A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 16
Capítulo 11




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Passei o dia todo na expectativa da próxima aula com Júlio. Me sentia muito melhor e confiante depois da primeira, e não via a hora de aprender coisas novas. Ainda me sentia um pouco mal por ele estar me ajudando sem nenhum motivo, mas achei melhor não perder meu tempo pensando nisso e me preocupar com coisas mais importantes.

–Boa noite, soldado. - era ele chegando na base de treinamento com sua figura imponente e ameaçadora.

– Boa noite. - respondi, levantando-me do colchonete onde estava sentada.

– Vamos começar com o que hoje? - fiquei surpresa por ele me dar a opção de escolher.

– Talvez chutes? - supus que ele podia apenas ter perguntado o que eu queria aprender para tentar ser educado, enquanto já tinha toda a aula pronta em sua cabeça.

– Sim — concordou, andando para perto dos sacos de pancada.

Eu o segui e por algum motivo quis contar que suas aulas já estavam dando resultado:

– Graças ao que aprendi ontem, fui melhor nas aulas de defesa pessoal hoje. Consegui atacar e me defender bem melhor.

– Fico feliz — ele se virou pra mim mostrando pela expressão e pelo tom de voz que não se sentia assim realmente. Continuava o homem gelo.

E assim o resto do tempo passou. Tivemos o intervalo para jantar, no que eu fui sozinha e ele apareceu lá bem depois, sentando-se numa mesa com alguns comandantes. Quando voltamos para o treino, praticamos golpes de socos e chutes, tanto um no outro como nos sacos de pancadas e logo acabou nosso tempo e eu sai indo para meu alojamento.

Quando acordei no dia seguinte levei um susto quando olhei o relógio da parede e vi que eram oito horas da manha. Devíamos ter sido acordados por um estridente alarme as quatro e meia. Olhando para as camas no dormitório vi que todos estavam dormindo assim como eu. Se tinham feito um teste para ver se conseguíamos acordar sozinhos e chegar no horário correto às aulas, todos havíamos sido reprovados.

Corri para a cama do Danilo que ficava em frente a minha, cachoalhando-o para que acordasse:

– Danilo, acorde... Já são oito horas da manhã. Estamos muito atrasados! - eu estava desesperada. Estava indo tão bem no treinamento nos últimos dias e agora esse grande deslize. Merda! - Talvez ainda poderemos nos desculpar, e pegar uma punição leve. Vamos!

Ele abriu os olhos e ficou olhando para mim com uma expressão intrigada.

– Você está falando sério Liss? - ele deu um leve sorriso.

– Claro que estou. Olhe o relógio, e já está claro... - Como ele podia não ter entendido ainda?

Já estava indo para a cama da Carol, acordá-la, quando Danilo decidiu levantar-se.

– Liss, acho que ninguém te explicou isso, mas hoje é o nosso dia de descanço. - falou ele enquanto se esticava e tentava reprimir um bocejo.

– Ahn? Como assim? - voltei para perto dele e sentei em sua cama. Nunca tinha ouvido falar naquilo. No dia de descanço.

– Parece que antigamente, antes de todo o resto do mundo morrer por causa daquela doença, as pessoas costumavam ter, pelo menos um dia de descanso na semana. Quando nossos ancestrais foram isolados aqui, esse costume sumiu em quase todos os lugares. Quase em todos menos aqui, no exército. - ele voltou a deitar na cama, parecendo muito sonolento. - Aqui ainda temos um dia de descanso por semana, e quero aproveitar o meu, se você não quiser.

– Me desculpe. Não sabia disso e nem tinha ouvido falar. Pode voltar a dormir. - era verdade eu nunca tinha pensado nisso. Na minha vida antiga, meus pais trabalhavam todos os dias e eu ia para a escola, também todos os dias, sem essa de precisar de um dia pra descanso. O que iríamos fazer nele? Já tínhamos os horários depois do turno de serviço para passeios e outras atividades.

Resolvi não incomodar mais ninguém e sentei na minha cama, pegando os livros de aula para estudar, enquanto esperava os outros acordarem e me mostrarem alguma coisa para fazer.

