Tudo aconteceu rápido demais.

Me lembro de estar indo ao encontro das caçadoras, e em seguida, de um vulto vindo em minha direção, me derrubando.

Lembro de ter gritado, me debatido, lembro de tudo, menos de como cheguei no fundo do mar.

Sim. Ao fundo do mar.

E não, eu não morri. Nem estou sonhando. Eu estou no fundo no mar, neste momento, deitada em uma cama num quarto azul e cheio fotos dos meus pais. Não sei por que motivo estou aqui nem o que realmente aconteceu, nem mesmo estou pensando em descobrir porque, nesse momento a única coisa que se passa pela minha cabeça é: estou respirando debaixo d'água.

Ouvi a porta abrir e um homem com cabelos pretos bagunçados de 32 anos entrou.

Pai.

—Tudo bem?- Ele perguntou oferecendo um sorriso tranquilizador.

—Tudo. Onde estamos?

Ele se jogou na cama ao meu lado antes de responder.

—No palácio de Poseidon, mais especificamente no meu quarto.

Olhei ao redor mais uma vez.

—Bonito.

—É. Sua mãe projetou.- Ele comentou, enquanto um sorriso bobo começava a surgir em seu rosto.

—Onde ela esta?

Ele suspirou.

—San Francisco. Por mais que haja muitos monstros por lá é o mais seguro pra ela. Em situações como essas, é melhor ficarmos separados.

—"Em situações como essas"?

—Guerras.- Ele parecia não querer falar sobre aquilo, mas ficar sem saber de alguma coisa não era algo que me agradasse.

—Estamos em guerra? Contra quem?

—Estamos. Contra Oceanus.

—O antigo Deus o mar?

Ele pareceu visivelmente ofendido.

—Titã.

—Desculpe.

—Tudo bem. Ele vinha nos atormentando há alguns anos, mas piorou muito. Tivemos uma guerra contra Cronos, o Titã do tempo, vencemos, mas Oceanus não parou com as próprias revoltas. 

—Se ele está atacando o mar, não estamos na mira dele aqui não?

—Estaremos na mira dele em qualquer lugar. O exército dele cresceu consideravelmente, Sô. Luto melhor aqui. 

—Ah.

Ficamos calados durante algum tempo até se ouvir barulhos de passos e a porta ser novamente aberta.

A cara do meu pai não foi muito agradável.

—Percy.

—Tritão.

—Estão chamando você lá dentro.

Papai se levantou, me deu um beijo na testa e caminhou pra fora do quarto.

Tritão me olhou de cima a baixo e sorriu maliciosamente, se virando para o meu pai com um ar de quem estava querendo arrumar uma briga. 

—Finalmente fez alguma coisa que prestasse, Jackson.

Se o olhar dele já estava ruim, foi ao extremo.

—Eu fiz muitas coisas que prestassem, irmão— Ele pronunciou aquela palavra com um ar de desprezo admirável.-, bem mais do que você pra falar a verdade.