P.O.V. – Jack Frost

Ainda não podia acreditar no que eu havia visto. Eu até entendi que Soluço teve um péssimo dia, mas isso não iria ter o levado a fazer... Aquilo. Ajoelhei-me no chão e uma lágrima saiu dos meus olhos azuis.

— Eu... Eu devo estar imaginando coisas... – Coloquei as mãos no meu cabelo enquanto olhava mais para o lençol e aquela mancha infeliz vermelha. Comecei a sacudir o Soluço, mas ele estava imóvel. Comecei a perder a esperança. – Soluço! Soluço acorda! Soluço, por favor! Soluço, você está me ouvindo? Amigo, vamos lá, levanta! – Minhas lágrimas desciam mais rápidos por conta do meu desespero. – Soluço, isso é uma ordem! – Não me controlei e dei um tapa na cara dele, ofegante.

—... aí? – ele murmurou e eu me levantei assustado.

— Soluço, seu infeliz! – o abracei com todas as forças que eu tinha. Ele mesmo parecia surpreso e até confuso. – Nunca faça isso comigo de novo, amigão!

— Jack, sobre o que você está falando? – Ele tentou se soltar de mim, acariciando a bochecha– E isso doeu, viu?

— Sobre isso, seu emo! – puxei o lençol de cima dele e me surpreendi ao ver que ambos os braços dele estavam bem. – Mas...?

— Mas o que, Jack? – Soluço se levantou e foi andando até o nosso frigobar. – Ah, e eu não sou um emo!

— Tinham manchas vermelhas ali... Então eu achei que... – Eu ainda estava processando o que havia acontecido

— Ah, isso... – Ele abriu a portinha e tirou dali um prato. – Como eu tinha te explicado mais cedo, um dos cursos extracurriculares que eu estou fazendo é aula de culinária. – Soluço começou a andar para a cama dele e sentou nela, junto de mim – E como eu senti fome, resolvi fazer uma das receitas que eu mais gostei! Panquecas com geléia de morango! – Ele exibiu o prato para mim, orgulhando-se de sua receita.

— Mas como isso foi parar no seu lençol? – Perguntei, comendo um pequeno pedaço da borda da panqueca.

— Eu... Fiquei com preguiça de comer na nossa mesa e resolvi comer na cama. Como estava escuro, acabaram ficando algumas manchas, sabe? – ele me estendeu dois talheres e coçou a parte de trás da cabeça – Mas relaxa com isso, porque terça vai ser dia da lavanderia, e a mancha vai sair. – Ele gargalhou e eu acompanhei com uma risada desconfortável, após dar mais uma mordida no alimento.

— Bem, uh, já são 05h47min então... Acho que hoje é o dia em que você está atrasado, e eu que tenho que te acordar. – Sorri

— Já são 05h47min? – Soluço se surpreendeu e pulou para fora da cama. – Santo Odin! Estou atrasado! – Ele partiu para o banheiro e se trancou lá, e após alguns segundos começou a tomar banho.

Mal creio que eu talvez fosse cometer um dos maiores erros da minha vida. Perguntar ao meu melhor amigo se ele tentou se machucar na noite passada? Ele não teria coragem de fazer isso, para ser honesto. Pelo menos agora posso ficar tranquilo, já que Soluço está bem. Preciso ficar de olho neste moleque. Eu vou realmente me propor a ser o guardião anjo dele.

P.O.V. – Soluço

Eu estava acordado. Eu estava acordado o tempo todo. Eu fico feliz por poder falar que Jack é meu melhor amigo. Ele realmente se importa comigo. Liguei a água morna da banheira e dei um longo suspiro. Mais uma semana de aulas iria começar. Mais uma semana difícil e chata na minha vida curta e miserável. Já perdi a conta de o tanto que tenho que fazer nesta semana... Tudo era tão simples quando eu morava na casa do meu pai, e por um momento fui acreditar que esse colégio seria mais fácil...

Sai da água e vesti uma camisa abotoada branca junto com um suéter largo, quente e confortável. Após isso coloquei uma calça verde musgo e botas marrons. Destranquei a porta do banheiro e vi que Jack, nos 7 minutos que tomei banho, já havia conseguido dormir de novo. Aprontei minha mochila para as aulas de hoje e vi que teria cinco aulas.