Logo Carol acordou e fui para perto dela buscando mais informações sobre esse dia estranho:

– Como funciona? Tipo o que precisamos fazer e tal?

– É bem simples... não precisamos fazer nada, mas podemos fazer tudo. - ela riu com suas palavras confusas.

– Como assim? - ainda estava tentando entender.

– No dia de descanso podemos fazer qualquer coisa aqui no quartel - ela pensou melhor. - Bem... qualquer coisa que esteja dentro das regras. Você pode se vestir como quiser, ficar andando por ai o dia inteiro ou mesmo dormindo. Não importa.

– Ah — isso não me parecia uma coisa que o quartel fizesse. Eles sempre foram tão rígidos.

– E se você tiver parentes morando aqui perto poderá visitá-los uma vez por mês no seu dia de descanso. - Carol continuou sua explicação.

– Ouu meninas! Vocês podem calar a boca? Eu to tentando dormir — nos interrompeu Danilo colocando o travesseiro na cabeça, tentando abafar o som de nós duas conversando.

Carol saltou rapidamente em direção a cama dele, puxou o travesseiro que estava tapando a sua cabeça e começou a usá-lo para bater e fazê-lo levantar:

– Ai Danilo, levante. Vamos aproveitar o dia... chega de dormir. - ela gritava. -Você parece um velho de oitenta anos.

Os outros colegas que também ainda estavam dormindo acabaram acordando com a gritaria dela. Muitos a olharam com cara feia, viraram de lado e voltaram a dormir, mas outros resolveram levantar e saíram do quarto.

Por fim conseguimos que ele levantasse, nos vestimos ( eu coloquei um shorts que tinha trazido junto e não sabia que iria poder usar, mas Carol me garantiu que hoje podia. E também deixei meus longos cabelos escuros e lisos, soltos.) e saímos para o café da manha.

– Ai que lindo seu cabelo — disse Eric, que tinha ido junto ao refeitório e parecia não desgrudar mais de Carol e de Danilo.

– Obrigada.- eu agradeci com um sorriso tímido

Quando Eric e Danilo foram se sentar em uma mesa, enquanto eu e Carol ainda estávamos pegando nossa comida, perguntei a ela:

– Qual é a do Eric? Parece que de uns dias pra cá não larga mais vocês.

– Opaa, vocês não. Ele não larga o Danilo — ela riu — Desde o dia que o Danilo bateu nele, ele começou a andar com nós. Deve ter se apaixonado por ele com os socos e chutes que levou.

Não entendi sua piadinha:

– Ahn?

– Ah! Vai dizer que você não sabe dessa também?

Porque eu nunca sabia das coisas? Que saco ser a desinformada da turma.

– Não, do que você tá falando?

– O Eric é gay. Ele fez questão de que todos soubéssemos logo que ele chegou.

– Ah — fui a única coisa que consegui dizer. Fomos para a mesa onde estavam os meninos e eu fiquei olhando o Eric disfarçadamente, meio perplexa.

Não que eu tivesse preconceito contra ele ou alguma coisa assim. Longe de mim isso! Mas é que nunca tinha imaginado que ele fosse gay. Certo que ele parecia ter uma aparência bem cuidada, principalmente seus lindos cachos, mas se cuidar não quer dizer nada sobre a sexualidade de alguém.

Mais tarde, quando meu choque já havia passado, Carol e Danilo sugeriram a ideia de nós irmos jogar futebol. Como sempre eu não sabia sobre o que eles estavam falando e tiveram que me explicar: se tratava de um esporte, muito praticado antes de toda a confusão da doença que matou quase toda a humanidade. Várias pessoas são divididas em dois grupos, chamados de times, existe um retângulo que é o campo do jogo, onde os jogadores devem correr para alcançar a bola e dar-lhe um chute, tentando fazer com que ela entre dentro de um quadrado, onde fica uma pessoa defendendo. Existem dois quadrados, tendo cada time o seu. Não é possível que encostem as mãos ou os braços na bola, somente outras partes do corpo. A única exceção é a pessoa que fica protegendo o quadrado, essa pode usar as mãos para segurar a bola, caso ela vir em sua direção.

