando se certificou que tava tudo pronto, se aproximou mais de mim e perguntou com a voz agressiva e alta.- Qual a idade dos seus pais, soldado?

Recomecei meu mantra: é só um exercício. Meus pais não correm perigo de verdade. Mesmo assim, não devo contar nada sobre eles. Tenho que manter a boca fechada. E isso vai doer. Mas vou aguentar. Só um pouco de dor. Vou aguentar.

Foi quando Alexandre começou com a tortura. Primeiro um soco no meu queixo. Depois um na minha barriga, que me fez gritar de dor.

– Qual a idade dos seus pais? — ele rugiu, continuando a me bater. - Vamos me diga. - mais socos no estômago e no rosto.

– Não. Não vou dizer. - gritei, enquanto sentia suor e sangue escorrendo pelo meu rosto.

– Então tá.

Alexandre usava toda a sua força em seus golpes, e eu cerrava os dentes o máximo possível para não gritar, mas, mesmo assim, alguns ruídos saiam involuntariamente da minha garganta.

Pontadas de dor no meu estômago e na minha cabeça ameaçavam que eu revelasse a informação que Alexandre tanto queria. Mas eu tinha que resistir mais. Ser forte. Eu tinha que ir até o fim com aquilo.

Ergui meus olhos procurando por Júlio, quase como seu eu pedisse socorro. Ele continuava lá encostado na parede, olhando a cena. Quando viu que eu o olhava, desviou o olhar para o chão.

Eu preferia que fosse Júlio quem estivesse me batendo. Com certeza, ele bateria com menos força e mostraria um pouco mais de compaixão. Também não teria que encarar aquele Alexandre tentando esconder sua felicidade de usar sua força nos outros.

Pensei em pedir para que Júlio trocasse de lugar com Alexandre, mas descartei a hipótese. Eles iriam perceber que eu queria trapacear escolhendo alguém que pegasse menos pesado comigo. Era melhor permanecer como estava.

– A idade dos seus pais — urrava Alexandre, enquanto eu gemia de dor. Não sabia mais quanto tempo iria aguentar aquilo. Estava no meu limite. Minha cabeça já estava zonza e eu desmaiaria logo se as pancadas nela continuassem. - Me diga, qual a idade dos seus pais? É só falar que eu paro de bater.

Não, não. Ser forte, Liss. Aguentar a dor. Tenho que tentar esquecer onde estou e o que está acontecendo. Ignorar as pontadas de dor no meu corpo.

– Aiiiiiiiiii — gritei, perdendo o controle quando Alexandre começou com uma série de socos, um atrás do outro, bem na boca do meu estômago.

– É só falar a idade dos seus pais.

– Não! - rugi. - Pode continuar.

– Júlio será que você pode dar uma ajuda aqui? - Alexandre virou-se para Júlio, me dando um tempo para respirar e tentar acalmar meu corpo que reclamava das pancadas.

Júlio meio a contragosto veio em nossa direção:

– Sim? - perguntou.

– Bata um pouco nela. - foi só o que Alexandre disse.

"Isso. Bata um pouco em mim." Eu pensei. "Melhor você do que ele."

Mas Júlio não gostou muito da ideia e fez cara de quem não queria se envolver, para Alexandre, que apenas deu de ombros.

Então Júlio se virou para mim e olhou bem nos meus olhos. Em meio ao sangue que escorria pelo meu rosto e o latejar da dor, percebi que sua expressão era dilacerada. Como se ele mesmo estivesse sendo torturado.

Então ele respirou fundo e deu o primeiro soco. Era incrível como eu tinha visto ele fazendo aqueles mesmos movimentos quando me ensinou, mas nunca pude imaginar que seria assim tão dolorido, sentir todo o impacto de seu golpe.

Em seguida ele deu outro soco em mim, no meu estômago. Eu estava enganada. Os socos do Alexandre eram mais fracos que o de Júlio. Argh! E pior era que não parecia que os golpes doíam apenas em mim, Júlio também fazia cara de dor e ficava cada vez pior.

Aquilo era insuportável. Tanto a minha dor quanto a dele.

– Chegaaa! - gritei. - Minha mãe tem 38 anos e meu pai 40.

Júlio já estava preparado para dar o próximo golpe quando eu gritei para ele parar. Na hora que escutou a idade dos meus pais, ele relaxou o corpo e voltou a forma antiga, mas ainda com o rosto mostrando todo o sofrimento que sentia.

– Pode soltá-la. - Alexandre ordenou a Júlio, enquanto ele lavava as mãos para tirar o meu sangue que lá estava.

Júlio se aproximou e com uma grande habilidade, me soltou, e eu fiquei livre normalmente.

– Consegue ir para o dormitório sozinha, ou quer que eu lhe leve? - ele pareceu preocupado comigo, mas não sei se era isso mesmo ou se era minha imaginação.

– Eu consigo. - eu disse, e sai, meio mancando para fora daquela sala horrível.

O outro dia de tortura foi bem semelhante aquele, com a diferença que éramos torturados com choques. Alexandre tinha uma arma, tipo uma estaca, que quando encostava em nossa pele, liberava ondas de choque que causavam espasmos em todos os músculos. A sensação de sentir aquilo é indescritível. Parece que seus músculos estão sendo rasgados, arrancados de seu corpo.

Não aguentei muito tempo aquela tarde e logo disse tudo que eles queriam saber.

Quando sai da sala, apesar da dor, me senti feliz, por saber que aquilo tinha acabado. A pior parte do treinamento estava terminada. Agora só tínhamos mais três dias até sermos considerados soldados de verdade.


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