— Até logo, Jack! – Suspirei, com receio de acordar meu amigo, e comecei a andar lentamente até a sala de aula.

Após sentar em um lugar bem isolado na sala, peguei meu moleskin da minha mochila e após ver várias páginas com desenhos de dragões, achei uma que estava vazia. Tirei do meu estojo uma caneta preta, que tinha a ponta toda mordida, e comecei...

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LISTA DE TAREFAS DO SOLUÇO

Achar meu amuleto

Ir na o.k.

Bolar um apelido para a Vanellope

Fazer com que a Anna fique com o Flint

Passar de ano e tirar notas boas

Dar uma surra no melequento e ficar com a merida

tba

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— É por enquanto é isso... – Falei bem baixinho, fechando meu caderninho.

— Desenhos legais... – ouvi uma voz infantil e me surpreendi. Quando eu sentei aqui, tinha certeza, e inclusive verifiquei que ninguém estava comigo. Olhei para meu lado com suspeita da garota dos doces estar me zoando, mas surpreendentemente não era a Vanellope. – Eu sou o Norman. – o garoto levantou o braço, cumprimentando-se.

— Uh, oi,... Norman? – acenei com a mão. O garoto tinha o cabelo castanho escuro espetado para cima e usava um casaco vermelho, que praticamente cobria o corpo todo dele. – Não foi você que estava no meu time quando jogamos queimada?

— É... Era eu sim. – Ele sorriu nervosamente. – Foi uma pena que nós perdemos...

— Cara, o importante foi que jogamos, ou algo assim, né? – Perguntei, me lembrando que uma vez já vi essa mensagem em um site de mensagens positivas.

— É tipo isso... – Norman suspirou – Mas, de verdade... Eu acho que fui eu que causei a perda...

— Não fala isso não, Norman! Algum dia o nosso time vai ganhar! – Tentei levantar o astral dele

— Sabe... Eu nem gosto mesmo de queimada... Meu pai que me obriga a jogar – o garoto suspirou – Prefiro fazer outras coisas...

— Que tipo de coisas? – eu sorri e o olhar de Norman brilhou

— Eu... Eu gosto muito de zumbis! – Ele animadamente abriu um caderno que na capa tinha a foto do filme “Todo Mundo Quase Morto”. – Eu adoraria trabalhar e fazer meu próprio filme de terror algum dia, sabe? – Norman exibiu seus desenhos de ícones clássicos de filmes de terror. Preciso admitir que a maioria eu não reconheci, mas a arte dele era impressionante para alguém da idade dele.

— E porque você não falou para ele que você prefere fazer outra coisa? – Questionei surpreso. Essa criança realmente tinha um talento que não deveria ser desperdiçado!

— Você não conhece meu pai, Soluço... Ele é bem rígido e sempre sonhou em ter um filho esportista e... Quem sou eu pra mudar a opinião dele...

— Meu pai também é bastante rígido, sabia? Por isso que eu vim para cá... Ele não me aceitou... – olhei para baixo, mas rapidamente mudei meu tom de voz para um mais alegre - Norman, você tem um grande potencial. Não ouça ninguém que te fale o contrário! Se você quiser fazer filmes de terror ao invés de jogar futebol, ou qualquer outro esporte, siga seus sonhos!  Você ainda é jovem! Agora prometa para mim que vai criar seu próprio destino. – Sorri e estendi alegremente minha mão.

— Tá bom! – ele apertou a minha mão e deu um pequeno riso. – Eu prometo!

— Além do mais, se alguém te chamar de estranho alguma vez, me chame que eu mostro que às vezes não ser normal, pode ser legal. – Eu o encorajei

— Isso mesmo, Soluço. – Ele apertou os punhos – Somos a dupla dos esquisitões mais maneiros!

— É! – Batemos nossos punhos e gritei – Somos os esquisitões mais maneiros desta escola!

— SOLUÇO HORRENDOUS HADDOCK TERCEIRO E NORMAN BABCOCK! DETENÇÃO PARA AMBOS POR GRITAREM DURANTE A AULA!