Eles tentaram me explicar outras regras, mas eu achei muito complicado para acompanhar. Era informação demais. Quando chegamos ao local onde o jogo iria acontecer, já tinham alguns soldados lá, a maioria homens e um pouco mais velhos do que nós.

Como eu não havia entendido muito bem como funcionava a coisa toda, decidi não participar da partida, e eu e Eric, que também não quis jogar, ficamos sentados em uma sombra, perto do campo assistindo. Quem também estava lá, para o jogo, eram Julio e Alexandre, que estavam em lados opostos, conversando cada um com um grupo de pessoas.

– Agora já temos jogadores suficientes — gritou alguém quando Carol e Danilo se aproximaram do meio do campo. - Vamos começar. Os sargentos são os capitães de cada time.

Demorei a entender que os sargentos eram Julio e Alexandre. Não sabia que eles tinham esses postos. Achei que fossem soldados como todos os outros.

– Nunca entendi muito bem os cargos aqui dentro do quartel — declarei a Eric, tentando puxar assunto

– Nem eu. - foi a única resposta que ele me deu, olhando o jogo.

Cada um dos capitães estava escolhendo alguém para seu time. Quando todos tinham sido escolhidos começaram a partida. Carol, Danilo e Júlio tinham ficado no mesmo time, o que, no caso, eu estava torcendo.

Achei meio estranho todo o funcionamento do jogo. Todos eles corriam atrás da bola, desesperados por alcançá-la e por tirá-la do alcance do adversário. Entendi o porque de esse ser um esporte praticado aqui no quartel, já que exigia bastante preparo físico para correr e força para chutar.

– E pensar que no passado, o mundo todo era apaixonado por esse esporte e era capaz de fazer qualquer coisa pelo time que torcia. Eita, mau gosto! - Eric me tirou do transe do jogo, após uns longos minutos de silêncio — Será que não tinham mais nada de importante com o que se preocupar?

Eu ri, concordando:

– Também não achei muita graça até agora.

Voltamos a ficar em silêncio e eu voltei, também, a prestar atenção no jogo. Em um certo momento a Carol pegou a bola de um de seus adversários e a passou para um colega de time que correu um bom pedaço com ela no pé e por fim chutou-a para Danilo que estava mais perto do quadrado que tinham que acertar. Ele olhou, analisou, mirou e chutou, acertando a bola em uma rede amarrada ao quadrado e não dando chance do cara que estava ali defender.

Eles tinham feito um ponto. Ou melhor, um gol, como ouvi alguns jogadores dizendo. Danilo, saiu correndo pelo campo gritando e sorrindo, encontrando na metade do caminho seu irmão, que também sorria. Eu nunca tinha visto Júlio sorrir e como eu havia suspeitado há uns dias atrás, o sorriso dos dois era idêntico e lindo! Capaz de fazer qualquer um sorrir também só de olhar. Os irmãos se abraçaram, comemorando e eu fiquei olhando para eles, maravilhada com a cena.

– São lindos, não são... - Eric tinha percebido que eu olhava para eles, provavelmente minha cara de bobona denunciava o que eu achava.

– Sim, a cena dos dois irmão se abraçando é linda mesma. - Eu tentei disfarçar meu embaraço.

– Não a cena. Os dois. Eles são lindos, não acha? - Eric sorriu pra mim, dando uma piscadinha.

– Ér... ahn...são. - senti minhas bochechas queimando. Porque eu tinha ficado envergonhada? Os dois eram bonitos sim, muito bonitos, e não tinha nada demais em admitir que achava isso.

Após um longo tempo a partida terminou e depois de esperar Carol e Danilo tomarem um banho fomos almoçar. A tarde e a noite passamos de bobeira, andando pelo quartel, rindo e falando bobagem.


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Notas finais do capítulo

Imaginem o que seria viver num mundo sem fim de semana! Como aguentaríamos?



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